We. Win. Everywhere.

PS: mais orgulho que todos estes troféus são os dez minutos de publicidade que a RTP enfia pela goela abaixo dos telespectadores na altura em que toda a gente quer ver as primeiras emoções cruas de uma vitória histórica de uma equipa que se soube fazer grande pelo menos por uma tarde. E a abertura do telejornal da SIC com o filho de Ronaldo. Sinto como se me tivessem urinado nos dentes e dissessem que era sumo de laranja. Priceless.

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A média dos media é uma merda

Gosto de pensar que ainda sou de um tempo em que a diversidade é cultivada e estimulada. Em que um fotógrafo pode andar de pijama todo o dia ao lado de um músico com um fato de veludo ou um bombeiro de t-shirt.

Expresso – Barcelona vence e marca encontro com Real Madrid nos ‘quartos’ da Taça do Rei

RTP – FC Barcelona marca encontro com Real Madrid nas “meias”

Sapo – FC Barcelona marca encontro com Real Madrid nas “meias”

E ao ler estas três versões da mesma notícia, vejo toda essa utopia sociológica a cair a pique. A fonte (Lusa) é a mesma. Repare-se nos textos que são publicados sensivelmente à mesma hora pelo que se presume sejam três pessoas diferentes, sendo que o mais provável é ser o mesmo programa de computador que recebe o newsfeed da Lusa e formata a notícia segundo padrões pré-determinados para se adaptar ao critério estetico-jornalístico da companhia que o está a executar e publica a mesma notícia com um cheiro ligeiramente diferente. De salientar também o enorme faux-pas da RTP e do Sapo que colocam El Clásico…nas meias, onde o Expresso já corrige para os “quartos”.

Ainda assim, questiono-me sobre a utilidade de ler três fontes diferentes de notícias quando a informação está triplicada sem um mínimo cunho pessoal, replicada por entre páginas anonimizadas, pseudo-jornalistas desportivos em instituições de informação generalista e falhas sem justificação para um profissional. Ao menos deixem o desporto para quem vive o desporto.

Já não há jornalistas, gente, há autómatos.

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Ponto de situação – jogadores


A culpa de qualquer sequência de más exibições e maus resultados não pode nunca morrer solteirona e enfiada num palacete na Foz. Para perceber o que se passa precisava de um ou dois dias a conversar com o treinador, a equipa técnica e os jogadores em sessões à terapeuta de filmes amaricanos, com caderninho de notas e um sofá com um homem esparramado a fazer jorrar a alma para fora. À míngua de tempo, pachorra e um passe para os bastidores no Olival, limitar-me-ei ao que vejo em campo.

Os rapazes não parecem os mesmos. É um facto, não uma especulação. Seja por que motivo fôr, mas quando olhamos para o campo e vemos os nossos homens a correr para controlar a bola (ou nos tempos que correm, a andar à espera que a bola os controle a eles), há qualquer coisa que não está de acordo com o que sabemos que podem fazer. E por muitas voltas que dê à cabeça não consigo entender porquê. Haverá algo que os incomoda? Que os faz não querer, não lutar, não largar o corpo, a pele ou o pâncreas em campo para conseguir dar a volta a situações repetidamente negativas? Não entendo, palavra.

A maior parte das pessoas acede a estereótipos fáceis e tira ilações precipitadas sobre os porquês, especialmente quando se fala de jogadores. Ou porque o empresário diz que o jogador está insatisfeito (como já abordei no passado e aproveito para citar o João Saraiva no Reflexão, não há maneira de exterminar esta gente?), sem sequer ouvirmos declarações do próprio jogador, ou porque o jornal B ou R (as letras são aleatórias…wink wink) insinua que trinta clubes italianos e doze búlgaros pretendem adquirir um dos craques que estão tão evidentemente à venda, ou então pela falta de novos objectivos na carreira enquanto portistas, qualquer destes motivos aberrantes são usados por gente de má índole ou apenas para se poder dizer mal de tudo e todos e esquecer o problema e a melhor maneira de o resolver. Os jogadores, é um facto, não estão a jogar o que devem. Mas daí a agarrar em tudo o que se pode, do cabelo do Hulk ao bigode do Rui Quinta, passando pela careca do Semedo e do investimento em jogadores que ainda nem cá chegaram, tudo serve para atirar mais uma acendalha na fogueira que vai sendo afagada debaixo do plantel e desconsiderar uma reflexão sobre os motivos desta baixa de forma colectiva.

No entanto, não deixa de ser uma verdade que quando vemos Moutinho a falhar passes consecutivos, Varela sem velocidade para passar por um débil defesa em corrida, Hulk a perder bolas para a relva, James expulso por agredir um adversário, Fucile a fazer com a mão o que devia fazer com o pé, Otamendi a fintar-se sozinho ou Guarín perdido em marcações fáceis, é de levar as mãos à cabeça e perguntar: “O que se passa, rapazes? Vocês, que nos deram o prazer de vos vermos a jogar durante uma temporada inteira a um nível elevado, são capazes de tanto melhor do que têm mostrado…e não arrebitam? Não levantam a cabeça? Desistem, perdem tino e abdicam de lutar?”

E é o que tenho visto. Para lá de todas as especulações sobre salários, motivações e paleio de empresários, o que me salta à vista é a falta de um líder. Seja dentro ou fora de campo, qualquer equipa funciona tão bem quanto o seu líder lhes impuser que funcione. E se no ano passado o líder estava no banco com a braçadeira de treinador principal e o que a tem este ano se sentava a seu lado, quando a promoção foi feita parece ter-se esfumado alguma da garra, da verve com que os jogadores entravam em campo e degolavam o cangote do próximo na fila. Dizia-me um amigo hoje que os jogadores do FC Porto olham para Vitor Pereira como os putos na escola olham para um professor substituto, que aparece de quando em vez numa altura em que o regente da cadeira (ou disciplina ou lá como se chama agora) está ausente. Os rapazes são os mesmos, o novo professor já os conhece de outras andanças, até os acompanhou quando a micose afectou o delicado escroto do antecessor, mas o respeito que se ganha a pulso não está lá, ou pelo menos não se vê.

Mas não só. É inconcebível e inexplicável aos olhos de um adepto reparar, como aconteceu no Chipre, que o brio de muitos tenha caído tanto. Que o orgulho não suba como o azeite e prove que os grandes jogadores que compõem as grandes equipas também têm de ser esforçados, por muito que o exemplo de Capucho nos venha tolher a memória. É preciso mais fibra, mais luta, mais esforço, mais respeito. Quando estes quatro pilares forem atingidos a um nível aceitável, não tenham dúvidas: o talento sairá do bunker onde tem estado escondido e brotará da cabeça aos pés daqueles miúdos. Só espero que ainda consigamos chegar lá a tempo.

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Ponto de situação – treinador

Está a ser uma semana difícil. Começou mal, com a trombeta da desgraça a soar bem alto e a salvação a aparecer nos pés de um jogador emprestado pelo Benfica, e terminou em Chipre, ilha dividida (como foi exaustiva e cansativamente anunciado como novidade pelos jornalistas da RTP) que nos dividiu ainda mais.

Não sou um portista muito antigo. Tenho 32 anos e apenas sou sócio há vinte. Passei por poucos momentos turbulentos quando me comparo com a malta da travessia de dezanove anos no deserto até o salvador Pedroto aparecer com o cajado por detrás do metafórico Sinai e a liderar o povo para longe da servidão. Mas atravessei algumas épocas de seca, entre o penta e Mourinho e depois do Zé (outro Zé, mas sem boné) sair, passando pela devassidão da época tri-partida e chegando ao último ano de Jesualdo. Passei de um futebol aborrecido mas vitorioso com Carlos Alberto Silva, segui com o entusiasmo ofensivo de Robson, a fleuma organizacional de Oliveira, o tédio de Fernando Santos, o exagero defensivo de Ivic e Octávio, a tranquilidade de Mourinho, o desespero de Couceiro, a loucura de Adriaanse, o tacto de Jesualdo e a dinâmica de Villas-Boas. E poucas alturas houve em que, olhando para um campo com onze jogadores de azul-e-branco (ou amarelo, ou laranja, ou ciano, ou violeta), tivesse ficado genuinamente desiludido com o que via. Porque nos piores momentos, nas fases mais negras da qualidade do nosso futebol, sempre se via algum lampejo de luta, alguma tentativa de mudar o que estava a ser feito para que deixasse de acontecer. Lembro-me de um miserável jogo contra o Artmedia em que os jogadores lutaram mas foram incapazes de se organizar; uma desesperada luta contra as forças do mal Manchesteriano onde tudo o que podia correr mal assim correu; um enervante jogo contra o Famalicão onde ao fim de cinquenta remates a bola não quis entrar. Passei por tantos desses jogos…e nenhum foi tão mau como o de terça-feira. E nunca desisti, nem vai ser agora que o vou fazer. Hell, no!

Vitor Pereira, o erro de casting que muitos chamam, aproveitando para ir agora buscar, numa atitude que tem tanto de lusitana como de cínica e oportunista, todos os erros que nunca apontariam se mesmo com derrotas houvesse uma imagem de luta e esforço, esse mesmo Vitor Pereira está a desiludir. Não só por algumas decisões em jogo, por algumas substituições falhadas ou pela incapacidade de colocar a equipa a jogar bom futebol, mas acima de tudo porque está a perder os adeptos pelo mesmo sítio onde Villas-Boas os conquistou: no discurso. É difícil colocar uma equipa de gente fraca a jogar bem. É mais fácil, dir-me-ão, pegar num grupo talentoso e fazer o mesmo. Pois o que temos visto nos últimos jogos é inegavelmente o desmoronar da imagem de um grupo de jogadores que chegou ao zénite do que podia fazer no ano passado à custa de trabalho, esforço, luta e empenho. Tudo o que deixámos de ver este ano e que servia para intimidar os nossos adversários antes mesmo da partida ter início, foi transformado em medo, lamento, infortúnio e desespero. Olhar para o nosso plantel, com a qualidade que ninguém pode negar que existe em quase todos os jogadores, e vê-los cabisbaixos, a perder luta atrás de luta contra jogadores com menos inspiração mas muito mais transpiração, é algo que me preocupa e deve preocupar todos os portistas. E apesar de Vitor Pereira ter a sua quota parte de responsabilidade, muito tem de ser atirado para o peito dos próprios jogadores, que parecem atirar com os braços para o chão à mínima dificuldade e não parecem ter o mesmo espírito que no ano passado nos enfeitiçaram. E Vitor, nos momentos mais importantes onde os adeptos precisam de ouvir o ruído do pai a entrar em casa quando o filho está à procura das bolachas que sabe não poder comer, está a falhar. Por muito que possa respeitar o trabalho nos treinos, a honestidade das opções e da orientação, é preciso mais. É preciso um discurso forte para dentro e também para fora, porque as falhas que se vão notando são exponenciadas quando as palavras são secas, sem alma, sem vida. Vitor Pereira não é Villas-Boas nem tão pouco Mourinho, mas não precisa de ser Fernando Santos.

Houve erros na organização da nova época? Talvez. Hubris em excesso? É possível. Apostas em falso? Provavelmente. Mas olhar para os factos depois deles terem acontecido é um exercício fútil e que só enobrece quem se acha bom antes de o provar. E eu, que sempre dei o benefício da dúvida a novos treinadores (como fiz com Del Neri, Jesualdo ou Villas-Boas), estou a perder a paciência com o nosso Vitor. E não achando que uma mudança de treinador a meio da época, com todas as cambiantes que acarreta, pode trazer algo de bom para a equipa, estou certo que esta linha é uma trajectória descendente da qual poucas ou nenhumas hipóteses haverá de salvação. Mas não desisto, nem nenhum portista o deve fazer. Porque é nos momentos maus que o espírito de luta deve vir ao de cima, é nestes momentos em que exigimos tanto dos nossos jogadores que temos nós próprios de dar a cara pelo clube e apoiar os nossos. Criticando, mas construindo. Apontando as falhas, para que sejam corrigidas, mas pensar em evoluir. Se os sócios estiverem dispostos a baixar os braços e deixar de ir ao Dragão, como tenho visto, ou insistir nas assobiadelas gerais ao primeiro sinal de pernas fracas, a moral que está tão em baixo lá permanecerá.

Tenho fé num futuro melhor. Acredito naqueles rapazes que compõem o nosso plantel porque já os vi a fazer tanta coisa bonita e só posso esperar que voltem a fazê-lo. Mas algo vindo de cima tem de mudar para que tal aconteça e há cada vez menos tempo útil.

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