Izmailov is my love?

Sentimentos contraditórios assolam a minha mente quando quebro uma das minhas auto-impostas regras para um defeso tranquilo e me coloco perante a estranha situação de comentar a eventual chegada do Marat ao Dragão. Nunca escondi que era um dos meus jogadores preferidos do Sporting, um daqueles que sempre que me foi colocada aquela putativa pergunta absurda do “quem é que escolhias do Sporting para vir para o FC Porto?”, estava sempre no topo da lista, a par de Liedson. Sempre foi um rapaz inteligente com a bola, com excelente remate, a jogar com dois pés activos, que jogava e fazia jogar e que tantas vezes me pôs a clamar piedade quando pegava na bola para lá do meio-campo sem marcação cerrada.

E as lesões todas que o rapaz foi acumulando nestes anos em que por cá passou não me metiam medo. Não porque tenha uma confiança cega no nosso departamento médico, nada disso que não entro em demandas loucas e auto-elogios parvónios, mas porque o tempo que passava em campo me dava confiança suficiente para que pudesse fazer a diferença em circunstâncias que precisavam de qualidade e capacidade técnica em vez de irreverência juvenil e tantas vezes infrutífera. É o que sinto ao ver rapazes com boa vontade como Kelvin ou Iturbe ou até um certo ponto Atsu, que me está a desiludir um pouco tendo em conta as altas expectativas que tinha dele, e que continuo a ter porque acho que só precisa de atinar mais uma ou duas dezenas de jogos para ser um titular absoluto na equipa. Quando um jovem com boa técnica e garra para mostrar futebol mas que apenas aparecem a espaços, lembro-me de rapazes como Izmailov ou Quaresma, que podem decidir um jogo ao mesmo tempo que usam a experiência acumulada para fazerem a diferença nas alturas que a equipa mais precisa deles. São jogadores instáveis, é verdade, capazes do melhor e do pior, mas que me dão mais garantias que a juventude tão boa para evoluir mas que é rapidamente ultrapassada pelos alicerces bem fundados de uma escola de vida que os putos, lamento dizê-lo, ainda não têm. Foi por isso que aplaudi a chegada de Lucho, com todas as limitações que a idade trazia, com a falta de pernas que se podia notar (e nota, oh sim) em muitos jogos, mas que compensa com outros vectores de inteligência competitiva que são fulcrais numa equipa que se quer dinâmica e agressiva mas também suficientemente madura para encarar problemas que se adivinham complicados.

Lembro-me dos golos que nos marcou. O petardo de pé direito que nos roubou a Supertaça em 2007, o tiro de pé esquerdo na Grande Implosão de Alvalade de 2010 ou o míssil que empatou a eliminatória da Taça no Dragão antes do capitão Mariano marcar aquele golão que nunca mais sairá do arquivo das minhas memórias. Faz-nos falta um rematador de meia-distância desde que Guarín saiu da equipa e se Moutinho tem vindo a melhorar nesse aspecto, em pouco será equivalente ao russo. Faz-nos falta um homem que possa servir como médio e extremo ao mesmo tempo e na mesma equipa, caso seja necessário encher um pouco mais o centro do terreno ou expandir a frente de ataque. Faz-nos falta alguém que faça diagonais para o centro e que remate para assustar o guarda-redes. Faz-nos falta um elemento que tenha boa técnica individual para controlar uma bola de primeira sem ter medo que ela tenha picos e fuja para a frente. Faz-nos falta alguma audácia quando James estiver em dia nim.

E se para isso tivermos de aguentar com um russo de trinta anos que ainda tem mais algumas largas e boas centenas de minutos pela frente, so be it. Que tenha o mesmo rendimento dos primeiros russos que por cá andaram, porque se alguma vez chegar a jogar tanto como o último russo que cá esteve…faço-lhe uma vénia com uns boxers vermelhos com foice e martelo e uma bandeira do Lokomotiv drapeada no meu lombo. Tens o meu selo de aprovação, Marat. Agora decide lá a tua vida.

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Revendo as decisões de início de época

Vamos quase a meio da época e ainda me lembro das decisões que fiz no início da temporada. Um pequeno balanço para ver como é que me tenho safado:

  1. Chegar aos jogos com tempo suficiente para uma urinadela e/ou um café; Ainda não falhei um. Até cheguei mais cedo uma ou duas vezes, deu para comer umas castanhas assadas e até para ver o treino por completo.
  2. Ostentar sempre uma peça de vestuário com as cores do clube. Preferencialmente camisola e/ou cachecol; Na mouche. Camisola nos dias mais quentes, cachecol para as noites frescas. Cem por cento.
  3. Procurar perceber as opções tácticas do treinador antes de começar a criticar as mesmas; Mais um bom resultado para a minha capacidade de análise. Seja em substituições, estruturas defensivas ou trocas no ataque, há sempre algum fundo de teoria antes da prática e procuro entender qual foi a racionalização de Vitor Pereira, corra bem ou mal.
  4. Não tentar encontrar o “novo Mariano” em qualquer jogador que controle mal uma bola; Ora…mal, muito mal. Não resisto e deixo que os maus passes do Varela me lixem a vida, as intercepções falhadas do Danilo me chateem e o alheamento do Kleber me enerve imenso. Talvez melhore na segunda parte da época, mas duvido que aconteça.
  5. Em caso de resultado negativo, acreditar que a reviravolta é sempre possível e eles conseguem se quiserem, carago; Sou um fraco, admito. Até agora no jogo contra o Estoril, estava mesmo a pensar que íamos perder o jogo. E no Dragão, contra o Dínamo Kiev, tinha a certeza que não íamos conseguir marcar o terceiro, sinceramente. Por isso é um belo dum falhanço neste ponto, como de costume.
  6. Abster-me de proferir a seguinte frase: “Tenho frio. Tenho fome. Foda-se.”; Estive quase a fazê-lo no jogo contra o Moreirense. Mas contive-me.
  7. Aplaudir o lateral quando sobe ao ataque, avisá-lo quando deixa o sector sem cobertura; A segunda é certinha, a primeira já falha de vez em quando porque nem sempre a subida é feita com grande critério.
  8. Criticar o que é criticável e elogiar o elogiável, sem arranjar desculpas; Só o fiz por uma vez e foi por causa do relvado, na altura que estava digno para toupeiras. Se excluir essa parte, tenho andado do lado da verdade.
  9. Perceber melhor o que o adversário vale e como o podemos parar; Nem sempre há tempo para perceber o que os gajos valem e ainda menos tempo consigo para ver os jogos do adversário antes de jogar contra eles, especialmente se são equipas de nível inferior. Durante o jogo deixo-me apanhar pela emotividade da partida e acabo consistentemente por criticar os outros rapazes sem perceber se de facto jogam à bola em condições. Mea culpa.
  10. Por último, manter a postura: NUNCA assobiar a equipa!; Vinte valores. Nunca o fiz e não prevejo alguma vez o vir a fazer.

Sete em dez. Não é mau, mas é sinal que nem sempre consigo ser coerente quando comparo as minhas vontades com os resultados. Um pouco como o Mariano quando dominava uma bola de primeira. Estão a ver? Lá estou eu outra vez.

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Baías e Baronis – Estoril-Praia 2 vs 2 FC Porto

foto retirada de desporto.sapo.pt

Foi um jogo estranho. Cheguei a casa mesmo em cima das seis e um quarto e quando vi Kelvin no onze achei estranho mas alinhei com a peça. E o FC Porto foi lutador, empenhado e sempre com vontade de conseguir atingir um nível suficiente para vencer o jogo. Mas não conseguiu, longe disso. O jogo foi trapalhão, com muitos passes falhados, muita atrapalhação, demasiadas más-intenções e uma tamanha desorganização táctica que me trouxe à cabeça imagens do FC Porto de Vitor Pereira aqui por esta altura há um ano. A grande diferença é que vi ali vontade, apesar das falhas. Vi audácia, apesar das inúmeras parvoíces que fizemos em campo. E vi que podíamos ter vencido com mais alguma sorte e acima de tudo com mais e melhores opções no plantel, que neste momento parece estar a abanar com algumas falhas em posições importantes. Vamos lá às últimas notas de 2012:

(+) Moutinho Foi dos poucos que sabia o que fazer em condições. Alguns passes falhados mas bastante mais calmo e inteligente na criação de lances ofensivos e na orientação da equipa em campo. Marcou um excelente golo num remate sem defesa para o nabo do guarda-redes do Estoril e esteve acima do nível da maior parte dos seus colegas.

(+) Alex Sandro Teve a habitual atitude de agressividade positiva mesmo sem subir muito no terreno. É notável na recuperação quando lhe aparece um adversário forte fisicamente e com força suficiente para o ultrapassar, e é nessas alturas que mais brilha na defesa, porque consegue desarmar o oponente com inteligência e posicionamento defensivo de grande nível. Subiu sempre com critério e segurança.

(+) Never give up, never surrender Foi uma das únicas facetas positivas do jogo e que pensei que poderia estar um pouco mais atenuada nos últimos tempos. Não tendo visto o jogo da Choupana e depois do não-jogo de Setúbal, a última exibição que tinha visto foi em casa contra o Moreirense e na altura pareceu-me ver que o “fogo” do Dragão podia estar a fraquejar. Ao que parece, estava enganado, porque mesmo numa competição que por muito que tentemos dizer que estamos a lutar para ganhar, na verdade não passa de um recinto de treinos em formato de torneio amigável. E só se chegarmos à final e calharmos de jogar contra o Benfica é que vamos levar isto a sério, por isso não me impressionaria que os jogadores não ligassem pevide a isto. Mas ligaram e ainda bem.

(-) Estáticos, demasiadamente estáticos Já no jogo contra o Moreirense se tinha visto que não havia movimentação suficiente no meio-campo para justificar a organização dos três rapazes que jogam pelo centro mas acima de tudo pelo único alvo central na área. E se retirarmos dessa bela equação a presença de um ponta-de-lança, esse mesmo alvo central como Jackson é ou Kleber gostava de ser…é fácil perceber que raramente se consegue uma jogada em condições desenvolvida quer pelos flancos ou pelo meio. Há passividade em excesso nalguns lances e nalgumas partidas, em especial naquelas jogadas em que uma intervenção pode levar a que fiquem com um dói-dói nas perninhas e já percebi que os nossos rapazes do meio-campo para a frente só se engalfinham na luta quando estão num de três estados: nervosos, desesperadamente nervosos ou se se chamarem Fernando Reges. Para lá disso vejo muita falta de fibra nas disputas individuais e custa-me dizê-lo mas estamos a perder claramente em relação aos nossos rivais nesse aspecto. Se a bola se mantiver na nossa posse, tudo bem. Mas passando-a para o lado do inimigo e lá andamos nós sem a recuperar e permitindo cruzamentos e remates como se os nossos adversários a isso tivessem direito. Falta arrogância ali no meio. Da boa.

(-) Passes curtos horríveis O relvado não ajudava, é verdade. Mas continuo a ver uma enormidade de passes falhados, de decisões erradas, com muita bola pelo ar, com força a mais, com força a menos, na direcção contrária, para cima quando devia ser para baixo, para o lado quando devia ser para a frente. Há alturas em que me questiono o que raio é que alguns destes rapazes estão a pensar quando passam a bola da maneira que o fazem, porque se me convencem pela energia, o posicionamento táctico e o brilho nas exibições de garra e de querer…noutras ocasiões fico a pensar que os gajos do Estoril passam melhor a bola entre eles que os nossos. Devo ser eu que estou a ver as coisas com óculos pessimistas.


Acabar o ano a empatar é chato. É um bocado como se estivesse à espera do Natal para comer rabanadas e quando chegasse o dia fosse a ver que estavam secas e com pouca calda. Uma tristeza, porque dá sempre para comer um bocado e lambuzar a beiçoça, mas sabe a pouco. Mas nada está perdido, mesmo percebendo que a competição se transformou de uma oportunidade de rodar as segundas escolhas em mais uma nova forma de manter o ritmo competitivo das…primeiras. Enfim.

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Ouve lá ó Mister – Estoril-Praia


Amigo Vítor,

Estou de volta. Foi uma semana intensa, com um misto de preparação para o Natal, a jantarada da véspera, os dois banquetes do dia, trabalho, mais algum trabalho, muito vinho e algum alheamento da bola para lá do Boxing Day. E devo-te dizer que ainda não me sinto cheio de força para voltar ao activo bloguístico, mas sei que a vou ganhando à medida que o FC Porto também regressa ao trabalho. E hoje já tenho alguma alegria futeboleira nos meus finais de tarde porque vou poder ver o meu clube, finalmente. Pá, desde o jogo com o Moreirense que não vejo as nossas camisolas em campo num jogo ao vivo ou em directo! É uma tristeza, não se faz e espero que não volte a ficar tanto tempo ausente do FCP a meio de uma temporada. Estás avisado, vê lá o que podes fazer quanto a isso.

E no que diz respeito à futebolada de hoje, é para ganhar, como sempre, mas sem pressão. Já vi que o Kleber se estourou todo, o Itúrbico está pronto para jogar na Argentina uns meses (ou anos, dependendo do que o moço crescer, não é? é.) e ainda no outro dia vi uma notícia que dizia que o Dínamo Zagreb queria o Kelvin. Raios me partam se não fiquei a olhar para o monitor do meu portátil a pensar se era mesmo a sério. Enfim, já vi que o convocaste e também fizeste o mesmo com o Quiño (não é o da Mafalda, pois não? é que este pode vir a dar jeito…) e o Sebá. Não digo que é a altura certa para lhes dar minutos, porque já sabes que se ganhas o jogo estás quase nas meias-finais e não era nada mau se lá conseguíssemos chegar. Por isso avança com os melhores e depois, se o jogo correr bem, deixa lá o Sebá calçar as botinhas e estrear-se nos As. Mas pensa sempre que há mais malta que precisa de minutos e que merece mais que o puto.

De qualquer forma, quero é ver bola. Jogainde em condições, fazeindes favor!

Sou quem sabes,
Jorge

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