Sabes, há alturas em que pareces um Capucho núbio

 

Sim, este post é sobre o Varela. Especialmente pelo que tenho vindo a apreciar nos últimos jogos e que se prende com uma certa Capuchização do estilo do Silvestre desde a saída de Hulk e as constantes cambiantes de James do flanco para o interior onde pode melhor soltar a liberdade criativa como um Da Vinci depois de uma tripe de ácido. Varela, neste momento, está em processo de transformação de um jogador rápido, voador sobre o flanco e incisivo nos dribles em progressão e a agir como uma flecha apontada do flanco para a baliza adversária, num homem mais calculista, frio, que surge em zona de finalização muito mais central, que descai para o flanco oposto ao que é ocupado em part-time pelo colombiano e que fazem dele uma personagem atípica tendo em conta o passado recente na nossa equipa.

Voltemos a 2009, quando Varela chegou. Capacidade técnica mediana, muita velocidade com a bola e intensa vontade de passar pelos oponentes em corrida, numa prova ao sprint que normalmente terminava num cruzamento perigoso (ou não) onde Falcao tentava a todo o custo empurrar a bola para a baliza ou, no pior dos cenários positivos, atravessava a área até chegar a Hulk, no outro flanco. Depois de uma lesão que o chutou para fora do Mundial de 2010, no ano seguinte, o da glória Villas-Boasiana, Varela decaíu no nível, na velocidade e na entrega, tremendo em muitos jogos mas continuando a ser um elemento considerado titular num tridente de ataque que demoliu defesas atrás de inertes defesas com um avassalador ataque que destroçou meio-mundo e deixou o outro meio agarrado aos testículos com medo que caíssem depois da traulitada que levaram.

Em 2011/2012 e agora em 2012/2013, Varela parece diferente. Mais calmo, quase sempre com um compasso de espera antes de passar à acção, controlando melhor a bola e cedendo mais ao jogo colectivo. Parece mais trapalhão mas mais inteligente, menos explosivo e mais pensativo. Ainda no jogo contra o fraquito Dínamo Zagreb, vi Varela a fintar sem tocar na bola, a inclinar o corpo para fazer com que o inepto croata caísse na deambulação da própria mente e cedendo à inércia para que lhe desse a hipótese de continuar com a bola na sua posse, a galgar terreno como um leopardo vagaroso acabado de sair de uma operação às varizes. Com Atsu a trincar-lhe os tornozelos com a juventude e raça própria de um jogador com um estilo peculiar e pouco habitual no FC Porto desde há muitos anos, Varela parece ter admitido a derrota no corpo mas nunca na mente, protegendo muito mais a bola com o corpo, criando espaço para ele e esperando que os colegas surjam em posição mais vantajosa que ele para lhes endossar o esférico direitinho, redondinho, pronto para o tiro de morte.

Estás diferente, Silvestre. E se começares a correr com os cotovelos dobrados a noventa graus, os braços perpendiculares ao corpo e conseguires controlar uma bola de primeira sem problemas, estás a uma fita no cabelo de ficares um novo Capucho, com uma tez bem mais escura. E não é tarefa fácil, garanto-te. Aquele nível não se consegue treinando. Nasce-se com ele.

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