Carta aberta a Jesualdo Ferreira


Caro Professor,

Estamos no início de uma nova época. Temos jogadores novos, uma equipa renovada, treinadores experientes (V/Exa incluída) e uma direcção dinâmica. Temos força e ganas de vencer e nada nos pode parar se continuarmos fiéis aos nossos princípios e à nossa ideologia ganhadora. O sol ainda não brilha, culpa principalmente de frentes nubladas e da subida de vendas do Record, mas nada disso nos atemoriza.
No entanto, a razão de me dirigir a si é menos heróica e prende-se com uma ideia prosaica que me assola desde há uns tempos. E olhe que algo que assola um rapaz da minha estatura não pode ser ignorado durante muito tempo como o ferro de engomar, a separação do lixo ou a namorada. Enfim, continuemos.
Compreendo a ideia principal da sua estratégia dentro do campo. Habitualmente quando entro no Dragão e tenho de subir aquelas desgraçadas escadarias que me lixam os gémeos, vou a pensar na equipa que vai entrar em campo. Acaba por ser uma boa maneira de me distrair dos putos à volta a berrar com os pais e evita que patine nos inúmeros folhetos que vão sendo atirados para o chão. Mais um degrau. Voltando aos meus pensamentos, a equipa que costuma entrar em campo raramente é igual à que tenho na minha cabeça. Chame-me mau treinador, raios, chame-me otário, mas é a mais pura verdade. Quase nunca acerto, acaba sempre por jogar o Farías quando pensava que decerto iria entrar com Mariano, ou era o Fernando quando assumia que Guarín tinha mais capacidades para a posição (era no início da época, peço desculpa pela heresia). Havia sempre uma outra variável que me lixava e sempre que me sentava na cadeira falava com os meus colegas e descobria que mais uma vez tinha atirado B-4, água.
Cheguei a culpá-lo pelas miseráveis escolhas que fazia e que, quando comparadas com as minhas próprias selecções, empalideciam de timidez, tal era a minha arrogância ofensiva e determinação “footballmanageriana” de desfazer implacavelmente e sem complacências todo e qualquer rival que se apresentasse à frente. Destruir seria o termo mais indicado. Sim, era isso, destruir os outros. Como se atreviam a fazer-nos frente? Morte, hereges!!! No entanto, algum tempo passou e comecei a constatar, contra todas as fibras do meu ser, que lhe chamavam professor por algum motivo. O senhor ensinou-me a ter mais calma, qual Mourinho em frente a Ferguson, Sacchi perante Cruyff ou Tino de Rans à frente de um dicionário. E relaxei, confiei em si, e os resultados estão à vista.
Este ano tenho a certeza que vou começar por fazer o mesmo. São tantas as incógnitas no nosso plantel que tenho ainda mais indecisões mentais em tentar acertar com os 11 fulanos de azul e branco que vão subir ao relvado e por isso sinto-me renitente em parar o jogo de adivinhação. Mas sinto-me com força e assim sendo decidi deixar mais uma vez o benefício da dúvida para os intervenientes (S/Exa, neste caso) e encostar-me na cadeira de camisola vestida e cachecol ao pescoço e simplesmente apreciar os espectáculos que concerteza nos vai voltar a proporcionar nestes próximos 10 meses.
Tenciono arrancar esta nova filosofia amanhã, por volta das 21h, no meu jardim zen preferido. Aquele que tem vista para o Dolce Vita, por muito inestético que possa parecer para os que nunca visitaram.
Com os meus mais sinceros cumprimentos e votos de um bom arranque,
O Jorge da Porta19
Link:

Jesualdo dixit


“Não é possível a um clube vendedor contratar jogadores de valor afirmado superior aos que saíram.”

Esta frase foi dita por Jesualdo Ferreira hoje à noite em entrevista à TVI. Achei bastante interessante e por isso creio que merece ser dissecada, retalhada, autopsiada e quiçá extrapolada.
O FC Porto é um clube que se coloca sempre no leme das campanhas nacionais em Agosto para tentar atingir o verdadeiro triunfo da época: o campeonato. Essa vitória, de há uns anos a esta parte, transformou-se no grande objectivo pois com ele vem a chegada à fase de grupos da Liga dos Campeões e o consequente bónus monetário que é a pedra basilar dos orçamentos dos “grandes”…ou pelo menos os que lá conseguem chegar…ok, pronto, do nosso orçamento!
Já correu tanta tinta sobre o facto dos clubes terem de vender para manterem estabilidade financeira, indo ou não à Liga dos Campeões. Não vou juntar-me aos muitos que dizem que é fundamental vender e que as equipas não vivem sem o fazer; nem tão pouco me vou adicionar à malta que diz que é uma vergonha termos salários tão altos que tenhamos que o fazer para poder sobreviver. O que me preocupa é a segunda parte da frase, já que a primeira constata-se que é verdade, seja por que razão fôr.
Em teoria, se o objectivo de uma equipa é manter-se equilibrada, por cada jogador que se vende, seja ele importante para a equipa (Lucho ou Lisandro) ou não (Alessandro, Baroni, Mareque e mais 97 gajos parecidos), dever-se-ia contratar um outro para a mesma posição, assumindo manutenção de treinador e filosofia. Supõe-se que o novo jogador teria uma influência e uma valia individual que poderia igualar-se, se não melhorar, o que o seu predecessor estava a executar em campo e fora dele. O que Jesualdo diz é o contrário, ou seja, que o FC Porto não pode contratar jogadores de valia acima de Lucho e Lisandro mas sim criá-los a partir de moldes mais ou menos toscos. Esta tem sido, de facto, uma filosofia ganhadora no clube, pese embora o mau rácio que continuamos a ter entre boas e más contratações. Ainda hoje escutava Mário Fernando na SIC Notícias a discorrer sobre o assunto, dizendo que o FC Porto contrata muito e nem sempre bem, mas que quando calha um rapaz jeitoso (sei lá, assim tipo um miúdo que se vende por 31,5 milhões de euros para o Man Utd) acaba por esmagar uma série de más escolhas pelo simples peso dos números gerados.
É uma táctica já usada no ano passado. Guarín para substituir Paulo Assunção, acabando por ser Fernando o pedaço de carvão a ser calmamente transformado em diamante; a dinâmica de Rodríguez para o lugar da chaise longue do Quaresma; Sapunaru para tomar a posição de Bosingwa, com Fucile a voltar a ocupar o lugar. E Hulk, só porque sim. Rodríguez aparte, são nomes desconhecidos que tentamos usar para colmatar saídas, com fracos resultados para mostrar.
A questão coloca-se: será que vamos manter este rácio? Com dezenas de jogadores emprestados, vários provenientes das camadas jovens mas muitos contratados à experiência para vários anos, poderemos conseguir um Lucho por 5 Edsons? Um Lisandro por 4 Pitbulls? Um Hulk por 197 Sonkayas?
Para concluir, e porque são 2:06 da manhã e começa o parolo do João Pestana a espalhar as proverbiais areias pelas minhas incautas pálpebras, temos matéria-prima comprada e espalhada por este mundo fora. Já mostramos que a sabemos rentabilizar, por isso estou convicto que vamos continuar a fazê-lo.
É como capital de risco. Investe-se e espera-se pelo retorno. Se correr bem, compra-se uma piscina. Se correr mal, fecha-se a empresa. Ou empresta-se ao Covilhã.
Link:

Cissokho maior que Ronaldo


E pronto, não se pode dizer que não se estivesse à espera, mas fico triste por ver um rapaz que poderia ter grande futuro no FCP, depois de limadas algumas arestas e se continuasse a crescer como até agora tinha vindo a demonstrar. No entanto, há que dar os parabéns ao verdadeiro responsável desta transferência: Jesualdo Ferreira. Foi ele que trouxe o puto para cá, burilou e conseguiu melhorar a pura capacidade física num jogador com mais calma, mais inteligência táctica e mais serenidade em campo. O sentido táctico vai ser definitivamente posto à prova em Milan, já que o campeonato italiano é pródigo nessas coisas da táctica, mas creio que Cissokho pode ser uma excelente aposta para o futuro milanês. Isto se correr bem para Leonardo nesta fase de arranque, claro.

Enfim, não é todos os dias que se vende um jogador com uma margem de lucro de cerca de 5000%! Assim sendo, a venda do jovem Aly ao Milan por 15 milhões de Euros acaba por ser mais surpreendente que a venda do Ronaldo ao Real…
Link:

Capilaridades

Acredito que não vamos trocar de treinador. Para além de toda a inerte polémica que põe a jornalistada toda aos saltos, estou convicto que Pinto da Costa vai anunciar não tarda nada a renovação de Jesualdo por mais um ano. E qual a razão mais óbvia para tal acontecer? O cabelo. Não se façam de desentendidos. O FC Porto tem uma política capilar clara (lembram-se dos dreadlocks de Anderson e da metafórica tesoura do Co?) e nem é preciso ir muito atrás para nos apercebermos que os treinadores do FC Porto tem habitualmente cabelos curtos, sem exigir grandes trabalhos, de combate. Esta é a condição fundamental. Em alternativa são grisalhos, mas o ideal é mesmo cumprirem-se as duas condições. Se analisarem um pouco da nossa história recente, vão concerteza reparar que as escolhas do nosso presidente, boas ou más, são baseadas em não pequena parte, no cabelo. Desde Oliveira que não temos um treinador com mais que um pequeno jardim de relva na nuca, veja-se Fernando Santos, Octávio, Mourinho, Del Neri, Fernandez, Couceiro (apenas cumpria a segunda condição…e vejam onde é que chegou no clube…), Adriaanse, Jesualdo. Veja-se o Special One, o treinador mais metrossexual do mundo a seguir ao José Mota, apenas espetava um naco de gel na trunfa e seguia para o treino. Isto quando não o rapava!

Jesualdo enquadra-se neste perfil como uma luva. Cabelo rasteirinho e grisalho (à homem), o que lhe permite olhar para o treino e analisar melhor as situações da equipa e das circunstâncias do jogo. Já por isso questiono a veracidade de muitas notícias que surgem na imprensa considerando Jorge Jesus para nosso treinador. Primeiro, aquele cabelo já não ficava bem à Bonnie Tyler à época, quanto mais no futebol moderno. Para além do mais, aquilo não é bem grisalho. É branco. É uma versão da Gwen Stefani em rouco. Não faz sentido.

Assim, aposto que Jesualdo vai manter-se no leme. A não ser que faça extensões.
Link:

E vão quatro seguidos…


Suado. Muito mais suado que no ano transacto, sem dúvida, mas igualmente merecido. Estive lá como sempre, a berrar e a enervar-me com a tremideira da equipa, cansada e infantil nalguns momentos, com vontade a mais e cabeça a menos. Pusemos os nervos de lado e ganhámos, como tínhamos de fazer. Vai-me ficar na memória a imagem da conferência de imprensa invadida pelos jogadores em atitude de eufórico apoio ao treinador. É essa a grande virtude deste plantel e talvez a melhor maneira de descrever esta época: quando foi preciso ganhar, fizémo-lo, com união, empenho e garra. Como ontem. Parabéns a todos, somos campeões!

Link: