"Ó pai, quem é o Deco?"


Enquanto passeava ao redor do Dragão no passado Sábado, antes do jogo contra o Moreirense, decidi percorrer o perímetro mais longo para quem desce a alameda e se dirige para a minha porta de entrada. A passada ia lenta, ia contemplando o estádio e o ambiente e acompanhava de uma forma intermitente um miúdo que não podia ter mais de 8 ou 9 anos e um homem o levava pela mão e que presumo fosse seu pai. Enquanto o pai ia mostrando os escudos que estão colocados na zona oeste/sul do exterior do estádio, com os nomes e glórias do nosso clube (a que fiz menção aqui e que lamento que continuem a estar sub-aproveitados), ouvi o filho a colocar esta mesma pergunta – a do título do post, para os mais distraídos – ao seu pai.

Enternecedor, sem dúvida, mas coloca em perspectiva a nossa vivência e a história do nosso próprio clube. É certo que o rapaz ainda estava na fase do “comer/dormir/purgar” enquanto Deco passeava classe nas Antas e no Dragão e em Sevilha e Gelsenkirchen e tantos outros estádios por essa Europa fora, mas a verdade é que me senti pela primeira vez na pele de um qualquer adepto Portista quando me falam de Cubillas, Pavão, Murça e Rodolfo ou até os mais antigos como Barrigana, Miguel Arcanjo, Virgílio, Custódio Pinto ou tantos outros que fizeram parte da nossa história e que conheço apenas de nome e de fama, nunca os tendo visto a jogar nem conseguindo tirar uma opinião concreta sobre o que valiam em campo. É sinal que a história passa por nós e que uma nova geração de jovens portistas já não está sequer ao virar da esquina. Já cá está, pronto para louvar James e Jackson e Moutinho e Helton mas que precisa também de ser transmitida por cada um de nós, para que o FC Porto viva com o coração forte e com adeptos ferrenhos e apaixonados mas também conhecedores da sua história.

Ser portista é também agir como aquele pai fez com o filho, explicando-lhe quem foi o tal Deco, o que fez e quando o fez. E só não mostrou ao puto como o fez porque muito provavelmente não conseguiria. Para que daqui a uns dez anos, quando um miúdo parecido perguntar ao seu pai enquanto passeia à volta do Dragão: “Ó pai, quem é o Hulk?”, o pai também lhe saiba responder e o faça com orgulho.

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