Um meio-campo para todas as eventualidades

 

Mikel, Pedro Moreira, Fernando, João Moutinho, Podstawski, Steven Defour, Castro, Danilo, Sérgio Oliveira, Lucho Gonzalez, James Rodriguez, Kelvin, Atsu, Iturbe.

De uma assentada, reparem nos nomes que podem figurar no próximo meio-campo do FC Porto. É verdade que cada um deles têm as suas próprias valências, uns mais defensivos e com uma perspectiva do jogo um pouco mais rija, como um sniper numa qualquer torre pronto a abater quem aparecer perto da zona quente onde se guardam as munições ou as tostas mistas com o queijo derretido na perfeição. Isto das guerras não é muito comigo, peço desculpa. Outros, guardados pelos primeiros, são os transportadores de jogo, os “box-to-box”, ou “b2b” para parecer mais mediatizável. Sâo habitualmente os mais inteligentes, os que preferem aplicar o neurónio em vez de se aplicarem num qualquer perónio. Ainda há dois que faltam: os utilitários polivalentes e os génios irreverentes, só para rimar. Os primeiros jogam em qualquer lugar e não se queixam porque não têm posição certa. Os segundos jogam em qualquer lugar mas queixam-se sempre que não estão na posição certa. Egos.

Se olharmos para o que pode ser a constituição de um putativo meio-campo para a próxima época, as hipóteses tácticas são infindáveis. E não há nada que goste mais que criar hipóteses tácticas estúpidas baseadas em premissas inventadas. E de francesinhas, também gosto disso. E de cerveja. Hmm. Vamos então a um pequeno exercício, inspirado num post que vi aqui há uns tempos no Run of Play:

  • 4-3-3 clássico à FC Porto desde Oliveira: Fernando, Moutinho e Lucho
  • 4-4-2 losango: Fernando, Moutinho, Lucho e James
  • 4-6-0 como a Roma: Fernando, Moutinho, Lucho, James, Danilo e Atsu (o James era o Totti. Lindo de morrer.)
  • Tiki-taka-tuga: Fernando, Moutinho, Defour, Lucho, James e Iturbe (a pôr uma cabeleira de Messi e a fingir que é ele)
  • Quem quer ser como o Materazzi?: Mikel, Fernando e Castro
  • Se o Co ainda cá estivesse: Moutinho, Kelvin, Atsu, James
  • Taça da Liga: Mikel, Pedro Moreira, Castro
  • Taça da Liga se o campeonato correr mal mas ainda estivermos na Europa: Fernando, Defour, Castro
  • Taça da Liga se o campeonato e a Europa correrem AMBOS mal: Fernando, Moutinho, Castro (é isto, Taça da Liga contigo, rapaz)
  • Recorde do Guinness para meio-campo mais tarreco do mundo: Moutinho, Iturbe, Atsu
  • 100% brasileiro: Fernando, Danilo, Kelvin
  • 100% português: Pedro Moreira, Moutinho, Castro
  • 100% português formado no FCP: Podstawski, Pedro Moreira, Sérgio Oliveira, Castro
  • 100% “números 8”: Moutinho, Castro, Defour, Lucho
  • Os cabelos mais fashion: Lucho (a guedelha), Kelvin (mourróqui), Iturbe (redneck gringo)
  • Maiores tuitadeiros: Castro, Kelvin, James, Iturbe

Não me venham dizer que não temos alternativas. São sempre as mesmas, mas tal como no xadrez, as combinações são imensas.

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Reconsiderando Atsu

Eis uma das grandes esperanças para 2012/2013, muito pelo que fez em 2011/2012. Atsu foi a principal figura do Rio Ave na época passada e mostrou algo que poucos jogadores da nossa formação vi a fazer nos últimos anos: não teve medo. Não teve medo de nada nem ninguém, de Luisões ou Rinaudos, de tantos laterais e tantos centrais da nossa Liga, de relvas e bolas e jogadores bem mais fortes e altos que ele. Atsu vai a todas, com tudo. Está, de uma certa forma, no outro extremo de Kelvin em termos de trabalho e agressividade positiva quando veste a camisola do seu clube e avança em campo para resolver o jogo ou morrer enquanto tenta, por muito que a capacidade técnica do ganês seja bastante mais limitada quando comparada com a do brasileiro.

No ano passado, Atsu jogou em 31 partidas, marcou 6 golos e recebeu 3 amarelos. São excelentes valores para um rapaz que tinha acabado de sair dos sub-19 e que foi lançado a jogar como titular por Carlos Brito na grande maioria dos casos. Foi a agressividade ofensiva, a velocidade e a audácia do puto que convenceram o treinador do Rio Ave a avançar com ele como aposta para a titularidade e no final acabou por ver resultados com o Rio Ave a manter-se na Liga.

E precisamos de um elemento destes no plantel, se bem que Iturbe é outra excelente hipótese para ser um jogador de rupturas, de contra-ataques rápidos e de perfuração de defesas contrárias. Atsu é idêntico, mas terá oposição forte de toda a malta que, quando o virem a falhar algumas vezes, desconfio que não terá a mesma paciência com ele que teve com Hulk. Atsu, se ficar na primeira equipa e não conseguir criar o impacto suficiente para convencer os adeptos do FC Porto (especialmente no Dragão), arrisca-se a levar o mesmo caminho de Vieirinha, Ivanildo, Candeias, Helder Barbosa ou Bruno Gama. E seria (mais) um desperdício.


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Reconsiderando Kelvin

Aquela crista é de estrela. Logo assim à partida, chega um catraio de 18 anos e pumba, saca de uma trunfa com a confiança dos gigantes, uma espécie de poupa imperial para marcar logo a diferença pelo estilo. Não critico, só invejo a possibilidade.

Vi Kelvin várias vezes ao longo do ano. Quase sempre que tive a oportunidade de o ver a jogar fiquei desiludido. Especialmente pela forma como via o miúdo a encarar cada lance como “só mais um”, em vez daquilo que gosto sempre de ver num jovem que tem talento e que quer mostrar serviço, para quem qualquer cenário tem de ser visto como o último da vida dele. Vi-o muitas vezes a desistir de disputar a bola depois de falhar uma finta, a desanimar e a ficar nitidamente desanimado quando as coisas não corriam bem. Kelvin decepcionou-me porque não o vi a aplicar o talento que tem da melhor forma, como tantos outros antes dele. Não digo que não tenha futuro, longe disso, mas a mentalidade competitiva terá de ser elevada para um nível suficientemente bom por forma a poder ser uma opção válida para jogar no plantel principal. É a diferença entre um Sérgio Conceição e um Alessandro, por exemplo. O primeiro lutava com tudo o que tinha e não tinha. O segundo esperava que a bola viesse parar perto dele. Qual dos dois fez carreira no FC Porto? Pois.

No entanto, Kelvin acabou por ser uma figura importante, talvez não ao nível de Atsu ou João Tomás mas ainda assim teve um papel principal na manutenção do Rio Ave na Liga. Fez 27 jogos, marcou 2 golos e recebeu 5 cartões amarelos.

Se o rapaz aceitasse, mantinha-o por cá, na B. Sei que é novo, que tem vontade de jogar a um nível mais alto, mas com a proibição da proibição dos empréstimos a permitir que vá para um clube como o Rio Ave ou o Olhanense, que está mais próximo e tem garantias de poder jogar mais, torna-se mais arriscado colocá-lo numa equipa estrangeira onde não há garantias que possa vir a jogar de uma forma consistente, para lá do “efeito-distância” que pode ser prejudicial ao desenvolvimento do seu talento. E Kelvin precisa de jogar, precisa de aprender, de evoluir, de se tornar mais jogador.

O puto tem qualidade, não há dúvida. Mas terá maturidade?


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Reconsiderando Sereno

O caso de Sereno é mais difícil de resolver que os outros. Talvez parecido com o de Castro, porque as opções para a posição onde vai jogar são abundantes, apesar de nenhuma ser considerada imprescindível para o bom funcionamento de uma defesa unida e coesa. Maicon será provavelmente o defesa com a maior percentagem de aprovação nos dias que correm (bons tempos, ei, cara? se lembra de quando chegou à cidade? como a vida muda, irmão…), mas Rolando continua a ser um elemento importante mais pela experiência que pela qualidade, ao passo que Otamendi é sempre candidato a titular, com Mangala à espreita de uma oportunidade.

Sereno, chegado no verão de 2010 a custo zero, fez impacto logo no início, no jogo amigável contra o Ajax, no Dragão. O impacto foi na sua grande maioria sentido pelo lombo do holandês que apanhou com uma patada nas costas, mas o público viu logo do que é que o rapaz era feito, muito à imagem de Emílio Peixe, que num dos primeiros jogos pelo FC Porto no saudoso (sim, a palavra está gasta mas a nostalgia permanece) Estádio das Antas entrou aos 70 e tal minutos e aos 70 e tal minutos e alguns segundos saca de uma tesourada às pernas do adversário que ainda hoje deve estar a pensar que raio de animal peludo é que o atropelou ali mesmo no meio do relvado.

Continuou até ao final da época, vencendo tudo que havia para vencer e imortalizando-se naquela corrida atrás do pobre Valdés, atrapalhando-o e salvando um golo feito que daria o empate ao Sporting. Saiu no ano seguinte e continuou a carreira no Colónia (com mais um anúncio perfeito no site oficial, que opta tradicionalmente por uma aproximação subtil a estas matérias…tão subtil que nem delas fala), fazendo 26 jogos onde recebeu sete amarelos e um vermelho, sem evitar que os alemães descessem à 2.Bundesliga. Regressa agora para a pré-época 2012/2013 sem saber onde deixar as malas que trouxe da Germania.

A verdade é que à sua frente estão quatro jogadores que, cada um com as suas características e o seu estilo muito particular, desde a erva arrancada pelo argentino à lentidão exasperante do luso-caboverdiano, passando pela impulsão magnânime do francês e acabando na calma olímpica do brasileiro. E o alentejano, onde fica?

Muito provavelmente, não fica.


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Reconsiderando Castro

foto retirada de record.pt

Enquanto olho para o plantel que temos e o que vamos voltar a ter quando chegarem os moços de férias, penso em Castro. O jovem gondomarense que há anos anda a mostrar o que vale por terras das Astúrias enquanto não arranja espaço na “sua” equipa de sempre para que possa ter uma oportunidade de mostrar aos adeptos o que todos querem ver dele: um jogador da casa, formado aqui e burilado noutros locais para que cresça, evolua e brilhe fora para voltar a brilhar cá dentro.

Defour, Fernando, Lucho, Mikel e Pedro Moreira estão já em Prangins, com Moutinho a juntar-se já em terras da Invicta (fingers crossed). Considerando que nem Mikel nem Pedro Moreira terão hipótese de ficar no plantel principal 2012/2013 e apesar da possível adaptação de Danilo, da eventual integração de Kelvin e com James a poder (talvez dever) jogar numa posição mais central e menos inclinada para a linha, Castro será mais uma peça a levar em conta no grupo. E porquê? Por tópicos:

  • Porque o plantel precisa de profundidade para cascar em várias competições ao mesmo tempo;
  • Porque há três “oitos” no grupo (Lucho, Moutinho e Defour) e não creio que Vitor Pereira altere a estrutura e por isso vamos continuar a jogar com dois ao mesmo tempo;
  • Porque não há garantias que Lucho aguente muitos jogos consecutivos;
  • Porque no ano passado fez 35 jogos, 2349 minutos e 2 golos numa das melhores Ligas do Mundo;
  • Porque precisamos de jogadores portugueses e/ou formados no clube para cumprir os critérios da UEFA;
  • Por causa disto;
  • Porque com a idade que o rapaz tem, não está virado para mais empréstimos. E tem toda a razão.

Será desta, rapaz?

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