Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Setúbal

foto retirada de desporto.sapo.pt

À saída do jogo, depois da tradicional subida da alameda a caminho da viatura, estacionada para lá da Velasquez, ouvia dois “old-timers” a discutir a partida e as suas diversas incidências, com sotaque vincadamente nortenho, diria mesmo da região da Invicta. Um deles dizia: “isto é muito bonito mas é como estares de dieta pró coração. é comida sem sal, dá-te sustento mas falta qualquer coisa para saber bem…”. Não podia concordar mais. Sim, ganhámos o jogo e fizemos por isso. Oitenta por cento de posse de bola ao intervalo é um valor não só absurdo como sintomático do tipo de futebol que temos e dos adversários que apanhamos pela frente. Mas…podia-se fazer mais com esses valores estatisticamente astronómicos? Oh se podia. Vamos a notas:

(+) Fernando. Há semanas consecutivas que tem vindo a ser o melhor jogador da equipa, seja em que terreno for. Brilhante na intercepção e na cobertura dos espaços, parece estar em todo o lado sempre que é necessário, especialmente quando o adversário pensa que tem um pequeno niquinho de terreno onde possa progredir…lá aparece Fernando a roubar-lhes o esférico e a rodar para a próxima jogada de ataque à qual (oh inclemente recuperador!) ele próprio dá início. E se soubesse rematar uma bola em condições…já não estava cá há anos.

(+) Varela. Fiquei apreensivo ao ver Atsu a sair aos quarenta minutos para a entrada de Varela. Afinal é raro vermos Vitor Pereira a mudar algo na equipa tão cedo e não parecia natural fazê-lo pouco antes do intervalo. Mas a verdade é que uma aposta que parecia tão estranha acabou por compensar, porque Varela, contra as minhas expectativas, entrou bem, dinâmico, vivo, fazendo em cinco minutos o que o ganês não tinha conseguido em quarenta. E continuou bastante activo na segunda parte, beneficiando do apoio de Mangala e de algum espaço no flanco esquerdo. Esteve bem.

(+) O ambiente com os putos das escolas. Poucos teriam a noção da quantidade de canalhada que está nas nossas escolas em vários desportos. Foi uma excelente forma de mostrar que o nosso futuro está assegurado…se saírem de lá talentos que de facto possam ser rentabilizados no campo e nos negócios. Esperemos que sim.

(-) Precisamos de falhar um caralho de um penalty… para começarmos a jogar com maior intensidade. Mais um penalty falhado, mais uma oportunidade desperdiçada e a infelicidade de que me queixo acaba por ser confirmada depois deste tipo de lances que parecem trazer um estigma a todos os que aparecem na marca dos onze metros para os tentarem marcar. Jackson, Lucho, James…todos falham. Não há nada que se possa fazer?

(-) Às vezes, o pouco sentido prático de James enerva de caralho. James é um jogador genial que tem uma capacidade técnica bem acima da média dos muito bons. Tem uns pezinhos maravilhosos que colam a bola às paredes de couro das suas botas e fazem com que brinque com o esférico sempre que lhe apetece. E às vezes parece que brinca demais, especialmente quando chega a zonas próximas da baliza, onde complica o que não deve e se perde em fintas improváveis e passes impossíveis. Tirando o passe para o golo (brilhante, já agora), esteve em vários lances onde nada do que fez parecia servir os melhores interesses da equipa. Tem de continuar a melhorar o sentido prático para poder ser decisivo mais vezes.

(-) Outras vezes, os passes falhados também enervam de caralho. Se é verdade que Lucho anda a falhar muitos passes, hoje também Moutinho esteve abaixo do que pode e sabe fazer e James acabou por ser muito influente na retenção da posse de bola mas ainda pior no acerto dos passes. Sou muito compreensivo nas falhas cometidas em passes transviados aquando da criação de lances ofensivos. Mas até eu tenho um limite e começo a perder a pachorra para tantos erros…

(-) Mas o que enerva mesmo de caralho é não ver Danilo a subir pelo flanco. No FC Porto 2012/2013, na grande maioria das vezes tem de ser o defesa central a subir para criar os desiquilíbrios que o defesa direito não cria porque está cheio de medo atrás do meio-campo. Danilo é, neste momento, uma menos-valia na equipa.


A equipa ainda não é competente e este ano talvez nunca venha a sê-lo, pelo menos de uma forma consistente. Mas temos vindo a fazer o nosso trabalho desde o empate na Madeira e continuamos a vencer os jogos e a sacar os três pontos necessários para manter o sonho vivo. E agora, mais uma semana a esperar que o Benfica jogue e a rezar para que caia. Raio de vida, palavra.

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Baías e Baronis – Moreirense 0 vs 3 FC Porto

 

foto retirada de desporto.sapo.pt

O início da partida foi lento, triste, arrastado. Mas notava-se uma certa arrogância no approach aos lances, especialmente defensivamente, onde o melhor jogador talvez tenha sido Danilo, o que diz muito da aplicação dos rapazes no trabalho defensivo. É verdade que só Ghilas dava um mínimo de nervosismo aos defesas e o Moreirense tem a qualidade técnica agregada de duas tartarugas a Prozac, mas foi enervante perceber que a equipa acabou por nunca conseg…por nunca querer impulsionar o jogo com uma intensidade que lhe permitisse conquistar os espaços que lhe faltaram durante grande parte do jogo. Enfim, a vitória não foi má…ao menos deu para Liedson jogar e Jackson marcar. Not a bad evening. Vamos a notas:

(+) Helton. Depois de uma boa exibição contra o Braga, Helton voltou a mostrar a importância que um guarda-redes tem numa equipa que, como hoje, se apresenta em casa com uma atitude excessivamente arrogante a nível defensivo. Mangala, Alex Sandro e Otamendi (menos que os colegas mas também teve algumas hesitações absurdas) estiveram distraídos e apenas Danilo me pareceu mais atinadinho na defesa. Com este panorama, cabe normalmente ao guarda-redes assumir o controlo das situações e afirmar que quem manda ali é ele. E foi o que fez, com várias defesas na primeira parte, incluindo uma saída em que acidentalmente agrediu o joelho de Ghilas com as suas têmporas. Esteve impecável e foi o responsável principal pelo zero em frente ao nome do clube da casa.

(+) Jackson. Dois bons golos, duas excelentes desmarcações no centro da área e acima de tudo o fim de um período de seca que na altura em que apareceu pareceu assemelhar-se ao Gobi depois de um Verão particularmente seco. O segundo golo então é perfeito, desde o passe de Lucho ao chapéu do ponta-de-lança por cima do guarda-redes adversário. Isto é um ponta-de-lança em condições. Vês, Kléber?

(+) Fernando. Mais um bom jogo e um golo que tanto faz por merecer. Insiste nalguns passes menos fáceis porque é ele que começa a pegar na equipa e a criar os desiquilíbrios a partir de zonas recuadas, especialmente quando vê que Lucho não está a conseguir furar o meio-campo e Moutinho aparece em áreas demasiadamente atrasadas para fazer a diferença. Muito bem no apoio ao ataque e a limpar a borrada que os colegas da defesa iam fazendo.

(-) A puta da soberba. É um mal que nos visita quase todas as vezes que nos deslocamos a um campo deste género contra um adversário que, francamente, tem tanto direito moral a estar na primeira liga que um cacto no Amazonas. A forma absorta como encaramos este tipo de jogos é um dos items que têm vindo a chatear a malta desde há meses e que incomoda tremendamente no jogo de Vitor Pereira, porque há uma lentidão, uma falta de voluntarismo em acabar com o jogo procurando activamente os espaços para conseguir marcar um golinho que seja…que dá sono. Dá sono, garanto. E é verdade que o adversário defendeu (mal) com dez jogadores atrás da bola e só o Kamel do Ghilas lá na frente mas o FC Porto, na maioria dos lances de construção ofensiva, limita-se a ficar à espera que os espaços surjam em vez de os procurar com inteligência e acima de tudo mobilidade. É um tédio ver o FC Porto jogar na grande parte das primeiras-partes dos jogos do nosso campeonato. E depois aquela atitude de soberba que me incomoda profundamente, sem respeito pelo adversário, sem vontade de mostrar quem manda, quem é melhor…parece-me pouco para a diferença entre as duas equipas.

(-) Mangala. Devia pagar um jantar ao Helton em qualquer local que o brasileiro escolhesse, porque fez um jogo miserável e o keeper salvou-lhe o coiro uma data de vezes. Se perder em força para Ghilas seria expectável aí 50% das vezes, já fazê-lo para Fábio Espinho por desconcentração e/ou preguiça é intolerável. Somemos os pontapés em rosca, os lances mal calculados e uma ou outra entrada mais dura e Mangala teve um jogo muito abaixo do que sabe e pode fazer. Dorme bem, moço, mas lembra-te que foi por coisas destas que o Rolando começou a ganhar confiança a mais e a perder a mesma confiança dos adeptos e do treinador.


E agora peço que todos se juntem numa roda de oração enquanto nos sentamos para ver o Benfica a receber o Sporting. E se as coisas correrem muito bem, se o Benfica perder pontos esta jornada…we’re back, baby. Até lá…dobremos as apostas, envenenemos os pessimistas e louvemos os optimistas. Vamos torcer pelo Sporting. Vamos lá, não custa nada.

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Baías e Baronis – SC Braga 1 vs 0 FC Porto

Uma final tem este tipo de características, que enervam toda a gente. Há duas equipas, uma de cada lado, ambas a tentar ganhar o jogo sem o perder antes de poderem sequer tentar. E quando se juntam duas equipas com capacidades ofensivas igualmente fracas, uma das quais (a nossa) com um permanente engasgar na criatividade e na criação de lances de ataque coerentes, a somar a erros defensivos que são tão evidentes que se tornam patéticos, é impossível afirmar que jogamos bem. Mas…e há um mas…não jogamos assim tão mal. A equipa pareceu motivada, com garra, com mentalidade de “final” como se exigia. Mas foi evidente que nunca conseguiu uma produtividade ofensiva que causasse medo ao adversário, esse sim com um jogo parecido com o que fez no Dragão, sem problemas em jogar lá atrás até se ver a jogar a mais…e mesmo assim mantendo-se a controlar sem bola. Foi frustrante ver o jogo, mas ainda mais frustrante ver que seria quase impossível, a jogar com dez jogadores, conseguir a claridividênvia necessária para lhe dar a volta. Vamos a notas:

(+) Fernando. A maior injustiça deste jogo é o facto de Fernando não o ter ganho. Pareceu sempre jogar a um nível substancialmente superior a todos os colegas, a recuperar bolas da defesa ao ataque, correndo muito mais do que a Fernanda Ribeiro em dias de treino intensivo. Apanhou pancada de tantos jogadores do Braga que não o censurava se fosse ao Sameiro urinar na entrada, mas tentou vingar-se em campo com a força que mostra, com a forma como tenta continuamente levar o jogo para a frente mesmo quando os colegas já não aguentam com as pernas. Está em grande forma física e só tenho pena que poucos o acompanhem. Porque em campo só ele, James e Moutinho se lembravam da última final contra o Braga. E garanto que Fernando não jogou tão bem dessa vez como fez nesta.

(+) Alex Sandro. É muito bom no ataque, este puto. É tão bom que acho que vai ser complicado agarrá-lo para a próxima temporada, mas atravessemos essa ponte quando lá chegarmos. Muito activo na tentativa de levar o jogo sempre para a frente, sempre pelo flanco, com excelente toque de bola e só a precisar de melhorar um pouco nos cruzamentos. Foi o do costume, com alguma brincadeira mas a conquistar os adeptos pela força e inteligência com que ataca. Uma pérola que temos aqui no plantel.

(+) Fabiano. Uma grande defesa aos oitenta e tal minutos depois de um balázio do Hugo Viana e uma saída incrível aos pés de João Pedro ainda mais tarde já seriam momentos altos, mas foi por todo o jogo de segurança (até com os pés, por implausível que pudesse parecer) que transmitiu aos defesas que não senti falta de Helton. Não foi por culpa dele que perdemos o jogo, que é mais do que se pode dizer acerca da última Taça da Liga, quando o actual treinador do Rio Ave enfiou um enorme perú e tramou o resto dos rapazes.

(-) Incapacidade de criar jogadas de perigo. Um Baroni chega para todo este jogo, até porque mantenho a minha opinião: para uma final, não jogamos assim tão mal. Mas a quantidade absurda de erros que cometemos durante uma partida é simplesmente incompreensível. Houve uma repetição de tantos e tantos erros que se vêem há tanto tempo nesta equipa do FC Porto que me questiono se de facto há treino conjunto e um mínimo de tentativa de melhorar os níveis técnicos dos jogadores ou se apenas se foca na troca de bola em peladinhas. Sim, é uma “queixa” antiga dos treinadores de bancada, mas depois de ver esta exibição com tanta falta de inteligência na troca de bola na frente, com o enorme número de passes falhados, más recepções e falta de entrosamento entre laterais e extremos, aliados a alguma imaturidade de vários jogadores, começo a pensar que os treinos se limitam à parte física e pouco mais. Este jogo em particular fez-me lembrar aquelas jogatinas na escola primária, em campos de cimento com balizas sem rede (sim, na minha escola eram assim), onde a malta zarpava em louca correria mal tocava a campaínha para intervalo, juntando-se todos ao molho no centro do campo para pegar na bola e andávamos como doidos a tentar acertar na bola. Não havia equipas, só havia grupos de pó como em bandas-desenhadas antigas, com agudíssimos gritos de pré-adolescentes que ainda não quebravam a voz. E ninguém controlava a bola, só a chutava se visse alguém próximo da baliza, quer estivesse de costas ou de frente para os postes. E quando entrava um golo, naqueles momentos de bênção divina que faziam com que a bola atravessasse a linha sem ninguém fazer nada por isso…ninguém sabia o que raio tinha acontecido. E às vezes penso que há jogos em que o FC Porto só consegue marcar um golo se fôr empurrado por um qualquer arcanjo. Este foi um deles.

(-) Vitor Pereira. Culpar o árbitro pela derrota é tão redutor como dizer que os Alemães caíram nas Ardenas porque havia um ou dois carvalhos a mais na floresta. O que Vitor devia ter dito era qualquer coisa como isto: “Não entendo como é que desde há alguns meses a esta parte treinamos semanas após semanas para chegar aos jogos e raramente conseguirmos criar situações de perigo decentes. Continuo a não perceber porque é que os adversários chegam quase sempre primeiro à bola que nós e trocam a bola ao primeiro toque e nós precisamos de qualquer tipo de influência divina para chegar a esse ponto. Gostava de falar com os rapazes que estão no balneário para saber se já viram aquele número 25 que joga com as mesmas cores que eles e se percebem porque é que ele é dos poucos que o pessoal aplaude. O árbitro? Não falo de arbitragens.” E não falava. Isso é que eu gostava de ver. Perdi a esperança.

(-) Mossoró. Um anão nojento que merece tudo de mal que lhe possa acontecer em campo. É a representação de tudo o que um jogador brasileiro traz consigo, desde o excelente na finta, no drible e na visão de jogo, somados à ridícula propensão para a simulação e para a fiteirice interminável. Gostava de o ver a ser bitch-slapped por algum central maldoso. Um Materazzi bêbado, por exemplo. Batia palmas de pé, palavra.


Perdemos, perdemos bem e perderemos sempre enquanto não conseguirmos impôr o nosso estilo. E esse estilo e o autor do estilo estão por um fio, especialmente depois deste jogo. É que a malta até tolera perder a Taça da Liga. Mas não na final. Muito menos contra o Braga. Lamento, mas a vida é mesmo assim, Vitor.

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Vectores do potencial insucesso: psicológico

Este é o que creio ser o mais importante e menos fácil de resolver de todos os problemas que podemos encontrar na equipa do FC Porto 2012/2013, independentemente de virem ou não a ter o sucesso que todos esperamos possa ainda surgir. Não me lembro de ver um onze portista tão desanimado em jogo como nos últimos tempos. Os rapazes parecem-me tristes, infelizes, com pouca vontade de jogar, de levar a água ao proverbial moínho com a velocidade e o ritmo que grande parte dos jogos assim obrigam. E não consigo interpretar o que se vai passando pela cabeça dos moços só de uma forma, porque não consigo vê-los só como mercenários (porque lhes tenho respeito) ou apenas como miúdos sem experiência (até porque não são). Mas o que se passa?

Há uma espécie de desânimo precoce que se apodera da equipa e que os faz quase desistir depois de meia-dúzia de infortúnios. Começamos logo pela aparente ausência de critério no passe depois de várias jogadas sem que consigamos um remate ou uma incursão perigosa pela área. Cedo, cedo demais se começa com passes longos para as alas, sem que o apoio do lateral esteja pronto a chegar ou os médios correctamente posicionados. Muitas vezes se vê Jackson a receber a bola de costas, sem linha de passe que tenha uma remota possibilidade de sucesso, obrigando-o a descer até zonas impróprias para um jogador da sua habitual posição. Movimentação mais curta no meio-campo leva a que os laterais subam por vezes em demasia, fazendo com que uma perda de bola se torne numa chatice para a zona recuada, que naturalmente inclinada para o ataque se vê à rasca para defender em condições.

Não há melhor imagem que a de Danilo, que falha os simples passes que deveriam arrancar uma jogada ofensiva de uma forma…quase ofensiva para os adeptos. Da próxima vez que tal acontecer (e acreditem em mim, vai haver uma próxima vez), reparem na expressão corporal do homem. Desânimo, frustração, que se traduzem no baixar de braços, no abanar da cabeça e na corrida lenta para trás, como que se tivesse já desistido de continuar a dar o contributo à equipa. E Danilo é só um exemplo do que vejo em Varela ou em James, em Otamendi ou até em elementos com mais experiência como Lucho ou Helton, que em alturas pivotais no decorrer de uma partida parecem cair numa profunda fenda e ficam a moer sozinhos, como um “emo” depois de uma bem sucedida tarde passada perto de tantas oh tantas lâminas.

E isto é que não compreendo. Não foi esta a equipa que por duas vezes esteve a vencer na Luz e que, deixando-se empatar depois de cada golo, nunca perdeu o Norte e continuou a apontar para a vitória? Não foi esta equipa que incapaz de porfiar contra o Paris Saint-Germain, continuou até ao fim à procura do golo da vitória? Não digo para terem o mesmo comportamento dos “alumni” de 2009/2010 e daquela vergonhosa (sim, é esse o termo) final da Taça da Liga, onde a frustração de uma derrota inequívoca contra o Benfica levou a que meia-equipa começasse a dar pancada no adversário, com o próprio capitão a encabeçar as tropas. Aliás, grande parte dessa temporada foi passada à patada e ao murro, o que em nada ajudou na caminhada para um terceiro lugar que a única coisa boa que trouxe para o clube foi a presença na Europa League no ano seguinte, que viríamos a ganhar. Mas pelo menos nessa altura via-se um lampejo de orgulho, uma reacção a quente de uma equipa que há muito não sabia perder e que encarou essa derrota da pior maneira possível. Nessa época perdemos, e perdemos bem, mas no meio da rebaldaria que se tinha tornado o balneário e a desorganização colectiva, ao menos via-se alguma mágoa por estar a ser derrotado em campo e fora dele. Este ano, só vejo resignação. Na cara dos jogadores, do treinador, até de alguns adeptos. Não vejo espírito de luta, de garra, de afirmarem que são melhores porque são de facto melhores e provarem-no dentro do relvado. Vejo muitos braços caídos e são essas manifestações de desinteresse que deixam um sócio estupefacto e a pedir melhores momentos.

E francamente, é a faceta negativa de Vitor Pereira. Uma espécie de anti-Adriaanse, que se parece dar bem com todos os “seus” jogadores, mas que é incapaz de os motivar a jogar a um nível alto em todos os jogos. Mas estico-me, e isso são contas para outra altura, corra bem ou corra mal até ao final do campeonato. Agora…só precisava que alguém arranjasse uma injecção de moral para os nossos rapazes. Deus sabe que precisávamos bem dela neste momento.

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Baías e Baronis – Marítimo 1 vs 1 FC Porto

foto retirada de desporto.sapo.pt

O FC Porto não vence este jogo por um simples e inequívoco motivo: falhou um penalty. E já sei que não jogou bem, compreendo que temos vários jogadores lesionados, outros em baixo de forma física (e acima de tudo mental) e outros ainda que sempre que entram em campo fico a pensar no porquê da selecção do jogador…e especialmente do jogador na selecção. Sim, estou a falar de Varela. Mas o FC Porto empata porque Salin defendeu o penalty de Jackson e acima de tudo é essa a grande verdade do jogo. Mas se olharmos para lá do penalty falhado vemos que os jogadores não estão bem. Não parece haver vontade e inteligência suficiente para conseguir mandar o infortúnio para o caralho, não vejo discernimento em quantidade que nos permita alegrar pelo menos com o entusiasmo, senão com o resultado. Não vi nada. Só vi resignação com a perda da autonomia e da auto-dependência para ser campeão. Só. Vamos a notas:

(+) Defour. Parecia que se queria redimir da expulsão na Andaluzia e até um certo ponto foi-o conseguindo, com esforço, com suor e o sentido prático que já nos habituou a ver-se em todos os lances em que se envolveu. Fez a assistência para o golo e apesar de não conseguir nunca substituir Moutinho, a verdade é que fez o jogo que lhe era pedido, apoiando todo o meio-campo a par de Fernando, deixando Lucho e James mais libertos para construir. Esteve bem.

(+) Castro. Foi dos menos maus, numa altura em que ainda conseguiu mexer com a equipa, recuperar bolas e fazer o que quase ninguém tinha feito até à altura…rematar à baliza. Não foi feliz mas fez por isso, ao estilo dele.

(+) Salin, o keeper do Marítimo. Claro, contra os grandes estes cabrõezinhos fazem sempre jogos fabulosos. Talvez esteja a ser injusto porque Salin já há algum tempo se tem mostrado como um guarda-redes com capacidade, seguro sem ser genial, firme sem ser maravilhoso. Aquela defesa à cabeçada do Jackson na segunda-parte…estupendo. Seu estupendo filho da puta, que nos roubaste dois pontos. Se não formos campeões, espero que te compremos e te ponhamos a rodar a jogar no Aleppo FC. Sim, o da Síria.

(-) Otamendi. Já não levava um Baroni há montes de tempo, por mérito próprio. Mas hoje, Nico tirou o dia. Exibiu-se sempre com falhas ridículas no approach à bola, falhando tacticamente como o Pepe na altura do Del Neri mas ainda pior foram as falhas técnicas, os controlos de bola fracos que permitiram a Heldon isolar-se duas vezes na cara de Helton. A sério. Duas vezes. Esteve distraído e foi incapaz de se concentrar até ao fim do jogo. Foi um jogo muito mau, talvez pela primeira vez este ano.

(-) Varela. Curto, grosso e directo: em Março de 2013, Varela tem tanta utilidade na equipa do FC Porto como uma saca plástica cheia com água salgada no meio do Oceano Atlântico. Pensei em metaforizar com um cacto no meio do deserto, mas mesmo parado e inconsequente ainda pode ajudar a tapar vento ou a dar sombra para proteger do Sol.

(-) Penalty falhado. Mais um. Há mérito para o guarda-redes, que adivinhou o lado e evitou que a bola entrasse. Mas é o terceiro penalty falhado por Jackson, pelo que pergunto: será ele o mais indicado a ser o marcador de penalties? Mesmo? Não há mais ninguém? Nada?

(-) Quando o corpo *pum*, a mente vai atrás. Somos neste momento incapazes de aguentar um jogo intenso, incapazes de viver as emoções de um jogo como homens que se esqueçam das infelicidades e que ganham força com os minutos, que insistem e puxam e agarram e comem a relva até conseguirem o objectivo a que se propuseram umas horas antes. Estamos lentos, previsíveis, horizontais, sem propósito, sem alma, sem força. Os rapazes estão lá, tentam, falham, mas não voltam a tentar para falhar melhor. Ou para terem sucesso, sei lá, já vi tanto a acontecer que acredito em tudo. Vejo um Danilo que é incapaz de fazer um jogo decentemente adaptado ao flanco. Vejo James a simular para roubar faltas. Vejo Alex Sandro à rasca das pernas a centrar para o primeiro poste com uma consistência newtoniana. Vejo Varela sem se mexer. Vejo Lucho a falhar passes consecutivos na desmarcação. Vejo Jackson a rematar torto vezes demais. E vejo-os a fazer tudo isto e a ficarem impassíveis quando lhes são marcadas as faltas, quando os remates vão ao lado ou os passes ao fundo. Vejo-os amorfos, sem alma, sem convicção. E não consigo perceber o porquê desta inversão de moral, não sei se são as lesões, se é Moutinho, se é Vitor Pereira ou a sua incapacidade de os motivar em condições. Só sei que não percebo como é que se abdica de ser campeão nacional.


Enquanto escrevo, o Benfica vai vencendo em Guimarães, com um penalty marcado. Marcado. Às vezes são estas as pequenas merdas que fazem a diferença. Good for them. Estão a aproveitar consistentes deslizes de uma equipa que sabendo não poder deslizar, mostrou algum empenho mas nem perto do nível suficiente para poder chegar ao tasco, bater com as botas na porta e dizer: “Mas que merda é esta? NÓS É QUE SOMOS CAMPEÕES, CARALHO!”, ganhar os três pontos e ficar com uma bebedeira na fila de check-in no aeroporto. Parabéns, rapazes. Conseguiram pôr-me chateado convosco.

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