Ouve lá ó Mister – Dínamo Kiev


Amigo Vítor,

Ainda estou a recuperar do jogaço da passada sexta-feira, mas é daquelas ressacas porreiras que não custam absolutamente nada e não se gasta nem uma patela de Guronsan. Saímos todos do estádio bem dispostos, pá, como devia sempre acontecer todas as vezes que faço aquela peregrinação ao Dragão, mesmo que rime e soe parolo. Mas ficam os meus parabéns pela forma como os rapazes conseguiram jogar como jogaram e só há um problema com isso: a malta fica à espera sempre de mais um bocadinho.

No entanto desta vez ainda houve outro problema. Não sei se foi do relvado ou das botas ou lá do que raio terá sido, mas quatro gajos lesionados num só jogo dá para pensar em ir à bruxa. Ou então aquele gajo na Maia que estala as unhas à beira das orelhas do “paciente” e o manda para casa para recuperar. Um endireita/pseudo-homeopata dos bons, pá. Mas ainda que não queiras recorrer a esse tipo de parvoíces do oculto e antes de começares a matar galinhas pretas e a invocar nomes direitinhos do Necronomicon, foca-te antes nos gajos que vais pôr em campo. Não há tempo para pensar muito, por isso faz uma matriz das opções que tens e decide. Se queres a minha opinião, e provavelmente não a vais querer mas vou-ta dar na mesma, escuta bem: Atrás, à esquerda avança o Mangala, à direita o Danilo e ao meio ficam o Otamendi e o Rolando. No centro: Defour, Moutinho e Lucho. Na frente, enfia-se James, Varela e Jackson. É ela por ela, Vitor, sem inventar, sem pegar em gajos que não estão habituados a jogar nos sítios certos, sem desviar o Danilo para o meio ou enfiar o Miguel Lopes à esquerda. E temos de estar firmes nas nossas convicções e não fraquejar como fizemos no Dragão contra estes mesmos rapazes. Aquele resultado foi suficiente mas podemos fazer muito melhor e tu sabes disso.

Ah, e vê se pões os gajos concentrados nas bolas paradas. É uma puta duma vergonha a maneira como as estamos a defender, homem! E vamos lá ganhar essa treta para arrumar logo a qualificação, já viste o descanso que podias ter nos dois últimos jogos?

Sou quem sabes,
Jorge

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Vitor, dá uma chance ao Rolando

Passam hoje exactamente quatro anos. Em 5 de Novembro de 2008, o FC Porto deslocou-se à Ucrânia para defrontar o Dínamo Kiev no jogo da quarta jornada de Champions League, numa altura em que Jesualdo estava a ser contestado por grandes facções de portistas depois de três derrotas seguidas em várias competições. Lembro-me bem desses tempos, tanto da derrota em casa com o Dínamo (com um estupor dum grande golo de livre directo) como dos dois jogos do campeonato que se seguiram, o jogo absurdo perdido em casa contra o Leixões e a derrota na Figueira com a Naval. As tensões estavam em alta, o povo estava furioso e pedia-se a cabeça de Jesualdo, campeão em título mas caído em mini-desgraça perante os adeptos que viam a equipa sem render ao nível que lhes era exigido. Fomos a Kiev com o treinador em posição difícil e os jogadores a tremer com a pressão de uma vitória que era vital para continuar a lutar pela qualificação para a próxima fase da Champions.

O jogo começou mal e assim continuou até que Rolando, depois de um livre marcado do lado direito, aparece na área e marca um golo de força e colocação, irrompendo pelo centro e cabeceando sem defesa para o guarda-redes dos ucranianos. Foi uma explosão de alegria cá em casa, até que Lucho, ao minuto noventa, aproveitou o bom trabalho de Lisandro do lado direito e marcou o golo da vitória. Nunca mais me esqueço da forma como El Comandante tirou a camisola (lá estão aquelas celebrações parvas de jogador da bola) e o resto da equipa, percebendo que o capitão já tinha levado um amarelo, tentou rodeá-lo e forçá-lo a vestir de novo a t-shirt azul-bébé que na altura pintava o nosso equipamento alternativo. Foi uma demonstração de união, de harmonia entre os jogadores que passou para os adeptos e descansou as hostes. Vencemos o jogo e arrancamos para um resto de época imparável, terminando o percurso da Champions em casa com aquele petardo do Ronaldo que me ficou atravessado na goela até hoje.


Amanhã, em Kiev, as circunstâncias são diferentes mas há algo de parecido. Rolando tem de novo algo a provar. Cabe a Vitor Pereira a palavra, entre a opção por Miguel Lopes à esquerda e Mangala no meio ou a substituição directa de Maicon por Abdoulaye ou Rolando. Não sou um fã incondicional do Rolas, admito, até porque sempre tive a ideia que se achava sempre melhor do que de facto colocava em campo. Mas tem a experiência suficiente para poder fazer a diferença num jogo que se prevê complicado e onde a defesa do FC Porto, remendada, precisa de uma injecção de temperamento e tranquilidade para poder segurar o que fôr preciso quando fôr preciso.

Por isso a minha aposta vai para Rolando. Recuperemos o eixo de Dublin, o que venceu o Benfica na Luz por duas vezes e nos deu alegrias aqui há dois anos. E vençamos o jogo.

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 2 Dinamo Kiev

Pensei que ia ser um jogo tranquilo, mas rapidamente percebi que já não há jogos tranquilos com este FC Porto. Toda a partida foi disputada a um ritmo tão lento, vagaroso, com fraca qualidade de passe e rotação, jogadores constantemente parados à espera que a bola lhes chegasse aos pés e uma enervante incapacidade de manter o esférico no relvado. Não vi vontade de jogar para ganhar, para arrumar o jogo cedo e chegar a três vitórias noutros tantos jogos. Hoje, os jogadores não estavam para aí virados e insistiram em cometer erros infantis e displicências de um amadorismo inexplicável. Conseguimos vencer o jogo porque a eficácia, outrora tão ausente dos nossos pés, hoje fez uma aparição na altura certa e no lugar certo pelos…pés de Jackson e de Lucho, talvez os únicos que se safaram com notas positivas. Enfim, valeram os três pontos. Notas abaixo:

 

(+) Jackson Finalmente, golos normais, de ponta-de-lança, a aparecer no momento certo a receber os passes dos companheiros e a desmarcar-se na perfeição para acertar na baliza em condições, ao contrário do que tinha feito em Zagreb. Parece estar mais habituado ao nosso estilo e tem razões de queixa dos companheiros porque por diversas vezes conseguiu controlar bolas pontapeadas sem grande preocupação de pontaria por Helton ou Maicon…e não tinha ninguém para quem as passar. Se o primeiro golo é um excelente movimento para um avançado, a aguentar a carga do central ucraniano e a passar a bola por baixo do guarda-redes, o segundo é exactamente o que se pede a um ponta-de-lança: estar no trajecto da bola em condições de marcar. Salvou a equipa, quase sozinho.

(+) Lucho Correu que se fartou e teve ainda de aguentar o jogo inteiro, ele que não deve ter assinado contrato para jogar mais de 70 minutos por jogo foi um dos poucos que esteve ACIMA do ritmo dos colegas, o que é obra tendo em conta a habitual passada lenta do argentino. Duas assistências e muitas tentativas de animar a equipa fizeram dele uma das figuras do jogo, mas surpreendeu-me mais pela pressão alta que continuava a fazer no meio-campo contrário. Bom jogo.

 

(-) A lei do menor esforço Devo dizer que Vitor Pereira me surpreendeu quando a equipa surgiu sem alterações para a segunda parte e ainda mais quando vi que no final apenas tinha rendido três dos seus homens de campo. Digo isto porque a ideia com que teria ficado, caso não soubesse que o jogo contava para a terceira jornada da fase de grupos da Champions League, era que o Dínamo tinha vindo à Invicta para um particular a meio da temporada e ia ser um daqueles jogos chatos em que se muda meia-equipa ao intervalo e os onze que terminam não são os que a começam. Porque foi um jogo inteiro de esperar que o adversário fizesse alguma coisa para que a equipa pudesse espevitar (ma non troppo) e procurar marcar um golo para fechar o jogo. Mas só um, que trabalhar faz calo e isto até se está bem aqui sem cansar muito. James andou perdido grande parte da partida (vêem agora porque é que quando um “10” está em baixo a equipa sente ainda mais que ele?), Danilo raramente conseguiu subir pelo flanco, Mangala não sabe subir pelo flanco (faz lembrar Maicon no ano passado a jogar à direita, faz o que pode), Varela pouco mais fez para lá do golo e até Fernando perdeu algumas bolas por atitudes displicentes. Foi fraco, muito fraco para quem estava claramente a subir de produção até ao jogo com o Sporting e não me convenço que foi a paragem competitiva que lhes tramou a confiança. Foi preguiça, só isso, preguiça. Foi a falta de vontade de mostrar ao Dínamo, como tiveram contra o Paris Saint-Germain, que quem manda somos nós e mandamos porque somos muito melhores. Equipas como esta de Kiev (como o Rio Ave antes dela, com as diferenças ajustadas para a competição em que as defrontamos) arriscam-se a ganhar pontos ao FC Porto quando os nossos rapazes se acham superiores a terem de sujar os calções para vencer um jogo. Não gosto de arrogância prematura quando há muito ainda para provar e por isso não gostei do jogo de hoje.

(-) Moutinho Um jogo totalmente off do João. Falhou mais passes hoje à noite que em toda a época 2010/2011 e nunca pareceu confiante em levar a bola para a frente ou criar linhas de passe em movimento. Displicente a receber a bola, fraco nos passes de retorno e inconsequente nas desmarcações, foi pouco mais que uma parede a três dimensões que passeou pelo relvado a ritmo de treino sem nunca conseguir entrar no jogo. Saiu bem, apesar de Defour pouco ter trazido de novo ou de muito mais produtivo.


É verdade que ainda podemos não nos qualificar para a próxima fase, o que seria injusto mas perfeitamente ao alcance de uma equipa de duas caras como esta do FC Porto de Vitor Pereira. Quem este ano apenas tiver assistido aos dois jogos do FC Porto no Dragão a contar para a Champions, devem pensar que o equipamento secundário traz com ele uma dose de calmantes e uma garrafa de brandy, porque comparar a partida de hoje com o que se fez contra o Paris Saint-Germain é pura brincadeira. Não consigo entender como é que se entra em campo tão motivado a não fazer quase o mínimo exigível para uma equipa que quer ser grande mas que insiste em ter performances abaixo do que pode e sabe fazer. Não consigo entender, palavra.

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Ouve lá ó Mister – Dínamo Kiev


Amigo Vítor,

Hoje não sou eu quem te falo. Opto por dar a palavra à malta que no ano passado jogou contra nós de laranja e preto e que vive em Donetsk, bem mais perto do nosso adversário de hoje que eu. Esses moços, que entrevistei aqui para o cubículo há treze meses, lembraram-se de mim e enviaram-me alguns pedidos bem endereçados para desejar boa sorte à nossa equipa no confronto contra os grandes rivais deles, recolhidos do site dos gajos.

Tudo que eles possam dizer é melhor do que as minhas palavras porque do Dínamo conheço pouco, admito. Kranjcar, Shovkovsky, Milevsky, Yarmolenko e Miguel Veloso. Pouco mais. Por isso ficam os votos (*) de ucranianos anti-Kiev que compuseram este excelente cartaz que represento aqui em baixo e aos quais me junto com menos antagonismo mas o mesmo sentimento. É para ganhar, Vitor!

(*)

  • Vamos ficar desiludidos com uma vitória de 2-0. Três ou mais golos devem entrar para a baliza do Dínamo. Força Porto! O Dínamo, como Cartago, deve ser destruída. (Max)
  • Uma vitória fácil. Deixem que o jogo seja decidido de uma vez com o apoio dos vossos devotos adeptos! (Valentin Burinchenko)
  • O Dínamo perdeu em Donetsk, Poltava, Kiev e Paris, por isso vamos deixar que o Porto os atire para o fundo do mar! (Dill Pomidorych)
  • Uma vitória portuguesa, 6-0 (vovan79)
  • Boa sorte, Porto, que ganhem com uma goleada!  (KieV1965 )
  • Desfaçam-nos! (Rerer)

Sou quem sabes,
Jorge

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