Ouve lá ó Mister – Nacional da Madeira


Amigo Vítor,

Já não te vejo desde ano passado, homem! Parece que já foi há anos que saí de casa, tomei o café da praxe e segui para o estádio, passei o cartão no leitor da cena magnética e subi as escadas até ao meu lugar. São semanas de ausência que me furam as entranhas como ácido e deixam um vazio que só é preenchido com futebol. Há outros vazios que são preenchidos com comida, outros ainda com uns copos e ainda outros com música e outros com outro tipo de deleites terrenos, mas este, pá…tu sabes, tu já percebeste.

E então para este jogo decidiste-te a convocar gajos da B para uma competição a sério? Isso é que são tomates, homem! Ou não, tendo em conta o que tens ao dispôr. Estás-te a sentir um Robson, certo, naquelas alturas em que tinha de enfiar com o João Manuel Pinto a ponta-de-lança para desenrascar um golinho nos últimos minutos, heim? Carago que isso é que era desespero, pá, nem me quero lembrar dessas alturas e se tudo correr bem também não vou precisar, não é verdade? Mas diz-me lá a sério, achas mesmo que o Sebá e o Dellatorre já estão prontos para isto? Mais, achas que podem ser mesmo gajos para entrar no caso de precisarmos de marcar um ou dois golos? Já sei que não tens Iturbe praí até ao fim da época, nem o Atsu nem o Kleber por um mês ou mais, por isso vai-te habituando a isto…a não ser que convenças o teu patrão a dar-te uma prenda de Natal atrasada. De qualquer maneira, vê lá se orientas a malta para ganhar isto que começa a ser complicado e nem te atrevas a perder pontos hoje. Para a semana vamos ao galinheiro e quero chegar lá com os mesmos pontos teóricos porque também estou convencido que ganhas em Setúbal mais lá prá frente.

Seja como for, avança sobre os gajos como o Monty em cima do Rommel. Martela, carrega, destrói! E depois ganha o jogo.

Sou quem sabes,
Jorge

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Izmailov is my love?

Sentimentos contraditórios assolam a minha mente quando quebro uma das minhas auto-impostas regras para um defeso tranquilo e me coloco perante a estranha situação de comentar a eventual chegada do Marat ao Dragão. Nunca escondi que era um dos meus jogadores preferidos do Sporting, um daqueles que sempre que me foi colocada aquela putativa pergunta absurda do “quem é que escolhias do Sporting para vir para o FC Porto?”, estava sempre no topo da lista, a par de Liedson. Sempre foi um rapaz inteligente com a bola, com excelente remate, a jogar com dois pés activos, que jogava e fazia jogar e que tantas vezes me pôs a clamar piedade quando pegava na bola para lá do meio-campo sem marcação cerrada.

E as lesões todas que o rapaz foi acumulando nestes anos em que por cá passou não me metiam medo. Não porque tenha uma confiança cega no nosso departamento médico, nada disso que não entro em demandas loucas e auto-elogios parvónios, mas porque o tempo que passava em campo me dava confiança suficiente para que pudesse fazer a diferença em circunstâncias que precisavam de qualidade e capacidade técnica em vez de irreverência juvenil e tantas vezes infrutífera. É o que sinto ao ver rapazes com boa vontade como Kelvin ou Iturbe ou até um certo ponto Atsu, que me está a desiludir um pouco tendo em conta as altas expectativas que tinha dele, e que continuo a ter porque acho que só precisa de atinar mais uma ou duas dezenas de jogos para ser um titular absoluto na equipa. Quando um jovem com boa técnica e garra para mostrar futebol mas que apenas aparecem a espaços, lembro-me de rapazes como Izmailov ou Quaresma, que podem decidir um jogo ao mesmo tempo que usam a experiência acumulada para fazerem a diferença nas alturas que a equipa mais precisa deles. São jogadores instáveis, é verdade, capazes do melhor e do pior, mas que me dão mais garantias que a juventude tão boa para evoluir mas que é rapidamente ultrapassada pelos alicerces bem fundados de uma escola de vida que os putos, lamento dizê-lo, ainda não têm. Foi por isso que aplaudi a chegada de Lucho, com todas as limitações que a idade trazia, com a falta de pernas que se podia notar (e nota, oh sim) em muitos jogos, mas que compensa com outros vectores de inteligência competitiva que são fulcrais numa equipa que se quer dinâmica e agressiva mas também suficientemente madura para encarar problemas que se adivinham complicados.

Lembro-me dos golos que nos marcou. O petardo de pé direito que nos roubou a Supertaça em 2007, o tiro de pé esquerdo na Grande Implosão de Alvalade de 2010 ou o míssil que empatou a eliminatória da Taça no Dragão antes do capitão Mariano marcar aquele golão que nunca mais sairá do arquivo das minhas memórias. Faz-nos falta um rematador de meia-distância desde que Guarín saiu da equipa e se Moutinho tem vindo a melhorar nesse aspecto, em pouco será equivalente ao russo. Faz-nos falta um homem que possa servir como médio e extremo ao mesmo tempo e na mesma equipa, caso seja necessário encher um pouco mais o centro do terreno ou expandir a frente de ataque. Faz-nos falta alguém que faça diagonais para o centro e que remate para assustar o guarda-redes. Faz-nos falta um elemento que tenha boa técnica individual para controlar uma bola de primeira sem ter medo que ela tenha picos e fuja para a frente. Faz-nos falta alguma audácia quando James estiver em dia nim.

E se para isso tivermos de aguentar com um russo de trinta anos que ainda tem mais algumas largas e boas centenas de minutos pela frente, so be it. Que tenha o mesmo rendimento dos primeiros russos que por cá andaram, porque se alguma vez chegar a jogar tanto como o último russo que cá esteve…faço-lhe uma vénia com uns boxers vermelhos com foice e martelo e uma bandeira do Lokomotiv drapeada no meu lombo. Tens o meu selo de aprovação, Marat. Agora decide lá a tua vida.

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Revendo as decisões de início de época

Vamos quase a meio da época e ainda me lembro das decisões que fiz no início da temporada. Um pequeno balanço para ver como é que me tenho safado:

  1. Chegar aos jogos com tempo suficiente para uma urinadela e/ou um café; Ainda não falhei um. Até cheguei mais cedo uma ou duas vezes, deu para comer umas castanhas assadas e até para ver o treino por completo.
  2. Ostentar sempre uma peça de vestuário com as cores do clube. Preferencialmente camisola e/ou cachecol; Na mouche. Camisola nos dias mais quentes, cachecol para as noites frescas. Cem por cento.
  3. Procurar perceber as opções tácticas do treinador antes de começar a criticar as mesmas; Mais um bom resultado para a minha capacidade de análise. Seja em substituições, estruturas defensivas ou trocas no ataque, há sempre algum fundo de teoria antes da prática e procuro entender qual foi a racionalização de Vitor Pereira, corra bem ou mal.
  4. Não tentar encontrar o “novo Mariano” em qualquer jogador que controle mal uma bola; Ora…mal, muito mal. Não resisto e deixo que os maus passes do Varela me lixem a vida, as intercepções falhadas do Danilo me chateem e o alheamento do Kleber me enerve imenso. Talvez melhore na segunda parte da época, mas duvido que aconteça.
  5. Em caso de resultado negativo, acreditar que a reviravolta é sempre possível e eles conseguem se quiserem, carago; Sou um fraco, admito. Até agora no jogo contra o Estoril, estava mesmo a pensar que íamos perder o jogo. E no Dragão, contra o Dínamo Kiev, tinha a certeza que não íamos conseguir marcar o terceiro, sinceramente. Por isso é um belo dum falhanço neste ponto, como de costume.
  6. Abster-me de proferir a seguinte frase: “Tenho frio. Tenho fome. Foda-se.”; Estive quase a fazê-lo no jogo contra o Moreirense. Mas contive-me.
  7. Aplaudir o lateral quando sobe ao ataque, avisá-lo quando deixa o sector sem cobertura; A segunda é certinha, a primeira já falha de vez em quando porque nem sempre a subida é feita com grande critério.
  8. Criticar o que é criticável e elogiar o elogiável, sem arranjar desculpas; Só o fiz por uma vez e foi por causa do relvado, na altura que estava digno para toupeiras. Se excluir essa parte, tenho andado do lado da verdade.
  9. Perceber melhor o que o adversário vale e como o podemos parar; Nem sempre há tempo para perceber o que os gajos valem e ainda menos tempo consigo para ver os jogos do adversário antes de jogar contra eles, especialmente se são equipas de nível inferior. Durante o jogo deixo-me apanhar pela emotividade da partida e acabo consistentemente por criticar os outros rapazes sem perceber se de facto jogam à bola em condições. Mea culpa.
  10. Por último, manter a postura: NUNCA assobiar a equipa!; Vinte valores. Nunca o fiz e não prevejo alguma vez o vir a fazer.

Sete em dez. Não é mau, mas é sinal que nem sempre consigo ser coerente quando comparo as minhas vontades com os resultados. Um pouco como o Mariano quando dominava uma bola de primeira. Estão a ver? Lá estou eu outra vez.

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