Foi uma noite de memórias, de viagens ao passado e de sorrisos. Enormes sorrisos como o de McCarthy ou Baía, ao lado de enormes panças como a de Jorge Andrade ou Secretário e de enormes talentos como Alenichev ou Deco. E foi no relvado onde todos vimos grandes alegrias que estes homens passearam a classe que sempre tiveram e que colocam em perspectiva qualquer dos rapazes que agora vemos a jogar nesse mesmo relvado, com camisolas semelhantes, e que comparamos sem misericórdia com as recordações que nos marcaram a mente há tantos anos e que ficarão sempre na nossa cabeça.
Cada toque, cada delicada carícia na bola, cada passe bem medido ou finta bem inventada, cada desmarcação e cada remate, qualquer um desses lances levaram-me para um passado que parece tão distante e que está tão perto no arquivo futebolístico das minhas memórias. São indeléveis, tão impossíveis de desaparecer como o nascimento de um filho ou um primeiro beijo na esquina de qualquer prédio na cidade onde nascemos. O chutinho de Jorge Andrade a Deco, que me leva a essa meia-final contra o Corunha num Dragão cheio até aos cabelos; Derlei, a marcar da zona de penalty, como em Corunha na outra meia-final que nos levou a Gelsenkirchen; as diagonais de Sérgio Conceição, que traz memórias de jogos dos 90s com Oliveira no comando; o passear de Alenichev pelo campo com o estupendo controlo da bola e do adversário, a arrastar-me numa espiral de memórias dos anos dourados de Mourinho; as defesas de Baía e o jogo com os pés, a puxar à memória dos tempos em que os guarda-redes ainda agarravam atrasos de bola com as mãos; o golo de Jankauskas, a trazer memórias de um hat-trick que fez em Braga, para a Taça; McCarthy, que mesmo falhando um cabeceamento a dez centímetros da baliza me trouxe imagens de um cabeceamento extraordinário contra o Manchester United; Secretário, que rezei para que não entregasse a bola a um avançado contrário como fez em Alvalade…mas também rezei para que marcasse um golão como em Bremen; Maniche a entrar duro sobre um adversário, a mostrar que quem sabe (bater) nunca esquece e que um guerreiro nunca dá um lance por perdido; Paulo Ferreira, a fazer a lateral como se fosse o mesmo puto de vinte e poucos anos que chegou no Verão de 2002…
E Deco, por tudo. Por aquele chapéu magnífico a lembrar o golo a Moreira nas Antas; pelas incontáveis vezes que passou por defesas, médios, avançados, guarda-redes, treinadores adjuntos e aguadeiros. Pelo talento que colocou em campo ao serviço do FC Porto e que me fez ir até ao estádio tantas e tantas vezes para o ver, incauto da quantidade de vezes que iria comparar os que o seguiram com o que ele nos tinha mostrado. “É bom, mas não é o Deco”, uma frase que se repetiu tantas vezes na minha boca que preferia ter gravado o soundbyte para não gastar saliva quando o proferisse. E hoje, ao ver em campo novamente aquele que foi o melhor meio-campo de sempre do FC Porto (opinião de quem vos escreve, discutível como todas), Costinha-Maniche-Deco, com as alternativas Pedro Mendes-Alenichev, com Baía a comandar aquela que foi uma das melhores linhas defensivas de sempre do FC Porto e um ataque que, não tendo sido o melhor, é dos que melhores resultados obteve…fui, juntamente com cinquenta mil almas, invadido pela nostalgia que é tão própria e inadequadamente precoce de alguém que vê futebol há alguns anos e recorda momentos, flashes, pedacinhos de história como se tivessem acontecido ontem.
Obrigado, meus caros. Obrigado por me fazerem dar um passeio pelos meandros da minha memória e por me terem feito tão feliz. E parabéns, caro Anderson. O que fizeste ficará para sempre na nossa memória. Tentámos devolver-te a simpatia. Espero que tenhamos tido sucesso.