Ouve lá ó Mister – Belenenses

Señor Lopetegui,

Aqui há uns anos valentes, num frio final de tarde na Cidade Invicta, convidei um amigo para se juntar a mim e partilhar do maravilhoso espectáculo que é um jogo do FC Porto em casa. Enquanto nos deslocávamos para o estádio que ficava um pouco mais a norte quando comparado com a tremenda realização arquitectónica onde hoje vou estar, já depois do tradicional café pré-match que degustei com prazer no habitual avant-tasco, o homem, na altura mais jovem e menos ciente da facilidade com que as superstições se entranham na nossa alma e nos furam o bem-estar e a moral, mencionou que tinha acabado de chegar de Lisboa e que trazia, em homenagem ao jogo de hoje, um pacotinho de pequenos pedaços de céu que são confeccionados numa pastelaria lá perto do estádio do rival do dia. Uma caixa de pastéis de Belém, se ainda não percebeste, e olha que só perdes se não experimentares pelo menos um. Quentinho. Com canela em cima. Uff.

No arranque da partida, já depois de vermos a tradicional entrada dos rapazes de Belém com a bandeira do FC Porto nas mãos a cumprir a tradição histórica que tanto me apraz (bem como a nossa própria versão, com a coroa de flores sempre depositada no memorial a Pepe, lá em baixo à beira-Tejo), toca de abrir o pacote, sacar de lá duas unidades dessa ambrósia de massa folhada, e com um brinde que surpreendeu os colegas da bancada central das Antas, celebramos o facto de estarmos vivos e de podermos assistir a mais uma partida do nosso clube em tão boa companhia.

O jogo, esse jogo, em Janeiro de 2001, terminou com um empate a zero. Continuamos amigos e já partilhamos a bancada várias vezes, em acesos comentários ao jogo e discussões intensas que a amizade, como o tempo, não faz esmorecer. Mas nunca mais quero ouvir falar de pastéis de Belém. Pelo menos em dia de jogo. Faz com que hoje não seja um dia que me faça esquecer essa tão agridoce memória. Hoje, é para ganhar, mais uma vez. Com ou sem pastéis.

Sou quem sabes,
Jorge

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