Ouve lá ó Mister – Penafiel

Mister Paulo,

O jogo do passado domingo deixou-nos a todos de rastos. Portistas de todo o mundo viram o pouco que conseguimos fazer e começam a pensar que não há escapatória para esta falta de qualidade que no nosso futebol atravessa, e quando isso acontece, quem se costuma lixar é o treinador. E olha que Janeiro é um mês propício para despedimentos ali para o lado das Antas, por isso há mais em jogo nestas próximas semanas que apenas um ou outro resultado mais ou menos interessante para competições tão sombrias como esta que hoje vais alinhar.

E parece que já passámos por isto aqui há umas semanas, depois do jogo em Madrid contra o Atlético, ou no Estoril, ou até em Alvalade. E depois aparecem jogos como o Zenit, o Braga e o Sporting no Dragão, onde até jogamos em condições e vencemos o jogo…e a malta vai alegre para casa, relativamente satisfeita com a exibição e a pensar: “é desta, carago, é desta que começamos a jogar a sério!”, mas o próximo jogo traz sempre uma enxurrada de parvoíces e uma incrível falta de fibra dos teus rapazes e, lamento dizê-lo, também de ti.

Não vou poder ir ao Dragão hoje à tarde (pelas hemorróidas de Satã, um jogo às 18h30 de uma quarta-feira é suficiente para me enfiarem um punho no rabo, amigos!) mas o jogo é fácil. Tem de ser fácil, raios, é o Penafiel! Já reparei que convocaste a grande maioria dos suspeitos do costume em vez de espetares com uma espécie de roleta (por falar em roleta, apeteceu-me pôr isto aqui: http://www.roletaonline.pt. pronto.) com a equipa B. Descansaste o Lucho e o Licá, o Danilo vai cumprir o jogo de castigo e o Otamendi vai fazer sei lá que raio é que ele faz nos dias de folga, só sei que não lhe tem ajudado a concentração. Seja como for, e considerando que o FC Porto B vai jogar com este mesmo Penafiel no próximo Domingo, vai ser uma boa maneira para vermos se os As são melhores que os Bs. Até agora, para te ser sincero, não tenho notado muitas diferenças.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Benfica

Mister Paulo,

Este é um grande dia para ti, Paulo, tu é que não sabes disso. Imaginas que é um papão enorme que te vai apanhar pelas costas e te vai empalar com um mastro Holmesiano do qual ninguém consegue escapar, muito menos tu. Sinto-te com vontade de jogar esta partida, mas ao mesmo tempo presumo que deves estar com o xixi tão apertadinho que um saltinho no banco faz com que o roupeiro te tenha de ir buscar outras calças. Isto é um clássico e não há maiores que este, pelo menos em Portugal.

Vais entrar em campo com força. Tens de entrar em campo com força, com o espírito bem vincado na vitória e a alma entregue às mãos de qualquer Deus em que acredites e que te dá a garra que eu sei que tens. E é nestes jogos que mostras o que vales, não só nos confrontos de treta contra os Olhanenses desta vida. É nestas batalhas com setenta mil nas bancadas a gritarem pelos seus enquanto insultam os teus, é nestas micro-guerras que os nomes dos treinadores se fazem ou se desfazem. E os rapazes que vais mandar para o campo com um discurso de conquista já sabem ao que vão, pelo menos a grande maioria deles. Muitos sabem o que é ganhar naquele estádio e garanto-te que outros tantos também já de lá saíram vergados pelo peso inconfundível de uma derrota amarga nesse campo. Um clássico é isto, Paulo, é uma luta titânica de gigantescos ogres que se enfrentam e disputam o direito de passarem uns meses a poder cantar os cânticos de um triunfo que conquistaram com o suor do próprio corpo. Fala com o Maicon, ele que marcou o golo aqui há dois anos, naquele 3-2 que nos pôs a todos loucos e que nos entusiasmou até ao final do campeonato. Pergunta ao Helton, que defendeu com a ponta das unhas aquele remate do Cardozo no ano passado, e ele vai-te dizer que este é um dos jogos da tua vida.

E eu, que já me esqueci de mais clássicos que tu alguma vez disputaste, já sei o que vou sentir. Num café, rodeado por amigos todos da mesma cor, vou estar a morder os lábios, a beber uns finos, a tremer com cada posse de bola do inimigo e a erguer-me sempre que ela estiver do nosso lado. Um clássico, Paulo, é isto. São nervos, emoção, angústia, êxtase. E tu, hoje, podes dar-me toda essa panóplia de sentimentos. Para te ser sincero, prefiro o último.

Força, rapaz.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Atlético

Mister Paulo,

Começamos um novo ano no melhor local do mundo para arranques em grande, pelo menos desde que o Tarik se passou da cornadeira mourisca e lá foi em direcção à baliza do Mandanda sem dar hipótese nem ao moço nem a ninguém. E agora, que voltamos a jogar para mais um jogo dessa competição fantástica que me interessa ligeiramente mais que a Taça da Liga e que a Supertaça (sim, é a “minha” terceira competição), estou à espera de uma exibição estupenda!

Estou a mentir, como já deves ter percebido. Não estou à espera de nada de fabulástico, de grandes jogadas nem insinuações de uma equipa mandona e de um futebol extraordinário. Sou racional o suficiente para antecipar que vai ser um FC Porto aborrecido, semi-tristonho e que não vamos ter um FC Porto dos primeiros vinte minutos contra o Atlético ou da primeira parte do jogo da Supertaça. E é isso que me anda a lixar a cabeça, sabes, Paulo? É o não conseguir sequer pensar num jogo inteiro em que tenhamos estado bem. Assim cem por cento bem. Um jogo em que tenhamos arrancado com garra, imposto a nossa autoridade, comandado a partida, o resultado e a atitude de uma forma de tal maneira inequívoca que nada sobrava ao adversário que não uma fugaz tentativa a trinta metros da baliza e pouco mais. E nem sei se este jogo da Taça é o melhor que nos podia aparecer neste momento, especialmente sabendo que para a semana vamos à Luz. Agora, interessa-me sinceramente perceber se estamos ou não em condições psicológicas para ganhar facilmente ao Atlético…e não o garanto.

Enfim, talvez esteja com os pistões pessimistas em overtime. Entra lá em campo, muda um ou dois gajos e mostra-nos que o meu FC Porto ainda é o que eu quero que seja.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Sporting

Mister Paulo,

Que sejas muito bem vindo de volta ao burgo! Estamos todos prontos para fazer a digestão da enormidade de comida que nós, os sortudos, enfardámos neste período natalício e que melhor maneira para enfiar os bolos todos na memória que um jogaço do FC Porto? Nada, meu caro, nadinha mesmo!

Devo dizer-te, logo para arrancar, que fiquei um pedaço desiludido com a convocatória. Estava à espera de olhar para a lista e ver algumas caras novas, diversidade de nomes e de ficar já com uma imagem mental de vários gajos com números de NBA a jogar em pleno relvado de Alvalade. Compreendo que muitos tiveram jogo dos Bês na Trofa (que vi e achei muito interessante, como vários outros jogos que já vi dos putos. Tens ali material para trabalhar, Paulo, tens mesmo…), mas ver gajos com cinquentas e setentas e oitentas nas costas a roçar-se na lagartada como se os estivessem a foder em seco era algo que me podia animar a noite de Domingo, especialmente enquanto tento digerir mais uma dose de farrapo velho que insiste em sobrar para as minhas próximas refeições. Isso ou lançar-lhes o Josué. Parece que, mais uma vez, vamos apostar na Taça da Liga sem apostar de facto na Taça da Liga. Às vezes incomoda-me um bocadinho esta sinusóide de intenções, mas como não sou eu a mandar, só posso mandar a minha posta e deixar-me ficar por aí.

Assim sendo, estão os grandes menos o Helton e o Quintero. Nada mau. Ia-te pedir para dares alguns minutos aos rapazes menos rodados, mas parece que do grupo que escolheste só o Ghilas e o Kelvin é que se enquadram nesse grupo. Tu os escolheste…agora mete-os em campo!

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Olhanense

Mister Paulo,

Ouço Pink Floyd enquanto te escrevo estas palavras. Há tanta pequena coisa que te podia escrever, sobre a qualidade do nosso futebol, a facilidade com que a nossa defesa parece abrir brechas do tamanho das trincheiras dos campos cinzentos de Verdun ou pela ineficácia do nosso ataque, qual nerf gun defensiva apontada ao lombo de um elefante em investida perante o teu indefeso corpo. Não me apetece forçar o pensamento triste, Paulo, a constatação que a época não está a correr como todos desejávamos e a involuntária vontade que todos temos de olhar para o que temos vindo a fazer e perceber que não temos estado à altura do clube que amamos e que tu aceitaste defender desde que assinaste contrato. Não vou alinhar por esse caminho, hoje não vou chorar as nossas tristezas. Ouço a voz do Gilmour e a sibilante melodia que ecoa da guitarra do Waters e descanso, como sempre faço quando os ouço.

E vou para o estádio, a sonhar com tempos melhores. Vou para lá como tantos outros, numa fria noite de sexta-feira em que findo uma semana de trabalho intenso, cansativo, pesado para os olhos e para a mente, e imagino que vou ver um jogaço. Que vou entrar no estádio e verei um equipa de azul-e-branco a brilhar na verde relva que ocupa a zona central do Dragão. Vejo um pseudo-Milan do outro lado. Vejo um Balogun, um Diakhité e um Dionisi e penso que vejo Gullit, Rijkaard e Van Basten a praticar do melhor futebol que os automatismos de Sacchi trouxeram ao mundo. Vejo um ogre de preto e vermelho a ameaçar o nosso destino, mas olho para as nossas cores e imagino-os a triunfar com genialidade, garra, querer, raça. Vejo um Porto à Porto, vejo vitória e audácia. Quero sair do Dragão a ouvir cânticos de glória, um regresso a um passado tão recente em que cantei, gritei, vibrei.

E a voz de Gilmour continua a cantar o Fearless, com a guitarra do Waters em fundo a soar tão bela nos meus ouvidos. E só penso que o último jogo do ano tem de ser em grande. Anda lá, Paulo, ouve comigo, canta comigo e vence para mim.

Sou quem sabes,
Jorge

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