O complexo de Reyes

sam-beckett

O que eu vejo no Reyes e uma falta de confianca em si proprio para discutir o lugar, como se nao acreditasse que fosse possivel faze-lo. Faz-me lembrar eu proprio como jogador. Agora tenho 35 anos, ja comeco a ter uma barriga e os musculos nao respondem a intencao cerebral, mas eu era um senhor jhogador da bola. Joguei na Quimigal, no Desportivo, na seleccao da minha escola secundaria, em Inglaterra (na seleccao da universidade de Nottingham), e tinha caracteristicas impressionantes tivesse eu querido seguir a vida futebolistica. A precisao do meu passe era sempre a volta dos 95% em todos os jogos e tinha a capacidade de colocar a bola onde quisesse. Capacidade de controlo de bola e uma recuperacao de bola incriveis. Sempre fui um grande jogador de futebol, mas faltou-me talvez a mais importante caracteristica de um batalhador em campo, nao me ir abaixo. AQo primeiro lance perdido o meu jogo estava arruinado e eu passava de bestial a besta por culpa propia, ficava desmotivado, nao me fazia aos lances, entregava de bandeja o jogo e deprimia. Foi por essa razao que o futebol tornou-se para mim um sacrificio jogar mais do que um prazer, e aos 30 anos deixei sequer de jogar com amigos naquelas peladas costumeiras. Ha 5 anos que nao toco numa bola e a minha mulher pergunta-se porque quase sem compreender como se pode amar tanto uma coisa e nao usufruir dela. Porque eu sempre sofri do complexo de Reyes e isso no futebol e suicidio. Uma pena, portanto.
Pudget, comentário publicado em Baías e Baronis – KRC Genk 1 vs 3 FC Porto

Há alturas em que me identifico perfeitamente com o que vejo quando estou a assistir a um jogo de futebol. Tudo é igual e ao mesmo tempo tão diferente do habitual quando uma das equipas é o FC Porto e já fiz a minha paz com isso há muito tempo. Anos, diria. Sempre que um lance parece perdido, lamento-me e amaldiçoo os deuses por me colocarem nesta terra quando a bola passa a linha lateral sem que Jorge Couto, Capucho ou Tarik a consigam dominar.

Quando olho para Reyes, vejo uma imagem de um jogador que pode vir a ser excelente, fino, elegante no trato da bola e na forma como se coloca em campo. Vejo um miúdo que parece um homem a deambular por entre outros miúdos feitos homens, mas ainda longe de ter a maturidade que esperamos venha a confirmar num futuro próximo. E vejo falhas, próprias da idade mas que tomam uma dimensão tão grande quanto o dinheiro que foi pago por ele. Foram nove milhões que depositámos em esperança na evolução de um rapaz que chega a outro país, a outra realidade, a outro mundo. E até agora, as únicas coisas que nos ficaram na cabeça foram algumas falhas, pontuais mas não menos graves.

Temo que Reyes seja do tipo de pessoas como eu e o Pudget. Tal como Danilo, que tantas vezes vi a baixar os braços mas que começa sempre a temporada a procurar ser melhor e confiar mais nas suas capacidades, mas cai na primeira barreira e desiste do futuro que pode ser tão brilhante. Temo que Reyes seja um Mariano González em vez de um Derlei, ou para os mais antigos, que seja mais Semedo que André. Sei que não é fácil recuperar depois de uma queda, exige tudo de nós e as forças dos fracos, dos que como eu cedem às pressões tão facciosas desse demo que nos arrasta para o fundo, nem sempre são pujantes ao ponto de nos fazer erguer após a pancada. Mas acredito, carago. Acredito que o puto não vai deixar que estas pequenas coisas se atravessem no caminho que pode ser pavimentado a ouro e não a gravilha.

Força, puto. Manda abaixo os complexos e os infortúnios e mostra o que vales. Prova que estamos todos enganados.

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O que é que reparam quando olham para um central?

imagem gamada de http://paixaopeloporto.blogspot.pt

Lembro-me da elegância de Aloísio, que deslizava pelo relvado à procura do momento certo para o toque perfeito a interceptar um ataque adversário. Era um prazer assistir aos jogos do brasileiro a partir das velhinhas bancadas das Antas, enquanto me sentava no cimento ou em poeirentas cadeiras de um azul que já o tinha sido mas que gradualmente se ia transformando num tom claro, gasto, poído. Vintage, para soar melhor. Bintage, com o sotaque certo.

Aloísio era a imagem do central quase perfeito que me habituei a ver enquanto crescia e ia conhecendo mais do futebol mundial. Havia certeza nas acções, correcção na atitude, adequação da força à situação. E chegou a capitão, discreto, líder por exemplo e pelo respeito que todos tinham por ele pelos anos que passou no clube, à imagem dos que actual usam a braçadeira multicolorida. E à medida que ia vendo outros jogadores que jogavam na mesma posição, mais gostava do brasileiro. Havia uma classe diferente nele, uma leveza de movimentos aliada à simplicidade de processos que me enfeitiçava e fazia aumentar a minha fé na minha própria capacidade de conseguir fazer o mesmo em futeboladas amigáveis. Nunca o consegui, o meu corpo assemelhava-se sempre a um rotundo rinoceronte sem corno (acho) a descer uma colina em alta velocidade quando tentava irromper numa diagonal e acertar só na bola, só naquele ponto certeiro em que o avançado se transformava num pilar de sal e o defesa saía alegremente com a esfera de couro controlada, de cabeça levantada e postura mandona. O normal era acertar no gajo ou mandar a bola para o meio do matagal abaixo do campo. Sim, admito, em campo sou um defesa à Jorge Costa. Ou passa o jogador e fica a bola, ou não passa nada, nem bola nem jogador e na grande maioria das vezes, nem relva.

E hoje, onde estão os Aloísios? Onde estão os centrais com controlo de bola decente, passe certeiro a cinco metros, ausência de loucura ou excessos de confiança? Onde estão os Aloísios, carago?

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Treze

Para que o compatriota mexicano não fique triste pela recepção que o colega está a receber, vamos ver também a numeração que antecedeu o agora “13” de Diego Reyes:

 

1995/1996 Semedo
1996/1997 Lula
1997/1998 Lula
1998/1999 Ricardo Carvalho
1999/2000
2000/2001 Jorge Andrade
2001/2002 Jorge Andrade
2002/2003 Nuno
2003/2004 Nuno
2004/2005 Nuno
2005/2006 Bruno Alves
2006/2007 Fucile
2007/2008 Fucile
2008/2009 Fucile
2009/2010 Fucile
2010/2011 Fucile
2011/2012 Fucile
2012/2013 Miguel Lopes
2013/2014 Diego Reyes
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