Porta19 entrevista PETZL (uniaodeleiria.blogspot.com)

Continuando a rubrica que abri aqui com a entrevista a Wim Nijst,  continuei aqui em conversa com João Paulo Meneses do Reis do Ave, e a última foi a Carlos Ribeiro, co-autor do Vimaranes. Hoje, com o próximo encontro com o União de Leiria a caminho, pus-me no paleio com PETZL, o gestor do maior blog do União de Leiria na web, o uniaodeleiria.blogspot.com:

Porta19: O Leiria começou bem o campeonato mas foi recentemente eliminado da Taça. O FC Porto será o adversário ideal para voltar às vitórias?

PETZL: Cada competição tem características próprias. E se na Taça de Portugal a UD Leiria foi eliminada por uma equipa de escalão inferior, no campeonato vem de uma vitória convincente e moralizadora frente à vizinha Académica, que vinha a merecer destaque pelo bom arranque de campeonato, mas que já se encontra empatada com a UD Leiria com os mesmos 11 pontos. Um jogo com um Fc Porto, que vai liderando a Liga Zon Sagres em ritmo de passeio, acaba por ser mais um tónico para este lote de jogadores, alguns com inegável qualidade, que certamente aproveitarão a montra que é um jogo frente ao Fc Porto para mostrar aquilo que melhor sabem fazer.

Porta19: Quem são os jogadores de maior potencial no plantel do Leiria para 2010/2011?

PETZL: Começando pela baliza, onde ano após ano a UD Leiria vai revelando excelentes guarda-redes, como foram os casos de Helton e Fernando. Este ano Eduardo Gottardi promete dar que falar.
No meio campo, merecem destaque o “velhinho” Silas e o recente reforço Leandro Lima, ambos bem conhecidos dos adeptos portistas.
Na frente de ataque, Carlão parece ter reencontrado o caminho das balizas adversárias, agora acompanhado pelo regressado N’Gal.

Porta19: Depois da saída de Lito, Caixinha é o treinador desejado pelos adeptos? Depois de uma pré-época tão atribulada, o ambiente está mais sereno?

PETZL: Sem dúvida que o ambiente está mais sereno. Mais importante do que ser desejado pelos adeptos, Caixinha parece dar-se bem com os jogadores e eles com ele. É um treinador jovem, ambicioso e muito trabalhador. Diz quem o conhece que lhe faltará algum “pulso” para manter os jogadores “na linha”, o que terá já sido colmatado com a entrada do recém contratado Sá Pinto para seu adjunto.

Porta19: Com a imprensa tão tri-polarizada em Portugal, como é que vê o desprezo a que são votadas as equipas de dimensão mais pequena?

PETZL: Essa é uma contrariedade com que nos debatemos diariamente e uma das principais razões que levaram à criação deste nosso espaço de debate e de divulgação das actividades do clube. É um problema cultural com muitos anos de existência. O mesmo que faz com que seja mais fácil encontrar em Leiria um adepto do Benfica, Porto ou Sporting, do que propriamente um unionista. E quem diz em Leiria, diz em (quase) todas as outras regiões do país.
Continuamos a defender a máxima de que se deve apoiar o clube da nossa cidade! Se não forem os habitantes de Leiria a apoiar o seu clube mais representativo, quem o fará? Urge alterar mentalidades, sob pena de, em poucos anos, desaparecerem grande parte dos clubes que hoje compõem as principais divisões nacionais.

Porta19: O teu blog é o mais representativo da União de Leiria na Internet. De onde vem a motivação para escrever depois de um dia de trabalho?

PETZL: O uniaodeleiria.blogspot.com nasceu precisamente pela constatação da falta de informação sobre a UD Leiria na internet, muito por culpa da inexistência (à altura) de um site oficial do clube actualizado. Com quase 5 anos de de existência, este blog é fruto da colaboração de 3 adeptos (e sócios!) fervorosos, que insistem em remar contra a maré. Queremos acreditar que servimos de inspiração para outros projectos ligados à UD Leiria que entretanto foram criados e inclusivamente do próprio site oficial.

Porta19: Ainda há esperança para a maioria dos blogs Portugueses de futebol ou a inspiração está a definhar em função das redes sociais e dos fóruns de discussão?

PETZL: Sou da opinião que o formato blog, se não for repensado, terá os dias contados. A facilidade de publicação de artigos e comentários e a dinâmica oferecida pelas redes sociais, como é o caso do Facebook, tornam muito mais prática a discussão, em tempo real, sobre qualquer temática. Este é um assunto que temos debatido internamente e sobre o qual deveremos tomar uma posição brevemente.


Aproveito para agradecer ao PETZL pela disponibilidade. É um gosto trocar ideias com pessoas que vibram e sentem o seu clube por dentro e por fora. Espero que seja um excelente jogo e que consigamos vencer e continuar a carreira à imagem da nossa cidade. Invicta.

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Jornalisticidades

A football reporter in the provinces is in a position which is privileged yet at times almost impossible. He is privileged because representing the local paper is a golden key that opens most doors. You can build an unrivalled relationship with the manager and the players because you are in contact with them every day. A spurious intimacy evolves between you. You share so much with the characters you write about that you can pretty much corner the market in quotes.

Of course, that access comes at an exorbitant cost. Closeness to the team, and any emotional attachment to it, horribly distorts the line between candid reporting and scarf-waving support. Too many journalists succumb, seduced by the insider knowledge fed to them, and begin to identify with the glory or misfortune of their team. The football world soon divides into ‘them and us’. It is all too easy to become overprotective or self-censoring, so that criticism is either wrapped in cotton wool or disguised in nebulous, worn euphemisms. Contacts become friends, and human nature takes over. You don’t want to lose your place at the manager’s table.

Duncan Hamilton
in “Provided you don’t kiss me – 20 years with Brian Clough”

Se incluirmos a malícia que nasce dos comportamentos naturalmente humanos descritos por Duncan Hamilton, temos aqui uma descrição quase perfeita do que sucede com a maior parte dos jornalistas da nossa praça. Não há muito que pensar, é o que acontece com a naturalidade de um miúdo de 4 anos perguntar porque é que a mãe estava com dores e o pai a estava a tentar matar quando acidentalmente abre a porta do quarto numa altura indevida. É chato e toda a gente preferia que não acontecesse…mas agora não há nada a fazer. Os lados foram tomados e não há hipótese de inverter as posições. Só temos de os aturar.

EDIT: Não querendo tornar o post muito político e menos ligado ao futebol, temos um bom exemplo sugerido pelos comentários a este mesmo post no vídeo que podem encontrar neste link. O programa é “A Voz do Cidadão”, emitido na RTP este sábado à noite. Obrigado pela sugestão, rapazes.

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Um Baroni para Baía

O país futebolístico está agitado com as declarações de Vítor Baía a uns miúdos numa escola.

Contextualizando, para aqueles que ainda não ouviram ou leram, ficam aqui:

“Se a carreira que fiz tivesse sido feita no Benfica ou no Sporting, a repercussão teria sido outra”

“O F.C. Porto é um clube muito fechado em si próprio. Não faz tudo o que está ao seu alcance para potenciar a imagem dos seus jogadores antigos”

“Posso voltar, claro. Há uma ligação muito forte entre as duas partes. Espero ainda ser muito útil ao meu clube.”

Foram estas duas frases que alvoroçaram a blogosfera (mais a não-portista que propriamente a nossa, admita-se) que se lançaram imediatamente em teorias porque está feito com Pinto da Costa, dizendo mal do clube para se distanciar e se tornar um candidato à FPF, e porque blá blá yadda yadda e o costume.

Hoje, Vítor veio a público novamente, e as frases foram um bocadinho diferentes:

“O F.C. Porto está no meu sangue e, sim, tenho ainda muito para dar ao clube”

“Tenho momentos marcantes na minha carreira que por eu ser jogador do F.C. Porto não tiveram o destaque merecido por parte de alguns órgãos de comunicação social, que são rápidos e não olham a espaços para destacar os feitos de companheiros de profissão de outros clubes”

“(…) as conquistas internacionais poderiam ter sido potenciadas de outra forma”

“Em relação à política desportiva conduzida pelo presidente, sempre a defendi, e os resultados assim o comprovam”

Compreendo que o pessoal fique chateado. A luta permanente do FC Porto contra as influências dos clubes da capital sobre a imprensa, sobre uma comunicação social que permanentemente minimiza e rebaixa as vitórias do nosso clube é exactamente disto que se alimenta, destas pequenas questões e declarações que fogem um pouco da estrutura monolítica de uma só voz que o FC Porto manifesta (e bem) para fora, da união que habitualmente mostramos, da solidez do discurso e da estoicidade da nossa postura.

E é exactamente por isso que nos caiu tão mal aquela primeira frase! Pois se lutamos contra um centralismo amordaçante, se nos revoltamos contra uma imprensa que salienta os podres em vez de enaltecer as virtudes, se por muito que façamos e ganhemos raramente vamos ter o reconhecimento que outros conseguem apenas por respirarem…o facto de um dos nossos principais ícones falarem desta forma é uma derrota antecipada, uma manifestação que nada há a fazer senão baixar os braços e reduzir-mo-nos à insignificância a que somos constantemente votados!

Tenho uma admiração especial por Baía, admito. Fui o autor do primeiro site Português de homenagem ao rapaz há mais de 10 anos e sempre foi um símbolo do clube. Não o conheço pessoalmente, falei apenas com ele uma meia-horita, por isso não posso dizer se é boa ou má gente. Não o tenho por arrogante nem mal-agradecido e acredito que não tenha ficado satisfeito com a forma como saiu do clube, quer por querer fazer mais (ou diferente) lá dentro ou por algum tipo de incompatibilidade com a gestão vigente, mas não gostei de ler o que disse.

Fica mal a um símbolo do clube anunciar ao mundo, ainda que com o mínimo de interesse em prejudicar a instituição que tudo lhe deu, que teria tido uma vida melhor se tivesse jogado por outros clubes. Acredito que Baía não quis dizer que preferia ter jogado nesses clubes, mas que não lhe fica bem, lá isso não fica. E não cai bem em nenhum Portista ver um dos que muitos ainda consideram um futuro presidente do FC Porto a elogiar a capacidade de captivação mediática de outros clubes em desprimor do seu. Até pode ser verdade, mas não fica bem.

É de experiência que digo que ninguém está imune a críticas, mesmo aqueles que admiramos. Os ícones muitas vezes têm pés de argila mole e se acham que estou a exagerar, vão perguntar ao pessoal que deu o dinheiro ao Pedro Caldeira para ele investir em nome deles. Pois.

PS: Agradeço os oportunos (e brincalhões) comentários no post anterior sobre a eventual necessidade de mudar o nome da rubrica de análise dos jogos. Não o farei por vários motivos mas principalmente porque Baía foi, é e continuará a ser o melhor guarda-redes (e um dos melhores jogadores) que já passou pelo meu clube. E só por isso, como já ouvi dizer, até pode atropelar velhinhas que o pessoal aplaude. Por isso obrigado, malta, mas para mim, Baía continuará a ser Baía. Mesmo que por vezes lhe saia um ou outro Baroni da boca…

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Baías e Baronis – Besiktas vs FC Porto

Foto retirada do MaisFutebol

Estes jogos às seis da tarde são uma bela duma borrada, devo dizer. Um gajo tem de sair mais cedo do emprego sem grande plausibilidade para desculpas, arrisca-se a ver o jogo num ambiente fora do normal onde por vezes (hoje não foi o caso) tem de aturar gajos que não percebem nada de bola a mandar postas e a única grande vantagem é que nos livramos do trânsito. Mas hoje…hoje valeu a pena. Para além de estar com boa malta ao lado (o excelente cronista do Dragão Crónico) e mais alguns amigos, o jogo foi emocionante, bem jogado, com lances bem pensados e uma constante incerteza no resultado. Vencemos muito bem num estádio difícil, contra 11 turcos mais um espanhol (ver abaixo o último Baroni), lutámos e houve esforço e sacrifício do individual em favor do colectivo. Ah, e houve Hulk. E depois outra vez Hulk. Vamos a notas:

(+) Hulk Marcar dois golos fora numa competição europeia é obra. Dois golos repletos de oportunismo e de inteligência, ainda mais. Atento no primeiro golo, não desistiu e aproveitou o AVC pontual do defesa, avançando certeiro para a baliza. No segundo foi mais uma vez rápido a aproveitar o excelente passe rasgado de Belluschi e desfez o rapaz que lhe apareceu à frente. Além dos importantíssimos golos, passou a segunda parte toda a correr atrás dos defesas, sendo a peça mais avançada da equipa e sempre que pegava na bola obrigava os turcos a descer 20 metros para aguentar os arranques…e acabou o jogo a cair para o lado. Mas feliz, só pode.

(+) Helton E o nosso capitão mais uma vez a fazer jus à escolha. Deu segurança à defesa e esteve impecável durante quase todo o jogo, sem ter culpa no golo. Fez uma defesa incrivelmente importante no final da primeira parte, depois de um livre directo que resultou da falta feita por Maicon e que o fez ser expulso. Tocou na bola para canto e todo o mundo portista soltou um pequeno sopro de alívio. Impecável também quando veio em correria louca da baliza no final da primeira parte, usando o seu estatuto de capitão para afastar os jogadores do FC Porto que tentavam rodear o árbitro para protestar contra as decisões absurdas do espanhol. É isto que um capitão tem de fazer.

(+) Falcao Marcou dois golos e sofreu um penalty. Não teve culpa de encontrar um atrasado mental de amarelo que se lembrou de lhe marcar uma falta inexistente no segundo golo e de não marcar o abalroamento que sofreu no lance que devia ter dado penalty a nosso favor. Não fez muito mais no jogo mas o primeiro golo acabou por ser exactamente o que precisávamos na altura certa.

(+) Sapunaru Foi o costume, pouco inventivo e interventivo, sem subir muito no terreno e a jogar simples e prático. Hoje, era exactamente o que precisávamos e cumpriu bem o papel, especialmente na segunda parte. Pecou no golo do Besiktas porque estava aparentemente a tentar marcar a linha lateral quando Bobô se meteu entre ele e Rolando, mas perdoo-lhe devido à solidez da exibição.

(+) Espírito de sacrifício Villas-Boas salientou bem o espírito da equipa e a determinação de chegar à vitória. Se o arranque foi tremido, com o Besiktas a pressionar bem, cedo nos soltámos e conseguimos chegar com perigo ao ataque. Depois da primeira expulsão conseguimos cerrar fileiras e defender com garra uma vantagem importante até ao final do jogo, com uma segunda parte sofrida, esforçada, de luta e entrega, com as linhas a recuarem o suficiente para travar o ataque que os turcos queriam avassalador mas que raramente pôs a equipa nervosa. É verdade que o Besiktas não é uma equipa do topo europeu mas a jogar com mais um (e depois mais dois) e com a velocidade de troca de bola podiam ter causado mais perigo caso o FC Porto começasse a ceder. Estiveram muito bem hoje os nossos rapazes.

(-) Fernando Não foi um bom jogo para o Nandinho. Em parte porque cometeu muitos erros de posicionamento perante o adversário, caindo nas fintas em carrinho como fazia em 2008 quando cá chegou e causando desiquilíbrios que ninguém conseguia colmatar. Acabou por ser o jogador que mais sofreu com a fraca prestação tanto de Moutinho como de Belluschi na cobertura defensiva e fez muitas faltas desnecessárias. O lance do segundo amarelo é ridículo para um rapaz da sua experiência, o que me leva a pensar se não terá sido premeditado para o fazer cumprir um jogo de castigo no próximo confronto…mas como é contra este mesmo Besiktas, a minha teoria pode cair por terra. Ainda assim foi um jogo abaixo da média e exige-se mais a um dos elementos pivotais do onze.

(-) Meio-campo macio Fernando não fez um bom jogo mas os outros dois rapazes que jogam mais perto dele não fizeram melhor. Este jogo, aliás, expôs uma fraqueza da nossa equipa que ainda não tinha sido colocada à prova até agora: a capacidade defensiva do meio-campo sem bola. Quando o adversário, como o de hoje, troca a bola com velocidade e com agressividade nos confrontos directos, o FC Porto treme. Quando as bolas são rapidamente despachadas de uma forma directa para os flancos e se encontram rapazes como Nihat, que continua a ser um perigo quando deixado sozinho, o FC Porto não consegue dinamizar o meio-campo por forma a tapar os espaços que são criados pela movimentação adversária. Moutinho e Belluschi têm sido muito bons a trocar a bola e a rodá-la entre eles e fazendo a equipa bascular para onde é preciso…mas para isso é preciso terem a bola nos pés. Sem ela, contra equipas portuguesas que “mastigam” mais o jogo, não costuma haver problema. Os extremos recuam um pouco, os laterais sobem e fecham o flanco e a bola é recuperada com maior ou menor facilidade. Quando apanhamos equipas como o Besiktas, que não têm problema de ir ao choque, que aceleram com a bola controlada e se desmarcam rapidamente, sentimos dificuldades. A rever.

(-) Arbitragem Como sabem não é hábito falar de arbitragens. Mas hoje enervei-me com o fulano de amarelo que arbitrou o jogo. A expulsão de Maicon é merecida e não é passíve
l de crítica, mas um golo perfeitamente limpo foi anulado e um penalty que me pareceu evidente não foi marcado. Como se não fosse suficiente, a complacência perante o choque excessivo dos turcos esteve patente durante toda a primeira parte e questiono-me se o árbitro não terá ficado acagaçado com o barulho que vinha das bancadas. Este tipo de actuações coloca sempre os nossos árbitros em perspectiva, porque este rapaz não era melhor nem pior que um Paixão ou um Olegário.

Não foi fácil mas vencemos com todo o mérito. Nove pontos em três jogos, 7 golos marcados e um sofrido. São bons números que nos dão todas as hipóteses de passar à próxima fase sem que seja preciso precupações com resultados de terceiros nem fazer contas aos golos que temos de marcar para ganhar vantagem. Acho até que o pleno não está fora de alcance, basta alguma sorte e um jogo estruturado para jogos europeus, com um ritmo diferente dos caseiros…

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