Ninguém liga à Taça da Liga

A notícia passou pelos pingos de uma chuvada intensa, apanhada por vários e usada por muitos. E para o adepto,  para o comum adepto, é uma notícia que tem pouco sumo, que traz consigo uma vitória judicial para um problema criado pelo clube (por outros, pelos mesmos?) e que tão pouco arrasta para o clube. A Taça da Liga, neste momento, é um rodapé tão desinteressante que nem o facto de percebermos que deixamos de estar fora de uma competição em que poucos se lembrariam que estávamos dentro faz com que nos empolguemos a ponto de vibrarmos com a notícia em si. O impacto da notícia foi em grande parte elevado a níveis estratosféricos por alguns jornais, com a Bola, como sempre, a colocar-se com o estoicismo da vanguarda da defesa do futebol per se, ao mesmo tempo desculpando as concretas expulsões de uns para se focarem nas putativas expulsões de outros, levantando o assunto que parecendo importante, de facto não o era.

O adepto, o comum adepto, nem pensa que vamos ter o calendário restabelecido, com o jogo de volta entre Rio Ave e Sporting, numa altura em que vamos voltar a usar Fabiano e Sebá e Abdoulaye para não cansar Helton, James e Mangala porque o que interessa mesmo é a Liga, sem a Taça no nome. E foca-se nos jornais, demonizando-os para os consultar logo de seguida, exultando com uma vitória que só é sua pela cor e ainda assim de pouco sustento e ainda menos alegria.

O adepto, o comum adepto, não quer saber. Preocupa-se com o empate contra o Olhanense, pela incapacidade (oh, inclemente falha!) de roubar os pontos que estavam ali tão perto e que ficaram perdidos no percurso de mais um renhido campeonato. Preocupa-se com o jogo da próxima semana contra o Málaga, que marca o regresso da Champions, da competição que interessa, daqueles cento e oitenta nervosos minutos em que vamos estar de novo com o foco da Europa da bola sobre nós, onde aí sim temos muito a perder se não jogarmos e nem todas as capas azuis de um jornal vermelho podem manchar mais do que nós próprios em campo. Preocupa-se com a forma física de James e a moral de Atsu, com as botas de Jackson e a cabeça de Mangala, com as luvas de Helton e os pés de Moutinho. Preocupa-se com o relvado, o frio, o granizo, o estacionamento nos grandes jogos e a sorte que podemos ou não ter naqueles jogos que contam porque contam e não porque nos dizem que contam.

A Taça da Liga que ninguém liga, como todas as Taças deste ano, interessam pouco. Passam em parangonas excitadas para jurista ler e adepto conversar no café durante os cinco minutos da praxe para matar o tempo enquanto o café não chega para cedo passar às perfeitas incongruências de um mundo que nem é nosso. É um paradoxo, é o que é, saber que estamos envolvidos sem o estarmos.

O adepto, o comum adepto, não quer saber. E eu, comum adepto, também não.

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Demora muito a chegar o próximo jogo?

São sempre uns dias mais tristonhos os que se seguem a uma não-vitória do FC Porto. As cores parecem menos brilhantes, as nuvens mais negras, os vizinhos menos amigáveis e a mamalhuda do tasco da esquina menos cativante. Tudo perde fulgor, ânimo, entusiasmo, tanto que toda a alegria de duzentas escolas de samba a passar na obra do Niemeyer no Rio podem animar o mais efusivo dos adeptos portistas. A vida transforma-se numa enorme quarta-feira de cinzas que se prolonga por dias sem fim.

E por muito que me esforce, raramente consigo olhar para futebol da mesma forma durante esses dias. Falta-me a força moral de pensar em tácticas e desenvolver estratégias mentais, escolher jogadores para o próximo confronto ou ler sobre os treinos, o regresso ao quotidiano de uma equipa que partilha comigo a ambição de ser sempre mais, sempre vitoriosa, sempre grande. E não deixando de a ser, perde um pedacinho de brilho nessa grandeza nesse espaço em que deixa de poder olhar para trás e ver que venceu mais um jogo.

É sempre um dia mais tristonho o que se segue a uma não-vitória do FC Porto. E é por isso que temos de voltar a vencer rapidamente. A próxima oportunidade é já na sexta-feira.

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 1 Olhanense

Acabei por não sair de casa e fiquei a sofrer ainda mais pela televisão. Impedido de gritar, gesticulava como um doido e punha as mãos na cabeça como se estivesse novamente com febre. E lentamente me ia apercebendo que este era um resultado há muito adiado porque até este jogo tudo corria bem. Porque entre trezentos e tal passes por jogo, um ou dois ou até mais saíam em condições e direitinhos para o avançado que não falhava, ou para o extremo que não cruzava para a bancada, ou até para o médio que rematava certeiro. Mas este resultado, mesmo com os 39 remates fruto de 67 ataques, há muito que era esperado. Tinha de haver um momento em que o futebol rendilhado não funcionasse, quando as opções fossem minúsculas (Tozé e Sebá são bons na B, ainda não suficientemente bons para a A) e o terreno bem ocupado, quando o adversário fosse agressivo e nada corresse bem. Um desperdício que espero não nos venha a custar caro, porque nestas corridas a dois importa mais a moral que a bagagem que se leva. Vamos a notas:

(+) Moutinho. Foi o melhor jogador em campo do FC Porto (do outro lado Bracalli esteve em grande) e mesmo depois dos noventa penosos minutos pela selecção a meio da semana, notou-se que era dos poucos que tinha cabeça para ali andar e aguentar. Izmaylov ajudou-o enquanto pôde, mas Lucho esteve abaixo do que sabe e pode fazer e Fernando teve um jogo fraco. Moutinho foi, mais uma vez, Moutinho. Não chegou.

(-) Ineficácia. Não só no remate Falhar um penalty, Jackson? Não pode. Falhar mais dezanove remates, por cima ou contra Bracalli? Não pode. Pecamos por não marcar mas pecamos também por enormes falhas técnicas que se notam há meses nesta equipa e para as quais já avisei há muito tempo. Demasiados passes falhados, cruzamentos imbecis, remates tortos…tudo elementos fundamentais do futebol que a nossa equipa continuamente descura ao longo de vários anos e que tanta gente se surpreende quando vê Defour a fazer um domínio de bola perfeito, questionando o porquê de tal desiderato. É treino, senhores. E se os nossos fizessem mais vezes esse tipo de treino, talvez os passes de Varela não fossem quase sempre parar ao guarda-redes, ou os cruzamentos de Danilo não fossem parar ao antigo sucateiro das Antas. Talvez.

(-) As displicências Houve vários jogadores a quem todos devemos apontar o dedo e gritar: “SHAME!”. Porque houve alturas em que me pareceu que o granizo que caiu na primeira parte não o era mas sim bolinhas de vodka congelada que os nossos rapazes procederam a engolir com dedicação, só para ficarem levemente alcoolizados e baixarem a guarda ainda mais do que é costume. Fernando com passes inaceitáveis para o centro, Danilo passava bolas para trás sem ver se o receptor lá estava, Alex Sandro tentava fintar meio Olhão sem perceber se tinha o flanco coberto por um colega, Mangala (et tu?!) levava a bola para a frente uns 30 ou 40 metros sem a proteger só para ser desarmado pelo adversário…foi um sem-fim de parvoíces, distracções e facilitismos que fizeram com que o FC Porto tivesse não só não marcado, como também sofrido. E era total e completamente desnecessário.


Dois pontos que desaparecem como o granizo que ficou na trampa de relvado que, continuando a levar com este tipo de pragas divinas, tarde ou nunca se endireitará. Dois pontos como os de Barcelos, que me ficam atravessados na garganta porque temos mais futebol do que isto e temos obrigação de mostrar muito mais do que fizemos hoje. Tivemos algum azar, não questiono isso, mas houve acima de tudo uma enorme falta de concentração para colocar a bola no sítio certo e no local certo na altura certa. E quando isso falha…normalmente perdem-se pontos. Espero que não volte a acontecer este ano, porque a margem é curta demais para nos darmos a estes luxos.

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Ouve lá ó Mister – Olhanense


Amigo Vítor,

Estou desde quinta-feira a tentar curar uma naso-faringite. E não usaria este termo se não tivesse ido à médica com quase 39º de febre, que me obrigou a ficar dois dias a trabalhar de casa, muitas horas de contínua dor de garganta e uma absoluta incapacidade de me locomover para mais que uma ou outra visita ao WC. O resto foi passado aqui, a trabalhar na mesa da sala com alguns pequenos intervalos de minutos em que, prostrado na cama ou no sofá, ia pensando na vida. Sou homem e como sabes os homens sofrem mais quando estão doentes que as mulheres, não tenho dúvida. Nem sei porquê, mas é um facto.

Por isso ainda nem sei se vou conseguir ir ver-te ao vivo. E será uma pena, especialmente depois do jogaço em Guimarães, mas caso não me vejas para lá, não desanimes, pá. É mais um jogo para ganhar e seja qual for o resultado do jogo do Benfas que acaba antes do nosso começar, a motivação funciona sempre em nosso favor. Quer fique em casa ou vá ao Dragão, conto contigo e com uma boa exibição dos teus moços para me ajudarem a ficar bom, porque amanhã vou trabalhar e se ainda estiver doente, ao menos que algo me dê um motivo para me levantar da cama com um sorriso.

Sou quem sabes,
Jorge

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