Baías e Baronis – Vitória Setúbal 0 vs 3 FC Porto

Ao intervalo mudei para os outros canais da SportTV, num mini-zapping para me manter acordado. Valencia-Real, Arsenal-West Ham e Roma-Inter. Taça, Liga, Taça. E eu, que já achei muitas vezes que sou amante de futebol, apercebo-me nestes momentos que não o sou em pleno. Sou portista, e razoavelmente fanático para continuar a ver um jogo que tinha quase tanta excitação como um quadro de ardósia numa escola primária às escuras. Foi entediante ver o FC Porto a jogar sem jogar, a trocar a bola numa partida insípida, com poucos motivos de interesse a não ser o easter egg da noite: “Qual seria o próximo jogador do Setúbal a fugir a uma expulsão?”, com um festival de patadas, calcadelas, teatralidades e pontapés que os sadinos brindaram a magra plateia do Bonfim. Tão fraquinhos, mas tão fraquinhos, que o FC Porto lhes entregou o jogo quase todo para tentarem animar a contenda…sem sucesso. Vamos a notas:

(+) Jackson. Dois golos foram suficientes para o colocar no topo dos melhores marcadores e é ali que se devia sempre manter. Continua a esforçar-se, a usar o corpo e a técnica para receber bem a bola e continuar a lutar para ganhar a melhor posição possível e talvez conseguir marcar mais um ou dois. Mais vale um Jackson manco que doze Klebers em topo de forma, e só tem a ganhar com a eventual chegada de Liedson, que o vai obrigar a seguir em frente e a trabalhar para ajudar a equipa, que tem feito desde que chegou. Muito bem.

(+) Alex Sandro. Só tem o problema do excesso de confiança a sair da defesa com a bola controlada, que insiste em deixar presente em todos os jogos, quase perdendo a bola e valendo-se da ajuda dos colegas para se safar. Para lá disso é inteligente na protecção da bola em corrida e em drible, criando os desiquilíbrios que se espera que um lateral consiga fazer e o colega do outro lado do campo insiste em abdicar sequer da tentativa. Melhor na primeira parte que na segunda, onde jogou mais subido, mas já é uma das figuras da equipa.

(+) Mangala. A central ou a defesa-esquerdo, Mangalho continua a brilhar. Forte no 1×1, salvou um golo do Setúbal numa das únicas oportunidade que Meyong (who else?) teve, com uma pequena hesitação na segunda oportunidade do camaronês, que Helton salvou. Ofereceu o segundo golo a Jackson numa jogada que começa a ser uma imagem de marca: a cavalgada desde a zona defensiva, com a bola semi-controlada e a enorme envergadura das pernalongas a driblar adversários pelo chão e pelo ar. É titular de pleno direito.

(-) O sono de um ataque não-ofensivo. Compreendo quem me diz que ver o FC Porto dá mais sono que um álbum da Cat Power. Um grande número dos jogos do FC Porto são tão aborrecidos que não censuro quem opta por fazer outras coisas, desde que não seja portista, claro, como expliquei no início da crónica. Mas alguém é capaz de me explicar a racionalização de manter um resultado tão magro, com uma vantagem tão fácil de inverter até por uma equipa como o Setúbal, com uma simples bola parada, um ressalto, um cruzamento zarolho…qualquer evento que nos faça despertar daquele torpor, aquela letargia que parece tolher corpo e mente? Há jogos em que, sinceramente, não percebo como é que Vitor Pereira não dá um safanão nos gajos e ao fim de dois gritos cheios de bom vernáculo espinhense (acreditem, aquela malta sabe muito bem falar “mal”) talvez víssemos algum movimento consequente, interiorizado, com consciência que os adeptos querem o campeonato mas gostavam de não dormir o caminho todo até lá chegar? Vá lá, rapazes, façam lá mais um esforço sem ser nos jogos grandes.

(-) Kelvin. Definitivamente não. Não consigo ver Kelvin como uma opção útil para o nosso ataque e merece passar dias, semanas, meses emprestado ou na equipa B para ver se consigo perceber se quer de facto ser jogador de futebol ou se lhe chega o estatuto e a conta no Twitter. Saiu ao intervalo depois de uma primeira parte de fintas inconsequentes, arremessos para o relvado e pouco, muito pouco futebol. Não é, actualmente, jogador suficiente para ser convocado.

(-) Vitória de Setúbal. No jogo da Taça da Liga, falei do Vitória assim: “É um campeonato fraco, tão fraquinho, cheio de equipas a sobreviver ano após ano, rodeados do fausto de três ou quatro equipas que conseguem brilhar um bocadinho acima da medíocre média que pauta a nossa liga. Uma miséria, que nos rouba a motivação, a alma e de vez em quando o campeonato.“. E não retiro uma palavra, porque é uma equipa muito limitada e que com tanto espaço para jogar, convenientemente dado pelo FC Porto, raramente conseguiu criar perigo a não ser num remate de Meyong e numa parvoíce de exagero de Helton, mais uma vez possuído pelo “Síndroma de Jorge Campos”, e que mesmo assim conseguiu fintar três adversários antes de mandar a bola com as couves. Ver o Benfica a jogar contra este ou outros “Setúbais” e vencer por 2 ou 3 golos de diferença é tão normal como ver o Setúbal a jogar contra um FC Porto que não está sequer interessado no jogo…e perder por três na mesma. É muito fraco este nosso campeonato.


Fim da primeira volta, um golo atrás do Benfas. Um golo, é verdade. E já continuamos na segunda-feira contra o Gil, para arrancar da melhor maneira a segunda volta…que é como quem diz: “Já só faltam quinze vitórias para sermos campeões!”. Não é muito, porra.

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Ouve lá ó Mister – Setúbal


Amigo Vítor,

Há uma treta que não me agrada nada no agendamento de um campeonato e que de vez em quando lá se lembra de acontecer, seja lá por que motivo for: os jogos adiados. Como este, exactamente. É que um gajo anda a par das jornadas, é só olhar para a classificação no jornal ou num site ou lá onde quiseres espreitar a tabela, e imaginas a cena. O Benfas joga primeiro e ganha, sabe-se lá como, um choureco qualquer pior que o cruzagolo do Alex no Domingo, e passa três pontos para a frente. E tem mais um jogo. E logo vem toda a gente com os “avanços”, “provisoriamente na liderança”, “em primeiro pelo menos por uma semana”, entre outras conversas do género. E não acontece só com os nossos amigos lá de baixo, porque se o FC Porto ficar em primeiro também acontece a mesma treta, só muda o entusiasmo para desdém e a euforia alcoólica é trocada pela moral rebaixada por uma poça de lama bacteriologicamente infectada. E tenho de olhar para a merda da tabela e ver que o número de jogos não bate com a jornada e tenho de fazer contas aos jogos fora e casa, quantos pontos faltam para conseguirmos ser campeões, onde é que os outros vão a seguir e se ainda contam os amarelos ou não…é uma confusão na minha vida e já tenho chatices que chegue.

Por isso, Vitor, para evitares mais um aborrecimento a somar-se a tantos outros, faz lá o favor aqui ao menino e espeta dois ou três no Setúbal e põe ordem na minha cabeça e na minha vida desportiva. Relembro-te do que te disse na primeira versão desta missiva, ainda em Dezembro do ano passado: já não está lá o Meyong, mas continua o Ricardo Silva. E esse ressabiado não merece respirar nada para lá do fétido aroma da derrota. É mandá-lo de volta para o inferno boavisteiro onde ele pertence.

Sou quem sabes,
Jorge

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O Danilo quer ser um Guarín mas eu preciso de um Sapunaru

Uma sensação estranha apodera-se de mim sempre que olho para Danilo dentro de campo e odeio-me sempre que acontece. Tem sido cada vez mais frequente nos últimos tempos e não sendo dolorosa como uma pisadela num pé descalço ou uma boa dose de azia, está-me a afectar o prazer de apreciar uma exibição do meu clube e a transformar uma boa exibição numa caça às bruxas que não pode trazer nada de bom. E essa sensação prende-se com o facto de olhar para Danilo, para o que faz e como faz, e não me entusiasmar acima do mínimo suficiente para manter um batimento cardíaco de repouso.

E se fosse outro gajo qualquer, não me chatearia tanto. Quer-se dizer, não será a melhor bitola para avaliar a qualidade de um jogador ou a possibilidade de o valorizar com a nossa camisola, mas não sou eu que o vai andar a negociar daqui a uns anos. Mas continuo a olhar para ele e a pensar na quantidade de guito que gastamos nele, e por muito que o rapaz não tenha culpa de absolutamente nada, a verdade é que tinha algumas expectativas para o ver a jogar a um nível elevado. E sempre que o vejo em campo parece que estou a ver um Guarín adaptado a defesa-direito. E não me agrada mesmo nada. Nem é pela ausência de Danilo do meio-campo, mas porque o rendimento não tem sido o que estava à espera de ver num jogador que já foi chamado várias vezes à selecção brasileira (com ou sem empresários ao barulho) e cuja transacção pareceu fazer com que o mundo se virasse todo do avesso com mais uma ridícula guerriúncula contra o Benfica. Não questiono o valor do moço noutra posição, mas até agora, do que vi do rapaz a jogar com o número dois nas costas e na posição habitual desse mesmo símbolo, devo dizer que não vi nada de especial, nada que me fizesse dizer: “Carago, vale o dinheiro que demos por ele!”.

É muito curioso ver que Guarín, talvez um jogador que Danilo preferiria emular no FC Porto, está a decidir jogos em Itália depois de os fazer em Portugal durante dois anos. E também ele, quando cá chegou, era um jovem com margem de progressão que fez uma primeira época…abaixo das expectativas. Se bem se lembram, foi bem pior que Danilo. E atravessou dois anos complicados, com baixa cotação entre os adeptos, para chegar a um 2010/2011 brilhante e acabando por sair em 2012 sem grande glória dentro do clube mas com um mediatismo que provavelmente nunca pensou atingir tão cedo e muito menos no país onde então estava. E Danilo já terá deixado o discurso de inauguração, a ladaínha do “esta não é a minha posição, eu quero é jogar no meio-campo, yadda yadda”, mas a verdade é que poucos lhe darão uma nota particularmente positiva em quase todos os jogos que disputou. E talvez seja aí a sua posição mais adequada às características dele, mas sinceramente não vejo um futuro próximo que inclua o brasileiro numa posição no meio-campo que se assemelhe ao que o próprio jogador prefere, mas no FC Porto, como em todas as grandes equipas, há que suprir as necessidades primárias antes das secundárias e neste momento, a lateral-direita está mais em falta que a zona do médio-volante.

Mantenho esperança que o rapaz cresça, suba de produção, evolua e atinja um nível que estou à espera de ver desde que chegou. Mas o impacto inicial, desde há um ano, não está a ser memorável.

PS: O título parece tirado de um romance do Mário de Carvalho mas asseguro que saiu da minha cabeça.

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Baías e Baronis – FC Porto 2 vs 0 Paços de Ferreira

retirada de desporto.sapo.pt

Em primeiro lugar, gostava de dizer que estava um briol no Dragão que era capaz de arrefecer as almas mais ternurentas. Vento, chuva, frio…parece inverno na Invicta, palavra. E não sei se foi o fresquinho da noite que fez com que a primeira parte fosse abaixo da média, com a equipa muito lenta, um futebol que caía na rede bem montada pelo Paços, com várias oportunidades falhadas mas pouca produção ofensiva com inteligência. A segunda parte foi melhor, mais solta, mais interessante, e até a entrada de Izmaylov, que faz meia bancada temer que o pior possa acontecer ao russo (admito que ficava renitente sempre que o rapaz mudava de direcção rapidamente, temendo pelos joelhos dele…estarei a exagerar?), fez com que o FC Porto controlasse perfeitamente um jogo contra uma equipa rija, inteligente e que sabe jogar à bola. A vitória assenta bem, com alguma sorte (tenta fazer essa treta outra vez, Alex, desafio-te!) mas fruto de trabalho e paciência bem esticada por noventa duros minutos. Notas abaixo:

(+) Lucho. Trinta e dois anos. E parecia fresco como uma alface iceberg em campo, o que até é adequado face ao frio que apanhou hoje à noite. Correu quilómetros em alta rotação e foi sempre o primeiro a fazer pressão alta e a arrastar os colegas para situações de perigo, com bons passes e excelente visão de jogo, esteve em todo o lado que era preciso estar e foi mais uma vez o capitão que uma equipa deste nível exige. Com Moutinho menos bem, foi Lucho que usou a capacidade técnica e o ideal de um jogador vertical, inteligente e tacticamente culto para marcar a diferença na dinamização do ataque portista. Parabéns, puto. Sim, puto, que este catraio de 32 anos correu como poucos. E, mais que isso, correu bem.

(+) Jackson. Perfeito em tudo menos na finalização, o que pode fazer com que a nota seja menos que positiva, mas creio que o trabalho que desempenhou na recuperação de bolas, no uso do corpo como escudo protector frente aos fortes centrais contrários e na capacidade de reter a posse de bola tempo suficiente para desenrolar jogadas ofensivas fazem com que o “mais” seja merecido. Sim, devia ter marcado, mas não foi por falta de tentativas, porque apareceu sempre pronto para lhe colocarem a bola e tivesse um pouquinho de sorte e tinha marcado um ou dois golinhos. Tecnicamente é excelente e tem umas pernas que lhe permite esticar o jogo até ao limite da zona de passe e do espaço que lhe é permitido. Só falhou, mais uma vez, na finalização. Felizmente teve ajuda dos colegas nesse campo.

(-) Varela. Fraquinho, mais uma vez. Numa altura em que tem pouca pressão pela ausência de quarenta extremos do nosso plantel, nem a presença de Izmaylov que não o é, Sebá e Kelvin que ainda não o são e Defour que nunca o será, nenhum destes parece fazer mossa em Varela, que insiste em jogar a um nível que não lhe chegava sequer para ser suplente do suplente do Capucho. Suplente do suplente. Yeah, you heard me. Fez um jogo agradável na Luz, lutou, espeneou, foi guerreiro. Hoje voltou a não jogar um mínimo para se manter em campo até ao intervalo, quanto mais até ao fim do jogo.

(-) O relvado. Ora bem, alguém me consegue explicar como é que meia-dúzia de semanas depois de trocarmos o relvado todo, aquela coisa esverdeada que cobre o terreno entre as bancadas do Dragão está no estado que todos vimos?! Não sou jardineiro e sabe Deus o talento que tenho para plantas a não ser para cozinhar bróculos ao vapor, mas é inconcebível que o estado do relvado tenha sido planeado. Anyone? Alguém me explica? Por favor?

(-) Danilo, ou o que raio foi que eu vi!? Por favor digam-me que estou a imaginar coisas e que havia algum tipo de composto alucinogénico ali no sector do Dragão que me acolhe em todos os jogos em casa. É que eu pareceu-me ver o Danilo a dar – ou pelo menos a tentar, porque foi do outro lado do campo e não consegui perceber – um pontapé num qualquer adversário depois de perder a bola para ele, aí pelos…NOVENTA E TRÊS MINUTOS! Se é verdade e não estou a ficar louco, não percebo como é que não foi expulso (se aparecerem comentadores a insinuar frutas e afins, podem arranjar outra coisa para fazer com a vossa vida porque não estou com pachorra para teorias da conspiração depois da parvoíce da semana passada) e se eu fosse treinador punha-o no canto do balneário com um “chapéu de burro” a pensar no que tinha feito.


Falta ainda um jogo para chegarmos ao fim da primeira volta, mas se tudo correr de acordo com o plano, na pior das hipóteses ficaremos empatados com o Benfica no primeiro lugar. Na segunda volta regressa a Champions e continua a Taça da Liga…mas o campeonato tem de merecer sempre a atenção mais vincada. O plantel continua curto numa posição (ponta-de-lança) e até Liedson ou qualquer outro ser confirmado como Dragão, o mercado terá de ser encarado com inteligência e segurança nas contratações. E agora deixem-me ficar aqui no quentinho, por favor.

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Ouve lá ó Mister – Paços de Ferreira


Amigo Vítor,

Este jogo é tão ou mais importante que o da semana passada e tu sabes disso. Não há nada pior que sair de um jogo grande com um resultado positivo para sete dias depois estragar tudo com uma má exibição e desperdício de pontos mais preciosos que o Anel para um qualquer Gollum. Talvez a fome ou a pestilência sejam um bocadinho piores, mas não é por muito. Por isso encaremos este jogo contra o Paços com seriedade e acima de tudo com espírito de sacrifício.

Porque vai ser preciso sacrifício, Vitor, oh se vai. Já todos sabemos o estado em que a equipa está, com poucas opções no ataque e gajos cansados atrás dos poucos que estão prontos para jogar à frente. Temos uma defesa em condições, é verdade, mas as defesas não ganham jogos, ganham campeonatos, não é? E os jogos, como este de hoje, precisam de um ataque decente, com boas combinações e nada de jogar à Roma ou Barça, com setenta gajos no meio-campo e constantes mutações de posição. Não tens gajos com características para isso. Não sei se o Marat está com os joelhos em condições, mas mesmo que esteja pronto para avançar, se fosse a ti continuava a apostar no mesmo onze que jogou na Luz. Podes inventar um bocado, eu sei, não precisas de piscar o olho e fingir que estás surpreendido que sugira tal façanha. Já sei que pensaste em pôr o Maicon ao meio, encostar o Mangala à esquerda e fazer subir o Alex. Passou-te pela cabeça, não foi? Mas não vás por esse caminho, keep it simple.

O relvado vai estar uma valente trampa, ensopado e pronto a tramar o jogo rasteiro que ambos gostamos. Não é jogo para Kelvins, é para Defours. Não é para Sebás, é para Castros. Vai ser uma batalha, é o que é, e temos de estar preparados para isso. O Paços joga bem e vai tentar dar-nos cabo da vida mas vais ter alguns milhares nas bancadas, poucos mas bons, que te apoiam nas escolhas e sabem que não precisamos de fazer um jogo fantástico. Este é um jogo para ganhar, ponto. Os grandes espectáculos ficam para mais tarde.

Sou quem sabes,
Jorge

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