Baías e Baronis – FC Porto 0 vs 2 Juventus

Ao ver o treino da Juventus, só me surpreendia com a potência dos remates. A colocação dos disparos. A facilidade com que a bola ia parar de jogador a jogador com uma assertividade acima da média. Muito acima da média. E essas impressões foram facilmente confirmadas durante o jogo, onde recebemos uma bela lição de futebol a sério, que nos fez perceber que não se pode falhar a estes níveis da forma como o fizemos. Fomos bravos, tentamos o que podíamos, mas dois murros bem dados nos dentes fizeram cair por terra aquilo que na cabeça de alguns ainda era um bonito sonho. Vamos a notas:

(+) Juventus. É só olhar para eles e vê-se logo que é outra safra diferente da nossa. São homens, atletas com qualidades físicas largamente superiores às nossas, com um desenvolvimento de jogo na relva quilómetros acima do nosso, onde cada jogador sabe o que fazer, quando fazer e como o fazer, com uma dinâmica a meio-campo assustadora e que mostra bem o que é ser uma das melhores equipas do planeta. Notava-se a paciência na construção dos lances, mesmo contra dez jogadores, como quem acaricia um gato e sussurra: “Calma, meu doce, isto vai lá devagar, não é preciso andarmos a voar de um lado para o outro”. Fizeram um jogo sólido, inteligente, tecnicamente sem falhas, tacticamente olímpico. Daí não ter saído do Dragão triste mas resignado. Afinal de contas, eles são muito melhores que nós.

(+) O esforço dos nossos. O ponto anterior parece indicar que não jogámos nadinha, o que não é verdade. Sim, a Juve esteve por cima mesmo com onze jogadores do nosso lado, mas as coisas ainda podiam correr bem com muito suor e alguma sorte. Pois a sorte foi mandada ao charco quando o Telles teve aquela segunda paragem cerebral (já a primeira tinha sido bem rijinha e o cartão podia bem ter tido outra cor) e ainda nos calcaram a sorte quando um dos melhores jogadores do FC Porto 2015/2016 ofereceu o primeiro golo e se esqueceu de defender no segundo. Os nossos, mortais perante colossos, lá tentaram e o espírito de solidariedade foi imenso mas não chegou. Não creio que chegasse mesmo com onze. E com sorte. Mas fizeram por isso.

(+) O público. Nunca baixou os braços, manteve-se constante e ruidoso no apoio à equipa e mesmo que muita gente tenha começado a sair bem antes do jogo terminar, a verdade é que não houve assobios nem críticas. Houve apenas compreensão para com um grupo de miúdos-quase-adultos que fizeram o que sabiam e tentaram usar as armas que conseguiam e que lhes deram para contrariar a melhor equipa que passou no Dragão este ano. Muitas palmas, muitos cânticos, muita pressão sobre a Juventus e o árbitro. Não chegou.

(-) Outplayed, outclassed, outnumbered, outgunned. Não temos pernas. Não temos ossos. Não temos pulmão. Não temos músculos. Não temos altura. Não temos calo. Tudo lugares comuns mas tudo aplicável ao FC Porto 2016/2017, uma equipa cheia de rapazes com talento, que aqui no nosso campeonato conseguem até resultados decentes e exibições aceitáveis, mas que não pode pensar em fazer frente a equipas que estão num nível competitivo vários degraus acima do nosso. Homens contra miúdos, atletas contra amadores, arranjem o duelo que acharem mais conveniente, mas a verdade, difícil de aceitar mas fácil de provar, é que não temos estaleca para isto. Nuno parece ter gostado do que viu em Guimarães e assumiu uma postura mais defensiva, de contenção, com Herrera a tapar a direita, Brahimi solto entre a esquerda e o meio e dois médios-centro que oscilavam verticalmente. Sem organizador de jogo porque seria difícil manter a bola, a opção prendia-se no envio de bolas directas para Soares ou pelas alas, quer por Herrera quer por Brahimi. Mas o facto de usar Herrera naquele lado é sintomático da falta de opções que temos e se pensarem bem, com as características para arrancar com a bola no meio-campo e a transportar para a frente, para Nuno se manter fiel à estratégia poderia escolher o mexicano…ou o outro mexicano. Não há mais. Notou-se sempre que havia défice de construção mas a ideia era essa. Resultadista, cínica, triste, mas essa. E ser italiano contra italianos raramente funciona.

(-) Todos os mexicanos. Pode soar um bocado “trumpish”, mas as mudanças mexicanas que Nuno promoveu acabaram por não conseguir qualquer resultado prático, porque Layún “deu” o primeiro golo e facilitou imenso para o segundo, Herrera não funcionou nem na ala (demasiado lento a pensar e agir) nem no meio (perdido no meio de camisolas brancas) e Corona…bem, Corona é um caso de estudo, porque se convertesse aí uns 30% do talento que tem em empenho e esforço e mentalidade competitiva…provavelmente não estaria cá. Os três estiveram mal.

(-) Telles. Rapaz, tu tens de ir ao médico. Acredito que estejas sempre empenhadíssimo no jogo e focas-te no que tens a fazer enfiando umas tábuas ao lado dos olhos e só vês o adversário e aquelas perninhas prontas para serem colhidas como uma foice humana a segar erva. E até nem és mau nisso, mas fazê-lo duas vezes seguidas? Depois de teres levado um amarelo na primeira? Rapaz, tens de ir ao médico. Pede-lhe que te receite uma treta qualquer para acalmares os nervos e para pensares um bocadinho mais antes de te mandares como um demente atrás da bola, em particular quando ela está atrás das pernas de um adversário. É que parecendo que não, deste cabo de tudo. A culpa não é só tua, mas lá que empurraste a bola de neve que causou a avalanche, lá isso…


E agora? É difícil ganhar em Turim? Dou a palavra a Anthony Hopkins em frente a Tom Cruise, em MI:2, quando lhe diz: “This is not mission difficult, it’s mission impossible”…

29 comentários

  1. A minha grande frustração foi o Pateta Allegri não ter escolhido o Bertochini para substituir o Bonucci :)
    Já agora pá, como acaba o MI2? ;)

    1. carago, o bertocchini é de um nível parecido com o bonucci, mas ainda me falta esbofetear algum fulano que me queira assaltar à naifa. mas eu em campo sou mais baresi, se estamos no tema de centrais italianos. mais cabeça, menos corpo, por muito que o meu corpo já seja muito. e quando ao MI2, acho que por muito que tentes dar biqueiros na relva em Turim, a bola não vai subir na vertical como a pistola do Ethan Hunt. é só um feeling.

    1. carlinhos, muito sinceramente, vai pregar para outra paróquia. foi o último comentário teu que aprovei porque não tenho pachorra para aturar imbecis como tu. hasta.

      1. Ó Jorge deixa os rapazes virem aqui brincar um bocadinho…. Eles são como são. Eles nunca viram o clube ser Campeão da Europa, ganhar UEFA, etc… É díficil para eles…

  2. J permita-me o afoito.
    Você adora escrever mesmo,porque para mim uma equipa com títulos internacionais fica BEM EXPLÍCITA a sua demonstração de caráter quando num jogo da liga dos campeões tem um elemento que no mesmo minuto faz duas faltas para amarelo,mostra a sua falta de classe e de quem a lidera.
    Quanto ao jogo nem vou delinear nada,porque estive a assistir para ter bem a certeza do que é realmente o somos Porto aquilo que você escreveu.
    Braços para Xamegos

      1. Com o caramelo que a sua personagem usa com isqueiro,turvou lhe as vistas afetalhe a espécie que você pensa que é um cérebro.
        É se o Jorge permitir o João come um cagalh…

  3. Bom dia!

    Ontem NES provou mais uma vez que não é treinador para o Porto…

    Eu sei que é mais fácil criticar o homem, mas eu não consigo compreender porque é que ele resolve inventar num jogo como este…

    Não teria sido mais fácil jogar com o melhor onze, em que há claramente rotinas e uma equipa mais focada no ataque?

    Ter receio do adversário num jogo em casa é mau de mais! Qualquer portista com dois dedos de testa sabia que à partida esta eliminatória pendia claramente para a Juventus, mas havia a esperança de fazer um bom jogo no Dragão para depois tentar discutir a eliminatória em Turim. NES como típico “treinador” português teve (tem e terá) medo e tratou de começar a eliminatória a defender.

    Apetecia-me gritar-lhe aos ouvidos – NES nos não somos uma equipa pequena caralho!

    NES tem muito mérito na gestão do grupo de trabalho e na forma como voltou a dar alguma da mística no balneário mas é um péssimo treinador de futebol e não tenho grandes dúvidas que com ele o Porto não vai conseguir alcançar os seus principais objectivos.

    Abraço

    1. Uma andorinha nao faz a Primavera…

      Desde há muito muito tempo que os treinadores do Porto “mudam” a equipa para jogos mais complicados. Em jeito de recordacao, Mourinho tinha um sistema para o campeonato e outro para a Champions.

      Segundo ponto, este esquema de jogo nao é inédito. A única “novidade” foi a presenca de Ruben Neves em detrimento do Andréx2 o que nao acho que nos faca ficar a perder muito. Perdemos um pouco de acutilancia ofensiva mas ganhamos mais recuperacao e qualidade de passe.
      Em relacao á invencao de Herrera numa das alas (que já foi utilizado várias e várias vezes esta época) o próprio Jorge referiu que revela a falta de opcoes que temos para esse lado. E já agora, em caso de que nao tenha visto, vá ver o estado do pé do Herrera e talvez entenda o porque da sua utilizacao neste jogo.

      E nao, nao somos uma equipa pequena. Mas também nao somos burros de pensar que jogar de igual para igual com esta super Juventus ia dar frutos. Se com 10 aguentamos quase 70 minutos a 0-0 o que poderia acontecer com 11?

      Nao seja tonto…entendo que esteja frustrado com o resultado, mas por em causa o trabalho do treinador é coisa de meninos.

      1. Caro João Silva,

        Claro que ponho o trabalho do treinador em causa, afinal ele só está no Porto porque é “afilhado” de quem é…

        Não concebo a ideia de começar um jogo apenas com o intuito de defender e de esperar que o acaso trate do resto.

        O tipo inventou, quis jogar à defesa e o acaso tirou-lhe um jogador aos 27 minutos. A partir daí a eliminatória acaba…

        Num passado recente jogamos de igual para igual com o Bayern de Munique e ganhamos 3-1.

        Em Munique Lopetegui pensou como treinador de equipa pequena e nem sequer confiou que os seus jogadores conseguissem jogar novamente de igual para igual com o Bayern…

        Abraço

  4. plenamente de acordo com tudo.
    ver aquela juve com a mesma calma contra 11 ou contra 10 e com uma maturidade que muito francamente ja nem me lembro de ver no porto deixa-me resignado com esta derrota.

    mas porra, tínhamos que ir a jogo mais que 27 minutos! que paragem cerebral foi aquela?!

    contra factos, mesmo que nao tenha gostado dos argumentos que vieram do banco, nem digo nada.

    para mim, o jogo que mais me envergonhou na europa terá sido no ano passado uma das duas eliminatorias contra o borussia. uma qualquer. bastante mais que os 4 que ja apanhamos do barca ou do man u ou aquela noite de ha 2 anos que nao vou referir. e a equipa de ontem seria incapaz dessa vergonha – mesmo que o resultado tenha sido pior. por isso, o meu bem-hajam aos dragoes que lutaram até á ultima gota – no campo e na bancada!

    um abraco

  5. chateia-me que por causa da estupidez do Telles o NES sai incólume desta partida — não jogámos 27 minutos, jogámos por aí uns 7 ou 8 no máximo. só a base da adrenalina (transmitida também pelo público, em grande), e deu logicamente nas faltas suicidas do Alex.

    criámos 0 lances de perigo. sim, vi a Juve e também sei que mesmo com 11 e com um treinador capaz estaria provavelmente fora do nosso alcance, mas deixar uma imagem tão triste e impotente como este “modelo” do NES custa…

  6. Eu devo ser daqueles portistas optimistas/exigentes que acham que podíamos ou devíamos ter feito mais. Pelo menos chatear um bocadinho…Creio que a expulsão só dificultou a tarefa de defender que vinha previamente na lição do mister. A Juventus entrou para ver o que nos dávamos e como viu que a nossa postura era a mesma veio para cima de nós…

    Caro Jorge, como conhecedor de história, nao podemos fazer ao Herrera a mesma coisa que os marinheiros faziam aos outros que achavam que davam azar e manda-lo borda fora? 3 anos a titular e 3 anos a seco…

    1. Não, estou consigo. Nem um remate ?? Que fossem de longe, fáceis para o Bufão. Qualquer coisa. Podia resultar num frango, num desvio fortuito no defesa, numa defesa do Bufão para a frente e se possível para um dos nosso atacantes.

      Sobre o jogo não há muito a dizer mesmo. Ganharam bem. Sem espinhas. espero que o Alex Telles tenha tirado notas do Alex Sandro.

      A Juventus está em grande, e não foi tanto pelo jogo que fez, foi mesmo pela maturidade enquanto equipa que me impressionou.

  7. Só um comentário em relação ao mal-amado Herrera e aos comentários trumpistas : – se ele se chamasse João Pinto, ninguém deixaria de lhe tecer loas depois de acabar o jogo como acabou!

  8. “Layún “deu” o primeiro golo e facilitou imenso para o segundo,” Como? para o segundo? do Dani Alves? então onde andava o Jota? Desculpa lá, mas ontem ainda antes desse golo e após a substituição eu estava a ver o jogo e a pensar para comigo “hoje o Brahimi até defendeu mais que o Jota”.

    De resto, pouco mais a dizer, também eu sai do estádio resignado (assim como já tinha entrado), não só pea noção óbvia do poderio do advrsário, mas pela simples noção de saber quem temos como treinador…

    1. um amigo meu estava a ganir desde o início do jogo para entrar o Jota em vez do Herrera e eu só dizia: “homem, o Jota não defende”. mal entrou o Layun e começou a esbardalhar-se todo, tive medo disso…mas #laculpaestododelayun hoje bate certo…

      1. bem, o Layun pelo menos não se fez expulsar nos mais que 27 minutos que esteve em campo… e quem devia ter entrado de início para o lugar do Herrera era o Óliver

        #laculpaestodadeNES

          1. precisamente para dar-nos alguma hipótese de ter posse de bola! não é uma lei da natureza nem uma imposição do plantel que temos que jogar à equipa pequena, a espera do contra-golpe. ter o melhor médio que passou por cá em muitos anos a aquecer o banco num jogos destes é uma ideia idiota seja por que prisma for…

            respeito o esforço do Herrera, mas não me admira que o Evandro diz que teve que sair porque alguns estavam a jogar sempre quando ele entrava poucos minutos. no caso do Evandro pode só ser opinião minha (e dele) que esta diferença de oportunidades foi tão prejudicial como injusta, agora o Rúben passar meia época a aquecer o banco a ver o Herrera jogar, e depois sair de lá para ser o Óliver a sentar-se é simplesmente patético. ou seja, é simplesmente NES

          2. concordo contigo, mas começo a conhecer como o Nuno pensa e mais depressa o inferno congelava do que entrava o Óliver…

          3. Teres o melhor médio que passou por cá em muitos anos a ir embora pró ano porque o treinador ganha jogos a correr em contragolpe é… surrealista

    2. De acordo com o Miguel, as críticas a Layun não me parecem justas.
      Teve azar no 1o, e no segundo quem estava a dormir era o Jota. Os laterais estavam a fechar mais dentro, perto dos centrais.
      Jota tinha acabado de entrar (assim como o Dani Alves), o que para quem vai entrar numa manobra defensiva não é fácil, mas o espaço era dele.

      Outra nulidade em termos defensivos foi o Soares. A quantidade de vezes que o Danilo ou o Herrera (assim que veio pro meio) a pressionar o portador, a escassos metros de um Soares completamente estático… Eu percebo que se tenha de poupar para as transições, mas não se mover para pelo menos fazer contenção na faixa central é demais. Merece uma rebarba das boas.

  9. O resultado é o que é, quando uma grande equipa como a Juve defronta o nosso Porto, que serve para o campeonato doméstico, mas que dificilmente se consegue bater contra as melhores equipas do Mundo. Se formos ver bem, e deixarmos a nossa paixão de lado, a nossa prestação na Champions este ano foi fraca (não ganhamos um jogo ao Copenhaga e vitórias sofridas ao Brugge).
    O Alex Telles errou, como se fosse um iniciado, mas não podemos crucificar aquele que tem sido um dos nossos melhores jogadores. Quanto ao NES, eu não gostei do 11 inicial. Não acho Ruben Neves jogador para o Porto e muito menos ver entrar uma equipa com Danilo e Ruben, porque a meu ver passa logo a mensagem errada. Por muito que custe teria preferido jogar em 4-3-3, e tirar o A. Silva, jogar com extremos q saissem de trás e ter meio campo com Danilo-Herrera-Oliver….

    Mas claro, agora que já foi é mais fácil. Creio que se não se trabalhou o lado emocional da equipa antes, temos de o fazer agora, para que eles entendam que não é vergonha ser eliminado pela Juve, e que o campeonato está mm aqui ao nosso alcance…. até quase que lhe podemos tocar. Eles têm é de “acarditar” nisso :)

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