They're like peas in a pod!

André Villas-Boas, 1 de Agosto de 2010, após a derrota com o Bordeaux no Torneio de Paris:

“Normalmente criamos muitas oportunidades de bola parada, hoje não fomos nós, foram eles. Mas o árbitro também ajudou, pois marcou muitas faltas. Nas bolas paradas é uma questão de detalhe e temos de analisar os golos sofridos.”

Vítor Pereira, 16 de Julho de 2011, após o empate no amigável com o Borússia Mönchengladbach:

Jogo interessante até à expulsão de Hulk, estávamos a evoluir e a procurar espaços e situações de golo. A partir desse momento, tivemos de nos reorganizar e não me lembro de nenhuma ocasião flagrante de golo deles. Podíamos ter marcado mesmo com dez. Lamento uma arbitragem desastrada. Mesmo perto do final da partida, há um penalty que o árbitro não viu ou não quis ver. Temos de analisar a expulsão do Hulk, mas houve inconsciência do árbitro.

 

Até agora, os estilos são idênticos. Quem aprecia o discurso está a gostar. O resto da malta espera pelos resultados nos jogos a sério.

Link:

Gone André Gone

Longa vai a história e só se passaram dois dias. De rumor com muito fumo passamos para um incêndio de proporções bíblicas entre o treinador com a ascensão mais meteórica desde Mourinho e o público que o apoiou durante um ano. E que ano, minha gente!

André sai. Sai pela porta pequena na perspectiva dos adeptos, pelos portões do Taj Mahal quando visto pela imprensa. Entram quinze milhões para a nossa bolsa, com a perspectiva de mais alguns “trocos” caso siga Moutinho ou Falcao ou qualquer outro juntamente com o técnico. É um negócio incrível numa altura em que teoricamente as proverbiais vacas estão anoréticas e ajudará a aditivar o orçamento que estará à disposição do próximo treinador para reforçar a equipa, ou simplesmente para manter algumas das peças-chave que possam não querer sair imediatamente. Urge saber que elementos do plantel terão ficado chateados com esta saída e perdido a vontade de permanecer na Invicta para saber com quem é que podemos contar no arranque da temporada 2011/12.

Esta é a análise racional que podemos fazer desta situação. Abaixo, segue a parte mais emotiva. Estão prontos? Vamos a isso.

É uma desilusão. E ao mesmo tempo que continuo a afirmar que compreendo a saída tendo em conta o tamanho da oferta e das condições que terá ao seu dispôr, tanto económicas como a nível de projecto e de ambiente (a única coisa verdadeiramente em comum de jogar na Premier e jogar em Portugal é que ambos começam por “P”…), sinto-me como se tivesse sido abandonado por um amor de Verão depois de quatro quecas extremamente bem dadas. Porque durante toda a época, apesar de me manter alheado das frases bombásticas e focar-me mais nas conferências de imprensa sobre futebol e menos sobre individualidades, havia qualquer coisa em André Villas-Boas que me fazia acreditar que podíamos ter aqui um rapaz que podia ser “dos nossos”. As frases iam ficando lá no fundo…mas ficavam. A atitude era guerreira, nossa, vibrante, alegre, nervosa, portista. Era igual a nós, celebrava as vitórias e sofria as derrotas como nós, como comentei tantas vezes com amigos ou colegas lá no meu sector do estádio. Aquela pequena parte dentro de mim, por detrás de várias camadas de racionalidade e algumas de cinismo, guardavam essas frases para num futuro próximo poder aproveitar o elogio do homem e do treinador.

E…tudo caiu por terra. O timing é mau, muito mau, se bem que nunca se sabe quando é que uma proposta destas se pode repetir. Mas o que André escusava de ter feito e dito tanta coisa durante a temporada sabendo que a malta lhe ia atirar tudo à cara se chegasse ao ponto em que se contradissesse. E o problema neste tipo de coisas é que a malta normalmente não tem memória de peixe. As marcas ficam e muita gente lembrar-se-á de tudo o que se passou desde segunda-feira de manhã, não do que André fez nos onze meses anteriores. A Supertaça, o Campeonato, a Europa League, a Taça de Portugal, os 5-0 no Dragão e a reviravolta da Taça na Luz, os 5-1 ao Villarreal, a demolição dos russos, a facilidade de tantas vitórias, o crescimento de Moutinho, a velocidade de Hulk, o instinto apurado de Falcao…tudo isto teve o dedo de André Villas-Boas.

Não lhe podemos retirar o mérito destes triunfos, por muito que estejamos magoados com a aparente indiferença com que temos sido brindados. Mourinho fez o mesmo e 7 anos depois ainda há quem não lhe perdoe. Com ou sem razão. E é por isso que não fico furioso. Apenas desiludido. Mais comigo que com Villas-Boas. Porque até eu tinha a esperança que fosse um dos nossos e não é. É acima de tudo um treinador profissional de futebol e portista sempre que pode. No ano passado calharam de coincidir.

Link:

André

A grande maioria dos Portistas acordou esta manhã, uns alegremente de férias e outros não-tão-alegremente a fazer os preparativos para mais um dia de trabalho (e outros ainda, sem trabalho nem dinheiro para férias, acordaram para um dia com novas expectativas). Aposto que nenhum pensou que iria levar com a notícia do defeso: André Villas-Boas estará a caminho do Chelsea. O JN avançou, a Lusa tentou confirmar e tudo que era publicação online desatou a copiar o texto da segunda para os seus serviços informativos. O mundo estava a abanar. Sucedem-se insultos nos blogues, gargalhada geral na oposição, e nem Fernando Nobre se sentiria mais ridículo que o grosso dos adeptos que, tomando a notícia já como verdadeira apesar da ausência de confirmação oficial, começaram já a campanha “Villas-Boas, és um vendido!”.

Não me junto à multidão com as forquilhas em riste. Passo a explicar porquê.

Sempre houve, há e continuará a haver uma perspectiva extremamente romântica do futebol em Portugal. Os treinadores que vencem são tratados como semi-deuses olimpianos, ao passo que os derrotados acabam por ser comparados, com mais ou menos metáforas, a esterco. No nosso caso, particularmente esta época que findou, o facto de termos um treinador que venceu quase todas as competições em que participou acabou por ditar a elevação a um estatuto de Grande Figura. Aliado a este facto está, inegavelmente, a filiação clubística de André Villas-Boas: é portista, assumido e este sim, desde pequenino. Poderia haver melhor junção de vontades? Um portista a vencer no FC Porto? Orgasmos gerais para a malta.

Os momentos sucederam-se durante a época. Era a cadeira de sonho, levada ao extremo pela imprensa, ávida pelo curto soundbite que transforma o etéreo no eterno enquanto o dragão pisca o olho. O portismo estava visível em tudo, na defesa da equipa e da instituição, na forma como vibrava e celebrava o golo mais inconsequente dos rapazes de azul-e-branco que alinhavam à sua frente. Nunca duvidei (e ainda não duvido) da verdadeira vontade do rapaz em permanecer por cá durante alguns anos. E nós, todos nós, com ele.

Ainda de manhã, em conversa com um amigo que no primeiro dia de férias já estava tão exaltado e me perguntava como é que isto era possível, se já se sabia mais alguma coisa, que o site da CMVM estava tão lento, não havia nada no site oficial, que desespero! Disse-lhe: “Ó rapaz, sai de casa, vai até uma esplanada, pede um sumo de laranja natural porque ainda é cedo para um fino. Lê um livro, olha para o mar e descansa a cabeça. Logo à noite vês se é verdade ou não.”. Foi o que fiz, alheei-me das conversas e discussões durante o dia, sem que houvesse novidades para comentar e foquei-me no trabalho que era o que mais interessava. Cheguei a casa e, como pensei, nada de novo na frente azul.

Voltando à visão floreada da coisa e usando uma comparação com aquele jogo de computador que me une ao nosso treinador (Football Manager), é interessante perceber que a malta tem uma ideia semelhante da realidade como se fosse treinador virtual naquele mundo. Em norma quando se começa uma carreira, procura-se um clube de que se gosta, com quem se sente alguma afinidade, e arranca-se a vida. As vitórias e derrotas sucedem-se mas a motivação não quebra, a vontade de levar o clube à frente, melhorando a equipa, comprando A ou B, despachando o lixo e aplicando as nuances tácticas jogo após jogo até chegar à perfeição. “Pois vencemos tudo no fim do ano? Não interessa, nem penso em sair do clube, para o ano há mais para ganhar e recordes para bater! Já tenho alinhavada a nova equipa, vendo este e compro aquele e está o plantel bem organizado, impecável! Renova-se o contrato? Pode ser, quero é ver se o rapaz rende a médio direito, isto é que vai ser, a época de 2024/2025 vai ser a melhor de sempre!!!”. Pois é. E se eu fosse um jovem de 78 anos diria: “Balelas”.

Não posso ser ingénuo a esse ponto. Um treinador é profissional e acima de tudo para um treinador que pretende ter uma carreira curta como Villas-Boas já disse várias vezes, torna-se complicado recusar uma oferta da magnitude destas que lhe seja colocada em cima da mesa. Se teve uma conversa com Pinto da Costa e lhe explicou que é isso que deseja fazer, olhos nos olhos, selado com um cumprimento e um desejo de boa sorte, parece-me normal. Se foi por trás das costas e negociou com o russo sem falar com ninguém, já acho mal. Quero acreditar na primeira e não na segunda.

O que fica disto tudo? Em primeiro lugar precisamos de uma confirmação oficial. Até surgir estaremos sempre no reino da especulação. Se Villas-Boas sair, os meus votos para o seu futuro vão depender da forma como as coisas se tiverem passado. Se ficar, amigos como dantes. Que trabalhe bem o Iturbe e se decida se o Souza serve ou não para trinco. Mais que isso, neste momento, é invenção.

Link:

Guarín by Villas-Boas

“Não é fácil nesta posição vivermos as frustrações individuais de muita gente que quer chegar ao onze inicial e não consegue. É uma coisa que acontece em todas as equipas, há sempre alguém que fica ligeiramente mais triste, uns demonstram-nos de uma forma e outros de outra”

“É muito mais reconfortante saber que se conquista qualquer coisa num ambiente de extrema competição do que baixar o nível para outra equipa, ou para outro campeonato, e ter essa titularidade garantida porque se baixou o nível”

“Baixar de nível é a via fácil para quem quer triunfar na vida, mas quem quer triunfar a valer tem de se manter num ambiente de máxima competitividade e conquistar alguma coisa nesse ambiente.”

“Isso é que tem de alimentar a ambição destes jogadores, sem nunca colocar os objectivos individuais à frente dos colectivos, porque isso não vou permitir. É uma realidade pela qual nós mesmo quando ganhamos sentimos um carinho especial por alguns jogadores e são coisas que nos tocam.”

Villas-Boas em declarações sobre a excelente forma de Guarín e o porquê de não ser titular absoluto

 

Mais uma semana, mais uma conferência de imprensa em que Villas-Boas me cativa. Simples, honesto, justo e correcto. Só falta ser campeão para lhe dar o mérito todo.

Link: