Ouve lá ó Seleccionador – Alemanha

Caro Paulo,

Olá. Sou eu outra vez. Chegou o dia, homem. Vais ter alguns milhões de almas lusitanas a torcer pela sorte do Coentrão, pela força do Meireles, pelo talento do Ronaldo e pelas mãos do Patrício. E por muito que a selecção não entusiasme ninguém neste momento, vais ter o pessoal a torcer por ti. Muitos, não todos, mas talvez sejam os suficientes para te transmitir uma espécie de força invisível que te faça ganhar aos alemões. Reiki aparte, o que interessa é entrarem com força.

Porque tudo tem um certo limite, Paulo. E vocês que estão aí dentro tem a vossa parte de culpa no proverbial cartório mas nem toda. E vamos esquecer toda a parvoíce das últimas semanas, as entrevistas aos jornais, os passeios parvos pela cidade, os pequenos-almoços servidor nos quartos e o Nuno Luz. Esqueçam essa merda toda e foquem-se no jogo, concentrem-se na tarefa que têm nas mãos e arrumem com os boches como se fossem um exército americano no Verão de 1945.

Schweinsteiger é um nome parvo, Ozil parece um detergente, Lahm soa a uma nota musical e Gomez é o gajo da Família Addams. É assim que temos de os tratar, como eles nos fazem a nós. Com desprezo e olhando-lhes nos olhos…quando fisicamente possível, porque se puseres o João Pereira a micar os dentes do Mertesacker o mais provável é teres de o pôr às cavalitas do Miguel Veloso. O contrário é que não aconselho a não ser que queiras mudar de defesa-direito. De qualquer forma, convence-os que o jogo mais difícil é sempre o primeiro. Não decide nada, basta veres que em 1986 ganhamos no arranque e em 2004 perdemos no início. E as sortes foram bem diferentes.

Ainda assim, ganha. Faz do nosso um povo feliz, pelo menos durante umas horas. Nos outros dias temos álcool, a gente safa-se.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Seleccionador – Dinamarca

Amigo Paulo,

Não estás habituado a receber estas missivas da minha parte, tens razão. Compreendo que não me conheças, porque apesar de já ter falado de ti e sobre ti, nunca até hoje tinha falado contigo ou para ti. Hey, Paulo, it’s me Jorge. Apresentações feitas, adiante.

Acho que posso falar em nome da maioria da população que sabe que na selecção há mais jogadores para lá do Ronaldo, porque o resto dos vedetófilos só querem saber se o puto joga bem ou mal e não se interessa pelos outros. Já sei que não gostas, mas que podes fazer? Aguenta, como tens feito. E continua a convencer todos os que vão entrar hoje no Parken que são um grupo dos melhores da Europa, mas fá-los ver que têm de provar isso em campo. Podemos não estar ao nível da Espanha ou da Alemanha, mas temos de ser capazes de lutar contra Franças e Holandas sem ter medo dos gajos e a Dinamarca está abaixo deste segundo grupo. E imagina como vai ser bonito ver o país unido atrás da Selecção, mas lembra-te que desde que o Scolari enfeitiçou o povo luso com promessas de grandiosidade e espírito nacional (kudos para a ideia, palmada para a execução), nunca mais houve harmonia. É triste mas é verdade. E por isso estamos todos à espera de podermos voltar a bater palmas com entusiasmo às nossas cores, mesmo a rapazes como o João Pereira ou o Postiga, porque se tu os escolheste é porque achas que são melhores que os outros que deixaste de fora. E se conseguires vencer, rapaz, os meus parabéns pela ousadia.

Só me resta desejar-te boa sorte para hoje. Se ganhares és um herói porque pegaste numa equipa de rastos e sem grandes alterações conseguiste fazer um bom trabalho. Se perderes e ficares em segundo, já sabes o que te espera. Afinal, estiveste uns aninhos no Sporting.

Só te faço um pedido: se vires que o jogo está resolvido, seja a nosso favor ou contra, faz-me um pequeno favor: oferece um rebuçado ao Sereno e dá-lhe a alegria de poder ser internacional A pelo país dele. Quando o mandares entrar, diz-lhe: “Estás a ver aquele grandalhão louro na frente? Sim, o Bendtner. Trata de lhe espetar uma cotovelada na nuca!”. Fazias de mim um homem feliz. Não gosto daquele gajo nem coberto de compota de mirtilo.

Sou quem sabes,
Jorge

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