Baías e Baronis – APOEL 2 vs 1 FC Porto

 

Olhem bem para a fotografia no topo do post. Reparem na euforia do público, na celebração dos jogadores do APOEL e no ar cabisbaixo do nosso capitão. Por tantas vezes já olhei para fotografias idênticas e não fosse a diferença cromática, já fomos nós naquela posição, a festejar um golo, uma vitória, uma boa exibição. Já fomos nós que ouvindo o apito final do árbitro nos congratulamos com um jogo de raça, de correria intensa, de força de vontade, de fibra de vencedor e de empenho na vitória, na luta contra adversários hábeis, guerreiros, difíceis de bater e de ultrapassar. Aplaudimos já tantas vezes equipas de azul-e-branco no relvado ou no pelado, em directo ou diferido, ao vivo ou na televisão, já gritámos e cantámos até as nossas gargantas ficarem roucas. Hoje, depois de ver o jogo do Chipre, não me apeteceu gritar, saltar, cantar. Fiquei desiludido porque pensei que iríamos conseguir mudar a atitude e melhorar para subir o nível num jogo de campeões. Hoje, no Chipre, não mostramos nada de campeão. Nem perto disso. Notas abaixo:

 

(+) Mangala Gostei muito do puto hoje no Chipre. Foi dos poucos que conseguiu lutar de igual para igual com qualquer jogador do APOEL e conseguiu impôr o lado físico a partir do momento em que percebeu que o árbitro estava a permitir um jogo mais agressivo. Nunca encolheu os ombros e nem o penalty que lhe foi apontado fez com que ele desistisse da luta, que saísse das trincheiras como tantos dos seus colegas e fez o possível para evitar perigo para nossa baliza. O nosso melhor jogador, sem dúvida, o que diz muito do resto dos rapazes.

(+) Fernando Mais uma vez Vitor Pereira retira Fernando de campo e mais uma vez a rentabilidade do seu substituto é quase nula. Na primeira parte, para lá da forma atabalhoada como ataca todas as bolas, Fernando foi o único jogador daquela “coisa” que já um dia foi o meio-campo portista a conseguir mostrar interesse suficiente para lutar contra um adversário que trocava a bola com uma facilidade tal entre os seus colegas que parecia estarem a treinar entre pinos azuis-e-brancos. Fernando foi trapalhão mas rijo, tosco mas empenhado. E hoje, devia ter tido mais alguns como ele à sua volta.

 

(-) Falta de garra No jogo do Dragão contra o APOEL disse: “Os jogadores do FC Porto locomoviam-se com toda a intensidade de um nado morto, medo de tocar na bola mais que duas vezes e uma gritante incapacidade de gerar movimento e jogadas de ataque com estrutura e rotação de bola. O jogo de posse, como gostamos de dizer que aplicamos, assenta em dois pilares fundamentais: a posse e a procura incessante de linhas de passe para manter a posse. E o que hoje se viu foi uma equipa de matrecos humanos, em que a bola ressaltava de um para outro sem que houvesse movimentação lateral ou desmarcações para criar espaços ou para arrastar os marcadores directos. Não me vou focar num ou noutro jogador em particular porque o problema é colectivo e parece contagiar rapidamente todos os sectores.”. Não vejo necessidade nenhuma de alterar esta perspectiva, mas ela é agravada pelo simples facto de nada ter mudado. Se não fosse Mangala a encostar-se sempre aos avançados e a lutar contra eles com a força que Deus lhe deu e que o deixam aplicar, a grande maioria dos colegas perdia bolas consecutivas em duelos individuais, esperava que a bola viesse parar delicadamente às suas botas em vez de a atacar com a intensidade que era necessária e ficavam sempre atrás de qualquer anormal de amarelo que lhes tirava a bolinha como se tira um rebuçado a uma criança. Só que neste caso, a criança não chorava baba e muito ranho: apenas se resignava e voltava para trás à espera que lhe fosse oferecido mais um Mentho. E mais uma vez tive vergonha de ver aquela equipa a arrastar-se em campo, com uma lentidão e falta de intensidade enervante, sem vontade, sem moral, sem orgulho.

(-) Falta de manha Há semanas que vejo isto. Um jogador do FC Porto tem a bola nos pés, espera até ao ponto em que algum adversário se aproxima e perde a bola. Ninguém o avisa, ninguém procura criar uma linha de passe, deixam-no sozinho e pendurado de uma qualquer corda à espera da morte. Pior, o que tenho visto há algum tempo é uma ingenuidade tremenda. Sabem perfeitamente do que falo: o jogador que vai para a bandeira de canto para queimar tempo; o pontapé para a canela do oponente para ganhar o lançamento; o uso do corpo para proteger a bola; a tabelinha pensada e não apenas executada sem deixar a bola cair. Tantos truques, tanto futebol, tanta “ratice” que podia ser usada…e estamos permanentemente a tentar fazer as coisas bonitas em vez de as fazermos de uma forma prática e directa.

(-) Falta de noção táctica Se tiverem gravado o jogo ou conseguirem apanhar uma qualquer repetição, reparem na colocação do FC Porto em campo quando não têm a bola. A pressão alta é feita quase num 1-v-1, como se estivessem a jogar ao meiinho na escola ou num treino. Os extremos, que não recuam para ajudar atrás, ficam engolidos quando qualquer médio centro do adversário descai para uma ala para fazer uma tabela com um dos colegas e automaticamente há uma situação de desigualdade numérica. Os nossos médios, mandriões, recuam com medo da troca de bola fácil, ao passo que os laterais ficam colados atrás e não pressionam o adversário directo, chegando sempre tarde demais e incapazes de roubar a bola. São erros atrás de erros, infantilidades tácticas que impossibilitam qualquer jogo colectivo coerente. E se somarmos isso à indisponibilidade de ajudar os colegas em dificuldades, é impossível de tolerar. E a culpa é de quem está a olhar para eles e lhes permite que continuem a errar.

 

Aparentemente, pelo que me foi dado a analisar, ainda dependemos (quase) exclusivamente de nós. Temos de vencer os dois últimos jogos, com a condicionante que se o APOEL vencer o Zenit teremos de vencer os russos por forma a conseguir ter uma vantagem na diferença de golos. Ainda assim, este regresso às contas tão lusitanas é algo que me enche de vergonha, não tanto pela competência dos nossos adversários (que existe) mas pela nossa própria inépcia, pela nossa incapacidade de jogar um futebol condizente com a imagem que temos na Europa. Afinal de contas, estamos a dar razão a todos que pensam que a Liga Europa está alguns níveis abaixo da Champions. E até conseguirmos mostrar mais do que fizemos hoje…não fizemos a transição de volta. Vitor Pereira tem a tarefa muito difícil, mas a culpa começa a ser tanto dele como da má forma dos jogadores. Até para mim que acredito no trabalho sério e não no show-off, começa a ser complicado defender-te, mister. E não me estás a dar motivos para o fazer por muito mais tempo.

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Ouve lá ó Mister – APOEL


Amigo Vítor,

Em primeiro lugar, deixa-me ser o primeiro entre os autores do Porta19 a dar-te os parabéns pelas decisões no jogo contra o Paços. Devo ser dos poucos que acha que as presenças de Moutinho e James no banco não são consequências de nenhum castigo ou de uma censura competitiva directa ao comportamento fora de campo dos jogadores, mas sim por motivos tão mais banais que muitos não conseguem compreender por falta de bom senso ou por não aplicarem o princípio de Occam’s Razor às situações do dia-a-dia. Na minha opinião, tanto um como outro têm estado no banco…porque não estavam a 100% fisica e mentalmente. Também sou da opinião que tanto um como outro terão recuperado contra os “castores” alguma da confiança que lhes tinha vindo a faltar e acho que devem estar de volta no Chipre. Pode ser de mim, que tenho sempre fé nos jogadores e apelo sempre ao meu espírito de Padre Américo…até que me lixo e me desiludo. Não creio que corra esse risco com nenhum destes dois.

E o Givanildo, rapaz? Estiveste bem em tirá-lo e ele foi um traquina, o estupor. Mas como qualquer puto depois de partir uma chávena do serviço da Vista Alegre da mãe, foi pedir desculpa e levou uma palmada, ainda que metafórica, na patinha. Pois é, também é preciso fazer actos de contrição quando são necessários, e este foi um bom exemplo disso. Tu que o conheces deves saber melhor que eu que tipo de palha deves levar ao “burro” (não quero com isto chamar jumento ao rapaz, é só um provérbio, pá!) e por isso deixo nas tuas mãos a gestão dessas tretas. O que interessa agora, o que interessa mesmo, é o APOEL.

Mais que vencer o jogo e recuperar os pontos perdidos no grupo, acima de limpar a imagem e recolocar o clube no ponto mais alto do grupo da Champions, sinto um leve aroma a vingança no ar. Uma retribuição medieval, com forquilhas, alcatrão e penas, panelas de óleo a ferver ou snipers em torres de vigia. Qualquer coisa serve, Vitor, para pagarmos com juros o empate humilhante que permitimos aqueles rapazes. Usa o James como falso 10, o Djalma na ala, o Souza ao meio ou o Bracali na baliza. Ninguém quer saber qual é a equipa que vai entrar em campo, desde que a que saia do GSP Stadium possa olhar para o marcador e veja que o número da equipa da direita é maior que o da esquerda. Por um, três, quinze.

Temos de regressar à Invicta com uma vitória. Nada menos que isso.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 1 APOEL

Desde 2004 que vou religiosamente ao Dragão, depois de quase doze anos a fazer o mesmo no saudoso Estádio das Antas. Muitos jogos europeus me ficaram presos na mente para recordar rapidamente no intervalo de um café, como o bis de McCarthy contra o Man Utd, o 2-3 com o Artmedia ou os 4-1 à Lázio, os 3-2 ao Werder Bremen, o(s) 0-1 com o Panathinaikos ou o 2-1 ao Marselha com aquele golão do Tarik. Entre as dezenas de jogos europeus que já presenciei ao vivo, este entra directamente para a lista dos que não se esquecem. E pelos piores motivos, porque a exibição do FC Porto foi uma das piores que me lembro de ver desde há muito tempo. Foi má pelo resultado mas acima de tudo pelo futebol praticado e pelo ressurgimento daquele sentimento que me atravessava as veias nos tempos do Couceiro ou na última temporada de Fernando Santos e Jesualdo: assim não vamos lá. Foi tal a falta de fé que a meio do jogo, no meio de gritos aleatórios para este ou aquele jogador, só me colocava num imaginário banco portista, rodeado dos meus colegas e a pensar: “Mas como é que se dá a volta a isto?! O que raio se passa com eles?!”. Aqueles rapazes que hoje vi em campo, mais de noventa por cento da equipa que no ano passado me encantou, jogavam como se tivessem as mães raptadas e o adversário fosse o abdutor. Sem alma, sem empenho, sem coração. Com medo, com desnorte, com desalento. Fica o aviso: este vai ser um post longo. Vamos a isso:

 

(+) Hulk Deve ser difícil ver os colegas todos a temer ter a bola nos pés e a terem de recorrer ao rapaz da camisola 12 para resolver. E tem acontecido mais vezes do que deveria ser necessário, com Hulk a nunca fugir da luta. É frustrante, principalmente porque mesmo fazendo um jogo abaixo do que sabe e pode, Hulk é o melhor elemento da equipa. Porque tentou sempre, com remates de longe, cruzamentos ou arrancadas pela lateral, porque foi dos poucos que mesmo atrapalhado por gajos de laranja fluorescente (a sério, aquela côr devia ser proibida em camisolas de futebol e usada apenas por trabalhadores à noite na auto-estrada) tentou ir para a frente e descobrir uma forma de furar a defesa do APOEL. Se não fosse ele, mais ninguém o conseguiria. E Hulk, mesmo trapalhão, conseguiu um golo, com um paio do tamanho do falhanço do Chiotis, mas conseguiu. E compreendo a frustração dele por não ter conseguido mais.

(+) Fernando Apesar de ter saído mais cedo do que devia e ficar injustamente a ver Guarin a terminar o jogo, Fernando foi essencial para tapar o pouco que conseguiu dos ataques cínicos do APOEL. Quase sempre era o único homem a correr com a cabeça no sítio, usando o corpo para retirar a bola aos adversários e anulando várias jogadas pelo centro do terreno, especialmente em bolas pelo chão. Tentou algumas vezes arrastar jogo para a frente mas nunca o conseguiu porque insiste em enfiar-se na toca e ficar rodeado por adversários que, mais inteligentes a defender que ele a atacar, lhe tapam os espaços e o obrigam a recuar. Mas fez tudo o que podia para ajudar a equipa, o que hoje não foi nada mau.

(+) Adeptos do APOEL Eram aí uns três mil e cantavam como se fossem dez vezes mais. Fiquei impressionado pelo apoio permanente durante noventa minutos, com as cores fortes a inundarem o panorama sombrio de uma noite triste, e os sons que saíam das vozes e dos tambores bem sincronizados alegraram a festa, que só o foi para eles. Até o Poznan fizeram, seus demónios cipriotas! Ficam os meus parabéns e a homenagem ao que deve ser o apoio de uma claque nas deslocações da sua equipa, algo que as nossas também fazem mas sem o mesmo nível de sincronismo e perfeição. Estilos, cada qual tem o seu.

 

(-) Falta de empenho A primeira parte foi digna de Dario Argento. Os jogadores do FC Porto locomoviam-se com toda a intensidade de um nado morto, medo de tocar na bola mais que duas vezes e uma gritante incapacidade de gerar movimento e jogadas de ataque com estrutura e rotação de bola. O jogo de posse, como gostamos de dizer que aplicamos, assenta em dois pilares fundamentais: a posse e a procura incessante de linhas de passe para manter a posse. E o que hoje se viu foi uma equipa de matrecos humanos, em que a bola ressaltava de um para outro sem que houvesse movimentação lateral ou desmarcações para criar espaços ou para arrastar os marcadores directos. Não me vou focar num ou noutro jogador em particular porque o problema é colectivo e parece contagiar rapidamente todos os sectores. Se os defesas centrais, incapazes por natureza de criarem desiquilíbrios no ataque, se reduzem a trocar a bola lentamente enquanto a outra equipa se recoloca na posição certa, a jogada morre. Se os médios no centro do terreno ficam a observar a posição do adversário em vez de tentarem alterá-la, a jogada morre. Quando a bola chega ao extremo e não está lá o lateral ou o médio interior para lhe dar apoio, a jogada morre. E o que mais custa ver, para lá da falta de vontade de mudar o status quo, é o desinteresse. É o jogador que vê o adversário a chegar primeiro à bola com uma consistência granítica e recua porque já desistiu antes de tentar. É o defender um contra-ataque na lateral em vez de o fazer no centro para impedir remates. É ver bola atrás de bola a serem desperdiçadas porque o adversário empurrou ligeiramente o ombro e o corpo não resiste nem descobre força nem ânimo para ripostar. É tudo que fez do FC Porto o que é ser negado em noventa minutos de angústia. E é, perdoem-me o vernáculo, uma puta duma vergonha.

(-) Incompreensível ingenuidade competitiva Sou incapaz de perceber o que se passa a este nível. Seja o pontapé de bicicleta de Kleber, as hesitações de Moutinho ou o adornar excessivo de Otamendi, há qualquer tipo de vírus a afectar a confiança e a maturidade da equipa. Todo o jogo vi rapazes do APOEL a chegarem primeiro à bola e a recuperarem-na facilmente com um ou outro empurrão que faziam os jogadores do FC Porto desistir dos lances ao primeiro contacto. Quedas a mais, amarelos a mais e agressividade a menos, sinais evidentes que não se quer porque não se pode e não se consegue porque não se tenta conseguir. Houve um lance em particular que me deixou com vontade de comer uma caixa de Prozac: um jogador do APOEL está deitado na área, já para o final do jogo, não sei se caiu por falta ou se está a queimar tempo. A bola está na nossa posse e os jogadores vão rodando o esférico para a lateral até chegar a Varela. Os cipriotas, inteligentes, ratos, astutos e com a mentalidade de equipa pequena que ganha pontos, tiram a bola a Varela para dar um lançamento a nosso favor. Mal a bola sai, saem disparados também os mesmos laranjas a correr para o nosso Silvestre, a provocar, a picar, a empurrar e a pressionar. Típico, costumeiro, nada que nós próprios não façamos noutros jogos. E eu, na bancada, só pensava: “não se deixem cair no engodo, continuem a andar, não é nada convosco, não ripostem, não entrem no joguinho deles…”. Mas caímos. Varela tenta sair mas lá vem Belluschi e Sapunaru e Hulk, todos para o empurrão geral que só joga a favor de quem o cria, para perder tempo, para talvez conseguir um amarelo ou até um vermelho, se o outro jogador se enervar ainda mais. Nós, os anjinhos, aqueles ingénuos que ano passado ganharam a Europa League e o campeonato e deram cincazero ao Benfica, caíram como crianças por rebuçados com convites maldosos à porta da escola. Não esperava tanta ingenuidade.

(-) Vitor Pereira Já vi este filme a acontecer algumas vezes, inclusive no FC Porto (vide Fernando Santos e Ivic na segunda passagem). O treinador não consegue colocar a equipa a jogar bom futebol e vai criando uma atmosfera de desencanto na massa associativa ao ponto de a virar contra ele. Vitor Pereira está a caminhar rapidamente para esse abismo de onde é muito difícil sair, seja por arte própria ou por talento bem controlado. Hoje foi sintomático o que sucedeu na partida e é um bom exemplo do que pode vir a acontecer no futuro. A táctica original é adequada, com Fernando a tapar o meio-campo, James solto atrás de Kleber e Hulk a descair para uma das alas para dar profundidade ao ataque. Guarin com o corpo e Moutinho com a mente funcionam como harmónico no meio-campo e Álvaro desiquilibra no flanco quando James vai para o meio. No papel, tudo bem. No campo, nada. Automatismos e consolidação de métodos: zero. Capacidade moral de dar a volta a uma situação negativa: galheta. E depois, as substituições. Mais uma vez, no papel relativamente acertadas. Sai Fernando mas mantém-se um homem alto na frente da área (Guarín) que por acaso até sabe sair melhor com a bola controlada e entra um criativo. Abre-se o flanco com Varela para aproveitar o overlap de Álvaro. Mas tendo em conta o jogo que o público está a ver, nada disto faz sentido, porque Guarín está a jogar ao nível dos juvenis do Tourizense e o Álvaro não consegue avançar em velocidade porque neste momento não a tem. Moutinho continua num momento de forma atroz e fica em campo, juntamente com Guarín. A equipa, já de si nervosa, recebe dois elementos que nada trazem de novo para o jogo e os adeptos mostram a insatisfação. Vitor Pereira tem de perceber rapidamente que está a perder o apoio dos adeptos e que com isso traz pressão extra a uma equipa que ainda não consegue sair dela. Agora, cada vez mais, os jogadores sentem que têm de vencer para mostrar que estão vivos, mas o bloqueio mental e o medo de não o conseguir assolam-nos a cada pisada na relva. E o líder, do banco, pouco pode fazer durante o jogo. Antes e depois, talvez, mas enquanto a bola rola…está a afastar os adeptos.

 

Triste? Sim. Desanimado? Nunca. Porque é nestas alturas que é preciso dar um, dois, quinze murros na mesa e perceber o que se passa com a equipa ou com a sua liderança. O que vi hoje, o que todos os Portistas viram hoje foi uma imagem degradante de uma equipa que ainda há meia dúzia de meses caminhava orgulhosa e altiva pelos relvados da Europa. Os mesmos rapazes que viram hoje foram os que esmagaram o Benfica, destruíram o Villarreal, aniquilaram o Spartak e o CSKA e desfizeram o Guimarães (ordenei por impacto e importância). Perderam o mojo? Esqueceram-se de ter fé? Desistiram de acreditar nas suas próprias capacidades? Não creio. Não quero crer. É evidente que agora toda a gente virá com casos Walteres e Kleberes e porque é que se fez A e não se fez B e se optou por C em detrimento de D. “Hindsight is 20/20”, já dizem os amaricanos e muito bem. Mas lá que as coisas não vão bem lá isso é verdade, e quanto mais cedo se descobrir o que é que se pode fazer para mudar o rumo, tanto melhor. Estarei cá nessa altura.

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Ouve lá ó Mister – APOEL


Amigo Vítor,

Da última vez que a temática “APOEL” foi abordada aqui no Porta19, os tempos eram diferentes. Vivíamos no ano da graça de dois mil e nove, nos frios meses de Outubro (em casa) e Novembro (fora) e o timoneiro da nossa nau europeia era Jesualdo Ferreira, que comandava na altura um navio que se mantinha à tona por pouco, rodeada por tubarões esfomeados e ansiosos pela queda de algumas gotas de sangue. Na equipa pontificavam nomes como Bruno Alves, Raul Meireles, Mariano Gonzalez ou Radamel Falcao. Nenhum deles por cá anda neste momento, e até o treinador já foi trocado e retrocado. Quanto a mim, era um imberbe blogueiro há apenas 5 meses, ainda procurava a melhor forma de escrever assoberbado pela enorme quantidade de autores e opinadores de qualidade que grassava (e ainda persiste) na blogosfera azul-e-branca, tentando encontrar o meu espaço. Não existia ainda esta nossa conversa, os Baías e Baronis eram insípidos e aparentemente tinha-me esquecido de dar espaços entre as linhas. Uma bestinha, é o que eu era.

E os gajos lá da ilha deram-nos água p’la barba, Vitor, tanto em casa como fora, e não fossem uns golinhos do Radamel e tínhamo-nos chateado a sério. E o que me chateia é que apanhamos sempre este tipo de equipas chatas que se lembram de fazer a época da vida deles quando nos calham em sorte na Champions. Já o Artmedia foi o que foi e nem me lembres de Dínamos nem Rosenborgues, que até me chega a mostarda à penca. Mas falando um bocadinho mais a sério, que estes não serão nenhuns Pêros Pinheiros, é preciso ganhar o jogo. Por vários motivos, mas principalmente porque a derrota contra o Zenit veio atrapalhar um bocado as contas do grupo e a altura para facilitar (ou como aconteceu na Rússia, fucilitar) já passou e os Apoéis desta vida estão aqui para serem derrotados. Tenho muito respeito pelos portugueses que lá jog…olha, sabes que mais? Não tenho nada. Paulo Jorge, Nuno Morais, Hélio Pinto. Mais o Manduca e o Káká. Raios me partam se isto não é uma equipa qualquer da Académica ou do Setúbal que se cá jogassem não metiam medo a ninguém. Ah e tal mas têm experiência de Champions. Também nós, co’a breca!

Palavra que estou à espera de uma vitória. Não sei que jogadores vais escolher para titulares (esse meio-campo deve-te estar a dar boas dores de cabeça, lá isso deve) e não faço ideia que tipo de estratégia estás a preparar. Só sei que logo à noite, quando o shôr árbitro apitar para acabar o jogo, quero bater palmas e pensar: “Ah, muito bem. Assim sim, muito bem!”. Faz-me a vontade e manda estes gajos para casa pensar como é que conseguiram na vida deles empatar com o Shakhtar e ganhar ao Zenit. E põe-nos outra vez em primeiro do grupo, que já me dói o pescoço de olhar para cima.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – APOEL vs FCP


(foto retirada d’A Bola)


Não foi fácil. Hoje de manhã, em conversa com colegas no trabalho, dizia que me parecia ser mais fácil jogar contra o APOEL fora do que tinha sido em casa, principalmente pelos espaços que os rapazes da ilha poderiam dar aos nossos jogadores. Acertei na teoria, falhei na prática. Tornamos o jogo mais difícil do que poderia ser, especialmente pela displicência de alguns jogadores e pela ineficácia em frente à baliza. A notas:

BAÍAS
(+) Falcao, quase fundamentalmente pelo golo. Que me lembre passou a maior parte do jogo em contacto com os centrais e a cair redondo no chão, sem suficiente capacidade de choque para incomodar os cavalões de amarelo. É verdade que jogou pouco apoiado fruto da táctica de “enche-o-meio-campo-com-trincos-e-atira-a-bola-para-os-extremos” de Jesualdo, mas está lento e parece arrastar-se em campo. Um bom golo, no entanto, boa recepção e excelente remate cruzado. E garantiu 3 milhões de euros para os cofres. Boa safra.
(+) Guarín. Apesar de ser complicado conseguir pensar no facto de dar notas positivas a este rapaz, a verdade é que foi talvez o melhor em campo enquanto lá esteve. Muito mexido, bom na intersecção e na saída para o ataque, só conseguia estragar as coisas quando lhe parava o cérebro (como de costume) no meio-campo e perdia a bola para o adversário. Fez um passe fabuloso para Hulk falhar um golo fácil e apesar de não ser um criativo, acabou por fazer o trabalho de que tinha sido incumbido de uma forma aguerrida e com alma.
(+) Os dois centrais estiveram bastante bem durante todo o jogo e apesar de darem algum espaço à torre careca que lá andou pelo meio, só tiveram uma falha que felizmente não deu em nada.
(+) Fernando esteve impecável e implacável em todo o jogo. Está mais desencostado dos centrais e a equipa beneficia do seu posicionamento mais subido, tanto na criação de jogadas ofensivas como igualmente como pressão dos adversários.
(+) Hesitei em colocar este ponto como Baía ou como Baroni. A táctica de Jesualdo foi uma opção pela contenção no meio-campo, num jogo que se previa agressivo e rápido numa altura em que o FC Porto não está nem uma coisa nem outra. Concordei com a entrada de Guarín, ainda que tal colocasse mais pressão sobre o trio de ataque, relegando o centro do terreno para a destruição e passe rápido para os flancos. Ainda assim, Jesualdo não tem culpa da quase total ineficácia que assolou os nossos avançados hoje, por isso apoio a aposta.
BARONIS
(-) Rodríguez não está sequer longe da forma que mostrou no ano passado, até porque o que mostra em campo não é um mínimo de forma. O homem é um peso morto, e não sei qual das palavras se adequa melhor, se “peso”, se “morto”. Lento, sem imaginação, sem criatividade (obrigado, Luís Freitas Lobo, por me enfiares a palavra na cabeça) e com uma preparação física ao nível do Mantorras de muletas, está a caminhar a passos largos para ir mudar os vidros do carro outra vez. Tem de melhorar e muito.
(-) Hulk é incrível. Mesmo. Um avançado que se preze não pode falhar aquele lance em que esteve isolado perante Chiotis. Já nem é a incapacidade de passar a bola mais de 2 vezes em 90 minutos que me incomoda mais. A displicência com que encara a maior parte dos lances de um-para-um e o facto de ser um verdadeiro Quaresma em termos de auxílio defensivo está-me a fazer uma certa febre, e começo a pensar que não vai ser fácil mudar a cabeça do brasileiro. Está a ser, quanto a mim, a maior decepção do plantel até ao momento.
(-) Um baroni curtinho: mas que RAIO foi aquele acocoramento do Sapunaru em plena grande-área quando o Mirosavljevic apareceu em frente a ele!? Estava a apertar os cordões!?
(-) O trio de ataque esteve muito abaixo do costume. Hulk esteve novamente egoísta e extraordinariamente mau no domínio de bola, não passou a bola quando devia e…bem, quase não passou a bola. Fraquíssimo também Falcao, com um falhanço escandaloso. Inúmeros foras-de-jogo, muita lentidão e zero golos. Mal também esteve Rodríguez, lento e sem ideias. O meu colega de Porta costuma dizer que Rodríguez é um jogador ímpar por ser o único extremo que não consegue passar pelo lateral contrário em velocidade. Hoje nem em velocidade nem a fintar. Fraco.
(-) A equipa continua a fazer pouca pressão, a deixar os jogadores contrários trocar a bola muito à vontade. A isso soma-se o muito espaço que se dá nos flancos, onde por exemplo o Charalambides aparecia a centrar quase sempre com muito à-vontade. Se temos laterais com extremos em frente a eles…porque é que não há entre-ajuda na defesa?!
Foi complicado mas safámo-nos. 3 milhões de euros, dois jogos ainda para jogar e os oitavos garantidos. O jogo foi uma bela seca e não fosse ser o Porto a jogar e já tinha mudado de canal há muito tempo. Vá lá, deu para rir com os nomes dos cipriotas. Será que estão a tentar bater o recorde de apelidos mais longos da história do futebol? Estão ao nível do Panandetiguiri do Leiria…
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