Ouve lá ó Mister – Sevilha

Estimado Professor,

Dão-se alvíssaras a quem ainda estiver preocupado com o campeonato, como sabe. E a malta, como é hábito nestas situações e por muito que seja um hábito que ninguém quer que se torne…habitual, vira-se para o resto das competições em que estamos envolvidos. E esta, como é evidente, é a jóia de uma coroa que já levou pancada da grossa este ano mas que ainda parece ter uma pequenina luz ao fundo do túnel e que nos pode catapultar para um sucesso que parecia já arredado dos nossos livros. Por isso, convido-o a fazer uma pequenina viagem comigo ao que pode ser o final da temporada.

Campeonato, com a santa snaita do apito. A Taça de Portugal vai simpática mas difícil, tendo em conta que vamos jogar a segunda mão na Luz contra uma equipa cheia de moral que não vai inventar em poupanças dos melhores jogadores como fez no Dragão, por isso podemos esperar um terreno minado com Markoviques e Énzos a rodos. A Taça da Liga, que ainda nos foge, vai depender de mais um jogo em casa contra essa mesma equipa de íques e que nunca se sabe no que pode dar. Mas a Liga Europa…ah, isso pode ser uma beleza. E o Sevilha, por muito que o nome possa assustar um bocadinho, não é melhor que o Nápoles, que o meu caro amigo arrumou com valia e sofrimento mas que fez por merecer a passagem tanto cá como lá. Esta é a nossa competição de honra, aquela a que temos de apontar com todas as baterias anti-terra, anti-ar, anti-tudo-o-que-nos-mandarem-para-cima, até que possamos chegar a Turim no dia 14 de Maio. Venham os Baccas, os Rakitiques e os Fazios. Atirem-nos com o Beto, o Carriço ou o Gameiro. Até o Coke, o animal do defesa direito que joga como o Maxi Pereira ou o Marin, que voa como o Gaitán. Olhe para uma equipa de vermelho e transformem-se em touros, carago, lute com tudo o que puder e tiver para sacarmos um bom resultado. Vai chover, trovejar, o mundo vai explodir à sua volta. Faça com que o Sevilha lamente ter chegado tão longe!

Sou quem sabes,
Jorge

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Somos nós que pomos o barro nos pés dos ídolos

Olhando para a lista que está aqui em cima, conseguimos perceber uma coisa: de todos os jogadores que venceram a final Liga Europa há três anos (sim, amigos, só passaram três anos desde Dublin), apenas quatro permanecem no plantel do FC Porto, aos quais se soma Walter que continua a tentar perder peso pelos diversos ginásios brasileiros por onde já passou. Esta equipa, que se pode discutir ter sido uma das melhores da história do clube, foi uma das mais vitoriosas e eficientes, com quatro troféus nessa aparentemente longínqua época de 2010/2011. E os jogadores eram apoiados pelas massas, elevados a heróis pelos adeptos e liderados por um rapaz que chegou, viu e venceu quase tudo que tinha para vencer, com um plantel pouco renovado depois de uma temporada de 2009/2010 onde apenas tínhamos ganho a Taça de Portugal e onde o terceiro lugar no campeonato tinha sido meritório tal a fraca qualidade do futebol de Jesualdo que tinha então perdido dois elementos fundamentais (Lucho e Lisandro) e onde Hulk e Sapunaru atravessaram aquele nada-salomónico castigo depois das ridículas peripécias do túnel da Luz.

Deste grupo, Nico Otamendi foi o último a sair e Fernando esteve, ao que consta, bastante perto de embrulhar a carreira que o fez subir a pulso pela mão de Jesualdo, evoluir com Villas-Boas, estabelecer-se como incontestável sob Vitor Pereira e continuando assim com Paulo Fonseca, apesar da estratégia não o favorecer desde o início da temporada. Já Otamendi vinha numa espiral descendente que começou no início da temporada passada e que continuou com o crescendo de forma e maturidade de Mangala e a subida de Maicon para a titularidade graças a uma sequência infeliz de jogos do argentino. Tudo isto são factos e é muito giro falar sobre eles depois dos actos estarem consumados. Mas olhando novamente para a tabela, há algo que me deixa triste: poucos saíram de bem com o clube, os adeptos, depois de declarações agressivas, ameaças, castigos nos treinos e nas convocatórias e um mal-estar geral que se alastrou durante dois ou três anos. E é algo que dura há mais tempo se nos lembrarmos dos casos de Maniche, Costinha, Paulo Assunção, Bruno Alves, Cristián Rodriguez ou Fucile, só para falar nos últimos dez anos.

A saída do argentino é mais um sinal do decaimento dos valores antigos e da forma como os adeptos se ligavam a um jogador como se fosse um amigo com quem tomavam um café de vez em quando. E o principal responsável por tudo isto é o futebol moderno e a baloiçante estratégia mercantilista que tomámos há vários anos, quando começámos a criar a imagem de um clube que compra barato e vende caro e que faz com que todos os jogadores passem a ser conhecidos pelo valor de mercado em vez da inata audácia competitiva dos heróis de azul-e-branco de outrora em captivar os adeptos e atrair o povo para o estádio. Somos actualmente a imagem viva da faceta do futebol mais fria e mais distante da apreciação de um talento e da capacidade humana. Transformámos os nomes em números e estamos a caminhar de uma forma perene para um abismo em que as alegrias que temos enquanto vemos os nomes empalidece perante o assombro de uma meia-dúzia de euros que nunca veremos a não ser na criação de mais um ou dois monstros económicos ao nível da dívida externa de países do terceiro mundo. Otamendi, como vários Otamendis antes dele, saiu por uma porta pequena depois de nos ter dado tanto em tão pouco tempo. Três campeonatos, uma Liga Europa e uma batelada de troféus depois, a saída do argentino deixa mais um vazio, não no centro da defesa onde talvez já tivesse dado o que nos tinha a dar, mas na ligação do adepto com o seu ídolo. Culpa dele? Culpa nossa? Culpa de todos.

Não admira que cada vez haja mais movimentos saudosistas para trazer de volta o brilho nos olhos dos adeptos que ainda gostam de futebol pelo futebol. É que como tantos outros, começo a ficar farto de ser tratado como um número.

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 1 Estoril

Continua a ser difícil ver o FC Porto a jogar sem ficar extremamente nervoso e a entrar num remoinho de insatisfação e desespero geral pelo estado do nosso futebol. Hoje foi mais um exemplo de uma equipa desconexa, com pouca inspiração individual e uma confrangedora falta de motivação, agressividade e vontade de praticar um futebol consistente, inteligente, prático, digno do clube que todos aqueles jogadores representam. Salvaram-se alguns do fogo que parece lavrar continuamente por debaixo dos rabinhos colectivos e a passagem às meias-finais aparece caída de um lance quase perdido em que Ghilas aparece finalmente numa zona de finalização, ele que passou o pouco jogo que teve encostado a uma das alas. Não vejo quase nada que me motive no FC Porto actual. A notas, que se faz tarde:

(+) Quaresma. Todos sabemos que gosta de jogar sozinho, que opta pelo lance individual em virtude do enorme talento que tem e que assume os lances na pele porque acredita que consegue ser a mais-valia que todos queremos que seja. Mas hoje trabalhou para o grupo, para o colectivo, mantendo a veia individualista que o caracteriza mas tentando entender-se com Danilo (desentendendo-se várias vezes) mas sempre a procurar a baliza e a produtividade acima da baixíssima média da equipa. Esforçou-se e merece aplausos por isso.

(+) Herrera (na segunda parte). Há qualquer coisa de estranho e fascinante no jovem Hector, que de um momento para o outro um jogador lento que se arrasta em campo e falha simples passes de dez metros se transforma num rápido box-to-box que recolhe a bola em zonas recuadas e percebe as deambulações dos colegas para lhes endossar a bola de uma forma correcta, com passes pesados e dirigidos na perfeição e que ajuda a movimentar o jogo ofensivo de uma forma simples e prática. Se durasse um jogo inteiro a esse nível seria titularíssimo.

(+) Danilo. Esforçou-se e há que lhe dar mérito por isso. Surgiu várias vezes em zonas adiantadas pronto para rematar e tentou corrigir alguma falta de entendimento com um dos jogadores mais complicados de agregar em tarefas colectivas que temos e tivemos nos últimos dez anos. Falha muitos passes e perde bolas em demasia no approach ao ataque, mas se melhorar nesse aspecto podemos finalmente ter um defesa lateral direito que suba no terreno em condições.

(-) Mais uma vez, onze gajos, zero equipa Começo a compreender um bocadinho sobre futebol ao passar dos treze anos, quando Carlos Alberto Silva comandava então os nossos destinos em campo. Segui com a segunda vinda de Ivic, admirei a chegada de Robson, tentava perceber as opções de Oliveira, as hesitações de Fernando Santos, a ultra-defensividade de Octávio e a rigidez táctica de Mourinho. Estranhei a chegada de Del Neri, agoirei a saída de Fernandez, cuspi veneno com Couceiro e enervei-me com Adriaanse. Aborreci-me com Jesualdo, exultei Villas-Boas e quase adormecia com Vitor Pereira. Mas este FC Porto, esta pseudo-equipa que vejo semana após semana com as nossas camisolas, consegue colocar-me num estado de ansiedade do qual dificilmente sairei até que consiga ver algum lampejo de estrutura, de futebol organizado e em que os jogadores estão de facto a interpretar um guião teórico através do talento que todos têm e que parece andar fugido como um católico na Inglaterra da virgem Isabel. Somos um pedaço de gelatina num ventoso e lacrimejante dia de Outono, em que o sabor dos componentes se perde ao primeiro sinal de contrariedade, onde um jogador vale por si e poucos fazem com que o grupo valha como tal. Fracos. Somos fracos de corpo e mente e não tardará muito até os azares começarem e os resultados falarão por si, como até agora têm vindo a fazer.

(-) A contínua escolha de Licá como “extremo” O rapaz não é extremo, Fonseca. Não é. Por muito que o queiras usar como tal, não é. Não consegue receber a bola na linha e controlá-la para prosseguir a jogada. Não é bom no 1×1, não cruza bem e claramente não faz diagonais com a bola dominada. Estar sempre a colocá-lo nesses impróprios lugares é desfazer a imagem do jogador que luta sem produzir e apanha assobiadelas sem merecer.


Benfica na Taça. Benfica na outra Taça, se nos deixarem jogar. Benfica no campeonato. Raios, até podemos apanhar o Benfica na Liga Europa. É Benfica a mais, sinceramente.

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Baías e Baronis – Atlético Madrid 2 vs 0 FC Porto

À imagem do que aconteceu há dois anos, onde perdemos por culpa própria a oportunidade de passar à fase seguinte no último jogo, saímos da Champions depois de mais um jogo em que não houve FC Porto suficiente. É já uma conversa de meses e já cansa de perceber a quantidade de passes falhados, desorientação táctica e alguma falta de inteligência e agressividade competitiva que ilustra o que é a nossa equipa na actualidade. Somos pouco Porto para o que gostaríamos de ser e não conseguimos fazer mais por clara incapacidade dos jogadores em lutar contra dificuldades, aliada à intransigência do treinador em alterar um sistema táctico que pouco mais trouxe que inconsistência exibicional e muita falta de capacidade de se impôr aos adversários, grandes ou pequenos. Siga para as notas:

(+) Defour. Elegê-lo o melhor em campo do FC Porto pode parecer estranho mas foi o que mais me entusiasmou, apesar da posição não o beneficiar. Aliás, a posição não o beneficia nem a ele nem a Fernando, mas o belga parece sempre um pouco mais à vontade que o brasileiro quando precisa de subir no terreno. Muito bem nas dobras, saiu quando não merecia…e não faço a menor ideia do porquê.

(+) Jackson. Não marcou mas tentou sempre lutar mais que a maioria dos colegas. Inconformado com o resultado, procurou sempre marcar pelo menos um golo para empurrar a equipa para a frente, ele que passou o tempo quase todo a ser (bem) marcado por Miranda e sem grande espaço para a finalização em condições. Mandou uma bola ao poste, sacou um penalty porque insistiu num lance meio perdido e não merecia que Josué falhasse. Pensando melhor, ninguém merecia.

(-) Não houve “do or die”. Só houve “die”. É a postura, estúpido! Tudo a ganhar, nada a perder a não ser algum orgulho…e onde é que esse lá vai depois das duas derrotas em casa e do empate com o Áustria de Viena. E podemos lamentar as quatro bolas nos postes e dizer que a sorte não quer nada connosco, mas falhámos quando não a procuramos convenientemente. Qualquer adepto fica com uma profunda sensação de vazio quando vê a falta de garra daquela malta. O jogo desenrolou-se a uma velocidade excessivamente baixa, com um ataque em leque à andebol que não furava, não tentava atacar os defesas, raramente rematava e perdia bolas como se o futuro da competição não dependesse da sua posse. Devemos ser, neste momento e em situações de nervosismo mais elevado, o ataque mais lento e menos perigoso da Europa. A táctica não ajuda e o treinador não parece disposto a alterar a esquematização da equipa em campo, usando apenas um médio recuado em vez dos dois que agora coloca lado a lado. E se virem o Atlético, reparam que também usam dois médios à entrada da área…mas o resto do esquema não se pode sequer começar a comparar com o nosso. Uma táctica é mais ou menos ofensiva quando depende dos seus intérpretes, por isso é que os nossos rapazes estão tão estranhamente distantes e vazios de vontade e de capacidade criativa e organizacional. Têm medo e não o conseguem ultrapassar. E isso, ver isso em campo, ver isso em homens que parecem meninos quando jogam contra homens que se mostram homens…é deprimente.

(-) Lucho. Não está bem e nota-se em campo. O posicionamento demasiado perto do avançado-centro parece estar a condicionar os seus movimentos mas El Comandante não está a facilitar, servindo para pouco mais que uma parede que os outros médios usam para tabelar a bola e continuar o jogo lento e horizontal. Não está a conseguir comandar a equipa como todos esperávamos que conseguisse fazer.

(-) Alex Sandro. Mais um belo pedaço de estrume que largaste hoje em campo, Alex. Uma atitude indolente que enerva duzentos monges tibetanos, a postura do “eu finto três gajos sem problema”, mesmo antes de ficar sem a bola. Há jogos em que merece um par de estalos bem dados com a parte de fora da mão. Usando uma soqueira ensopada em cola quente e coberta com vidro moído. No mínimo.


Caímos sem estrondo para a Liga Europa, lugar onde vamos parar apenas por demérito próprio e pela incapacidade de fazer mais do que um mísero ponto em casa. É muito pouco para um clube como o nosso e temos de aprender com os nossos erros, a começar pelo treinador e continuando pelos jogadores. Há poucas oportunidades de causar boas primeiras impressões e tu, Paulo, falhaste. Falharam todos.

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Ouve lá ó Mister – Atlético Madrid

Mister Paulo,

Aqui há três anos fomos dar um salto a Madrid para um jogo da fase de grupos da Champions (Dios mio, que eu era tão idiota naquela altura). Vencemos por três golos de vantagem e mostrámos que tínhamos uma equipa com tomates para chegar longe, exibimos bom futebol e despachámos os moços com um golo de Bruno Alves, outro de Falcao e um balázio de Hulk a fechar as contas do grupo D, onde terminámos no segundo lugar. Depois disso veio mais uma eliminatória contra o Arsenal onde depois de uma vitória por 2-1 em casa, com uma anedótica exibição de Fabianski, lá fomos a Londres apanhar as habituais bojardas nas trombas que os bifes nos habituaram a enfiar. Ah, e perdemos o campeonato para o Benfica ao fim de quatro anos de vitórias consecutivas. Dos rapazes que jogaram no Vicente Calderón sobram Helton na baliza, Fucile na defesa, Fernando no meio-campo e Varela no ataque. Ou seja, não sobra quase nada.

Hoje tens a oportunidade de limpar a imagem de cinco jogos semi-miseráveis que compõem até agora a tua carreira europeia. E já sei que não dependemos apenas de nós, que temos de esperar que a equipa desse mesmo rapaz que em 2009 enfiou um tiraço na baliza do Asenjo consiga hoje perder ou empatar contra os austríacos para podermos sonhar em passar em frente. E tudo depende de ti, Paulo, de ti e dos teus. Não tens nada a perder. Não sei se o Lucho pode jogar ou não, por isso inventa o que quiseres no meio-campo, no ataque, na defesa. Age como se a tua vida dependesse disto porque te garanto que se não passares não vem mal ao mundo e seguimos resignados para a Liga Europa…mas se passares, pá…se passares, os adeptos vão-te olhar com outros olhos. E se ganhares o jogo e mesmo assim não passarmos…ao menos saímos de pé como as árvores.

Bora lá. Estarei a ver e a sofrer.

Sou quem sabes,
Jorge

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