Baías e Baronis 2013/2014 – Os defesas

A metáfora do Inferno, onde diversas almas vão nadando num lago de merda enquanto o Diabo os observa pacientemente, vendo as cabeças a oscilar freneticamente acima da linha de “água”, é perfeita para a nossa temporada defensiva. Havia sempre uma tremideira, um temor às ofensivas do adversário, fosse ele um frágil oponente de uma zona da Liga afastada daquela a que almejamos, ou um gigante europeu pronto a roubar-nos a memória de uma noite bem passada. A uma dada altura da parábola, o grande forquilhas dirige-se para a malta e diz: “Meninos, acabou o recreio, toda a gente a mergulhar!”. E quase em todos os jogos havia um sincronismo com essa história, porque no meio de toda a trampa que parecia ser suficiente para encher o corpo de cheiros asquerosos e de deixar um rasto eterno de esterqueira, um dos elementos da defesa agia como um dos condenados, agrilhoava-se aos demais e lá iam eles alegremente para as profundezas amerdalhadas do lago.

Metáfora passada, comecemos a olhar para os nomes.

Danilo e Alex Sandro, os titulares (íssimos, érrimos!) dos dois flancos, tiveram uma época de poucos altos e demasiados baixos. É verdade que foram obrigados a jogar vezes demais em sucessão, eles que mal se aguentavam das pernas a meio de tantas segundas partes, foram levados a um extremo físico ao qual estavam pouco habituados e as falhas eram consecutivas e sem espaço para recuperar. Muitas vezes alheados dos jogos, com pouca acutilância ofensiva no apoio aos extremos (pseudo, a maior parte das vezes) e fracos na recuperação. Danilo esteve melhor que Alex Sandro ao longo da temporada, já que o esquerdino esteve quase sempre abaixo daquilo que já o vimos fazer, incapaz de sair com a bola controlada mais que uma ou duas vezes por jogo, arriscando demais nas incursões individuais e perdendo tantas bolas no meio-campo que mais parecia um green a ser usado por um golfista cego. Mas o médio direito/lateral direito adaptado não esteve melhor e a alternativa Victor Garcia, das poucas vezes que vestiu a camisola, pareceu sempre mais afoito e com mais vontade de jogar e mostrar serviço. O constante baixar de braços de Danilo é algo que tem de ser visto como falta de fibra e de capacidade competitiva, algo que terá de rever na próxima temporada. Fucile, depois de titular na Supertaça, rapidamente foi afastado da equipa por motivos desconhecidos (chateou-se com os treinadores, com a direcção, com o mundo, sei lá) e nunca foi alternativa. Tive pena que assim fosse.

Os centrais foram o calcanhar de um Aquiles velho, bolorento e cheio de osteoporose. Demasiadas falhas, ausência de concentração e de inteligência competitiva, excessos de confiança, faltas de entendimento…tudo parecia acontecer. Salvou-se Mangala, que não fica isento de culpas em vários jogos (todos se lembram daquela imbecilidade no Restelo, certo?) mas que pareceu sempre jogar a um nível superior aos colegas apesar de ser obrigado a ser o primeiro atacante em tantos momentos de tantas partidas. A seu lado, Otamendi pareceu sempre estar noutro estádio, noutro relvado, com outra camisola. Distraído, com constantes falhas de concentração e compenetração no jogo, fez uma primeira metade de temporada horrível até ser (finalmente) vendido para o Valência com passagem pelo Brasil. Maicon, lesionado durante boa parte da temporada, acumulou a sua parte de parvoíces e não tendo sido dos piores anos que fez, também não conseguiu ser um defesa consistente e seguro e foi perdendo o lugar primeiro para Abdoulaye e depois para Reyes, dois casos imensamente diferentes na forma de olhar para a temporada. Enquanto que Abdoulaye acumulou erros em demasia após voltar de Guimarães no mercado de Inverno para o lugar de Nico, Reyes foi subindo a pulso, começando na equipa B e subindo finalmente à A (um jogador que custou quase 10 milhões de Euros…), onde mostrou que pode ser opção para o futuro, por muito que pareça lento, com pouco ritmo e propenso a algumas infantilidades que estou certo o tempo tratará de corrigir. Mas o senegalês é a imagem da equipa em 2013/2014. Cortes mal calculados, posicionamentos ridículos, capacidade técnica abaixo da média e um mal-estar geral causado nos adeptos e na própria equipa, que tantas vezes deixou de depender dele para jogar com o bloco defensivo que se quer estável e bem gerido. Foi um ano mau para quase todos mas foi especialmente tenebroso para Abdoulaye, que não prevejo que tenha vida fácil para ficar no plantel no próximo ano.

O quadro-resumo dos defesas fica abaixo:

ABDOULAYE: BARONI
ALEX SANDRO: BARONI
DANILO: BARONI
FUCILE: BARONI (não tanto pelo que fez, mais pelo que não fez)
MAICON: BARONI
MANGALA: BAÍA
OTAMENDI: BARONI
REYES: BAÍA (por pouco, acima de tudo pelo potencial)
VICTOR GARCIA: BAÍA (especialmente pelos Bs)

 

Link: