Antes de mais, há que dizer que o FC Porto não foi hoje banalizado em São Petersburgo. O FC Porto, por culpa própria, do treinador até aos jogadores, acabou por se banalizar. E fê-lo numa altura em que as musas conspiram para que a lei de Murphy seja levada ao extremo, porque quando tudo o que pode correr mal assim acontece, ao nosso clube actualmente acaba por acontecer, como diz o corolário, na pior altura possível. Não bastando a lesão de Kleber seguiu-se a estupidez de Fucile e algumas opções questionáveis de Vitor Pereira, qualquer um destes factores suficientes para abanar uma equipa. Mas o pior de tudo foi mesmo a forma como encaramos este jogo, lentos, conformados, pouco lutadores, sem alma nem espírito de luta, de conquista, de esforço e sacrifício. O Zenit é uma boa equipa mas nem precisava de ter o talento que mostrou porque a maneira como chegava sempre primeiro às bolas e interceptava constantemente os passes fracos e com pouca convicção fez com que o FC Porto saísse da Rússia pior do que lá tinha chegado e deixasse os adeptos ainda mais preocupados. Vamos a notas:

(+) Fernando, na primeira parte Complicado, muito complicado arranjar pontos positivos para este jogo. Pensei em dar um auto-Baía, pela capacidade inusitada de sofrimento que aguentei ao ver o jogo num café e a abafar os gritos animalescos e recheados do melhor vernáculo que conheço para evitar ser corrido de lá para fora, mas não me parecia correcto. Fernando, por seu lado, esteve bem na primeira parte, a interceptar a maioria das bolas que conseguiu e a servir como tampão na frente da área, obrigando o Zenit a descair sempre para as laterais. Na segunda parte não esteve nada bem mas as atenuantes são grandes para a fraca exibição: não sabe mais. Fernando é um jogador para aquilo e nada para lá daquilo, já o mostrou uma montanha de vezes nos últimos anos.
(-) Falta de garra / Má condição física Imaginem um caracol asmático e sifilítico a correr ao lado do Usaín Bolt. Foi aproximadamente essa a imagem que o FC Porto deixou transparecer hoje no Estádio Petrovsky. Lentos, sem força, sem intensidade competitiva sequer para a Taça da Liga, quanto mais para a prova mais importante de clubes a nível europeu, os nossos rapazes hoje desistiram de lutar por razões que só podem ser reduzidas a três hipóteses prováveis: alheamento total da imagem que passam para o exterior, com uma arrogância e soberba que os levou a assumir que este jogo seria fácil; incompreensão do modelo de jogo; ou a terceira…falta de pernas. Não aceitaria a primeira nem me pareceu tal coisa, porque vi os jogadores de braços caídos (a imagem de Álvaro quando é ultrapassado por Danny no final do jogo, numa altura me que pensei: “vais-lhe dar uma charutada e és expulso”, só para ver o uruguaio a lamentar a corrida mais intensa do número dez do Zenit) e se fosse esse o caso, o mais provável seria começarem a entrar em pequenas vinganças como Guarín na final da Supertaça. A segunda parece-me possível, tendo em conta a rotação de plantel e esquematização táctica que tem vindo a ser praticada. A terceira…custa-me a entender, mas é a mais provável de todas. Ainda assim, com todas as limitações físicas do mundo, não há nada que justifique a atitude que vi durante o jogo, com jogadores que representam o meu clube a desistirem de bolas fáceis, a optar pelo jogo directo para jogadores como Hulk ou Varela em vez de escolher o caminho mais difícil mas muito mais lucrativo que é o que sabemos fazer desde há um ano, a posse, a troca de bola entre os jogadores do meio-campo com envolvimento lateral simples e que acima de tudo obriga o adversário a correr atrás do esférico. Mas dá trabalho. Dá muito mais trabalho e é muito mais exigente que mandar um pontapé para longe. O rant vai longo e já merecia um post só dele, por isso termino com isto: é visível que os rapazes estão fisicamente em baixo. O que fazer? Aceitam-se sugestões.
(-) Fucile Já tentei e continuo a não conseguir perceber o que é que pode passar pela cabeça de um jogador profissional experiente para fazer uma estupidez daquela magnitude. Palavra que não consigo. A maneira como Fucile tenta dominar a bola já é sintomática de uma perspectiva permissiva e pouco empenhada no gesto que está a desempenhar. E depois: o regresso à tenra infância, numa mão que tem tanto de absurda como de desrespeitosa para com os colegas, o treinador e os adeptos. É o acto de um jogador que não está bem, que voltou a ser aquele Fucile de duas caras que nos habituamos a lamentar ver em campo porque não é de confiança e nunca se sabe o que vai fazer quando a bola chega perto dele. Sapunaru, como já o disse no passado, é neste momento a melhor opção para o lugar de defesa-direito. Mesmo lesionado.
(-) Vitor Pereira O jogo não foi fácil, como se previa. Mas Vitor Pereira mais uma vez atirou com dois ou três toros de madeira para uma fogueira que estava a crescer sem bombeiros à vista. A entrada de Varela para a saída de Kleber é uma ideia razoável, tendo em conta que o avançado alternativo para manter o esquema de 4-3-3 seria sempre Hulk, e não mudava grande coisa. Até aí, apesar da forma de Varela me fazer pensar que o rapaz está com vontade de fazer tudo menos jogar futebol, não me incomodei. Mas ao intervalo, a saída de James para entrar Souza e acima de tudo desviar Fernando para a direita, o único que percebia e conseguia manter a agressividade a meio-campo, é uma má opção. Compreendo o que quis fazer, mas discordo. A partir daí Moutinho e Belluschi continuaram a houdinização do meio-campo e Fernando, perdido na lateral, servia mais para colocar os avançados russos em jogo do que para ajudar a equipa. A desagregação que se tinha visto contra Feirense e Benfica manteve-se e em campo estava uma imagem tuberculosa do FC Porto, sem interacção entre sectores e com uma disposição táctica que ninguém conseguiria manter estável e unida. Foram mais algumas apostas que correram espectacularmente mal e continuo com a ideia que Vitor coloca fé demais nos jogadores e na sua capacidade em jogo. Não chega simplesmente dizer-lhes: “vais fazer A ou B”, porque a grande maioria das vezes não é o que acontece. A pressão que tem colocado em cima de si é exagerada e a culpa é em grande parte dele próprio.
Os cento e dezoito anos de história do FC Porto não se fizeram só de grandes vitórias e de passeios triunfais por Portugal e pela Europa. Há também momentos como o de hoje, em que tudo corre mal e nada parece ser possível fazer para melhorar o estado mental e físico dos jogadores que representam o nosso emblema. É nestas alturas que temos de dar a volta por cima e procurar soluções para os diversos problemas que hoje são visíveis e que aqui há duas semanas pareciam não existir. Vitor Pereira tem de descobrir a melhor forma de reanimar uma equipa que está de rastos, concreta e metaforicamente, e cada vez tem menos tempo e oportunidades para o fazer.