Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 2 Atlético Madrid

Já não me lembrava de uma derrota caseira para a Champions, especialmente na fase de grupos. Tive mesmo de ir ao zerozero para confirmar que desde o Chelsea em 2009 não tinha havido uma única equipa a mandar-me para este fosso de infortúnio e tristeza em que me vi enfiado esta noite. E foi com todo o mérito que o Atlético aproveitou duas oportunidades das várias que criou para nos empurrar para trás com alguma inteligência, talento e espírito de sacrifício mas acima de tudo a argúcia de perceber que este FC Porto é tacticamente demasiado macio e desorganizado para poder causar perigo a não ser por lances fortuitos ou remates de longe. É um FC Porto pequeno, sem ideias na construção de jogo e com uma incapacidade assustadora de criar lances de perigo e de manter a bola controlada mais de alguns segundos perante pressão adversária. Perdemos e perdemos bem, com ingenuidades que se pagam muito caro a este nível. Análise abaixo:

(+) Fernando. Foi o melhor jogador do FC Porto porque me pareceu dos únicos que se mostrou interventivo naquilo que melhor sabe, na intercepção de lances ofensivos do adversário e na tentativa de impedir que os médios trocassem a bola no meio-campo. As trocas com Defour nem sempre funcionaram bem (hoje mais por culpa do belga que insistia em vaguear de uma forma mais horizontal do que era necessário e para a zona onde estava o brasileiro) mas ajudou a cortar vários lances de ataque que poderiam ter sido perigosos. Tentou subir com a bola controlada e ajudar o ataque, da forma tradicionalmente trapalhona do costume, mas foi a defender que melhor esteve. E numa derrota é dizer muito.

(+) Os primeiros trinta minutos. Parecia um novo FC Porto, com vontade de empurrar o adversário para trás, intenso na recuperação de bola no meio-campo contrário, sobrando Mangala e Otamendi para receber no centro e rodar rapidamente para os lados. Defour mexia-se bem, Danilo e Alex Sandro jogavam abertos nos últimos trinta metros, Josué entendia-se com Jackson e Lucho aparecia como primeiro tampão. O golo surgiu em boa altura e não tivéssemos começado a recuar e a entregar a bola ao adversário e poderíamos ter tentado marcar pelo menos mais um. Não conseguimos. Foi pena.

(-) Alex Sandro. Talvez o pior jogo que me lembro de o ver fazer pelo FC Porto. Parece estranhamente amorfo nas saídas para o ataque, com paupérrimo domínio de bola, incapacidade doentia de furar pelo meio de três ou quatro adversários e uma inacreditável ausência de critério no passe de meia distância. Horrível.

(-) Varela. Horrível foi também o jogo de Varela, que incrivelmente ficou até ao final do jogo em campo quando a sua produção foi tão baixa que fez lembrar Mariano González de pernas partidas. Controlo de bola nulo, fez lembrar o Varela de meio da época, tal era a inépcia para conseguir reter a bola na sua posse para a partir daí fazer alguma coisa de jeito. Entendeu-se mal com Danilo, tapou mal o flanco e estragou várias transições ofensivas da equipa, perdendo a bola em zonas perigosas. Se Varela é um dos poucos extremos com que contamos, temos de pensar em mudar radicalmente a estratégia da equipa.

(-) O ataque à andebol e a desconstrução táctica da equipa. Durante grande parte da segunda parte, vi o FC Porto a atacar como se fosse um guarda-chuva aberto com o cabo apontado a Courtois e os jogadores colocados nas pontinhas de metal que estão ao fundo das varas. A bola era passada de lado para lado, lenta, com pouca progressão, rodando devagarinho de jogador para jogador sem que houvesse alguma hipótese de furar uma equipa que defendia em três linhas. Havia poucas ideias mas acima de tudo uma desorganização dolorosa de ver, com médios a sobreporem-se uns aos outros, extremos que não o são a tentarem fazer o que não conseguem através de zonas que não dominam. Os passes simples que falhamos em todos os jogos são ainda mais notados quando há pouco espaço e quando a equipa parece desmoronar com o mínimo de pressão contrária, o que resultou num jogo em que Helton esteve muitos mais minutos com a bola nos pés do que qualquer dos avançados da sua própria equipa. Juntemos um Lucho sem capacidade física, uma notável incapacidade de retenção de bola por Jackson e Varela (e Licá, depois de entrar), dois laterais com medo de subir e um Josué que depende em excesso de tabelinhas e que parece que tem medo de dominar a bola, protegê-la e não pontapear o adversário sem critério depois de a perder…e temos o caldo todo no chão. A equipa está em desconstrução, com uma mudança de filosofia depois de três anos a jogar fundamentalmente da mesma forma, com níveis diferentes de velocidade entre Villas-Boas e Vitor Pereira. Paulo Fonseca pode estar a tentar mudar a equipa, mas não o conseguirá a curto-prazo e o FC Porto não consegue aguentar este tipo de mutações tão radicais, sem extremos na linha e com dois médios defensivos que ainda não perceberam onde e como jogar. E a sua reactividade tardia não ajuda a compensar a falta de proactividade durante o resto do jogo. Mas isso fica para mais tarde, noutro post mais a frio.


Uma derrota é sempre um motivo para parar e pensar. Uma derrota que surge no seguimento de várias más exibições…deixa-me desanimado. Só posso esperar que as coisas melhorem em Arouca. Hope springs eternal, indeed.

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Vitória Guimarães

Depois de sair do estádio, enquanto esperava que uma enorme carga de água cessasse de cair do céu da Invicta (bem-vinda, chuva tão nossa e tão ubíqua cá no burgo), ia ouvindo as conversas e havia três pontos de concordância geral entre o povo que discutia o jogo que tinha acabado de presenciar, que apresento aqui como citações mais ou menos precisas e com vernáculo corrigido: “Eu não vi penalty nenhum!”, “E aquele cabrão do avançado? Que trave!” e “Se jogarmos assim na terça-feira, estamos tramados…”. Concordo com todos e adiciono que a equipa parece perder clarividência, criatividade e organização à medida que os jogos vão avançando. Vencemos, é certo, mas foi caído do céu, como a chuva. Notas abaixo:

(+) Mangala e a luta com Maazou. Foi de longe o duelo mais interessante do jogo e só esse simples facto dá para perceber o quão aborrecido e pouco intenso foi o resto do jogo. Ainda assim, a forma como os dois “vinte-e-dois” se bateram, pelo ar ou pelo chão, foi o motivo de maior empolgamento dos adeptos, que viam ali uma fugaz escapatória ao deserto de ideias e às contínuas falhas técnicas e tácticas que a equipa exibiu. Mangala saiu quase sempre vitorioso, mas o canastrão que este ano chegou a Guimarães foi um dos adversários que lhe deu mais trabalho este ano (mais até que a luta contra Cardozo no jogo de Setúbal) e o francês superou o nigerino em quase todas as oportunidades.

(+) O espectáculo inicial das claques. Ninguém pode ficar indiferente ao ENORME pano que cobriu toda a Superior Norte e mais um pedaço da lateral, com nomes eternos da nossa história como faces num Mount Rushmore versão FC Porto. Nicolau de Almeida, Monteiro da Costa, Pedroto e Pinto da Costa foram elevados a heróis pelos adeptos, no tamanho que mereciam. Mais, só uma estátua. Parabéns, caríssimos co-adeptos.

(+) Josué. Marcou o penalty com calma. Ainda teve mais um remate perigoso…e não tivesse falhado setecentos passes durante o jogo e teria tido maior destaque. Como assim não foi…fico pelo elogio ao jogador que nos deu a vitória.

(-) Apatia, descoordenação táctica e falhas individuais em demasia. Parece ser contra a intuição natural de alguém que gosta de futebol, mas a verdade é que à medida que o tempo vai avançando e as ideias de Paulo Fonseca vão sendo naturalmente entendidas e adaptadas pelos jogadores, a equipa vai jogando pior. Falham-se muitos passes, democraticamente oscilando entre os curtos e longos, mas com uma percentagem de acerto abaixo do que seria uma exigência mínima. Há conceitos de base que insistem em ser atirados para canto pela maioria dos jogadores (Licá, protege o raio da bola em drible…Alex, olha para o lado a ver se vem alguém…Varela, tenta não tropeçar nos próprios pés quando recebes a bola…só para citar alguns) mas o que mais incomoda continua a ser a apatia. Há um alheamento da bola, uma tentativa de perceber em campo a melhor forma de agir enquanto o jogo decorre, sem que se consigam ver resultados práticos. Sim, Quintero tem uns pés que parece um Hagi moreno e com gel na trunfa, mas continua a ser jogador com mentalidade de vedeta em equipa pequena. Um bom elemento para um Fulham, um Hannover ou um…Pescara, onde tem mais alguns gajos que corram o que ele opta por não correr. Lucho está menos mal e vai tentando coordenar os movimentos dos colegas, mas nem ele parece entender o que é necessário para dinamizar a equipa. Fernando joga perto demais do centro da defesa, os laterais tardam a subir e fazem-no com pouco apoio, os extremos estão ineficazes, inexistentes e indolentes e Jackson parece amorfo, sem a capacidade de controlar a bola de costas e de rodar para uma ala onde, compreenda-se, raramente tem uma linha de passe. Juntemos a isto as trocas entre o médio mais avançado e um dos falsos extremos sem que haja progressão com bola, conquista de terreno ou qualquer perigo para a defesa contrária. O overlap dos primeiros jogos desapareceu, as linhas de passe não surgem porque não há magia no Mundo que as crie sem que os rapazes trabalhem para isso. Há gente a mais nalgumas zonas (meio-campo defensivo em ponto de construção) e a menos noutras (entrada e laterais da área). Há confusão, desorganização, desatenção, há tanta coisa mal que vou desesperando sempre que saímos em posse para o ataque. Há pouco tempo para construir uma equipa do início, mas temos de tentar corrigir alguns dos problemas para evitar males maiores.


Num jogo em que se celebrou o 120º aniversário do clube, os adeptos mereciam mais. E ninguém se chatearia muito se a segunda parte tivesse sido igual à primeira, com um ou outro golo a dourar o espectáculo e a dar a vitória à equipa. Para nos rirmos todos um bocadinhos e partilharmos com sonoras gargalhadas os pedaços de passado que vivemos em conjunto. It was not to be. Talvez no futuro possamos olhar para trás e rir destes momentos. Mas o presente, esse não dá para grandes sorrisos.

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Leitura para um sábado tranquilo

 

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Porque é que concordo com o empréstimo do Castro e concordaria mais se fosse uma venda

Há muitos anos que vemos estas decisões a sucederem-se com frequência, com a consequente reacção recheada do habitual misto de incredulidade e frustração, envolta num belo molho de insultos a tudo o que manda no FC Porto. Quando se dispensa um rapaz da formação, levanta-se um pé-de-vento que não poupa ninguém a não ser o próprio jogador.

Já aqui mencionei o papel de Castro e a importância que poderia ter não só na constituição de um plantel com uma melhor relação emocional com os adeptos, mantendo a “mística” da casa e mostrando que a malta da formação acaba por finalmente ter algum retorno com jogadores a serem inseridos com sucesso no plantel da equipa principal. Falei dele nos B&Bs de 2010/2011, no arranque da época passada quando olhei para os potenciais dispensáveis e no final da temporada nos B&Bs de 2012/2013. Neste último post, escrevi o seguinte:

“Já Castro, o doido Castro, o gondomarense Castro, é “o” nosso puto. Imagem de marca do FC Porto, a luta e o empenho total que coloca em cada lance que disputa fez dele opção perene no banco mas uma utilização bem acima do que talvez fosse esperado no início da temporada. Mais um rapaz que fez uma boa época e que merece continuar no plantel, porque muito embora talvez nunca venha a ser um jogador essencial no onze-base, é um jogador perfeito para transportar a história do clube aos ombros. Resta saber se está disposto a ser utilizado de uma forma intermitente…

É fácil perceber que Castro não seria titular no FC Porto 2013/2014. Com a chegada de vários elementos à zona mais empobrecida do plantel 2012/2013 (o centro do terreno) fazem com que Defour, Josué e Herrera estivessem à frente dele na ordem de escolha teórica do treinador, levando a que a saída de Moutinho não lhe tivesse elevado o perfil. E a sua utilização intensa na pré-época pode até ter servido para Paulo Fonseca confirmar que Castro não é um elemento base para ficar no plantel e o próprio jogador deve ter percebido isso. Só não entendo o porquê da renovação e apenas posso teorizar que não houve propostas de compra aceitáveis para deixarmos sair de vez o rapaz.

Reparemos no trajecto de Castro como sénior:

A azul estão os jogos oficiais que realizou pelo FC Porto, ao todo 34. É um campeonato dos antigos durante sete épocas, com três anos e meio de empréstimo ao Olhanense (dois) e ao Gijón (um ano e meio). Ao longo desse tempo todo, Castro atravessou quatro treinadores no FC Porto, desde Jesualdo a Paulo Fonseca, passando por Villas-Boas e Vítor Pereira. E continua a ser um rapaz lutador, empenhadíssimo, com um espírito de sacrifício intenso e nunca desistindo de um lance que vê que pode disputar. A verdade é que viu montanhas de jogadores passarem à sua frente (Bolatti, Guarín, Ruben Micael, Moutinho ou Defour, para citar alguns), sem nunca conseguir lutar directamente com eles por uma posição como titular, fosse a “seis” ou a “oito”. E é isto que Castro traz ao grupo, um jogador sempre disponível, portista, que reclamou oportunidades para jogar mas nunca conseguiu convencer o seu treinador, fosse ele qual fosse, que tinha valor suficiente para ser titular no FC Porto. E concordo com os treinadores, porque vejo mais em Defour que em Castro, via mais em Moutinho e, ao fim de algum tempo, vi mais em Guarín. Tarde, mas vi.

Tenho pena, acreditem que sim. Mas também quero ver o FC Porto a vencer e quero ter os melhores jogadores nas melhores posições. E Castro, muito à imagem de Paulo Machado, Vieirinha ou Atsu ou vários outros que surgiram em tantos momentos diferentes do nosso passado e que subiram da formação para não conseguirem vincar um lugar no plantel principal, não seria a melhor solução para o lugar. E talvez sejam boas opções para outros clubes, ficando o FC Porto com a compensação económica adequada e a satisfação moral de ter formado um bom homem e bom jogador.

E desejo-lhe toda a sorte, porque acredito que não voltará a vestir de azul-e-branco. Continua humilde, rapaz, trabalha e joga. Fizeste para merecer, só não tiveste a sorte de estar num clube um bocadinho menos forte que te desse a oportunidade de jogar e vingar.

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Leitura para um feriado tranquilo

  • Maillots de Sport – Newcastle Utd : Maillot spécial Sir Bobby Robson
  • Republik of Mancunia – United fans might make it impossible for Moyes to succeed
  • CFCNet – Great Expectations: Mourinho’s second coming
  • Sporting Intelligence – Premier League’s global game hits landmark 100th different foreign nationality
  • Reflexão Portista – O 4-2-3-1 de Paulo Fonseca…entender o conceito! (I Parte)
  • Reflexão Portista – O 4-2-3-1 de Paulo Fonseca…entender o conceito! (II Parte)
  • Kickstarter – Super Goal Run by Super Rock Games
  • Entre Dez – Passar nas costas
  • In Bed with Maradona – The future of Chelsea? Look to Inter for the real Mourinho legacy
  • PortuGOAL – FC Porto 3-0 Guimarães tactical breakdown
  • Fankurve – Torcida Mertojak vs Torcida Razine [Torcida Kup Final], Croatia (leiam a descrição do post para saberem o que é a Torcida Kup…)
  • Futebol Magazine – Cap, as internacionalizações à inglesa
  • BiBo PoRtO, carago! – Lideramos: FC PORTO 74 versus 69 5LB!

 

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