Finalizar a fé dos felinos

Não sou um amante de gatos, aquilo que os bifes chamam “cat-person”. Mas também não sou um amante de cães. Não sou amante de animal nenhum que não esteja bem passado, para ser sincero. Ainda outro dia, antes de começar esta chuva que nos invade dos céus e me inunda a alma de melancolia tão cliché que mais pareço uma adolescente hormonal, estava em casa acordado a uma hora agradável para quem aprecia passeios à luz da lua e fui até à varanda. Um gato, preto de cor e alma (instrumentos do Demo, todos eles), vagueava com um ar entediado pela penumbra da noite nortenha e parou mesmo à minha frente, uns sete ou oito metros de diferença na vertical. Passei a soleira para o lado de dentro, muni-me de um ponteiro laser que tenho pousado junto da impressora e que comprei num daqueles impulsos consumistas que de vez em quando me batem na nuca e comecei a brincar com o bicho. Entreteu-se imediatamente, perseguindo o ponto vermelho no alcatrão como o Rinaudo faria ao Saviola e eu brinquei com ele, como um filho único que inventa um amigo imaginário. Pus o gato a correr de lado para lado, aos círculos, tentando apanhar o pontinho com as patas, só para lhe ser retirado o brinquedo no último segundo em que se preparava para atingir o objectivo e afagar o suave ponto de luz vermelha que insistia em lhe escapar. Ao fim de umas dezenas de segundos, aborreceu-se. Olhou para o lado, não viu ninguém, e caminhou saltitante para o breu além da esquina. Fiquei desolado. Faltou a estocada, a pancada na nuca, a cachaçada bem dada como quem diz: “vês, bicho? quem manda sou eu. eu!”. Não o fiz e agora arrependo-me, porque brinquei o que quis mas não fiquei com consciência de dever cumprido.

E também por isso está-me a causar alguma estranheza não ver as conversas da bola numa semana de clássico a não convergirem directamente no alvo verde-e-branco que se desloca ao Dragão no próximo sábado pela noitinha.

Até um certo ponto compreendo a atitude. Afinal o caneco já é nosso sejam quais forem os resultados dos dois últimos jogos e parece que a malta já está a pensar em férias, cláusulas de rescisão, nomes de treinadores e jogadores, convocatórias para o Euro e as mamas da Scarlett Johansson. As últimas são um assunto recorrente, como é evidente. Mas de qualquer forma parece que o pessoal se está a esquecer que ainda falta um jogo do FC Porto na sua casa, aquele que para muitos será a última partida em que iremos ver os rapazes até Julho. E não é uma partida qualquer, longe disso.

Por isso vamos lá começar a focar atenções nos gatinhos. Brinquemos um pouco com eles. Mas não nos podemos esquecer de uma coisa, uma simples coisinha: podem estar em terceiro ou quarto, podem-nos até ter ajudado ao ganharem ao Benfica, alguns de nós até podemos ter apoiado a carreira na Europa League, vivendo as emoções europeias através de terceiros. Mas não deixam de ser inimigos, pelo menos dentro de campo. Força aí na estocada final até caírem para o quarto lugar. Porque não me interessa mesmo nada despedir-me dos nossos moços sem ser com uma vitória.

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Os amaricanos andam como os caranguejos

Um pequeno desvio da actualidade portista, se me permitem. Com todo o hype da SuperBowl a varrer os Estados Unidos como um daqueles robots que aspiram a casa sozinhos, deparei-me com um estudo interessante elaborado pela Harris Interactive, uma conhecida empresa especializada em pesquisas de mercado, sobre a evolução dos hábitos dos norte-americanos no que diz respeito às preferências em termos desportivos e à forma como têm vindo a mudar desde 1985, o primeiro ano que esta pergunta foi feita ao povo:

Se tivesse de escolher apenas UM, qual destes desportos era o seu preferido?

Os números são evidentes. O interesse no futebol (o nosso, não o deles) cifrava-se num singelo 1%, chegando a triplicar por alturas do Mundial lá disputado (1994) para uns enormes 3%, encontra-se em 2011…de volta ao 1%. Isto depois da MLS, de Beckham, Ljungberg, Henry e tantos outros, depois de excelentes prestações da selecção nacional nos campeonatos do mundo onde participou (com as mulheres sempre em excelente plano mas os homens também não se safaram nada mal) e da contínua exposição ao melhor que há no futebol europeu através de transmissões das Ligas Inglesa e Espanhola, para lá da Champions League e da Europa League. Podemos considerar que o período durante o qual o inquérito foi feito (início de Dezembro, quando a MLS está parada e a época de football está a entrar na fase decisiva) tenha alguma influência no resultado, mas até vendo o histórico recente podemos ver que nunca ultrapassou os 4% da preferência global do povo americano. E quando comparamos esse 1% com os 36% do futebol profissional ou a igualdade entre futebol universitário e baseball com 13% cada um, as diferenças são grandes demais para que possam sequer ser colocados no mesmo patamar de competitividade.

É uma verdade que o mercado é enorme e que 4% de 300 milhões já será um valor aceitável (afinal será mais que a população portuguesa) mas é indicativo do trabalho de marketing e contínua transformação de mentalidades que os fulanos da FIFA têm de continuar a fazer para insistir em quebrar os filhos do tio Sam. E para tentar fazer com que o processo de conversão prossiga e dessa forma evitar que a Time tenha de mudar constantemente a capa da revista que vende nos EUA até em termos desportivos. Porque se virar agulhas para a política, a comparação é demasiado evidente.

Se estiverem interessados em dar uma vista de olhos mais alargada pelo relatório, podem fazer download aqui.

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O embaraço

“We have to be honest and say we haven’t been professional from the beginning of this competition,” he said. “I don’t know why, but maybe one or two of us have to look in the mirror and say we can do a lot better than we have done. There is always a lesson to be learned because, in the beginning everyone thought United would finish first in the group, with the teams we were drawn against. But in the end we came to qualify and we haven’t got the job done. I don’t have the words to describe how it feels all I can say is that it is a sad day. It feels like a dream and that I will wake up tomorrow and we will have qualified. But it is not a dream it is the reality and we should have woken up earlier in this competition. We deserve to be out. But it is embarrassing to be in the Europa League. Some players dream of playing for United in any competition and you have to respect that, but the way I feel now, it is Champions League or nothing. It is not just about tonight, though. It is about the whole competition. We threw away a chance to qualify. We have to get back to work and show that we are Man United and that we never die. If the players don’t believe the team are good enough to bounce back, then they can go and ask the gaffer not to play but I believe in the team.”

Patrice Evra, no rescaldo da eliminação do Man Utd da Champions’ League
(retirado do The Republik of Mancunia)

São frases de um dos melhores defesas esquerdos do mundo e um dos mais arrogantes, independentemente da posição. Aliás, aquela cidade tem o dom de criar pequenas bestinhas com cabeças do tamanho dos monos no Mount Rushmore, que olham para todos com aquela nojenta pseudo-superioridade que nem sempre têm. É por gajos como este que me dá um gozo bestial ver tudo que seja manchesteriano a bater com as fuças no chão, vistam que côr vestirem.

Mas se retirarmos a frase que coloquei em destaque, até podíamos rodar o palco e pôr as mesmas declarações na boca de James, Moutinho ou Helton. Só espero que nenhum deles pense da mesma forma que o amigo Patrice, porque ao contrário do francês não consigo olhar para a presença na Europa League como uma vergonha, apenas uma constatação factual que não conseguimos produzir o suficiente para nos mantermos à tona na Champions.

A verdade é que quem sofre mais com este tipo de frases é a própria UEFA e a diferença enorme que há entre as duas competições principais. Ter um jogador mediático a dizer barbaridades destas sobre a segunda competição mais importante da Europa a nível de clubes deve deixar Platini a espumar de raiva. Ainda bem.

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Leitura para (mais) um sábado chuvoso

Já não sei se chove ou não, o tempo hoje em dia está mais incerto que a voz do Ricardo, mas ainda assim ficam algumas sugestões. Se ficarem por casa, é no pêcê ou no méque. Fora, podem usar o aipéde, o aifoune ou até um belo ibuqueríder. Que estupidez, Jorge. Vamos a isso:

  • Para perceber melhor o impacto da vitória do Borússia Dortmund na Bundesliga, o Miguel explica tudo direitinho no Em Jogo;
  • Este pequeno post do Briosa está, como de costume, simples, directo e sarcástico;
  • E estatísticas? Isso agora é só ir ao Futebol Finance para ver os dados sobre os números de fãs dos principais clubes no Facebook;
  • Um adepto dos Spurs questiona-se sobre a validade de tentarem vir à Invicta buscar Villas-Boas. A ler no Vital Spurs (obrigado, sôtôr);
  • A UEFA continua a descobrir novas e extremamente excitantes estatísticas sobre a final da Europa League entre FC Porto e SC Braga;
  • Para terminar em grande, reparem no golpe deste fulano do Cazaquistão. Very niiiiice! Ah, e o gajo foi irradiado do futebol. Não se chama Patrick e não joga no Leiria, é o problema dele…
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Leitura para o fim-de-semana

Como este fim-de-semana não há jogos a sério, apenas umas brincadeiras entre selecções (que ainda vão lixar as pernas aos nossos meninos, vejam lá se não se cansam muito que vêm aí umas semanas lixadas!), aqui no Porta19 volto a fornecer alguns links para a malta passar os olhos durante o fim-de-semana:

Bom fim-de-semana!

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