Ouve lá ó Mister – Emirates Cup


Mister Paulo,

Já vi que convocaste meio mundo para Londres e não acredito que tenha sido só porque gostas de ter uma entourage enorme para passeares pelas ruas da cidade com os pólos oficiais e assinar autógrafos a emigrantes e ao eventual inglês que na altura reconheça alguns dos nossos rapazes. E não me importa mesmo nada que o tenhas feito, para te ser sincero, porque acredito que tenhas confiança em todos os elementos que chamaste e que te está a custar libertar um ou outro rapaz. Mas tens de tomar decisões, Paulo, não podes ficar eternamente à espera que os gajos fiquem sem saber o que raio se vai passar na tua cabeça quando, daqui a umas semanas e uma ou outra noite menos bem dormida, chegues ao treino no dia da deadline e anuncies que A ou B não ficam no plantel. Decide-te, mantém a decisão e defende-a. Nada mais te peço.

É mentira. Peço-te outra coisa. Recusa-te a comentar qualquer coisa que tenha a ver com o Bernard. Os estupores dos jornalistas já estão a começar a enfiar aquele veneno tradicional na mente dos portistas, tanto que já ouvi vários correlegionários meus a dizer: “Isto está a ser mal gerido, então o gajo vem ou não?!”, como se a SAD andasse a mando dos jornais. Por isso tenta não alimentar as novelas, deixa-os a falar sozinhos e foca-te no teu trabalho.

Quanto aos jogos com os turcos e os italianos…muito sinceramente, não sei que te diga. Pensa Sneijder, Eboué, Drogba, Altintop, Felipe Melo e Bulut. E depois pensa Higuaín, Hamsik, Inler, Pandev, Behrami e Callejón. E olha para as armas ao teu dispôr. Francamente, só três ou quatro desses nomes me metem medo. E dois deles vão ser marcados sem falhas pelo Mangala ou pelo Maicon, os outros dois levam com o Castro ou o Defour em cima e os que rematam com força…só espero que não tenham hipóteses de rematar de longe antes de lá chegar o Varela ou o Licá. Faz as experiências que precisares, mas lembra-te que aqui na Europa, mais que na América do Sul, começas a marcar pontos de prestígio onde ainda ninguém te conhece. Se fosse a ti, sem sacrificares as tuas ideias e acima de tudo o trabalho em prol da equipa, teria algum cuidado para não fazer com que começassem a lembrar-se do teu nome com maus motivos.

Sou quem sabes,
Jorge

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Why oh why do those fuckers beat us so many times?

Estes são os resultados em partidas oficiais do FC Porto em jogos disputados naquele país do sul das ilhas britânicas. É uma batelada de derrotas com dois empates sofridos que conseguimos arrancar em Old Trafford, com o primeiro a aparecer aos 90+”sei lá quantos minutos porque já estava cego a ver o Costinha a marcar aquilo e o Mourinho aos saltos” e o segundo que talvez tenha sido das melhores oportunidades de vencer por aquelas bandas e que Bruno Alves se injustiçou como bandido, com uma assistência para Rooney melhor que a do Secretário ao Acosta em Alvalade.

Quero-me focar para lá das opções tácticas, dos catastrofismos anti-tudo, desde Vitor Pereira ao roupeiro passando pela SAD e pela relva do City of Manchester e tentar perceber o porquê de mais um mau resultado num conjunto de resultados absurdamente maus. E a verdade é que este rácio não se verifica quando jogamos contra equipas de outros campeonatos. Pronto, nunca ganhamos na Finlândia, Hungria, Croácia, Eslováquia, Sérvia, País de Gales ou Irlanda contra formações locais, mas todos esses jogos juntos não chega a 70% do número de jogos disputados em Inglaterra. Que raio se passa com as nossas equipas, muito antes do demonizado Vítor Pereira ter aparecido, para que não consigamos sair de lá com uma vitória?! Avanço quatro hipóteses:

 

  • Estilo de jogo
É indesmentível que o nosso tipo de jogo é mais lento. É uma tradição, entranhada desde pequenos nas futeboladas entre a malta aos Domingos de manhã e incentivada pelos contentores de brasileiros que são importados e de qualidades tão diversas como a gaveta de cuecas da Lindsay Lohan. Confrontados com a velocidade de um tipo de jogo diferente do nosso, o habitual é ver os nossos jogadores a procurar trocar a bola ao ritmo deles, nunca o conseguindo. É verdade que lá de vez em quando conseguimos reunir um grupo de rapazes que têm a personalidade suficientemente forte para se manterem fiéis aos princípios de jogo que aplicam desde que ainda em cueiros começaram a chutar uma bola e conseguimos mandar no jogo, pausando-o, elevando o ritmo quando necessário e não caindo em esparrelas de grandes correrias. Mas é raro. E ainda por cima olhando para o quadro em cima podemos ver que as equipas que defrontamos nos últimos anos são uma espécie de miscelanização titânica do futebol inglês com o que de melhor há a nível continental, nada de “kick and rush” à 80s. Há futebol rápido mas com a componente técnica tão acima da média que se torna muito difícil contrariar em condições semelhantes. Como vimos na passada quarta-feira. Ou seja, é uma componente que joga contra nós.
  • Pressão do público
Não tenho nenhuma dúvida que é algo a analisar mas creio que não terá grande interferência no resultado. Tantos jogos já fizemos em estádios onde os estupores dos adeptos contrários passam 90 minutos mais descontos a gritar para o relvado, a atirar foguetes, mísseis, rolos de papel higiénico em chamas, tudo que têm à mão para amedrontar os adversários…e ganhámos na mesma. Já apanhamos de tudo na Turquia ou na Grécia, para não dizer na Luz e em Alvalade, com menos violência física mas não menos verbal e nunca houve problemas em irmos jogar a esses estádios para ganhar e tantas vezes o fizemos que já perdi a conta. E os árbitros, por muito que possamos dizer que estão “contra nós”, é uma falácia, como de costume. Já fomos beneficiados e prejudicados em diversas situações, diversos estádios e diferentes épocas. É uma hipótese teórica e miserabilista e por isso não conta.
  • Capacidade física
Somos mais pequenos, mais fracos, mais débeis? Somos. Fazemos por isso? Também. Vezes sem conta vejo jogadores do FC Porto a encolherem-se contra adversários mais fortes, viris, rijos, e caindo por terra entre clamores de faltas inexistentes acabamos por cair direitinho no jogo deles. As arbitragens não ajudam, tão sequiosas estão por manter o nome do futebol inglês como um jogo para homens e não para meninas, “levanta-te porque não marco faltinhas” e lá vai o Hulk para o chão. Ainda por cima há a tendência tão estúpida como infrutífera de nos tentarmos equiparar ao adversário e batê-los aos pontos…literalmente, porque se há algo que ainda não conseguimos fazer desde que comecei a ver futebol é usar o corpo de uma forma que as faltas sejam cometidas nos sítios certos e nas alturas adequadas. Talvez a equipa de Mourinho tenha sido a melhor nesse aspecto, ou Jesualdo em 2007/08, mas é muito difícil evitar os carrinhos parvos em vez das cargas de ombro, os braços permanentemente esticados nas disputas de bolas aéreas ou os puxões nas camisolas que são tão ostensivamente visíveis para os árbitros. Como mudar? Não se muda. Tenta-se dar a volta com personalidade, inteligência e astúcia, pondo o adversário a correr atrás da bola enquanto passamos de um lado para o outro e aproveitamos a nossa teórica superioridade técnica. Teórica, entenda-se. É importante, mas não vital.
  • Mentalidade

Aqui é que a suína transforma a protuberância traseira numa rosca. Os jogadores intimidam-se facilmente, perdem o fio de jogo, a teoria que deveria estar tão entranhada nas cabeças que não conseguiriam pensar em mais nada durante a partida. Temos de entrar em campo com lições bem estudadas porque estamos permanentemente a enfrentar equipas que podem não ter orçamentos pontuais de 100M€ para compra, venda e reinvestimento permanente, mas que aplicam esses níveis monetários todos os anos em jogadores que decidem jogos sem ter sequer de pensar no que estão a fazer. Não podemos nunca entrar em campo como fizemos em Londres contra o Arsenal em 2008 e 2010 ou em Old Trafford em 1997. O medo era visível nos olhos, o terror patente na atitude e o acabrunhamento era notório na incapacidade de jogar “à Porto”. Aquelas mesmas equipas que uma ou duas semanas antes tinham vencido adversários de nome feito e com boas formações…entram em campo para perder por poucos. É uma verdade que sinto na pele sempre que nos calha em sorte ir à ilha jogar à bola.

 

Mudança de hábitos e mentalidades exigem-se. Vitor Pereira é só mais um numa longa lista de técnicos que levaram no focinho como gente grande quando apareceram na terra dos bifes para disputar uma partida. Carlos Alberto Silva, António Oliveira, Fernando Santos, Victor Fernandez, Jesualdo Ferreira. Só um não foi campeão em Portugal. E todos eles saíram de Inglaterra com o rabo quente. Dá que pensar.

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A causa das coisas


O título não se refere à colecção de crónicas de Miguel Esteves Cardoso coleccionadas dos artigos publicados no Expresso que apesar de não ser da nossa cor (nem o homem nem o jornal) merece a minha homenagem pelo excelente live blogging aqui há uns largos meses por ocasião de um qualquer cincazero no FC Porto vs Benfica, com frases como: “O Benfica é como eu: vai ao Porto para não fazer nada e comer bem.“. Lindo. Mas divago.

Estas duas últimas vitórias (Shakhtar e Braga) serviram para levantar um pouco a moral da equipa, começando pelos adeptos. Falta ainda o jogo da próxima terça-feira para que possamos de facto sentir que a mudança de mentalidade foi evidente e que tenha marcado uma má fase do FC Porto, num momento em que cada minuto de cada jogo é avaliado com a intensidade de um tanque a atravessar as florestas das Ardenas. Mas o que de facto pode servir como razão credível para um abaixamento tão grande da dinâmica de uma equipa que já tinha mostrado qualidade a nível europeu? Não há só um, mas vários e o risco era alto em qualquer um deles.

Comecemos pela SAD. Todos sabemos e é apregoado até às estrelas, que o princípio básico de gestão do FC Porto tem servido como case-study em tantos artigos e colunas de opinião por esse mundo fora e é exactamente o mesmo que se aplica a um investidor na Bolsa: “Buy low, sell high”. E a aposta tem funcionado na perfeição, desde Pepe a Falcao, passando por Lucho, Anderson, Ricardo Carvalho e tantos outros, continuamos a pensar em valorizar rapidamente um jogador para que possa ser vendido por lucro óbvio e alto. Essa estratégia exige que o plantel seja composto por forma a conseguir maximizar as potencialidades dos jogadores-alvo e continuar a mostrá-los em jogo e a contribuir para a construção de uma imagem de um activo que pode ser uma mais-valia para qualquer grande europeu que os queira vir cá buscar e deixe uns contentores de dinheiro. Isto leva a que o nível exibicional da equipa seja obrigatoriamente alto para que os rapazes sejam reconhecidos pelas valências e não pelas fragilidades e coloca pressão em cima deles próprios e das equipas técnicas que sem dúvida dependem deles para levarem o barco a porto seguro. A questão coloca-se: e quando rendem menos, como em 2009/2010, fruto de algum cansaço, ocorrências extra-futebol e pela incapacidade de motivação das tropas pelo treinador? Perdem-se campeonatos, a equipa tem de atravessar uma renovação forçada e o valor de todos baixa em consonância. A pressão começa.

Passando aos próprios jogadores. Quando um deles chega ao ponto de querer sair (por enfado, vontade de novas experiências, insatisfação salarial ou qualquer outro motivo legítimo) e a valorização da SAD é alta ao ponto de impedir que seja vendido, o que acontece? Encosta-se um activo que foi alvo da aposta para futura venda? Pune-se o jogador e o próprio clube? Tenta-se vender por valores abaixo do mínimo aceitável para manter o bom ambiente e agradar a ambas as partes ainda que não na totalidade? É fácil falar quando se está de fora, porque os boatos são simples de criar e facílimos de espalhar, mas é possível que tal tenha acontecido com alguns jogadores do actual plantel, e depois? O que fazer? Cabe a quem a responsabilidade de transformar um jogador desmotivado e contestado pelos adeptos numa máquina de futebol geradora de palmas e dinheiro? Ao empresário? À família? À SAD? Ao treinador? Talvez um pouco aos três últimos, porque lamento imenso não ter fé nos seres chupistas mas não confio em vampiros, nem que se vistam de fato e gravata. A pressão aumenta.

Chego ao treinador, o cerne da questão. Vitor Pereira, apanhado no ciclone que foi a transferência de Villas-Boas para o Chelsea, aceitou a oferta de Pinto da Costa para pegar na equipa a que estava habituado, com os jogadores que conhecia e levá-los aos triunfos. Motivado, trabalhador, competente, esforçado. Chegará? Começou razoável contra o Barcelona, suficiente para o campeonato mas o nível de futebol era baixo, fraco, insipiente, lento, morto. As declarações à imprensa eram frouxas, sem alma, sem vida, os jogadores exibiam-se sem garra, sem força, sem inspiração nem transpiração. Notava-se que Vitor estava nervoso, triste, cabisbaixo, sem soluções. E começa o povo a contestar como só o povo consegue, desde o cabelo do Hulk à gravata do mister, dos salários àos motins no balneário, das saídas às não-entradas, das substituições às escolhas para a titularidade. Tudo é alvo de crítica para quem não está lá dentro, para quem gosta de falar ao nível da irmã do Solnado, só para dizer coisas. A pressão, neste momento, é altíssima.

E somando os três pontos de cima, é fácil perceber que despedir o treinador nunca iria resolver grande coisa a curto prazo. E também por isso talvez seja altura de começarmos a rever a política económica fundamental do nosso clube, porque a pressão transformou-se numa bigorna (não, Walter, deixa-te estar) pendurada por cima da cabeça de treinador e jogadores. Qualquer falha é catastrofizada, qualquer fraqueza exacerbada. E o futebol não é uma ciência exacta, as equipas têm baixas de forma, o jogador às vezes falha o remate e o treinador há dias em que não acerta uma substituição. Acontece. Mas no FC Porto, em 2011, cada vez é mais difícil falhar e a pressão que essa exigência acarreta transforma as pessoas, fá-las escravas da sua própria actividade.

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Confirmado: Luís Óscar é um imbecil

Chegado de almoçar, dei uma vista de olhos pelas notícias. Ao ler as novas no Record via Google Reader, reparei com este cabeçalho:

Confirmado: Jesualdo deixa o Porto

Imediatamente falei com alguns colegas, estranhando a decisão tão repentina da SAD de despedir o treinador logo no dia seguinte ao desaire em Londres, que raramente tinha acontecido, que se calhar não era a melhor altura…até que me apercebi que era o título de uma crónica.

Luís Óscar, quem quer que sejas, és um idiota. E o Record é ainda mais idiota por apoiar a publicação de títulos destes.

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