Como ganhar ao Barcelona? (II)


Segunda parte do manual táctico para conseguir ganhar ao Barcelona. Acaba aqui porque a terceira parte vai ser dada por Vítor Pereira na 6ª feira à noite, em pleno Estádio Louis II no Mónaco. Foi aqui que leram pela primeira vez, lembrem-se disso!

  • Esquecer marcações individuais e só pressionar a zona

Marcar Messi homem-a-génio não é fácil, para não dizer possível. Com aqueles passos rápidos e pequeninos, correrias loucas, drible curto e controlo de bola perfeito, ou se traz de volta o Paulinho Santos com um jarro de esteróides ou a tarefa está ao nível de um bom cruzamento do Folha: não é impossível, mas é incrivelmente difícil. Ainda por cima não vejo nenhum jogador no nosso plantel com as características para marcar Messi em cima (o Castro era capaz de o fazer, tinha pulmão para isso…mas talvez fosse rapidamente expulso, é melhor não arriscar). O mesmo funciona com as marcações a Xavi ou Iniesta, pelo que temos de esquecer qualquer tipo de marcação ao homem. A zona criada tem de ser pressionante ao ponto de os obrigar a recuar com a bola para os centrais e impedir o overlap dos laterais.

  • Dar o litro

Fomos muito compactos e lutámos por cada metro, demos tudo. Fomos aquilo que tínhamos combinado antes do jogo.
Wesley Sneijder
Vitória pelo Inter na Champions’ League em duas mãos, Abril de 2010

Pois é, custa. Ainda por cima em início de época, quando os joelhos ainda rangem, os gémeos puxam e o pulmão ainda não aguenta tudo. Mas é a única hipótese. Relaxar frente a uma equipa como o Barcelona é a morte do proverbial artista, porque se há um grupo de jogadores peritos em encontrar espaços nas paliçadas adversárias, são estes que vamos encontrar na sexta-feira à noite. E é um estupor duma vergonha perder o jogo porque não estavam com vontade de jogar à bola. Se perdermos, que seja pela diferença de talento que é inegável, mas nunca por falta de empenho. Mas não vamos perder, pois não? Não!

  • Controlar o ritmo de jogo

É conhecida a capacidade fantástica do Barcelona para controlar a dinâmica do jogo através da posse de bola. Basta olhar para as estatísticas e observar os passes laterais e os já famosos triângulos a meio-campo e perceber que essa estratégia faz com que os jogadores adversários passem o jogo todo atrás da bola quase sem a ver ao perto, o que enerva qualquer equipa. É natural que a bola terá de ser mantida durante tanto tempo quanto possível por forma a impedir que o Barcelona fique com ela, porque a partir daí torna-se muito mais complicado gerir o jogo. Enquanto tiverem a bola, é muito difícil jogar porque a atitude se torna reactiva e raramente criativa.

  • Segurar as emoções

Os catalães não têm problema nenhum em exagerar na reacção ao contacto físico e a jogar como putos com o pai a ver. Fazem muita fita, provocam o adversário, agem como se uma entrada banalíssima fosse um ataque com ICBMs e pressionam mais o árbitro que o Fernando Couto fez ao José Pratas. Jogadores como Dani Alves e Villa são peritos nesta arte e conhecendo os nossos meninos, já sei que é muito provável que se deixem cair na esparrela e isso não pode acontecer.

  • Rezar ao Deus da Latrina para dar uma enorme diarreia aos jogadores do Barcelona na sexta-feira de manhã

Já tentaram? Eu ainda não por isso não sei se funciona. Dava muito jeito e tenho fé no fulano.

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Como ganhar ao Barcelona? (I)

Há qualquer frase sobre o Rossio e um beco lá perto, que o povo usa para metaforizar uma grande dificuldade. Esta sexta-feira, contra o Barcelona, adequa-se qualquer tipo de comparação que espelhe a tarefa que está pela nossa frente. Depois de alguma pesquisa sobre os adversários que conseguiram vencer o Barça, somei a minha própria opinião e compilei um pequeno guia em duas partes para quem quiser ganhar aqueles gajos. Não é garantia de sucesso, mas pode ser uma ajuda. Aqui vai a parte I:

  • Criar uma estrutura compacta em campo

Tivemos de construir a nossa estrutura de uma forma curta e estreita para lhes dificultar a tarefa de encontrar jogadores entre as linhas.
Quique Flores, treinador do Atlético Madrid
Atlético Madrid 2-1 Barcelona, 14/Fevereiro/2010

A estratégia primária é a de fechar a equipa no terreno. A zona entre o meio-campo da área tem de ser compacta como uma centúria romana em formação de tartaruga, deslizando o suficiente para cortar as linhas de passe e impedir que a bola chegue aos pontos mais avançados do campo. “Float like a butterfly, sting like a bee”, dizia Cassius Clay. É isso que temos de fazer, com menos ênfase na metáfora entomológica e mais na tradução dessa frase para o relvado: quando estivermos a defender, não pode passar nada. A teoria é a mesma, por muito que nos custe a todos assumir o papel do underdog, que a grande maioria das equipas que aparecem no Dragão para sacar um pontinho. Duas linhas defensivas, uma mais próxima da área e a outra aí uns 15/20 metros mais à frente, que funcionam como um harmónico, subindo e descendo à medida que o jogo vai fluindo. E depois…é aguentar, com paciência, com MUITA paciência, basculando a formação à medida que vai sendo necessário, com a linha mais subida a procurar a bola e a pressionar o que a tem, ao passo que a mais recuada tem de estar muito atenta às movimentações de Villa e Pedro pelas alas.

  • Limitar subidas de Busquets ou Piqué

A nossa ideia principal foi a de pressionar os defesas deles e não permitir que trouxessem a bola de trás para a frente.
Manolo Jiménez, treinador do Sevilha
Barcelona 1-2 Sevilha, 5/Janeiro/2010

É uma das armas mais fortes que o Barcelona usa quando não sabe mais o que há-de fazer para furar uma defesa bem organizada. Piqué ou Busquets pegam na bola vindos de trás e zarpam por ali fora como uma carga de cavalaria mongol, destroçam os médios criativos e agitam os defensivos. Não se podem permitir esses avanços sob risco de fazer desmoronar a solidez da equipa. E levar uma carrada de amarelos.

  • Tentar remates de longe

Xavi e Iniesta, peças-chave na equipa, raramente descaem para perto da sua própria área. Este estilo de jogo no meio-campo abre espaços para remates de meia-distância.
Kurban Berdyev, treinador do Rubin Kazan
Rubin Kazan 2-1 Barcelona, 20/Outubro/2009

Não será propriamente a nossa maior arma de ataque, mas é inegável que temos (pelo menos) dois bons rematadores: Hulk e Guarín. Associados à capacidade recuperadora de Moutinho e que lhes pode colocar bolas em boas situações, ambos jogam em zonas que lhes permitirá aproveitar espaços perdidos, particularmente em contra-ataques, porque com a passada larga de Guarín e a velocidade de Hulk podemos criar uma ranhura onde pode sair um “prego” daqueles que de vez em quando correm bem…e a bola pode ir lá para dentro. Há que tentar, pelo menos.

  • Aproveitar espaço deixado pelas subidas dos laterais

Os laterais deles, Dani Alves e Eric Abidal, tendem a jogar subidos e ao longo da linha e deixam algum espaço no centro.
Kurban Berdyev, treinador do Rubin Kazan
Rubin Kazan 2-1 Barcelona, 20/Outubro/2009

Dani Alves e Abidal, ou qualquer um que jogue nas mesmas posições nas laterais, gostam mais de subir que um elevador bem-disposto. A tarefa mais difícil deste encontro, especialmente tendo em conta as características dos nossos rapazes que jogam directamente à frente deles (Hulk e Varela, previsivelmente), não são os melhores defesas do mundo. Até se podem esforçar, mas a maior parte das vezes não tapam a linha como deviam. O médio-defensivo não vai estar lá para os ajudar porque tem de se ver com Messi, Xavi e Iniesta, por isso os dois rapazes que estão em frente às setas das alas…tem de fazer o jogo da vida deles.

 

Amanhã segue a parte II, para não encherem muito a cabeça com tácticas e estratégias.

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