Baías e Baronis – Vitória Guimarães 0 vs 4 FC Porto

Não estava à espera de um resultado tão desnivelado, tenho de admitir. Mas foi merecido pela atitude, pela postura de campeão com que entrámos em campo e mostrámos sem margem para qualquer questão do mais perverso ou absurdo que seja, que sabemos jogar muito bem à bola. E sabemos fazê-lo com nível, com classe, usando todos os jogadores num câmbio de velocidades e de ritmos, em bailados com a bola a fluir alegremente entre os colegas de equipa, que se unem para proporcionar aos adeptos, aos bravos adeptos que acompanharam a equipa a um terreno que é ligeiramente menos hostil para as nossas cores que Berlim para um negro homossexual nos anos 40, um espectáculo digno de uma grande equipa num campeonato fraco. Foi um excelente jogo e só tive pena que não tivéssemos sido eficazes. É verdade, queixo-me da eficácia, mas pouco. Porque hoje é dia para ir dormir a pensar: “que bom que é ser portista”. E sorrir. Vamos às notas:

(+) Jackson. Porque marcou um hat-trick. Porque fê-lo num jogo que até parecia estar a ser marcado por alguma ineficácia em frente à baliza, depois de vários lances em que não conseguiu bater Douglas mesmo estando frente-a-frente com ele. Porque sabe o que fazer no espaço à procura da bola mas acima de tudo sabe muito bem o que fazer depois de a reter no seu seio, de a capturar no seu campo de forças colombianas e afastando o adversário com uma finta com ou sem bola, a acaba por endossar sempre na melhor direcção para que o ataque continue. Porque na semana em que finalmente vê uma opção no banco que não o faça rir como a que via antes de Liedson chegar, lembra-se de marcar três golos e fazer mais uma fantástica exibição. Porque é um avançado que vale o dinheiro que se paga por ele. Por isto tudo…um Baía e a minha vénia, Jackson. Já fazes parte da família.

(+) O resto da equipa. Este FC Porto que aparece no arranque de 2013 tem vindo a mostrar que está forte. E hoje deu mais uma prova dessa força com a capacidade de se transcender do estilo mais lento e arrastado de alguns jogos e aparecer pressionante, forte, altivo, com trocas de bola tão práticas e ao mesmo tempo tão inteligentes e bem trabalhadas, com um fio de jogo que me põe na memória momentos de Deco/Maniche/Costinha, tal é a facilidade com que os elementos do meio-campo se interligam entre as linhas, com harmonia e um único propósito: a vitória. À imagem de Zahovic ou de Jardel (que ia ficando sem cabeça neste mesmo estádio em 1997, se Neno lhe tivesse conseguido acertar na mona numa saída com o pé à altura da moleirinha do brasileiro) quando fizeram o mesmo resultado neste estádio aqui há dezasseis anos e que nos deu o primeiro “tri”, a felicidade de ver os jogadores a gostarem do que fazem é tremenda. Desde Alex Sandro, a rasgar pelo flanco, Marat com inteligência a desmarcar o avançado, Moutinho a pausar o jogo no momento certo, Mangala fortíssimo na defesa, Otamendi igual a seu lado, Fernando e Varela a assistirem para golo, cada um à sua maneira…foi alegria, foi perfeito, foi futebol de grande nível e foi acima de tudo a certeza que podemos fazer tanto melhor do que fizemos no ano passado e mesmo até agora neste ano que atravessamos. A este ritmo, com este futebol…faltam 13 vitórias para sermos campeões. Keep your eyes on the prize, boys!

(-) Vitória de Guimarães. Fraquinho, mais uma vez, incapaz de dar a volta a um resultado e a uma equipa que lhe eram superiores em tudo, com transições mais directas que o Stoke de Tony Pulis, alguns nomes que são pouco mais que isso e uma equipa em permanente construção. A derrota era expectável. O que não é expectável é que um punhado de jogadores que fazem a equipa do Guimarães insistam em defender resultados negativos em jogos que disputam em casa, seja contra que clube fôr! Não me façam começar a ignorar o vosso nível, porra, se um clube se torna tão indiferente a este tipo de situações, se se transforma em mais um pobre e infeliz coitado que nada consegue para lá de três ou quatro pontapés para a frente e bola para o poste que está na área e rezo aos deuses das bolas paradas para ver se conseguimos lá enfiar um chouriço…aí ficam a ser só mais um clube, e desses temos muitos. Nunca gostei do Vitória, admito, há qualquer coisa de visceral na relação entre mim e aquele clube que os coloca ao nível do desprezo que tenho pela couve-flor, a palavra “corrimento” e o vocalista dos Keane. Não saiam desse restrito lote, por favor, que um gajo precisa sempre de algo para desgostar, senão a vida perde o sal. Sejam vivos, lutem, dêem-nos cabo da cabeça nos jogos, façam com que nos vejamos à rasca para aí ir ganhar e dêem-nos motivos para vos continuar a desprezar. E já agora parem de atirar cadeiras ao Acácio, fazem favor.


Continua o cá/lá entre FC Porto e Benfica, com três pontos à frente (à condição) mas ainda muitos jogos que podem fazer com que tudo se inverta. E esta vitória deu um gozo bestial por ser contra o Guimarães, mas acima de tudo pela maneira como aconteceu. Simples, com arte, com saber, com valia. Com Porto. Lindo, meus amigos, foi lindo.

Link:

Ouve lá ó Mister – Guimarães


Amigo Vítor,

No futebol português, neste enorme deserto que faz com que tenhamos uma extensa temporada de passeios na areia com os pés a esfolar e a moleirinha a assar, há três oásis que me dão um prazer imenso visitar. O Dragão, no pleno das suas faculdades arquitectónicas, está no cume, um zénite de beleza e perfeição. A Luz, onde vitórias atrás de vitórias me deram bebedeiras sem álcool mas com emoção para vender em feiras ao preço da chuva, tal a frequência com que aconteceram. E Guimarães, onde a fossa séptica do clube que hoje visitamos insiste em sobreviver mesmo depois de tanto portista lhe rogar pragas de dimensão bíblica.

Nenhum portista, por muito que se sinta digno pela discreta satisfação que os triunfos nos tem trazido, pode nutrir grande amor pelo Vitória. É um clube de gente vil, que nos admira em segredo mas que nos detesta em público, que faz juras de ódio eterno à nossa camisola e aos nossos valores. São fezes, a putrefazer no seio da sua própria imundície, a criar toda a espécie de bactérias que devoram a carne e poluem a mente. É escárnio, vilanagem, nojo, são os Simply Red de camisola branca. É merda, é merda, pim.

E é por isso mesmo que este jogo me enerva, pela possibilidade de poder perder pontos contra eles. Ainda por cima hoje, que vais a Guimarães com um exército depauperado, sem elementos tão importantes como James, Atsu ou agora Defour, que estava a jogar tão bem e te lixou a vida com uma trampa duma microrrotura com um timing pior que um notário em frente ao Vale e Azevedo. Mas conto contigo, conto com todos, para lançares os metafóricos gafanhotos sobre o estádio do tio Afonso e mostrares que quem manda somos nós e que o país mudou-se para Sul mas que continua a ser na Invicta que se joga à bola em condições.

Ganha, por mim, por todos os portistas. É uma questão de honra. E de três pontos, também.

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

Citius, altius, fortius? Nenhuma das três.

 

foto retirada de zimbio.com

Tenho pena que as coisas tenham acabado (pelo menos por agora) desta forma. Nunca foi um génio, longe disso, e parecia sempre estar um degrauzinho abaixo de poder ser um indiscutível no FC Porto, primeiro ao lado de Bruno Alves e depois com Otamendi como companheiro no centro da nossa defesa. “É um turbo-lento!”, diz o meu pai, que achava o mesmo de Jorge Andrade nos seus tempos áureos de dragão ao peito, pelo menos até que lhe fiz notar que enquanto os adversários davam quatro passos, uma passada larga do central chegava para os acompanhar. Mas a verdade é que faltava ali qualquer coisa. Alto, forte, bom tecnicamente, raramente conseguiu aquele elemento diferenciador que poderia ter feito dele um central de grande qualidade ao nível dos que já por cá tivemos e continuamos a ter. E sempre foi essa a bitola pela qual todos os portistas avaliaram Rolando: é jeitoso, mas…

O problema, o único e enorme problema, é que Rolando, pelas declarações ou pela atitude demonstrada, sempre achou que era capaz de outros voos, de brilhar mais alto e mais intensamente. E nunca conseguiu.

Citius, altius, fortius. Nunca o foi. E sai, por uma porta bem mais pequena do que aquela que pensávamos vir a sair.

Link:

Baías e Baronis – FC Porto 5 vs 0 Gil Vicente

foto retirada de desporto.sapo.pt

Uma exibição quase perfeita contra uma equipa absurdamente má. É verdade que tudo correu bem, as combinações saíam com naturalidade, subidas apoiadas pelos flancos, troca de bola com tranquilidade no centro do terreno, overlaps inteligentes nas laterais, jogo de área razoável e uma vontade de marcar mais golos do que é normal nestas circunstâncias. Mas também é verdade que o FC Porto fez por isso, mostrando a uma casa fraca no Dragão que quando se quer jogar à bola em condições e a cabeça está empenhada num objectivo, a qualidade tende a vir ao de cima. E hoje, mais uma vez, mostrámos que somos uma equipa à imagem do treinador, com construção cuidada, sem atropelos, de ritmo pausado e acelerações cuidadas e bem direccionadas, em que a técnica recebe o mérito e a velocidade só existe quando é necessário. A meio da segunda parte a posse de bola esteve 83% contra 17%. Estivemos muito bem, portanto. Vamos a notas:

(+) Danilo. O melhor jogo com a nossa camisola, sem dúvida. Sempre a inclinar para o meio, como de costume, aproveitou o espaço para marcar um bom golo e arrancar aplausos a todo o estádio, tal era a vontade dos adeptos de ver um dos maiores investimentos de sempre a render ao nível que todos esperam. Excelente no arranque das jogadas, continua a ser um jogador bastante diferente de Alex Sandro, porque enquanto que o esquerdino gosta do 1×1 e aproveita essas oportunidades, Danilo prefere receber a bola em movimento, à larga, com relva pela frente. Não baixou o ritmo na segunda parte e foi sempre um perigo a aparecer perto da área. E, mais uma vez, mostrou que é a médio-interior que preferia jogar…mas vai mesmo continuar a lateral. Só precisa de ser inteligente e perceber que mesmo na lateral consegue fazer a diferença se tiver cabecinha.

(+) Defour. Mais um excelente jogo de Defour, que até começou a um nível menos bom, com alguns maus controlos de bola e um falhanço à beirinha da baliza. Não é e nunca será um extremo mas acaba por jogar numa posição de interior, funcionando quase como segundo avançado ao lado do ponta-de-lança. Corre quilómetros, raramente desiste de uma bola e é acima de tudo um tipo de jogador certinho, que raramente será genial mas está sempre em bom nível. Uma espécie de Paulo Ferreira belga e mais versátil. Grande simulação e ainda melhor remate no golo que marcou, totalmente merecido.

(+) Moutinho. As jogadas de ataque do FC Porto não podem passar sem ele. Diria que toda a estratégia de criação de lances ofensivos passam por ele não só de uma forma literal, porque retém a bola durante o tempo necessário a que a equipa se posicione melhor para a receber, mas porque é ele que funciona como o metrónomo da equipa. É Moutinho que decide quando avançar, por onde e a que velocidade. É Moutinho que orienta a bola para o centro, a endossa para o lateral ou recua para o trinco. É Moutinho que mexe e faz o FC Porto mexer. É imprescindível e só espero que esteja no Olival a treinar na próxima sexta-feira, umas horas depois de fechar o mercado…

(-) Gil Vicente. À saída do relvado do Dragão, imagino o que estariam a sentir os jogadores do Gil. Dever cumprido? Trabalho bem feito? Esforço suficiente para honrarem a camisola e a profissão que praticam? Não creio, nenhuma delas. Não consigo compreender, por mais que tente, como é que uma equipa de futebol se desloca ao estádio de uma das equipas mais fortes do Mundo (sem hipérboles, afinal estamos ou não nas dezasseis melhores da Europa neste momento?) e apesar de sofrer dois golos em dez minutos, a atitude sempre foi um melindre absurdo de abdicar da posse de bola para ficar atrás, a ver jogar. Literalmente, porque as percentagens de posse de bola, sempre nos oitentas, só subiam a favor do Gil quando havia um lançamento ou uma fugaz troca de bola entre os centrais. Não entendo, palavra. O que há a perder? Arriscariam perder por cinco, seis, doze?! Dizia-me o colega do lado que na rádio diziam que o FC Porto tinha valores de posse de bola ao nível do Barcelona. Mas os culés nunca jogaram contra o Gil Vicente. Era para bater recordes, não duvido.

(-) O amarelo de Mangala É um bom exemplo para se perceber que uma displicência chateia muita gente, mas várias chateiam muito mais. Mangala viu um cartão amarelo tão escusado como um retrato a óleo do Manuel Vilarinho de corpete a dançar o can-can, tudo porque decidiu não proteger a bola de uma forma conveniente e permitiu que o jogador do Gil lá chegasse primeiro. Viu-se obrigado a fazer falta para evitar que o rapaz corresse para a área e causasse perigo, e bastava ter tido a mesma inteligência no posicionamento defensivo que teve em centenas de outros lances idênticos, e este amarelo era poupado. E daqui a uns jogos, quando as suspensões começarem, vamos ver os amarelos que podíamos ter evitado. Aposto que muitos serão deste estilo.


WE’RE NUMBER ONE! WE’RE NUMBER ONE! WE’RE NUMBER ONE! Serve de pouco, é verdade, mas ainda assim é engraçado perceber que este campeonato, a correr normalmente até ao jogo contra o Benfica no Dragão, parece encaminhar-se para um festim semanal de diferenças entre golos marcados e sofridos, ou no caso do Record, “dos critérios assumidos por esta redacção”. Continuemos em primeiro, pois, até ao fim.

Link: