No olhar de um adepto

maicon20142015

No olhar de um adepto, todas as jogadas contam. Há um restinho de quase-nada que se ergue do fundo da nossa alma e começa a puxar pela nossa voz, pelas fibras de todo o nosso ser futebolístico, que nos faz abrir os olhos e focar no homem que tem a bola e que começa uma qualquer incipiente jogada a partir da sua defesa ou no meio-campo. A bola, quer esteja sob o seu controlo ou fora do seu alcance, torna-se o ponto focal de toda a visualização do jogo, toda a esquadria que se vai desenvolvendo como se uma grid de Terminator caísse sobre os nossos olhos, transformando-os em miras telescópicas enquanto procuramos entender a melhor forma de levar o esférico para a frente. Para a vitória, para a baliza, para o idílio.

Maicon recebe a bola de Fabiano. Progride com calma. Calma demais, penso da cadeira do Dragão que me aloja e me permite olhar para o central com a autoridade de quem se acha superior e gere essa arrogância de uma forma tranquila até ao ponto da explosão em milhares de pedaços que rebentam com o nervosismo de quem, no fundo, é impotente para parar o que se desenrola em campo. Mas voltemos ao calvo brasileiro. Maicon recebe a pelota e olha para a frente. O raciocínio é difícil e ao mesmo tempo tão natural, tão habitual que o recurso à memória dos treinos e da esquematização da táctica, que deveria entrar em primeiro lugar na fila, senta-se no fundo da plateia à espera que a infrutífera revisão das recordações o activem. Passe lateral, para Danilo? Está livre, é possível, já o fiz no passado tantas vezes, o risco é quase nulo, ele recebe e se não conseguir subir com a bola pode devolver-ma ou entregar ao trinco. Not bad. E se eu rodar e enfiar a bola pelo meio para o Casemiro? Ou para o Herrera? Há mais risco, mais pernas, mais relva a trilhar, mais oportunidade de me assobiarem se falhar. Ao mesmo tempo ganho terreno, crio desequilíbrios, abano os adversários, faço-os tremer. Hmm. Ponder, ponder. O Indi está ao meu lado mas ainda são vinte metros e o outro parvo está ali perto. E se falho o passe? E se tropeço? E se a bola pára de rodar, se as leis da Física se suspendem durante dois segundos e a bola trava sozinha? Não, para ali não, hoje não, agora não. E se mandar a bola para longe? Para muito longe? Para o Tello, aquele pontinho azul-e-branco que está ali a quarenta metros? Cinquenta! Não, setenta! Mil! Está a sete quilómetros de distância e talvez seja a melhor forma de me safar disto. Já aí vem o avançado, raios te partam que tu és rápido, não parecias nada, como é que chegaste aqui tão depressa, maldito. É isso mesmo, vou mandar a bola para longe, assim não me chateiam, não me insultam. Haverá mais destas, muitas mais. Esta é só uma que já passou. Cá vai.

E normalmente a bola perde-se pela linha. Por culpa dele. Por nossa culpa. Por culpa dos demónios na cabeça. Podia ser qualquer outro jogador, o processo seria o mesmo.

13 comentários

  1. Bom dia Jorge,
    Desculpa dizer-te isto mas acho sinceramente que esta “posta” peca por vir tarde. Assino por baixo o que escreveste, mas penso que este comportamento já vem de trás. Sempre que vejo esta lentidão e indefinição de processos que os nossos centrais apresentam, salta-me imediatamente à ideia um jogador que na era Jesualdo Ferreira era useiro e vezeiro na constante paragem do ritmo de jogo. Só lhe faltava estender a manta e dormir uma soneca em pleno relvado. Este central chama-se Rolando! Até pode ser bom jogador, pode constituir um muro de betão à frente da nossa baliza, mas, raios me partam se não me apetecia entrar pelo campo dentro e dar-lhe duas mocadas para ele despachar a redondinha para longe dos seus cepos 45 biqueira larga!!!! Não consigo perceber o que faz um jogador, um defesa central parado, com a bola controlada por baixo dos pitons, completamente alheio ao jogo. Não percebo!!!

  2. Hmmm! Bonito, muito bem escrito, como é hábito, mas…muito rebuscado.

    Acho que o processo mental é mais simples, do género: “Olha a bola! Outra vez aqui, caralho!?« Pum!» (som de pontapé) Já foste!”

  3. A questão é que… se calhar não podia! Esse é o processo do Maicon, original, exclusivo, um pontapé cheio de griffe. E a lentidão a sair com a bola, cristo, tão igual aos 5 e aos 85 minutos, com 10-0 para nós ou 2-1 para os infiéis… Mas não é mau rapaz, digo eu, e ainda se faz um belo central.
    Cumps Jorge.

  4. desculpa lá, mas querer ser futebolista implica querer jogar num estádio cheio, querer ter o protagonismo, chamar a si a responsabilidade. se ele se inibe por ter a bola não pode ser jogador da bola. muito menos no Porto. a culpa não é dos adeptos.

    mas acho que ele não tem esse problema, sobretudo se a equipa lhe oferecer soluções para sair a jogar “com normalidade”.

  5. Discordo por excesso de benevolência.
    Sendo certo que no momento actual não é fácil para nenhum jogador joga fácil, qualquer outro do plantel faria melhor.
    Maicon é limitado tecnicamente, é lento a rodar e ainda por cima não apresenta qualquer vestígio de inteligência. Parece-me um tijolo de azul e branco.
    Maicon não é fraco, Maicon é mau. Muito mau, mau demais. Nem no Pedras Rubras tinha lugar.

    1. “Maicon é limitado tecnicamente, é lento a rodar e ainda por cima não apresenta qualquer vestígio de inteligência. Parece-me um tijolo de azul e branco.
      Maicon não é fraco, Maicon é mau. Muito mau, mau demais. Nem no Pedras Rubras tinha lugar.”

      carago. o que dirias tu do Stepanov…

  6. Urge arranjar um central de categoria para fazer parelha com o Indi.
    O Maicon não vai lá, demasiadas paragens cerebrais com e sem bola, no momento da posse mas também no da conquista da bola.
    Eu tinha sinceras esperanças que fosse o Reyes

  7. Chamem-me antiquado mas, quando em processo defensivo, na minha humilde opinião o que nos fazia falta era um Jorge Costa, um Fernando Couto, um Pedro Emanuel….a bola está a chegar à defesa e já está com medo do biqueiro que vai levar. Na defesa não se brinca, sempre ouvi desde puto. Para construir estão lá os médios e talvez os laterais…

    Muitos dos erros que temos cometido a defender esta época é precisamente pela dificuldade em despachar a bola para fora do estádio!! mas pronto a malta gosta é de circo e de defesas centrais a “sair a jogar”. Não é o meu caso.

    Nas opções que apresenta neste post, penso que a questão é no processo ofensivo e aí claramente o passe para o extremo deveria ser a última opção, o defesa central deve jogar pelo seguro e colocar no lateral mais próximo para este sair a jogar em tabelinhas com os médios. Aborrecido? Talvez. Simples, eficaz e seguro? Certamente.

  8. Caríssimos, perdoem-me a honestidade, mas todos esses montros sagrados que tivemos o prazer de observar, ao vivo e a cores, e que (justamente) idolatramos, eram meninos para nem sequer pensar duas vezes antes de “biqueirar” a bom “biqueirar” para onde estivessem virados, de forma algo frequente durante o jogo. Eram portugueses, eram “da casa”, jogavam de dentes cerrados e a malta não levava a mal pá… Não me lixem, Aloísios ou Ricardos Carvalhos à parte (esses sim, portentos técnicos), não podemos ter tanta esquisitice por uns pontapés de “sobe Candaaaaal” (sempre preferíveis a tentativas falhadas de fintar 2 ou 3 jogadores e sofrer um golo, penso eu de que…)

Deixar uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.