Ouve lá ó Mister – Nacional

Estimado Professor,

Uma viagem à Madeira nem sempre corresponde ao esperado. No meu caso seria o reencontro com um não-tão-velho amigo mas que está mais próximo de mim do que tantos outros bem mais velhos, em tempo de amizade e na própria idade do fulano. Equivale a litros de poncha, quilos de carne da boa, centenas de piadas foleiras com muito vernáculo e uma alegria enorme por estarmos juntos de novo. Soa piroso e na fronteira do homo-erótico, mas sei que compreende. No entanto, continuando o raciocínio, nem sempre destas viagens à ilha sai coisa boa. E hoje, quando entramos nas rectas finais das competições em que estamos envolvidos, cada saída de casa parece ganhar um peso ainda maior no culminar dos acontecimentos, pelo que o jogo desta noite é mais um desses calhaus no nosso caminho que queremos evitar a todo o custo.

Na estreia daquela que é a enésima dupla de centrais da temporada (deve ser um recorde, tenho de analisar mais a fundo), a somar à ausência de Varela, que aprovo seja por lesão ou apenas para descansar o rapaz, o meu caro amigo tem um biquinho de obra bem rijo. Já sabe que os fulanos jogam com garra e que em casa deles estão habituados a tentarem lixar-nos a vida a todo o custo. Não sei se o Marçal vai jogar, mas espero que sim, só para podermos ter o prazer de fazer esse estupor perder o jogo. Tenho-o numa daquelas listas de “Gajos para dizer a Satanás que pode espetar a forquilha à vontade”, por isso fico satisfeito quando o vejo pisar trampa ou perder com o FC Porto. O que lhe doer mais na alma.

Quanto a nós, é só jogar como na passada quarta-feira. Não vejo equipa em Portugal que nos aguente se jogarmos com aquela intensidade e coragem. Tenho fé em si e só espero que hoje na Choupana não apanhe nevoeiro. Peço desculpa. Eu sei, é mau demais, mas já é tarde e muda a hora…

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Benfica

Estimado Professor,

Não há ambiente de clássico. É com tristeza que escrevo estas palavras mas ainda hoje em conversa com amigos percebi que ninguém quer saber de um FC Porto vs Benfica na altura em que nos encontramos na temporada, com o campeonato quase perdido, a aposta de um treinador atirada fora depois de muitos e maus jogos e nem a ligeira recuperação moral que as últimas semanas trouxeram consegue motivar a malta para vibrar com este jogo. Falei com várias pessoas, portistas de alma e coração (ou pelo menos assim se dizem, o que duvido), que me disseram que não iam ao jogo porque não queriam ver o FC Porto a apanhar no focinho. E fiquei a ouvi-los, sem perceber muito bem onde estava o portismo por detrás da boca que mexia sem que produzisse um único som que quisesse ouvir.

Mas não sou desses, Luís. Posso tratá-lo por Luís, não posso? E por tu? Isso é que era. Sim? Impecável. Então hoje lá estaremos e mesmo que a competição não seja emocionante, não nos eleve ao zénite do futebol mundial (nem do português, quanto mais do outro) nem sirva para muito mais que enchimento para prateleiras vazias nos museus, a verdade é que é uma prova que podemos vencer. E este ano, no que diz respeito a isso, só vejo uma que nos vai fugir e é a única que não é a eliminar. Estamos a pagar as contas perdidas de há muitos jogos atrás e não merecemos mais que isso. Mas aqui a história é diferente. São dois jogos contra este juggernaut de futebol que aparecerá hoje à noite perante um Dragão a meio-gás e que temos de vencer com alguma margem para sofrermos bem na segunda mão e passar à final contra sei-lá-quem-é-a-outra-equipa. Jogue quem jogar, este é um jogo de brio mas também de conquista, é um confronto de astúcia mas também de esforço. É um clássico, para mim e tantos outros é “o” clássico. E é para ganhar, como todos.

Precisas de lhes dar força no balneário, força no banco e força em campo. A força das bancadas fica por minha conta.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Belenenses

Estimado Professor,

Já estamos todos recuperados da emoção da passada quinta-feira e já temos o prato cheio para mais uma sequência de jogos que fazem da vida de um portista uma correria imensa para o Dragão. É uma alegria e a eliminação do Nápoles, apesar de me fazer gastar mais algum dinheiro para agora ver o Sevilha, logo depois de uma semana em que dois clubes da capital nos visitam. Hmm, parece bom demais para ser verdade…mas vamos com calma. Primeiro, o Belenenses.

Espero que o Mangalhão, agora promovido a capitão de equipa (foi uma reguada nas mãos do Fernando depois de ter sido expulso em Alvalade, meu caro?), se lembre bem da cagada que fez no Restelo aqui há uns meses, quando deixou que a bolinha lhe passasse calmamente pela frente, só para ser encostada para a baliza pelo adversário. Se não aprendeu, veja lá se o recorda dessa imbecilidade para que não haja falhas novamente. O Sporting já ganhou e se temos alguma fugaz esperança em chegar ao segundo lugar (já nem penso no primeiro, para ser sincero), a vitória não pode escapar. E já sei que há alguns titulares que não vão poder jogar, mas já reparei também que não colocou nenhum B nos convocados para lá do Mikel e do Kadu. Gostava de poder ver o Victor Garcia a jogar no lugar do Danilo, o Mikel em vez do Fernando e o Kelvin a substituir o Quaresma. Não gosto de adaptações, sinceramente, e ver o Ricardo a esforçar-se sem estar adaptado ou o Ghilas a jogar pela ala não me agrada. O treinador é o meu caro amigo e não contesto que ache que eles rendem nessas posições, mas eu não gosto na mesma. Enfim, dou-lhe o benefício da dúvida…mas também gostava imenso de ver o Quintero em vez do Carlos Eduardo. Vá lá, faça-me só esse favor. Pago-lhe um fino. Dois, pronto.

Acima de tudo, queremos a vitória e queremos que os rapazes não se estourem todos porque quarta-feira a conversa é outra. Ui, se é.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Nápoles

Estimado Professor,

Aqui há pouco mais de um ano, estava Vitor Pereira semi-firme no comando da ponte de controlo do Dragão, recebemos o Málaga nos oitavos de final da Champions. Fizemos um jogo muito bom, com excelente futebol, oportunidades a rodos mas alguma dificuldade em furar a defesa bem estruturada dos espanhóis. Vencemos por um magro 1-0, que nos deixou a temer o que poderia vir a acontecer na segunda mão, num estádio adverso com o apoio do público local a cascar nos lombos dos nossos muy nobres rapazes e todos receávamos que se não aguentássemos a primeira parte da partida, estaríamos a caminhar para um tenebroso túnel onde a única luz seria a de um combóio que certamente nos esfrangalharia as hipóteses de passagem à próxima eliminatória. Na altura foi Defour que deitou tudo a perder, com uma expulsão que teve tanto de parva como de inútil e que deixou a malta cabisbaixa a olhar para o resto das equipas que seguiram em frente com uma sensação de dever não-cumprido. Na altura escrevi como antevisão ao jogo: “um jogo que vai ser difícil, contra um adversário matreiro e dinâmico, que nos vai tentar fechar todas as possibilidades de avançarmos em frente na competição. (…) Temos de ser fortes, Vitor, temos de ter as lanças afiadas, as soqueiras bem carregadas e as biqueiras de aço firmes na ponta das botas. E vamos mostrar que não há Málaga que nos meta medo, porra!“.

Há muitas semelhanças entre este jogo e esse de Fevereiro de 2013 e se mudares o nome do clube naquela última frase, o sentimento é exactamente o mesmo. A diferença, este ano, é que não temos mesmo nada a perder, porque o campeonato já parece uma longínqua miragem e o resto das competições pouco mais trazem que algum prestígio em caso de vitória mas um grande nada se formos eliminados das duas Taças que ainda nos faltam disputar, ainda por cima contra o Benfica. Por isso, sem querer pressionar o grupo que o meu caro amigo agora lidera, a verdade é que as fichas estão empilhadas em cima do quadradinho que hoje tem o San Paolo em fundo e Nápoles como destino. Tem de ser um jogo de bom nível, bem acima do que fizemos em Alvalade, mas acima de tudo terá de ser um jogo em que ninguém pode inventar. Nem os avançados, nem os médios e muito menos os defesas, porque estes gajos já mostraram que com um bocadinho mais de sorte podem-nos começar a tramar a vida antes sequer de entrarmos no jogo a sério. Mandem as bolas para a bancada, rematem de longe, acertem-lhes nas pernas, mas impeçam que cheguem perto da nossa área com a força de homens que todos queremos acreditar que são. E vamos passar esta treta à frente para podermos sorrir mais um bocadinho. E estamos todos a precisar de sorrir, não acha? Eu acho que sim.

Vamos lá, malta!

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Sporting

Estimado Professor,

Imagino como deve ter sido a sua semana, mas fique já a saber que andei mais ocupado que uma putéfia com cinco snaitas. O meu caríssimo amigo não andou a trabalhar menos que eu, com considerável pressão que resultou, estou certo, numa sensação de dever cumprido que passou para os adeptos deste seu clube de uma forma que já não esperávamos fosse possível este ano. E a culpa é, em parte, sua. E como já tratou de devolver alguma esperança a uma época moribunda, que tal continuar com o trabalho? Essa terá sido talvez o melhor resultado destes dois últimos jogos em que o tivemos ao comando da embaração: antes o desespero era grande e a descrença quase completa. Agora, como a fé do povo é volátil e surge quando menos se espera, já se começa a crer que temos hipótese de fazer um bom jogo em Alvalade e sair de lá com os três pontos.

O Sporting passou a semana num exercício público de auto-comiseração e tentou reunir todo o apoio que pôde antes deste jogo. As lágrimas falsas que jorraram dos olhos do colectivo verde foram suficientes para encher quatro ou cinco albufeiras do Alqueva e aquele lagartismo tão tradicional fez-se sentir mais forte que nunca. E todos lhes deram capas de jornais, com o enfoque necessário no protesto pelo doce perdido, pela tristeza do preconceito e pela infelicidade do prejuízo. Chuiff. E, se me permite, só gostava que fossem severamente prejudicados dentro de campo pela ausência de futebol da parte da sua equipa, ao mesmo tempo que eram cilindrados por uma excelente exibição da nossa. Depende de si, depende dos seus e depende da sorte. Vamos fazer com que todos esses vectores se alinhem para a nossa vitória.

Estamos a torcer, Professor. Não há duas (vitórias) sem três (vitórias)…

Sou quem sabes,
Jorge

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