Queiroz

A melhor opinião que li sobre o affair Queiroz é a do Filipe Vieira de Sá, no excelente Jogo Directo. Fica aqui reproduzida na totalidade, porque coincide à vírgula com a minha.

Nos últimos dias fui bastante critico para com o trabalho de Queiroz. Confirmou-se o cenário mais previsível e a sua “era” terminou. Não quero, porém, dar por encerrado este capítulo antes de uma clarificação sobre as criticas que fiz, que é também um ponto de ordem sobre o que me proponho fazer aqui.

Para que não haja confusões, não entro no filme de “prós” e “contras”, que radicalizaram posições para níveis bem além do que é racional e razoável, numa espécie de combate mediático que nasceu ainda durante a “era” Scolari.

Não antevi o fracasso de Queiroz na sua chegada. Não sou bruxo ou adivinho, e é para mim estranho que alguém tenha tantas certezas, seja em que sentido for, sobre alguém que apenas trabalhou 1 época como treinador principal no futebol europeu desde que saiu de Portugal, em 1996. Também não fui daqueles que “viu logo” fosse o que fosse. Acreditei sempre na qualificação, num bom Mundial e mesmo que não iriamos ser goleados pelo Brasil na fase de grupos, como muitos anteviram. Também, já agora, não sou daqueles que acha que Queiroz teve apenas a sorte de apanhar 2 “gerações de ouro” enquanto orientava os sub 20. Não acho que seja normal ganhar 2 Mundiais da categoria em edições seguidas.Da mesma maneira, não sou daqueles que acha que o trajecto de Scolari tenha tido um sucesso apenas “normal” ou “dentro das expectativas”. Muito menos, acho que Scolari tenha destruído seja o que for nas Selecções, ou que a “herança” de Queiroz fosse tanta que perdurasse até 13 anos depois da sua saída da Selecção para, de repente, se evaporar, precisamente antes do regresso de Queiroz. Para mim, todas estas ideias, que ouço e vejo repetidas à exaustão, são apenas produto de um pensamento enviesado, desprovido de razão e pleno de ridículo.

As minhas criticas são, isso sim, uma constatação qualitativa que pessoalmente faço a um trabalho que entendo já ter tido mais do que condições para ter outros resultados. Queiroz foi uma ideia que alguém inventou e que Madaíl resolveu abraçar. Para mim, e concluo-o agora e apenas agora, não passou de um espectacular fiasco.

Podem ver o artigo e visitar o blog aqui. Acreditem que vale a pena.

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Emplastro 2.0

Um pequeno desvio do mundo azul-e-branco para dizer que a próxima versão daquele rapaz que se põe atrás das câmaras (e que um dia destes vai levar no focinho de um jornalista qualquer) já está na net.

É porco. É indecente. É degradante.

É genial.

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Defender a defesa

Sou um treinador de bancada com uma mentalidade mais defensiva que ofensiva, muito à imagem daquilo que produzo quando estou a jogar uma futebolada com amigos (onde estou a experienciar o que é viver na pele do Rochemback, tal é a minha forma física actual), observo constantemente as movimentações dos defesas para verificar o porquê de muitas falhas que vão acontecendo com naturalidade no decorrer de um jogo. A defesa tem um papel importantíssimo no desenvolver de uma equipa, na base a partir da qual se vencem jogos. E é principalmente aí que temos de trabalhar, com a chegada de Otamendi para ajudar a fortalecer a rectaguarda da formação.

Até agora temos estado bastante bem na Liga, com zero golos sofridos em três jogos. Parece bom, contando com a excelente forma de Helton, mas pode ser melhor, não em termos numéricos mas ao nível da qualidade de jogo e da segurança das exibições. Todos têm notado a intermitência dos dois centrais e a chegada de Otamendi pode marcar a diferença em qualidade para melhor. O grande handicap é mesmo o desconhecimento de Nico por parte da nossa malta, eu incluído. Não sendo garantido que entrará “de caras” na equipa, muito menos num jogo tão importante como o de este sábado, Otamendi detém neste momento a maior carta a jogar na expectativa de ver melhorias nesse sector.

E o escolhido para ceder o lugar é…

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Entrevista de Rabah Madjer ao ionline

A entrevista é simpática e acaba por ser uma viagem a um passado não muito distante, uma conversa agradável com uma das nossas maiores figuras, que ainda tive o prazer de ver jogar ao vivo com a nossa camisola. Retirado da edição de hoje do ionline, da autoria de Rui Tovar.

Faz hoje 25 anos que aterrou no Porto um jogador que mudaria a história de Portugal, com dois golos em duas finais internacionais (Bayern e Peñarol)

Carlos Lopes nos JO em Los Angeles-1984, Rosa Mota nos JO em Seul-88, Fernanda Ribeiro nos JO em Atlanta-96. Já ficámos acordados de madrugada para ouvir o hino português. E também para festejar o título mundial do FC Porto, em 1987. O golo da consagração (um chapéu de aba larga: 30 metros) foi do argelino Madjer, que já havia construído a jogada do 1-0 de Gomes. E que, já agora, havia assistido Juary para o 2-1 com o Bayern Munique na final da Taça dos Campeões e que, dois minutos antes, marcara de calcanhar o golo do empate. Madjer só fez 148 jogos pelo FC Porto mas é um dos jogadores mais importantes da história azul e branca. Mas de onde é que ele veio? E como? E quando?

A esta última pergunta, a resposta é hoje, 8 de Setembro. Só que de 1985. Faz 25 anos que Madjer chegou ao Porto, via Tours, uma equipa da 2.a divisão francesa, que não o quis por mais uma época, por “insuficiências técnico-tácticas”, de acordo com as declarações de um dirigente francês ao jornal “L”Équipe”, na edição de 18 de Agosto desse ano. O i quis saber isso e muito mais. Entrevista ao quinto melhor jogador africano de sempre (atrás de Weah, Milla, Pelé e Belloumi) e ao mais influente estrangeiro do FC Porto (à frente de Jardel e Cubillas).

Boa tarde Madjer. Falo de Portugal.

Boa tarde, amigo. Tudo bem?

Tudo. Sabe que dia é amanhã?

8 de Setembro.

Isso não lhe diz nada?

Hãããã… Que falta um mês para eu chegar a Portugal. De férias.

Pronto, isso é agora. Mas a 8 de Setembro de 1985, o Madjer aterrou no Porto pela primeira vez. Lembra-se?

Sim, claro, no Aeroporto Sá Carneiro. Cheguei com o Lucídio Ribeiro, empresário português que trabalha muito no mercado francófono. Estava um dia cinzento. Fui para o hotel e daí para o Estádio das Antas, para ver o FC Porto-Penafiel [3-1, com golos de Semedo, Gomes e João Pinto] onde conheci toda a gente. Houve logo química: o presidente Pinto da Costa, o médico Lima Pereira, André, Frasco, Gomes, Futre, Eduardo Luís, Jaime Magalhães, João Pinto, Juary. Tudo gente cinco estrelas.

E Artur Jorge?

Também, também. Grande senhor do futebol.

Mas vocês tiveram os vossos problemas.

Sim, mas problemas com solução. Por muito bom que seja o espírito de uma equipa de futebol, e o FC Porto era como uma família, há sempre alguém às turras com alguém. Ou o presidente com o treinador ou o jogador com o treinador. São coisas que vão e vêm. E passam. Quando havia esses stresses, nada melhor que ir almoçar ou jantar.

Mas isso não se faz diariamente?

Não, digo almoçar ou jantar com a malta amiga. Nesses casos de stresse, organizávamos excursões à Póvoa de Varzim para comer e relaxar. O André era o líder espiritual desses convívios. Era também o mais divertido do plantel, sempre bem disposto e a contar anedotas. Como o Lima Pereira, outro capitão dentro e fora do campo e sempre pronto a comandar as suas tropas [risos]. Como o Futre, jovem e irreverente como só ele sabia. Resumindo: se houvesse algum stresse comigo, eles resolver-me-iam a situação num abrir e fechar de olhos. Percebes?

Claro. E porquê Póvoa de Varzim?

Invenções do André [risos]. Ele é de lá. Amigo, havia lá um restaurante fantástico. Não me perguntes o nome que não me lembro.

E lembra-se de como entrou na equipa do FC Porto?

Sim, sim. Muito bem. O primeiro jogo foi no Estádio da Luz, com o Benfica, na festa de inauguração do Terceiro Anel. Um jogo particular e empatámos 0-0. A estreia oficial foi também em Lisboa, mas no Restelo. Ganhámos 3-2 ao Belenenses e eu fiz duas assistências para o Gomes. Depois, recebemos o Sporting e vencemos 2-1. Até que veio o tal jogo que me desbloqueou, no Bessa. Foi 2-1 para nós e eu marquei os dois golos, os da reviravolta [Casaca fizera o 1-0]. Pronto, a partir daí, ninguém mais me agarrou.

Só na Póvoa de Varzim.

Pois é. Olha, daqui a um mês lá estarei. Ao volante do meu Toyota.

Qual? Aquele que ganhou em Tóquio?

Esse mesmo. Na final da Taça Intercontinental-1987, fui eleito o melhor em campo e ganhei um carro. Levei-o do Japão para Portugal e desde então nunca mais me desfiz dele. Está lá, guardado na garagem da minha casa, em Vila Nova de Gaia. Tenho o mesmo carro há 23 anos e está como novo. Nunca me deu problemas. Nem um! As marcas japonesas são, de facto, do mais fiável que há. Mas isto é só com carros. Porque já viste o tempo que estava em Tóquio naquele dia? Tudo menos fiável. Na véspera, nublado. No dia do jogo, nevava, nevava, nevava e não parava de nevar. Aquilo era impressionante. E eu que nunca tinha jogado na neve. Nem eu, nem os outros.

Nesse jogo marcou o golo da vitória.

Um grande chapéu quase do meio-campo. Foi o golo que mais prazer me deu, porque significou o título mundial. Mas não foi o mais bonito. Esse foi o de calcanhar…

Com o Bayern?

Não. A piada é essa. O melhor golo de calcanhar não foi esse, embora seja o mais falado em todo o mundo, porque foi numa final e com o poderoso Bayern. Hoje, se falarem de um golo à Madjer, todos sabem como é. Da mesma forma que ninguém esquece o slalom do Maradona com a Inglaterra em 1986 ou o penálti à Panenka em 1976. Mas a seguir à Taça dos Campeões, ganhámos 7-1 ao Belenenses [26 de Agosto de 1986, primeira jornada do campeonato nacional, na estreia de Rui Barros pelo FC Porto e de Marinho Peres como treinador dos azuis do Restelo], marquei três golos, o último deles de calcanhar, mais bonito que o de Viena. Sabes porquê?

Não.

Do cruzamento do Jaime Magalhães, recebi a bola com o pé esquerdo e dei com o calcanhar direito.

Mas então esse golo vi-o há poucos dias, na internet.

A sério? Não pode ser. Onde?

No YouTube.

Espera aí, vou buscar papel e caneta para anotar o endereço [espera] Diz-me lá.

É só ir ao site do YouTube e escrever “fc porto belenenses 7-1”.

Mas isso é fantástico. Já ganhei o dia. Obrigado. Vou já rever esse golo. Tenho–o na memória. Agora vou copiá-lo para o computador. E posso mostrar aos meus amigos. Eles não acreditam em mim. Dá para acreditar nisso?

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Gamão

O meu jogo preferido de tabuleiro é o gamão. Não está muito instituído no nosso país nem na nossa cultura mas nos países árabes os gajos jogam aquilo tanto como nós jogamos damas. E é exactamente essa a ideia que a maior parte da malta tem acerca de gamão: “ah, é tipo damas, não é?”. Não, não é.

O gamão é um jogo complexo, com matemática e probabilidades ao barulho, onde a defesa das posições se torna imperativa quando confrontados com o ataque do adversário. Qualquer falha pode levar ao desnoronamento de toda a estratégia montada para o desafio e apesar de depender em grande parte da sorte como qualquer jogo que avance mediante o lançamento de dados (ou de dardos onde a sorte ainda é mais madrasta já que se um gajo se apanha no meio da relva e não vir um míssil a vir em sua direcção pode mesmo perder uma vistinha e não é nada prático para ver a novela). Continuando.

Jogando gamão podemos ter uma percepção interessante de como uma estratégia pode ser assente em princípios base e aplicáveis independentemente das nuances da fortuna. Há sempre que defender uma posição ganha com mais que uma peça, cobrir zonas consecutivas para impedir o avanço contrário, criar barreiras fortes mas não exageradamente empilhadas para não ser impossível passar e permitir mobilidade caso surja uma oportunidade de ganhar terreno…entre tantas outras.

Por esta altura, se não estiver distraído com um qualquer site porno em background com húngaras a ganir em poses aparentemente desconfortáveis, já terá observado as parecenças desta modalidade com o futebol. Até as peças são semelhantes a alguns jogadores em termos de mobilidade, como é o caso, por exemplo, do Ricardo Silva.

Tudo isto para dizer que no futebol, como no gamão, as peças são colocadas e por muito que a estratégia esteja montada, a sorte é um factor com o qual não podemos contar e que nos acaba por lixar a vida ou elevar a patamares de sucesso. É tudo uma questão de estarmos preparados para a enfrentar.

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