Baías e Baronis – Sevilha 4 vs 1 FC Porto

foto retirada do MaisFutebol

Pum. Pum. Pum. Pum. Quando me levantei, logo a seguir ao apito final, havia algo que me incomodava, causando desconforto quase físico. Fechando os olhos, imaginei que quatro bacamartes sevilhanos se encontravam a expandir o meu esfíncter até ao ponto de ruptura, sem que me tivesse apercebido de como raio lá tinham chegado. E regressei a um tempo não muito distante, aqui há uns simples meses atrás, em que via o FC Porto a defender como se estivesse no recreio da escola, a correr atrás da bola sem um semblante mínimo de organização, temendo o pior e vendo-o a acontecer à sua frente, não conseguindo fazer nada para o evitar. Hoje, em Sevilha, fomos exactamente o que temos vindo a ser durante quase toda a época. Ineficazes no ataque, amadores na defesa. E caímos com estrondo e com a equipa caiu também o poucochinho resto da moral de uma temporada. A notas:

(+) Quaresma. Perdeu muitas bolas, falhou muitos cruzamentos e não conseguiu ser decisivo. Conseguiu fazer com que o atrasado do Coke fosse expulso e marcou um golo estupendo que já não serviu para absolutamente nada a não ser para entrar na compilação de golos do ano da segunda prova de clubes a nível europeu. Mas foi dos poucos que tentou, ao seu estilo, sempre a olhar para o que *ele* podia fazer, com pouco jogo de equipa e sem a velocidade de outros tempos mas sempre a tentar fazer pela vida com vontade de vencer. Não foi genial, longe disso, mas foi lutador.

(-) Os laterais. Já disse várias vezes que “este foi o pior jogo de Danilo/Alex Sandro”. Hoje é só mais um jogo que trouxe mais um saco cheio a somar à quantidade de imbecilidades que estes dois rapazes têm vindo a fazer este ano. E se Danilo tem estado menos mal durante a época (mal, mas não tão mal como no ano passado), Alex Sandro é o poster-child da idiotice competitiva, perdendo bolas absurdas em zonas proibidíssimas, causando problemas irresolúveis aos colegas, dificultando (sim, DIFICULTANDO) o trabalho do guarda-redes e fazendo uma exibição, mais uma vez, a roçar o absurdo. Danilo, com o permanente pessimismo que o afecta desde que cá chegou, nunca pareceu concentrado no jogo e abriu o jogo com um penalty depois de um carrinho exagerado em plena pequena área. São jogadores de top, dizem-me. Não se têm mostrado como tal.

(-) A fraquíssima mentalidade competitiva. Sevilha, essa cidade de tantas alegrias no passado, escorregou hoje do panteão para um terreno lamacento onde o nosso espírito hoje permanece, afundado depois de uma exibição que teve tanto de fraca como de, lamento dizê-lo, esperada. Dizer que a equipa que venceu o Nápoles é quase a mesma que hoje se apresentou na Andaluzia é uma idiotice como tantas outras, pelo simples facto destes rapazes não conseguirem manter um jogo coerente. Tremem, os pobres, com os infortúnios. Acham que conseguem fazer exibições sofríveis e continuar a brilhar no meio dos outros que outrora envergaram a mesma camisola e mostraram ao Mundo o que é que um clube de uma pequena região de um pequeno país consegue fazer se tiver mentalidade para isso. E hoje, ao ver a lentidão de Herrera na execução, a ausência quase total de Varela e Carlos Eduardo, a incapacidade de Defour em lidar com um meio-campo que nem estava assim tão densamente povoado (já não parecia tão mal ter jogado o Mikel, pois não?), o desânimo de Danilo ou a atitude estúpida e arrogante de Alex Sandro, ou até o desnorte de Mangala e de Reyes, o pouco sentido prático de Kelvin (não terás culpa de jogar tão pouco, mas por favor pára de fintar a bola. essa merda só enerva, acredita) ou o invulgar apagão de Ghilas, tive a perfeita sensação que a época acabou. Temo os jogos contra o Benfica porque a honra está aí para ser defendida mas não vejo nesta malta a força moral para o conseguir. Falha-se demais e lamenta-se demais. Corre-se menos que os outros, sempre menos que os outros, perdem-se lances de ataque consecutivos e baixam-se os braços. Alinhamos com meios-campos eternamente renovados e esperamos frutos de árvores que nem sequer raízes criaram. Este grupo, este penoso e infeliz grupo de jogadores que este ano apoiámos, incentivámos e tentámos elevar a mentalidade para que fossem de novo uma equipa de vencedores, nunca o será. E não o é por culpa própria, porque perdeu jogos demais contra equipas que estão abaixo deles, sem que os preocupasse em demasia. Acabam o jogo e perdemos, ó que raio de coisa, perdemos outro jogo. Os adeptos, da parte de fora, não compreendem. Eu não compreendo. Ninguém compreende.


E agora, meus amigos? Empacotamos o resto da temporada ou vamos tentar limpar a honra nas Taças que sobram? Se tirarmos o jogo de hoje como uma amostra do que se pode fazer, é certinho que o único highlight que vamos ter até ao Verão vai ser mesmo o campeonato do Mundo…

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Sevilha

foto retirada de desporto.sapo.pt

Vencemos, mas não soube a vitória. Soube a falhanço, por muito que o resultado traga uma agridoce satisfação de não termos sofrido golos, que nem estiveram sequer perto de acontecer. Mas soube a falhanço porque depois de uma primeira parte com muita bola e um golo veio um segundo tempo onde se notaram tantos dos problemas que têm vindo a marcar esta temporada, especialmente estes últimos jogos. Faltaram pernas e seguiu-se a falta de cabeça…ou terá sido ao contrário? Não sei, sinceramente, mas acredito que as duas ausências deixaram uma tremenda incapacidade de furar contra um adversário que nos é inferior mas que conseguiu um resultado simpático à custa das nossas lacunas, físicas, tácticas e especialmente mentais. Um desperdício, foi o que foi. Vamos a notas:

(+) Defour, enquanto teve pilhas. Correr por dois cansa a dobrar, ao que parece. Foi isso que Defour fez hoje, ajudando Fernando atrás mas cobrindo o terreno que Carlos Eduardo deveria percorrer, o espaço que o brasileiro nunca ocupou foi o belga que tratou de encher. E ainda teve tempo para ser dos primeiros a pressionar os centrais e Beto, sempre em esforço mas a empurrar a equipa para a frente. Excelente remate ao poste…mais um…

(+) Reyes e Mangala. Apesar do francês ter feito uma daquelas palermices que por vezes se lembra de fazer, tentando sair com a bola controlada de uma zona impossível, ambos estiveram bem. Bacca quase não cheirou a bola e o mexicano esteve muito bem na cobertura e no posicionamento, com noção perfeita de onde estava o seu colega, ajudando a cobrir bem as subidas de Danilo e incentivando a equipa nas bolas paradas. Mangala, pelo golo e pela forma como conseguiu impôr o físico e desequilibrar no meio-campo, foi importante especialmente na primeira parte.

(-) Quaresma. Teve dois lances estupendos, um remate de primeira depois de um balão que lhe foi enviado do lado esquerdo e que deixou Beto com as mãos a arder; outro, no final do jogo, depois de (mais) um livre por si cobrado, onde aproveitou o ressalto para atirar outra bola ao poste. Mas é no resto do tempo de jogo que Quaresma não conseguiu brilhar, em grande parte por culpa própria. É verdade que somos parciais na tolerância que damos a Quaresma (quando digo “nós” refiro-me aos adeptos de estádio) mas nunca se sabe quando é que vai sair um lance genial que nos faz esquecer o resto dos minutos passados com a bola tempo demais perto dos pés, as inúmeras fintas inconsequentes e as perdas de bola quando pode passar a bola para o colega do lado mas insiste em tentar fazer tudo sozinho. Quando Quaresma está numa noite destas, em que pensa demasiado nele e menos na equipa, todos perdem, a começar por ele.

(-) Carlos Eduardo. Fez seis jogos a titular com Luís Castro, foi substituído em cinco deles, sempre por volta dos 60 minutos e sempre por sub-rendimento. E continuo a não perceber como é que um homem que joga numa posição criativa consegue passar tanto tempo alheado do jogo, sem se desmarcar para ganhar posição ou criar linhas de passe para conseguir receber a bola. Foge do jogo, esconde-se no meio dos médios adversários e quando recebe a bola raramente passa mais de dois segundos com ela nos pés, passando de imediato e fugindo outra vez para uma zona onde não a pode receber. Actualmente temos um jogador a menos em campo quando Carlos Eduardo lá está.

(-) Façam treinos técnicos, por favor. Não consigo ser mais directo que isto: este é o pior FC Porto em nível técnico dos últimos dez anos. Lula, Jankauskas, Tomás Costa e Mariano González envergonhariam alguns dos executantes do nosso plantel actual a nível do passe ou do cruzamento. É altura de alguém conseguir explicar aqueles rapazes que se aprende toda a vida e que é inadmissível falhar tantos passes e cruzar tantas vezes para a bancada ou directamente para o primeiro cornaduro que aparece na frente.

(-) A expulsão de Fernando. Ao ritmo de uma mãe com o filho dobrado nas pernas, de rabo espetado para cima: “Não. Podes. Reclamar. Com. Os. Árbitros. Dessa. Maneira!”.

(-) E com as pernas foi a cabeça. O Sevilha é uma equipa banal. There, I said it. Qualquer equipa que tenha o Daniel Carriço como titular não nos pode meter medo, por isso fiquei tão desiludido quando vi que no início da segunda parte, quando pensei que o Sevilha viria com alguma força durante dez minutos para tentar marcar um golo e recuaria depois de acalmarmos o jogo e retomarmos o domínio da partida, o FC Porto entregou a bola voluntariamente aos moços. Numa altura em que era preciso pernas, não houve. E a cabeça foi atrás das gâmbias, porque já começava a ser complicado para Danilo e Alex Sandro aguentar constantes subidas pelos flancos (e descansar um deles? ou os dois? isso é que era!) e para Quaresma e Varela ajudar a defender as laterais. O meio-campo então desfez-se com a saída de Defour, porque Quintero entrou perdido e Herrera medroso. Foi penoso ver a equipa no final do jogo, sem força nem alma, exaustos depois de um jogo que não foi tão exigente como tantos outros que já disputámos…


Não foi um 1-0 como o resultado que conseguimos frente ao Nápoles aqui há umas semanas. Será suficiente? Vamos à Andaluzia sem Fernando e sem Jackson…com Defour a trinco e Ghilas na frente, talvez? Não faço ideia. Só sei que no Domingo prefiro ver meia equipa B no Dragão para ver se alguns rapazes descansam as pernas e a cabeça…

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Baías e Baronis – Napoli 2 vs 2 FC Porto

Há jogos assim. Um gajo passa dezenas de minutos a sofrer, come qualquer coisa à pressa no intervalo, volta a ver o jogo e continua a sofrer. Sofre sempre que o Nápoles envia a bola para as costas de Danilo ou Ricardo, treme quando Reyes reage ainda a medo, quando Mangala sai com a bola controlada e a perde pela lateral, abana todo quando Pandev e Higuaín quebram o fora-de-jogo e desespera com o remate de Defour ao poste. E pela primeira vez desde que me conheço, contive-me na celebração do golo, saltando do sofá com as veias a pulsar no pescoço mas estóico na demanda de não proferir um único som para permitir que o bébé continue a dormir ao lado. O mesmo no segundo, e que golo, e quem é que consegue dormir nesta altura, tu não deves ser minha filha, carago, salta, mulher, salta e grita e levanta os braços e ergue-te em direcção a um céu que parecia tão longe e que afinal está ali pertinho. E sofre de novo. E habitua-te a sofrer, porque vais passar muitas noites a ver o teu pai a sofrer a teu lado, sem perceberes muito bem porquê. Jogos europeus, meus amigos. É outra coisa. Vamos a notas:

(+) Fabiano. Primeiro jogo como titular numa competição europeia, num estádio conhecido pelo ambiente pressionante e hostil para adversários. Acontece isto quatro dias depois do titular absoluto e capitão de equipa se lesionar gravemente. E faz uma exibição deste nível, com segurança na baliza, agilidade nas saídas e acima de tudo a dar confiança e a transmitir calma à defesa. Evitou várias vezes o 2-0 que podia ter sido fatal para o FC Porto e saiu do San Paolo com sensação de dever cumprido, com a titularidade mais que garantida e a confiança dos adeptos. Uma noite simpática, pronto.

(+) Fernando. Foi obrigado a fazer o trabalho de dois (Carlos Eduardo andava a tentar perceber se o jogo já tinha começado e porque é que ninguém o avisou), foi enorme no meio-campo e com a ajuda menos útil de Defour, tapado por dois gigantes turc…perdão, suíços, foi Fernando que conseguiu fazer o possível para segurar aquela zona central que estava muito bem povoada por meninos de camisolas cianas. Prático no corte, eficaz no passe, deve ter marcado pontos para uma eventual saída no Verão…

(+) Ghilas vindo do banco. Jackson está a trabalhar imenso durante as partidas e a bola não chega lá. O desgraçado do colombiano anda a correr de um lado para o outro a tentar encontrar espaços para tabelar com os colegas, mas a bola não chega lá. Salta e luta na área mas a bola raramente chega lá. E depois entra um chaimite argelino, dois toques na bola e pum, golo. E é um pouco disto que estamos a precisar, um jogador mais repentista, com mais presença física e acima de tudo mais fresco. Não contesto que Jackson é melhor que Ghilas em muitas circunstâncias, mas creio que o Nabil já fez o suficiente para merecer a titularidade, pelo menos num ou noutro jogo.

(+) O golo de Quaresma. João Rosado teve toda a razão nos comentários que ia fazendo na SIC. Quaresma entraria como uma luva para o panteão de amor/ódio napolitano se lá tivesse jogado. O golo é soberbo, cheio de pequenos grandes nadas que resultam numa jogada para a eternidade, desde a primeira finta a dois toques, a finta de corpo que tira o adversário do caminho e o remate estupendo de pé esquerdo sem hipóteses para Reina. E continuo a achar que Quaresma está mais lutador, mais esforçado para o bem da equipa e apesar de exagerar nos lances individuais, não acredito que seja possível mudá-lo. Não acreditava da primeira vez que cá esteve e continuo a não acreditar agora. Mas depois sai uma pérola destas. Para rever…e rever…e rever…e continuar a rever.

(-) Carlos Eduardo. O que é que posso dizer sobre (mais) uma exibição deste nível? Carlos Eduardo não merece ser titular do FC Porto neste momento e depois da boa entrada no onze aqui há uns meses, o capital de confiança perdeu-se e a deambulação pelo relvado, escondido dos colegas e longe de qualquer linha de passe, é algo que devia envergonhar qualquer médio criativo. Francamente, o que fez hoje foi o equivalente ao que a minha filha faz diversas vezes por dia. A diferença é que ela tem várias fraldas para mostrar o trabalho realizado.

(-) Varela. Mais um enorme zerinho para o Silvestre, tanto que um amigo me sugeriu mudar a rubrica para Baías e Barelas (boa ideia, meu caro, bem boa!). Ebb and flow, dizem os ingleses, para justificar ciclos de negócio, produtividade ou o movimento das marés. Neste momento está num “ebb” bem fundinho e tem estado lá já há vários jogos, sem perspectivas de poder regressar a um “flow” que nos traga alegrias. Não contesto que o rapaz até tentou, mas tentou muito devagar, sem força, sem capacidade de lutar contra qualquer adversário, desde o diminuto Insigne até ao grandalhão Henrique. Talvez esteja cansado mas se fosse possível espetar com o rapaz no banco um ou dois jogos, era giro.

(-) Falta de agressividade. Ainda há de aparecer alguém a criticar Martin Atkinson por ter permitido jogo duro, várias vezes a roçar a violência, tantas foram as vezes que jogadores do FC Porto foram para o chão depois de confrontos directos com os italianos. Mas foi mais um exemplo da forma como o FC Porto tem vindo a jogar acanhado, sem virilidade, sem velocidade, sem agressividade positiva que nos faça acreditar na força do colectivo durante mais de vinte ou trinta minutos de cada vez. É verdade que as características de muitos dos jogadores do actual plantel não permitem um jogo mais físico e com rapidez acima da média na troca de bola e muito menos na subida no terreno, mas como é que é suposto jogarmos contra Inlers e Behramis que usam o corpo em cada jogada contra os pobres Varelas e Carlos Eduardos?! Com garra, carago, com MAIS garra. Hoje em dia parece que passamos mais tempo a fugir com a bola do adversário em vez de os enfrentarmos olhos nos olhos. Deixa-me triste e ansioso porque cada jogada que começamos a construir parece destinada ao fracasso mal vejo que o adversário está mais célere na zona de pressão e muito mais activo a rodar em posições defensivas do que os nossos próprios jogadores que têm a bola nos pés…


Admito que perdi a esperança ao intervalo, depois da primeira parte fraquinha e medrosa que fizemos. Mas Luís Castro convenceu-me que tudo está perdido só quando se lavam os cestos ou quando a gorda canta ou qualquer um desses clichés entediantes que a malta adora usar. E agora, Porto? Estamos nos oito melhores…só não quero o Benfica nos quartos. Juro que prefiro a Juve com dez Pirlos e um Buffon.

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Napoli

Enquanto passeava pelos arredores do Dragão, nas horas que antecediam a partida, acompanhado por um grupo de vários lusos e quatro americanos, que por cá andam a trabalhar no mesmo sítio que eu e que acedi a acompanhar até ao jogo, ia vendo o ambiente e dizendo aos estrangeiros: “não me parece que seja um jogo especialmente bonito e bem jogado. vai ser duro mas acho que vão achar que a atmosfera dentro do estádio vai ser morna e que o jogo em si não vai ser nada de especial.”. Estava, como é hábito, completamente equivocado. Foi um jogo tenso, difícil, com um Nápoles firme e prático nas trocas de bola e com extrema facilidade em lançar bolas nas costas dos nossos defesas. Mas o FC Porto, este FC Porto de Luís Castro que começa a mostrar algo de diferente do de Fonseca, este FC Porto parece diferente, mais audaz, mais inteligente e acima de tudo muito mais lutador. Fomos homens, hoje, fomos gente a sério e conseguimos uma vitória (a primeira na Europa este ano) com alguma sorte e azar à mistura para os dois lados mas que nos pode embalar para um final de época bem melhor que o arranque. Vamos a notas:

(+) Defour. Aplaudi-o de pé quando Luís Castro o tirou e fez entrar Herrera, que o afastou do onze durante muitos (demasiados?) jogos. Steven esteve em grande, a lutar todo o jogo num meio-campo que foi mais móvel pela sua presença. E que presença, amigos, porque o estupor do tolinho andou a correr em todo o lado como se Derlei e Lisandro tivessem sido juntos e fechados num invólucro de chocolate belga. Esforçou-se imenso e deu o impulso de força e de combatividade que o nosso meio-campo tão desesperadamente precisava há alguns MESES a esta parte. Os últimos dois jogos que fez pelo FC Porto foram talvez os melhores que já o vi a fazer com a nossa camisola e só espero que as pernas aguentem e este derradeiro push do rapaz para ser convocado para o Mundial seja premiado com o mérito que ele está a fazer por merecer.

(+) Espírito de sacrifício e luta. Já tinha saudades de ver um FC Porto a fazer pressão, não muito alta mas constante na intercepção de linhas de passe e acima de tudo no posicionamento e reposicionamento do meio-campo (a defesa é outra história e vai dar muito mais trabalho a reestruturar, táctica e mentalmente) mas também na entre-ajuda das peças no relvado. Apesar de Carlos Eduardo parecer um elemento perdido quando temos a bola e Varela ter estado num jogo diferente dos colegas, o resto da equipa esteve sempre a um ritmo muito alto e sem fugir às responsabilidades de uma eliminatória europeia contra um dos melhores clubes desta competição. Estaremos a recuperar o “velho” FC Porto? O tempo o dirá.

(+) O público do Dragão. O Dragão não encheu, longe disso, mas a forma como o público apoiou a equipa desde o início do jogo foi notório, como se uma nova simbiose estivesse a ser encontrada entre equipa e adeptos, muito por culpa dos jogadores e da forma como o treinador mostrou que queria vencer o jogo por mais que um golo, mostrando-o bem nas substituições que fez. O povo gostou e mostrou que percebe o estado da equipa, apoiando-os sempre que um lance do Nápoles causava mais perigo para Helton (bom jogo apesar de uma ou duas tradicionais parvoíces que o capitão tende a cometer em jogos europeus) e incentivando o grupo nas saídas para o ataque. Houve muitas bolas trocadas entre os laterais e não ouvi um único assobio. Gostei.

(+) Reina. Vai. Defender. Ao. Caralho. Se não fosses tu, o Fernando tinha marcado um golo extraordinário, meio segundo depois de eu gritar: “não chutes, foda-se!”. Chutou. E o ‘panhol defendeu. Cabrón.

(-) Varela. Esteve em campo? Não o vi, sinceramente, porque estava tão entusiasmado a ver o FC Porto a movimentar-se tão bem com as peças distribuídas elegantemente no relvado, que nem percebi que Luís Castro o trocou com Quaresma a meio da primeira parte para ver se Silvestre conseguiria fazer alguma coisa de jeito com Danilo pelas costas (e para que o cigano deixasse de se desentender com um brasileiro…para se começar a desentender com o outro). Não funcionou muito bem e Varela passou quase completamente ao lado do jogo. Temo que possa ter passado mais um dos tradicionais picos exibicionais que duram 3 ou 4 jogos, para termos um Varela trapalhão, lento e complicativo durante mais 4 ou 5. Espero que não, caso contrário mais vale colocar lá Ghilas, esse Zamboni argelino que corre como uma debulhadora mas…ao menos corre.

(-) Carlos Eduardo. Passou tempo demais preso de movimentos, sem procurar a bola e escondendo-se no meio dos jogadores de amarelo como se tivesse medo de mostrar a tromba para ser visto por um colega. Continuo a não gostar de o ver a 10, apesar dos bons dois primeiros jogos que aí fez e acho que teria a ganhar se jogasse como 8…mas com Defour a jogar desta maneira ninguém o tira da equipa.

(-) Tantas falhas. Não critico as oportunidades falhadas, algumas por azar (Quintero), outras pelo cabrón do Reina (Fernando e Jackson). Critico o tempo excessivo para reposicionamento das unidades defensivas, critico a incapacidade de entendimento entre Quaresma e Danilo, critico os passes centrais de Maicon, critico as distracções de Mangala e critico também as imbecilidades pontuais de Helton, que deve sonhar em aparecer no Watts da Eurosport ou em compilações de “Piores erros de guarda-redes” no youtube. Há melhorias na equipa e são nítidas pelo futebol que apresentamos hoje, mas há ainda muito caminho a percorrer até que possamos falar de uma equipa consistente ofensiva e defensivamente. Especialmente esta última.


Um-zero não é um excelente resultado mas se tivermos em conta as oportunidades claras que houve para ambos os lados, foi bem melhor que um putativo 3-2 ou 4-3. E a verdade é que se conseguirmos jogar em Nápoles com esta força e a capacidade de manter a bola nos pés…e se marcarmos um golinho antes deles…podemos perfeitamente passar aos quartos de final. Who’d have thunk it?

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O caos na entrada para o jogo contra o Eintracht, narrado na primeira pessoa

Para memória futura e como forma de tentar perceber o actual estado de desorganização e desagregação do clube com os seus adeptos que vai um bom bocado para lá da forma da sua equipa principal de futebol, fica o relato do que se passou ontem comigo na chegada ao Dragão, uma hora antes do início da partida contra o Eintracht. Narrado na primeira pessoa porque nada disto foi ouvido, contado no café ou exposto noutros blogs/sites/whatever. Aconteceu comigo.

Estacionei o carro relativamente cedo e fui tomar o café da praxe. Passavam poucos minutos das 18h30 e o estômago começava a agitar-se com a excitação do jogo (sim, eu ainda fico com nervoso miudinho antes dos jogos, seja o Eintracht Frankfurt ou o Pinheirense) e decidi parar para comer qualquer coisa a caminho. Nada de especial, rapidinho, só para enganar o bucho e tentar fugir da acumulação de um distinto escurecimento nos céus da Invicta. Espera, não são nuvens…são alemães. Vejo um casal na minha frente no McDonald’s em Fernão de Magalhães e deixo-os passar. Tinham uma altura combinada, sem exageros que eu não sou dessas coisas, aí de uns 8, 9 metros. Simpáticos, os dois, agradeceram-me em alemão enquanto entravam, vestidos da nuca aos pés em vermelho e negro e tentavam, creio, perceber quanto custava comprar dois de cada item do menu e se havia desconto para ogres bem lavadinhos. Com o papo cheio (dentro das possibilidades fastfoodianas), segui alameda abaixo em direcção à minha Porta, não percebendo o motivo dos carros parados rua abaixo, talvez para esperar o autocarro dos jogadores que se teria atrasado. Fui escutando polícias a conversar e percebi que eram os adeptos do Eintracht que pelo número fizeram com que a VCI tivesse sido fechada e o tráfego bloqueado. Estranhei mas continuei no meu caminho. Passando o “cogumelo”, prossegui pela zona norte do estádio de mãos nos bolsos e cachecol bem apertado à volta do pescoço para minimizar essas correntes de ar ali naquela zona aberta por detrás da bancada…e aparecem quatro ou cinco agentes da PSP que começam a formar um cordão e a impedir a passagem. Pergunto: “Oh chefe, é ali para a 19, já tenho de ir à volta?” e recebo a resposta: “Tem de ser, por aqui já não passa ninguém.”. OK, o que não tem remédio remediado está, como diz o pobo. Meia-volta e siga pelas portas como o sol enquanto anoitece, passando por baixo da poente (e alemães a chegar aos pares, aos grupos, às dezenas, bem dispostos, sorridentes) e seguindo pelo caminho fora enquanto ia absorvendo o ambiente de jogo europeu que me é tão querido e infelizmente tão raro.

À medida que me ia rodeando o estádio e olhava para dentro, via que a maioria das cadeiras estava vazia. Eram então 19h10 e pensei que o trânsito estaria um caos e que a malta ia demorar tempo até chegar ao seu lugar. Chegado à entrada da porta 12, sou parado mais uma vez pela polícia. Não passava ninguém. É normal, afinal há uma escadaria mesmo entre as portas 13 e 14 e como já sou veterano destas andanças, parei e esperei, pensando que a organização devia rever este processo para evitar que o pessoal ficasse impedido de circular livremente quando o número (e teor) de adeptos contrários fosse mais elevado que o normal. Passavam alemães por mim, sem saber muito bem o que se passava, parando perto de mim. Informei ainda dois ou três que podiam passar graças ao misto de nacionalidade e afeição clubística, que lhes deve ter soado como algo que seria natural para quem vai passear até um estádio diferente num país estrangeiro. Ou não, nunca saberei. A verdade é que os portistas esperavam e os frankfurtianos passavam. Tudo bem, continuei à espera que o grosso dos adeptos fossem dirigidos às centenas de cada vez para a(s) sua(s) entrada(s) enquanto consultava calmamente os resultados dos jogos que ainda decorriam, ia lendo uma ou outra notícia no telemóvel e ouvindo o helicóptero que zumbia bem alto por cima de mim. Entretanto passa o primeiro grupo de alemães a subir a escadaria…passa o segundo grupo…ainda um terceiro grupo, e não havia maneira da polícia abrir o cordão. O povo, que em cada vez maior número se ia acumulando ao meu redor, começava a ficar exaltado. Entre inúmeras piadas à troika, insultos à Ângela, críticas directas à polícia e ao clube e à cidade e à forte gente que é feita fraca pelos fracos reis, o tempo ia passando. 19h50, sensivelmente, e centenas esperavam como eu, uns mais nervosos, outros mais calmos, mal aguentando para romper o cordão formado por sete ou oito polícias. Manda quem pode, obedece quem deve, dizia o agente com a autoridade que lhe deram mas que raramente conseguirá usar sem ter de recorrer a este tipo de discurso ou pior, à força. As palavras foram ficando mais ásperas, os insultos mais intensos e os ânimos bem mais exaltados e eu, no meu recanto, ia pensando que o nosso provincianismo tinha chegado ao ponto mais fundo, em que a simpatia e a arte de bem receber o clã de forasteiros que nestes dias por cá passeava tinha chegado a um ponto tal que me começava a identificar com a indignação do povo, mais no conteúdo que na forma, é certo, mas não conseguia compreender como é que se podia prejudicar tanto os adeptos do clube da casa em virtude da presença pontualíssima de um grupo (grande) de não-portistas.

Eis senão quando o cordão abre. Montanhas de pessoas desatam em correria a meu lado, empurrando e comprimindo-se para chegar mais perto da frente e da sua entrada. Trinta metros à frente, a polícia fecha outra vez a passagem. Inclemência! Que raio de ideia era esta, a de dar a provar um gosto de liberdade para a retirar novamente tão pouco tempo depois? Sádicos, comecei a pensar. E, escutando as conversas ao lado, começo a perceber que há portas fechadas. Uma delas, claro, a 19. Não querendo acreditar no rumor, furei pela multidão enquanto reparava que um grande número começava a andar no sentido inverso, e chegando perto do primeiro polícia que encontrei, perguntei-lhe se era verdade. Sim, amigo, a 19 está fechada e não entra ninguém por lá. Mas…então vou entrar por onde?! Olhe, tente ali na 11, vai dar tudo ao mesmo sítio. Obrigado, meu caro. Mais meia-volta e toco a furar como nos bons tempos da Queima no Palácio, chego perto da porta 11 já com largas dezenas de portistas a fazer o mesmo que eu, tento mostrar o cartão mas o torniquete não roda. Questiono o segurança que me diz que posso entrar mas tem de me reter o bilhete. Quero lá saber do papelote, amigo, fique lá com isso e deixe-me ir ver a bola! E lá fui, escadas acima, ainda a vários sectores de distância do meu, para me deparar com a imagem dantesca de ver diversas grades de ferro (suportadas em blocos de cimento, o que me leva a concluir que não foi uma decisão de última hora) a bloquear a passagem da “minha” porta, para me conseguir finalmente sentar no meu lugar no momento em que as equipas já estavam alinhadas em frente à bancada poente.

Tudo isto se passou e não precisava de se ter passado. É um sinal, mais um sinal que o FC Porto se está a desligar dos seus adeptos e que a forma como nós, os tolinhos que lá vão ver os jogos regularmente, estamos a ser desprezados pela malta que gere o clube a nível intermédio. Os operacionais, os que tomam as decisões do momento, longe das salas de conferências e gabinetes da presidência ou direcção. E os adeptos ocasionais, os que de vez em quando tomam a decisão de ir à bola porque até gostam de futebol e do FC Porto, quando encontram um panorama destes não duvido que da próxima vez vão pensar duas vezes antes de comprar bilhete.

Tudo isto se passou e tudo podia ter sido facilmente evitado. Uma nota no site oficial, uma notícia no Porto Canal, raios, uma merda de um cartaz em cada entrada do estádio a dizer: “Meus caros, as Portas ABC estão fechadas e não vão poder ser usadas por motivos de BLÁBLÁ. Os detentores de bilhete para essas entradas deverão usar em alternativa as Portas XYZ. Agradecemos a vossa compreensão. Força Porto!”. Mas não houve nada.

Não houve, numa palavra, respeito.

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