Dez minutos

“A equipa está de parabéns, está a jogar um futebol que, para além de bonito, tem outra coisa que gosto: raramente concede uma oportunidade de golo aos adversários. Não gosto dos jogos de 5-4 ou 4-3, porque é sinal que estivemos desorganizados do ponto de vista defensivo. Gosto de jogos a dominar e a impor o nosso jogo.”

Vitor Pereira, depois do jogo em Guimarães, teve estas declarações que não me chocaram. Afinal a consistência defensiva tem sido uma das imagens de marca da temporada 2012/2013 do FC Porto, com nove golos sofridos em dezanove jogos na Liga, quatro em sete na Champions. E não contesto que é uma fixação do nosso treinador, que até tem vindo a rodar o eixo defensivo (com Danilo e Alex Sandro firmes nas laterais), com os quatro centrais que actualmente fazem parte do plantel a terem tempo de jogo, obviamente não-equitativo. Mas neste último jogo contra o Málaga, houve ali uns dez minutos que decorreram depois dos primeiros oitenta e que me deixaram nervoso. A equipa abdicou de atacar e manteve-se com a posse de bola bastante mais recuada no seu meio-campo do que tinha feito durante o resto do jogo. Era uma equipa satisfeita com o resultado, que se limitou a trocar o esférico em passes laterais, atrasando para Helton várias vezes, com pouca verticalidade e alguma aparente dificuldade ou falta de ousadia em avançar um pouco mais no terreno à procura do segundo golo, nessa altura mais que merecido.

Hesito em categorizar estes últimos dez minutos. A parte reptiliana do meu cérebro puxa-me para o pessimismo, como de costume. Porque raio é que não rompemos pelo desgastado meio-campo adversário, sem a agressividade do Iturra nem a força do Baptista, para tentar encostar mais uma bola nas redes do argentino?! Tínhamos Atsu para rasgar pela linha, James para pegar no jogo, Moutinho ainda com pernas e Jackson cheio de vontade de rematar! Não teria valido a pena mais um esforço, mais umas corridas, mais uns metros ganhos com o objectivo tão claro, tão límpido, tão útil de poder ganhar uma almofada de conforto para a seguinda mão? Viro-me para o sector racional, que me dá uma cachaçada e me diz que não valia a pena. A equipa estava confiante, intensamente confiante no seu talento e na sua capacidade de gestão de uma vantagem curta mas importante, mas acima de tudo estava a tentar testar o Málaga, para ver se conseguiam um pequenino lampejo de futebol ofensivo depois de soltos das amarras do meio-campo portista. E depois de perderem a bola, como inevitavelmente perderiam, lá estávamos nós para a recuperar e proceder a pôr os outros a correr atrás dela, para gerir, para descansar com bola, tapando os espaços mas evitando riscos desnecessários, porque um-zero não é óptimo mas um-um é mau.

Lembro-me daquelas declarações de Vitor Pereira, e percebi o que se fez. Percebi que a atitude é muito mas não é tudo, que há alturas para tudo e que nem sempre uma grande equipa consegue vencer todos os jogos por grandes margens. Às vezes, as pequenas margens também chegam, pelo menos enquanto a procissão vai a meio. Mas não consigo evitar que os pensamentos negativos me invadam a alma e me ponham a pensar: “E se os gajos se lembram de nos marcar um golinho nos primeiros dez minutos da segunda mão? E depois? Não teria sido muito mais porreiro estarmos com mais um de vantagem?”.

Daqui a umas semanas, no jogo do La Rosaleda, tiro as dúvidas.

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Porta19 entrevista Juan Fernández (www.malagadechampions.com)

Chegado que está finalmente o jogo contra o Málaga, decidi regressar às investidas jornalísticas e escolhi um dos mais interessantes blogs afectos ao nosso adversário de amanhã, Málaga de Champions, gerido por Juan Fernández, que aceitou com amável simpatia responder às minhas perguntas, reciprocando com uma série de perguntas que respondi e que podem ler no site deles. A única alteração que houve no texto que recebi prende-se com a tradução da língua das respostas, que me foram enviadas em espanhol a meu pedido para evitar erros de tradução. Vamos lá então perceber como pensam os nossos adversários:

 

Porta19: O FC Porto está habituado a jogar contra equipas espanholas, mas esta é a primeira vez que jogaremos contra a vossa equipa. Achas que o Málaga é mais forte quando comparado com as outras equipas espanholas que defrontámos nos últimos anos (Villarreal, Atletico ou Sevilla, todos eles eliminados por nós)?

Juan Fernández: Claramente é mais forte tanto tacticamente como fisicamente, ainda que aquela equipa que talvez mais se assemelhe seja o Villarreal, já que temos um projecto parecido, com o mesmo treinador e uma filosofia similar.

Porta19: O Málaga classificou-se no primeiro lugar do seu grupo, à frente do Milan e do Zenit. É um resultado lógico pela qualidade da equipa ou houve alguma sorte à mistura?

Juan Fernández: Totalmente lógico, basta ver os resumos das partidas e as suas estatísticas para se perceber que o Málaga foi superior em toda a linha, apesar de ter havido momentos em que nos criaram perigo, mas isto é futebol e todos temos pontos mais fracos que outros.

Porta19: Que pode o FC Porto esperar quando visitar o La Rosaleda? Como vai ser a atmosfera dentro e fora do estádio?

Juan Fernández: O FC Porto vai fazer um partido de trabalho, mais defensivo do que está à espera, porque o Málaga joga um futebol tacticamente agressivo e a rodar a bola, o que causa um grande desgaste físico a nível defensivo. O Porto é uma equipa muito defensiva mas com uns contra-ataques muito fortes, letais. O ambiente/atmosfera será grandiosa porque é o primeiro ano do Málaga nesta competição e os malaguenhos ao escutar o hino da Champions…ficam felizes. É algo superior, caído do céu que todos partilhamos directamente para nós.

 

Porta19: Quem são os jogadores principais na equipa do Málaga este ano? Achas que as estrelas têm um papel importante na equipa ou os menos “galácticos” são mais importantes?

Juan Fernández: As estrelas principais são Isco e Joaquín, com estilos distintos mas juntos conseguem criar muitas ocasiões de perigo. Toulalan e Iturra são os jogadores que se encarregam de destruir, criando um muro muito bom no centro do terreno. Na defesa temos o experiente Demichelis, sempre seguro, será muito complicado superá-lo. Na baliza temos Willy Caballero, o actual Zamora (guarda-redes menos batido) da Liga Espanhola e todo ele é uma estrela, vai ser chamado à selecção argentina muito em breve.

Porta19: Conheces os jogadores do FC Porto? Quem te agrada e quem te assusta? Há algum jogador em particular que gostarias de ter no Málaga?

Juan Fernández: Claro, é a melhor equipa da Liga Portuguesa, com uma grande organização ofensiva e um plantel muito bom. O melhor de todos é Jackson Martinez, todo ele é matador e é o melhor marcador da equipa, para lá de criar muitas oportunidades de golo. Comprava-o já.

Porta19: O mercado de Inverno foi bom ou mau para o clube? As chegadas de Lugano, Antunes e Lucas serão sem dúvida mais entusiasmantes que a cedência de Buonanotte…

Juan Fernández: Pareciam más compras, de baixo investimento, mas agora que estão na Liga jogam a muito bom nível. Lucas está muito bem e o Antunes é um fenómeno, não nos arrependemos nada de o ter trazido. Lugano, por outro lado, tem de se entrosar ainda um pouco mais.

Porta19: Porque tens um site de apoio ao Málaga? Amor ao clube, intervenção online, o sonho da Champions ou simplesmente uma forma de organizar o clube de fãs?

Juan Fernández: Temo-lo por amor ao clube, desde que nascemos sentimos as cores azuis-e-brancas e por isso fazemos o que mais gostamos que é informar.


Obrigado mais uma vez ao Juan e ao resto da malta que trabalha no Málaga de Champions. Espero que gostem da nossa cidade quando cá estiverem amanhã…e que não se sintam demasiadamente tristes depois do inevitável 3 ou 4 a zero que vão levar no lombo. Yup, é isso.

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