Carta aberta a João Moutinho

Bom dia, João.

Esta é uma semana complicada para ti, não tenho dúvidas. O regresso a Alvalade vai ser difícil, logo tu que como filho pródigo regressas a uma casa onde quais pais super-protectores te tentaram impedir de crescer e de jogar a outro nível. Não sei o que se passou entre ti e os teus antigos patrões e sinceramente não me interessa.

Tens de entrar em campo com a mesma fibra que tens mostrado. Em nenhum momento podes ceder à enorme pressão que vais carregar em cima dos teus ombros até porque, meu amigo, prepara-te para uma sessão extra de agressões verbais, cânticos insultuosos, arremesso de isqueiros (Dupont, claro), canetas Mont-Blanc e latinhas de caviar. Não se pode censurar a atitude dos adeptos (a parte que não magoa), ainda me lembro de ter feito a mesma coisa ao Drulovic, ao Zahovic, ao Jardel e ao Paulo Assunção e sei o que o pessoal sente. Os adeptos não sabem ver a diferença entre fé cega, devoção desmedida e a pura realidade analítica da vontade de sair, é impossível conseguirmos fazê-lo, a incapacidade deve estar embebida no nosso ADN, não vale a pena contestar. Já estarás habituado à tua dose de insultos, mas estes vão ser especiais, garanto. Vão bater lá no fundo, vão-te fazer cerrar os dentes e impelir-te a jogar a um nível diferente, quiçá mais agressivo que o normal, porque não haveria ambrósia mais doce para um sportinguista que te ver a ser expulso em Alvalade.

Resiste.

Puxa pelas forças que consigas juntar, acalma a mente e joga. Mostra-lhes que o que os transforma em símios a ganir (eu que já o fui) é a pura constatação que aquele puto, aquele talentoso rapaz que desliza pelo relvado com passes certeiros e que organiza o jogo como poucos…já não usa as cores deles. E isso, como compreendes, dá cabo de um gajo.

Por isso a única coisa que me causa alguma apreensão é a tua cabeça. Espero que estejas bem para jogar, que leves contigo vontade de mostrar aos teus novos adeptos e ao teu novo patrão que estás cá de corpo e alma como o tens feito nestes curtos meses desde que decidiste ganhar a vida 300 quilómetros a Norte do que era hábito.

Estamos contigo. Todos menos o Sousa Tavares, mas acredito que até ele vai acabar por te dar o mérito que mereces. É redundante mas é verdade.

Um abraço e até sábado,
Jorge

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