Perdi o meu Fuciletador


Não tenho filhos. O mais próximo que tive em termos de relações parentais teóricas foi com este fulano, pela forma como o tratei desde que apareceu no FC Porto num frio Janeiro no longínquo ano de 2007. Como um pai ausente que aparece em casa de semana a semana só para ver se os putos já têm dentes ou se a mais velha se está a dar bem no colégio, tratei-o como um filho. Gritei com ele quando fazia a sua habitual dose de parvoíces, elogiei-o quando era preciso e só me faltou coragem para o encontrar no fim de um treino, sentá-lo no meu colo de barriga para baixo e dar-lhe uns açoites bem dados no rabo. Sem qualquer tipo de perversão incestuosa homo-erótica, deixem-se lá disso. Por muito que já tenha ouvido aqui em casa a expressão: “Nem penses, eu não sou a mãe do Fucile!!!”, a verdade é que me sentia como tal. E tinha orgulho no meu rebento, porque afinal nestes últimos 5 anos, Jorge Fucile venceu 12 títulos com a nossa camisola, leva quatro Campeonatos no bucho, outras tantas Supertaças, mais três Taças e uma Liga Europa. É obra conquistada pelo meu homónimo. E eu babado.

No entanto, sai do FC Porto de uma forma inesperada para a sua valia e importância no plantel desde há tanto tempo, mas que todos pareciam ver como inevitável tendo em conta as últimas não-exibições que tinha vindo a demonstrar. Sempre foi um dos meus jogadores preferidos, nunca o escondi. E o rapaz tem vários parafusos fora do sítio (dentro de campo, pelo menos), nunca foi consistente nas exibições, os cruzamentos raramente saíam decentes e as correrias loucas pelo flanco, tanto o esquerdo como o direito, nem sempre eram produtivas. Metia-se em problemas com os adversários por ser raçudo, caía vezes demais em deserções tácticas e tinha aquele ar de puto reguila com um olhar de cima para baixo como quem diz: “Eu? Sim, sou melhor que tu, e então? Anda lá, corre, passa por mim, vê se eu deixo. Não vales nada, seu conas!”. E enfiava um pontapé para a atmosfera.

Jogou com vários colegas à sua frente no flanco. Fosse Quaresma, Lucho, Lisandro, Tarik, Mariano, Hulk, Cebola, Varela…se qualquer um desses olhasse para trás o normal era estar ali atrás o uruguaio tolinho que se ria para os adversários e enervava os adeptos. Não me esqueço de tantos jogos em que saltei da cadeira a aplaudi-lo, como também me ficam na cabeça outros tantos em que me pôs a roer os dedos e a clamar para que estivesse atento.

Perco um dos meus jogadores fetiche, não um daqueles que adoramos odiar ou detestamos adorar. Um que sinceramente me sentia bem em apoiar. Um moço que me dava alegria de ver a jogar e que, não sendo o melhor jogador do Mundo, era um dos “meus” meninos. Desejo-lhe sorte, sabendo no meu coração que não o vou ver de novo na Invicta. Raios te partam, Jorge.

Aqui fica um resumo das principais referências a Fucile no Porta19:

PS: Caso se confirme a saída de Fucile do plantel do FC Porto, é sinal que o fim de um ciclo está em marcha e o processo de renovação do plantel já vai a meio apesar de toda a gente (incluindo moi même) não se ter apercebido. Guarín e talvez Sapunaru podem estar de saída. Rodríguez idem. Do tempo vitorioso de Jesualdo ficam apenas Helton, Hulk, Rolando e Fernando. Curioso, mas nada inesperado. Afinal, três anos na vida do FC Porto parecem uma eternidade.

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Pára tudo! Hoje há sorteio!


Faço um pequeno parêntesis nesta semana de conspirações, notícias especulativas, propostas milionárias, transferências em pausa, convocatórias surpreendentes, treinos intensos e ansiedade pela Supertaça. Vem aí o sorteio da Champions.

Vai fazer agora dois anos que não temos o prazer de assistir a um sorteio destes como participantes. Ano passado doeu que se fartou ver as bolas da Liga Europa, que pareciam brindes brancos e ovóides saídos de uma qualquer máquina de feira, com a bola da Adidas estampada na face exterior. Mas sentia falta das estrelinhas, aquelas pequenas formas com cinco pontas que fazem toda a diferença. E vai ser bom vê-las hoje de novo, oh se vai.

E é sempre a mesma coisa. Não queremos jogar com X porque é longe, com Y porque é forte e com Z porque é o Arsenal e já estamos fartos de levar no focinho. Este ano, para compôr o ramalhete, estamos no grupo dos cabeças de série. É um orgulho, minha gente, ver o nosso clube ali no meio de Reais Madrids e Bayerns, a apertar ombros ali como uma barreira mal-formada, prontos para devorar os outros adversários dos grupos abaixo, esses humildes mortais, plebe desgarrada e sequiosa, gado pronto para o abate. Até olharmos para os nomes que lá estão, e o engolir em seco torna-se mais que uma metáfora.

Vamos então a um pequeno exercício. As boas e as más sortes. Ou, visto de outra forma, o melhor e o pior das possibilidades. Sigam-me:

Melhor sorteio possível, abrem-se garrafas de espumante e marca-se hotel em Genebra para o sorteio dos oitavos:

FC PORTO
CSKA Moscovo
Basileia
Trabzonspor


É que nem é preciso pensar muito. O CSKA despachamos sempre que os apanhamos pela frente e de todos os clubes que nos podem calhar a partir do pote 2, é o mais acessível. Mais que o Marselha, com ou sem Lucho. E tínhamos sempre a oportunidade de ver a vedeta principal do MoscovoFashion, o trançudo do Vágner Love, que havia de levar uma cabeçada do Mangala que o deixava com a guedelha toda vermelha.

Do terceiro pote ainda podia optar pelo BATE Borisov, uma equipa que admito simpatizar porque quem se chama BATE e não tem jogadores expulsos logo nos primeiros 15 minutos, é digno de ter o David Luiz no plantel. Mas ainda assim escolhia o Basileia, por vários motivos: são suíços, é gente civilizada que não parte cadeiras e porque adorava ouvir os comentadores a sacarem do dicionário para pronunciar nomes como “Kwang-Ryong”, “Joo-Ho” ou “Shiqiri”. Para além disso já íamos ter de passear na Rússia e ter de andar pelas ruas de Minsk com as mesmas botas duas semanas depois dava cabo dos ossos dos nossos rapazes.

Acabava com o Tranzaspor. O último pote é acessível sem contar com os alemães e os italianos, por isso vou pelo que conheço. Vi estes fulanos a jogar contra o Benfica e foi como ver uma mosca mirolha à cabeçada contra um rinoceronte no cio. São fraquinhos e em condições normais estariam ao nosso alcance.

Pior sorteio possível, com direito ao nosso representante lá no Mónaco dizer em directo e em voz bem alta: “Oh que caralho!”:

FC PORTO
AC Milan
Manchester City
Borússia Dortmund

O Milan porque são italianos e jogam muito. Ainda para mais vinha para aí o Ibrahimovic cheio de paneleirices com o puxinho no cabelo que só apetece arrancar ao estalo e já mandamos o Sereno para a Alemanha por isso não dá jeito. Para além disso temos um histórico com eles que mete medo e já não há Jardel para enfiarmos aquelas batatadas em San Siro. Ainda acordo de noite a suar e a pensar no Gattuso e nem quero imaginar o mal que isso me traria a longo prazo. Big no-no.

O City. Claro, os mais recentes novos ricos em Inglaterra, a versão futebolística do empreiteiro (empresário da construção civil para quem não fôr do Norte) que compra um Mercedes novo e encharca a mulher de ouro, que por muito que reluza continua a não conseguir dizer uma palavra que não soe a labreguice. Quem compra Nasri e Aguero de uma só vez, para além da quantidade absurda de talento que tem do meio-campo para a frente, mete medo a qualquer um. Em contrapartida a camisola é azul-ciano, o que não é de homem, e podíamos sempre ver o Balotelli a passar-se e enfiar uma cotovelada no Mancini ao vivo e a cores. Ainda assim dispenso.

E para acabar o Dortmund. Eu sei que são alemães e que o futebol é chato e previsível. Mas o Lineker tinha razão quando dizia que jogavam 11 contra 11 e no final ganham os boches (não foi bem assim mas eu percebi-te, Gary…eu percebi) e estes não são diferentes. Está bem, perderam o Sahin. Pronto, lá se foi o velhote do Dedê. Não interessa, continuam a ser gajos que sabem jogar à bola, são duros como cornos de titânio, saltam como a Isinbayeva com a vara e não tem problema e Javiar (ou Katsouranizar) o jogo à cotovelada e ao chuto prá frente. Não quero.

 

É hoje o sorteio. 16h45. Com a minha sorte calham mesmo estes últimos três. Vá lá, ao menos não podemos jogar contra o Artmedia.

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A Bola: Mais uma destas…


Director: Aquela peça sobre o Hulk está pronta?

Subalterno: Está sim, mestre.
Director: Pronto, então põe uma caixinha na primeira página, só aquele tamanho que dedicamos a notícias daqueles merdeiros do norte, já sabes das regras, certo?
Subalterno: Sim, meu general.
Director: Já agora, é sobre o quê a notícia? Não que me interesse muito…
Subalterno: É a dizer que o Hulk vai regressar do castigo e joga contra o Leixões e na primeira jornada daquela taça europeia dos campeões, aquilo que nem conta para nada, não é como a majestosa Liga Europa, isso sim, uma taça à maneira!
Director: Muito bem, Jeremias, gosto do que ouço! É contra quem o jogo?
Subalterno: Não sei ao certo, não é que seja fácil obter informação sobre essa competiçãozeca…acho que é o Arsenal ou o Chelsea ou o Wimbledon ou parecido…
Director: Wimbledon? Oh amigo isso é ténis, pá…põe Arsenal que é vermelho e fica melhor quando ganhar aquelas bestas…e também se não fôr ninguém há-de notar…
Subalterno: Os seus desejos são ordens, Adónis dos meus lençóis.
Director: Jeremias, já lhe disse para mantermos a relação puramente profissional enquanto estivermos na repartição…
Subalterno: (suspiro)…
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