Baías e Baronis – FC Porto vs CSKA Moscovo

 

Ao contrário do jogo da passada segunda-feira, em Leiria, que fez um filme de Manoel de Oliveira parecer uma obra de Jerry Bruckheimer tal foi a lentidão dos processos e movimentações dentro de campo, este foi um espectáculo muito mais intenso, com futebol diferente e que apenas não enervou mais os jogadores porque as alterações tácticas de Villas-Boas conseguiram parar a velocidade do ataque russo à custa do FC Porto mais defensivo e controlador da temporada. O que interessa nestes jogos não é propriamente o bom futebol, não são as jogadas vistosas que dão vitórias nem os remates em arco que fazem passar eliminatórias. É o esforço, a atenção ao pormenor e, por muitas vezes, a capacidade de conseguir impedir um adversário que não sendo mais forte, acabou por nos dificultar muito a vida. Ganhámos bem, passámos bem e venha o próximo. Vamos a notas:

 

(+) Fernando Para mim, o jogador da noite. Aposto que os russos, ao chegarem perto da área, pensavam logo: “Oh, pronto, lá vem esta besta roubar-me a bola!”. Sempre atento, sempre rijo, sempre a interceptar e quase sempre a sair bem com a bola controlada, o Patrick Vieira de Goiás fez mais um jogo a grande nível e mostrou o porquê de ser titularíssimo na nossa equipa.

(+) Defesas centrais Fizeram ambos um jogo incomparavelmente melhor do que tinha acontecido em Moscovo. Agressivos e bastante mais concentrados, tanto Rolando como Otamendi foram quase perfeitos a defender a zona frontal da área. A equipa russa raramente jogou pelo ar (a não ser depois da entrada de Necid, por diante conhecido como “o armário checo”) mas tanto Rolando como Otamendi estiveram impecáveis no corte e na antecipação. Continuo a pensar que Otamendi terá que melhorar o passe curto e Rolando o passe longo, mas se continuarem a defender desta forma já não me chateio muito.

(+) Guarín Produziu pouco a nível ofensivo mas usou sempre o corpo para vencer as bolas no meio-campo. O golo foi algo fortuito mas é valiosa a subida no terreno, apesar de quase não ter rematado à baliza durante todo o jogo. Mas lutou, ajudou a defender a zona central, fez vários passes extraordinários (mudanças de flanco com o pé esquerdo a 30 ou 40 metros, para dar um exemplo. Sim, foi Guarín que as fez. Não estou a inventar, foi mesmo ele!), sacou várias faltas ao adversário e sempre que pegava na bola era o único, juntamente com Hulk, que obrigava os russos a descer no terreno. Muito útil, confirma-se que rende muito mais na posição 8 do que na 6.

(+) O exemplo do segundo golo Uma obra 100% colombiana, com James a aproveitar a atrapalhação de Akinfeev depois de um atraso do defesa russo. James, inteligente, a não desistir e a conseguir um cruzamento largo que Falcao não chegou mas Guarín apareceu no sítio certo para enfiar a bola na rede. Tudo porque o puto não desistiu, lutou contra a natural inércia de recuar para a sua linha e o seu posicionamento natural e esforçou-se aquele bocadinho extra, aquele pequeno nada que foi tanto. É nestas atitudes que se faz um jogador, que se ganham afectos da bancada e que se conquistam vitórias.

(+) Villas-Boas À imagem do que tinha feito noutros jogos, Villas-Boas soube ler o jogo e perceber que o facto de ter entrado com a mesma equipa para a segunda-parte não iria funcionar porque o CSKA começou a pressionar ainda mais alto e as bolas perdiam-se uma atrás da outra. O nosso treinador pode ser inexperiente mas sabe que estes jogos se decidem por pequenos pormenores, por isso decidiu (e bem) colocar mais um elemento no meio-campo, retirando um ala que estava a ser inoperante. O jogo mudou e os 32 mil no Dragão viram o FC Porto mais defensivo da época, a estruturar um 4-3-3 que era mais um 4-5-1, com Hulk a defender a ala direita e Belluschi na esquerda, matando o jogo. O CSKA nunca mais conseguiu criar perigo e o jogo foi ganho nesse momento. Boa leitura de jogo.

 

(-) James Continuo a não gostar de o ver a jogar na ala. Não é rápido, distrai-se facilmente, não tapa o flanco, não acompanha as subidas do lateral adversário e não tem força para avançar ombro-a-ombro contra o defesa que lhe aparece à frente. Hoje foi exactamente isso, um jogador inócuo, sem efeitos práticos, com excelente toque de bola mas pouca produtividade. Nota-se que está mais solto, com maior vivacidade e com a confiança em alta, mas não chega para substituir Varela. Para Domingo, apostava em Rodríguez no seu lugar.

(-) Falcao Lento, exageradamente previsível, nunca conseguiu ser uma mais-valia muito por culpa da pressão do meio-campo defensivo e dos centrais adversários, já que sempre que conseguia receber a bola era rapidamente rodeado por dois ou três fulanos de branco que não brincavam em serviço e faziam a desfeita de lhe roubar a redondinha. Não era justo, pensaria Radamel, mas o que é certo é que nunca teve apoio para soltar rapidamente a bola. Lutou, mas não foi possível usá-lo na estratégia natural do FC Porto porque não estava a resultar e a substituição era previsível.

(-) Fucile Antes do jogo, mandou uma piada ao seu estilo. Qualquer coisa como “pode vir o Honda, o Kawasaki, o Mitsubishi”. Ora não foi o Honda que marcou o golo, mas esteve envolvido na jogada e o nosso Jorginho, que quando abre a boca normalmente sai uma tirada porreira como esta, apesar de estar a defender dois rapazes dada a inoperância de James (que estava à sua frente mas que não fechava o flanco) bem tentou recuperar e subiu de produção na segunda parte. Mas fica ligado (só por culpa dele) ao golo que Helton sofreu ao fim de umas largas centenas de minutos e devia levar um par de estalos do brasileiro. Ou então obrigá-lo a ouvir música brasileira durante 4 dias seguidos, que talvez seja punição suficiente.

Despachamos o segundo CSKA da época para chegar aos quartos mas ainda podemos apanhar pelo menos um russo ou um ucraniano, a somar a dois portugueses (não quero nenhum, obrigado), um espanhol e dois holandeses. Ou seja, lendo as coisas da minha maneira, não havendo alemães, italianos ou ingleses e se os espanhóis não forem o Real ou o Barca…há sempre hipótese de vencer a prova. Estamos a jogar bem mas acima de tudo estamos com uma estrutura tanto táctica como individual que nos permite pensar em vencer qualquer adversário que nos apareça à frente. Mas…primeiro temos um campeonato para ganhar. No Domingo vem aí a Académica e alguns destes rapazes vão ter de descansar um bocadinho porque a seguir vamos dar um saltinho a Lisboa. Pois.

10 comentários

  1. Ontem foi possível ver um jogo de futebol mais agradável, tacticamente muito evoluido e bem disputado.

    Quem possa dizer que o Porto teve uma noite tranquila, não deverá ter visto o mesmo jogo que eu. O Porto soube sim estar atento, ter um posicionamento táctico exemplar e parar a perigosa máquina de contra-ataque do CSKA. A única falha (a meu ver) do Porto resultou num golo dos Russos.

    No final das duas mãos fomos claramente mais fortes, soubemos gerir as coisas e avançar para os quartos-de-final da UEL.

    E cá estamos nos quartos-de-final da UEFA Europa League. Do sorteio de hoje qualquer coisa serve. Acho que os únicos que queria evitar eram os russos (o Spartak pelo relvado esquisito e pela viagem), os ucranianos (o Dinamo pela viagem) e os espanhóis do Vilarreal (porque é um futebol sempre imprevisivel).

    Bom seria apanhar um dos holandeses… mas com a sorte que temos eu apostava no seguinte Lineup:

    1. FC Porto – Spartak Moscovo
    2. SL Benfica – Twente
    3. SC Braga – Dinamo Kiev
    4. PSV – Villareal

    Meias Finais
    1. vs 4.
    2. vs 3.

    Mas isto sou eu que tenho a mania de adivinhar…

  2. Bom dia,

    Ontem como se previa tivemos um jogo complicado.

    Este adversário é de grande qualidade, com grandes jogadores, que teriam lugar em algumas das maiores equipas europeias.

    Shennikov, Toši? e Dzagoev são 3 jovens jogadores para mais altos voos, aos quais se juntam Love, Honda e Doumbia.

    A qualidade do nosso adversário ainda reforça mais o nosso mérito na passagem.

    Ontem tivemos de saber defender, e soubemos atacar nos momentos certos. Pena ontem termos um Falcao desinspirado.

    Fernando na minha opinião foi o melhor em campo. Ele foi um autêntico eucalipto … secou tudo à volta e foi o trinco de segurança à nossa defesa.

    Hulk foi explosivo.
    Guarin teve fantástico e muito bem no transporte de bola e recuperação.
    Helton, Otamendi e Rolando muito seguros.
    Sapunaru segurou bem Dzagoev e fez uma boa exibição.
    Fucile esteve melhor a atacar do que a defender, e apanhou a “fava” pela frente – Tosic, e James não fechava quando o uruguaio subia, o que nos complicou a vida.

    James esteve algo apagado, embora tenha estado envolvido no lance do 2º. golo.

    Falcao esteve desinspirado, e teve uma exibição menos conseguida.

    Mais uma vez Villas-Boas eteve muito bem nas substituições, e com a entrada de Belluschi passamos a controlar e a dominar o jogo e podíamos mesmo ter marcado mais um golo.

    É histórico termos 3 equipas entre as 8 que hoje vão estar no sorteio dos quartos de final.

    Espero que o FC Porto tenha um pouco mais de sorte no sorteio. Depois do Sevilha e CSKA … que não nos saia o Dínamo de Kiev.
    Também desejo que as equipas portuguesas não se encontrem para que haja mais possibilidades de termos mais equipas nas meias finais e quem sabe uma final portuguesa. Quando o FC Porto venceu a Taça Uefa, por muito pouco não tivemos um Boavista vs FC Porto na final, só mesmo o Celtic parou o Boavistão dessa época!

    Fantástico o apoio do público.

    Abraço e bom fim de semana

    Paulo

    http://pronunciadodragao.blogspot.com/

  3. Bom dia Jorge,

    Sou um leitor assíduo e em geral costumo concordar com os baias e baronis.

    Eu até sou um crítico do Fucile (aquele jogo em Londres, enfim), mas desde que o vi em plena Avenida da Boavista a cantar aos berros música tradicional Uruguaia, tenho-lhe dado um desconto!

    No entanto, a culpa do golo do CSKA deve-se mais a Otamendi do que ao nosso puto reguila da Sé. O Ota deixou solto o seu marcador, arriscou e deu uma volta para o lado errado!, obrigando o Fucile a fechar o meio, e ainda conseguiu colocar o marcador do golo em jogo.

    Continuação de bom trabalho!

    1. discordo, mas é lógico que aceito. também já li pessoal a culpar o Sapunaru (por colocar o gajo em jogo) mas acho que o James (que não acompanhou a subida do lateral) e o Fucile (que se esquece do gajo nas costas) são os maiores culpados. ali não pode haver offside trap nem nada do género, é marcar em cima, e o Fucile “fucilitou” :)

      obrigado pela visita! um abraço,
      Jorge

      1. Também concordo um pouco com o CRG… aliás como sabe também em relação àquele jogo com o Arsenal a minha ideia é que se um defesa lateral da fibra do Fucile que ataca e defende com o mesmo empenho fica a ter que resolver os problemas todos sozinho é porque alguém não o dobrou ou não fechou antes… ontem também me pareceu que o Otamendi é que o “fintou”… e, enfim, o Helton também já defendeu outros remates daquele género…
        Mas, sofrer golos também faz parte do jogo, e nós (adeptos) às vezes só gostamos da perfeição para uns e perdoamos o atabalhoamento de outros (Guarin por exemplo, faz-me lembrar o Emerson…- saõ jogadores úteis mas muito deselegantes…)

        1. Bem, também coloco poucas culpas no Fusil. Ontem, ao contrário do que aconteceu em Moscovo, foi muito pouco apoiado pelo extremo. E se na primeira mão foi, para mim, dos melhores em campo, ontem também não ficou muito atrás. Teve o lance do golo, mas verdade seja dita, ou ele fechava à esquerda, ou fechava ao meio. Os dois é que é difícil.

  4. Com um golo na primeira jogada do desafio, não se podia pedir melhor.

    No entanto, o FC Porto foi obrigado a grande trabalho defensivo para evitar os golos moscovitas na sua baliza. É que pela frente estava uma equipa que tinha sido vencida em casa própria, mas não ficara convencida.

    A qualidade da equipa forasteira ficou evidente pela ousadia com que abordou o jogo. Em poucos minutos conseguiu uma coisa inédita no Dragão: Uma série de cantos impressionante.

    O FC Porto sentiu dificuldades, nesse período, tanto mais que no capítulo do passe as coisas não estavam a sair de feição. Valeu-nos o desacerto defensivo adversário e o excelente quanto oportuno aproveitamento dos erros para aumentar a vantagem.

    Porém, nem mesmo com três golos para recuperar, O CSKA baixou os braços. Conseguiu marcar um golo e criar alguma intranquilidade.

    Só com a alteração do sistema táctico para o 4x4x2, com a entrada de Belluschi, o FC Porto tomou conta da partida, controlando-a até final.

    Os Dragões acabavam de eliminar um dos mais sérios candidatos à vitória final.

    Gostei especialmente do desempenho defensivo portista e da actuação de Fernando, um dos melhores em campo.

    Preocupei-me com a manifesta falta de qualidade de passe, que provoca alguma irritação e submete a equipa a esforços redobrados.

    Um abraço

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