Provinciano? Moi?

Todas as manhãs passo os olhinhos pelas capas de jornais desportivos, nacionais e estrangeiros. É da maneira que começo o dia a perceber se há algo de novo no mundo que me possa ter escapado durante a noite e para me manter bem informado sobre a bola. O ritual continua com mais uma vista de olhos pela bluegosfera e pelas principais notícias que arrancam o dia. Esta terça-feira fui surpreendido por duas coisas: a capa do Record e o comunicado do Sporting.

Pensei que o Record nunca conseguiria descer a um círculo de inferno dantesco mais fundo, mas afundou-se e bem. Não coloco aqui a capa por uma questão de decência e porque já sujei o blog no passado com coisas desse género e o cheiro demorou meses e paletes de posts até sair. Quanto à “notícia”, o líder dos Super Dragões não precisa de ninguém que o defenda mas a forma absurda como é introduzido pelo jornal com uma chamada de atenção tão berrante quão despropositada, onde a sinédoque de um único portista aparecer “no centro dos confrontos” quando dezenas de retardados procuram aterrorizar todo o ambiente que rodeava os adeptos, só me faz pensar no depósito de confiança que qualquer adepto de futebol coloca quando compra um jornal destes, que alia o mau gosto das capas a algumas pseudo-notícias que devia fazer com que fosse fechado e obrigado a transformar as rotativas em qualquer tipo de máquina ao serviço do bem da comunidade. É este o melhor exemplo do quarto poder, o condicionamento de almas e mentes que é tentado continuamente por este tipo de súcia anti-portista (anti-o-que-quer-que-dê-jeito, para ser correcto) que insiste neste tipo de highlightificação do pormenor, esquecendo o pormaior. Gostava que não houvesse nenhum leitor do Porta19 que alguma vez desse algum dinheiro a ganhar à Cofina por intermédio deste jornal. Palavra que gostava.

E no comunicado do Sporting, que li sem grande atenção, chamou-me a atenção a secção sobre Rui Patrício. Cito:

“Nas bancadas foram colocados vários cartazes (com acabamento gráfico profissional e por isso de acesso altamente questionável) exibidos por adeptos da equipa da casa, com frases provocatórias dirigidas ao Rui Patrício enquanto guarda-redes da Selecção Nacional. Sabendo-se que há proximamente um play-off importante para a nossa Selecção, esta atitude demonstra uma mesquinhez regional, não compatível com o Seculo XXI em que vivemos, e como tal um desrespeito por Portugal”

E o aldeão sou eu? Os mesmos dementes que colocaram o “invasão à aldeia” em enormes panos no próprio estádio apenas uma semana antes aparecem agora com um manto impoluto, recheado de pequenos provincianismos nacionais, falácias e defesas de virgens que só o são se nasceram no início de Setembro.

Hipocrisia: o teu nome é Sporting.

13 comentários

  1. Totalmente de acordo. Com o Manhoso, o Rascord desceu a níveis que julgava impossíveis. O comunicado dos viscondes falidos é ridículo, começando pela parte de omitirem o comportamento dos seus comandos de extrema direita

  2. Eu, que nada tenho a ver com isto, concordo contigo no que escreveste. O resto do comunicado do Sporting, o pormaior, tem alguns pontos que mereceria discutir. Há claramente um problema nos jogos grandes no Dragão. Os cartazes, as galinhas nos relvados, isso é tudo jogo, tem piada e toda a gente devia fazer igual. O resto, as histórias das salas dos treinadores, do staff, dos acessores de imprensa, é um bocadinho oitenteiro demais. O futebol já não é isso.
    Tal como já te disse há alguns anos, são atitudes de adepto. Quando uma direção se comporta como um adepto lambda, os adeptos sentem-se legitimados nas barbaridades e depois ardem autocarros, voam calhoadas, criam-se claques de fachos, e depois os putos deixam de ir à bola. Não estamos nos anos oitenta, não há desculpa para não receber bem seja quem for. E não, o facto de “eles fazerem o mesmo” não é desculpa.

    Why won’t they think of the children? Why?

  3. Bom dia Jorge,
    A parte da aldeia, já mete um bocado de nojo, visto que é na aldeia que estão os troféus que eles sonham (e não passa disto) ter.
    Grande texto, até venho pedir permissão para poder postar o link da noticia pelas redes sociais, se possível.

  4. E quanto aos media, ui se tens razão. A SportTv um dia destes interrompeu a transmissão do Belenenses – Académica para a Taça para transmitir o aquecimento do jogo do Sporting. Dir-me-ás que se limitaram a passar o jogo para outro canal, mas digo-te eu que é um filme mudares de canal quando estás em streaming. Sacanas.

  5. Caro Jorge,

    Só para informar que do meu bolso nunca saiu um tostão para esse pasquim

    Os teus leitores são puros.

    Um abraço,

    Vasco

  6. Dedicada aos citadinos da capital do Império em geral e aos viscondes falidos em particular:

    Deixa-me rir
    Essa história não é tua
    Falas da festa, do Sol e do prazer
    Mas nunca aceitaste o convite
    Tens medo de te dar
    E não é teu o que queres vender

    Deixa-me rir
    Tu nunca lambeste uma lágrima
    Desconheces os cambiantes do seu sabor
    Nunca seguiste a sua pista
    Do regaço à nascente
    Não me venhas falar de amor

    Pois é , pois é
    Há quem viva escondido a vida inteira
    Domingo sabe de cor
    O que vai dizer Segunda-Feira

  7. Caro Jorge,

    Normalmente mantens-te salutarmente afastado deste este circo trise que se monta ao redor do futebol jogado, mas ainda bem que abriste esta excepção.

    É completamente asqueroso o tratamento tendencioso que os media dão ao FCP.

    O pior de tudo para mim é verificar que amigos e conhecidos que tenho em boa conta, deixam-se embalar nas mentiras muitas vezes repetidas, e fazem eco destas e de outras notícias parecidas como se fossem verdades incontestáveis.

    Por outro lado parece incrivél como os nossos adversários (inimigos?) ainda não perceberam que este tratamento desigual é exactamente o que o nós precisamos para, apesar das incontáveis vitórias, termos ainda e sempre mais sede de ganhar!

    Sres da comunicação social, muito obrigado, continuem assim!

    Pueertô

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