Ouve lá ó Mister – Feirense

Companheiro Nuno,

É uma trampa quando ficamos dependentes de terceiros, não é? Roemos as unhas com o nervosismo que nos invade o corpo e nos tolhe o raciocínio e a vontade de vencer por intermédio de outros é uma situação que não me agrada nadinha. Mas é o buraco em que estamos e se queremos sair dele temos de fazer o nosso trabalho e esperar que os outros não façam o deles. Não adianta chorar, Tibi, como dizia o outro.

Este é mais um jogo desses, em que temos de vencer para conseguirmos encostar mais um bocadinho ao Benfica e criar a ilusão que ainda podemos chegar lá. E eu acredito, Nuno, a sério que acredito, mas tens de me dar motivos para isso. Tens de colocar os jogadores em campo sem medo, sem preocupações excessivas com os jogos dos outros e focar a malta para que consigam levar a estúpida da água ao tal moínho de que todos falam e que parece ficar sempre tão longe que me enerva só de pensar na viagem. O Feirense não é uma Juventus (está perto, afinal jogam com camisola e calções e…ficamos por aí, vá) mas são meninos para nos lixar a vida se não formos competentes. E se o Barge jogar, vê lá se alguém lhe rapa a barba ao estalo porque aquele gajo é do tipo de jogadores que faz o Schelotto parecer o Dani Alves. Ugh, Brigueis, pá.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – Braga 1 vs 1 FC Porto

Jantar de aniversário de um amigo a que não podia faltar. Restaurante tranquilo, com bom nível. Uma dourada grelhada maravilhosa. Bom verde da casa. Conversa animada, luzes a meio-gás, suave música ao vivo (esse conceito horrível que não compreendo como é que há quem goste, palavra) e uma televisão ligada ao meu lado. Mal começou o jogo alguém mudou a emissão de um extraordinariamente desinteressante concerto de um cantor espanhol qualquer e colocou as câmaras da SportTV em Braga a passar o seu feed na televisão. Lá se foi o jantar, a boa disposição, os momentos relaxados, a conversa simpática e o calor da dourada. Só ficou o nervosismo. E não me serviu de nada, porque voltamos a desperdiçar uma oportunidade de vencer um Braga mediano e mostramos que se conseguirmos chegar lá, seremos campeões apesar de Nuno e não devido a ele. Notas, sofridas, em baixo:

(+) Brahimi. Voltamos ao mesmo e se Yacine não se começar a chatear com isto é porque tem mais pachorra do que eu penso. Atiram-lhe a bola a cinquenta metros da baliza e esperam que saia dali um lance à Messi ou um golo à Beckenbauer. O argelino é o melhor jogador da equipa a fazer rupturas mas não se percebe que o resto dos colegas seja tão dependente dele quando querem jogar pela relva. Se nos alhearmos das várias vezes que Brahimi furou por entre vários gajos de vermelho e branco para não conseguir depois entrar na área ou rematar porque ninguém criava linhas de passe, só me diz que o jogador não tem culpa de se mostrar mais irreverente que os outros. O treinador, esse sim, tem de perceber se a equipa vai jogar com ele ou para ele. Até lá, vamos perdendo oportunidades umas atrás das outras.

(-) A entrada em jogo. Contra o Benfica escrevi isto: “Os piores dez minutos do FC Porto aconteceram logo no arranque. E foi pena que o Benfica tivesse tido exactamente a atitude oposta entrando estupendamente em jogo, agressivo no meio-campo, intenso e subido para recuperar a bola em zonas onde procurávamos ainda descobrir linhas de passe primárias que raramente existiram. O penalty acabou por ser um infeliz corolário a alguns minutos de intensa pressão e o Benfica fez por merecer isso.” Retirem “Benfica” e coloquem “Braga”, troquem “penalty” por “golo” e está explicado o porquê da desvantagem que poderia ter sido maior no final da primeira parte, não tivesse Deus tido misericórdia nossa e feito com que o enormíssimo cabrão do Pedro Santos falhasse o penalty, trazendo um pouco de justiça no sentido de lixar a noite de um estupor que até então tinha gozado de todos os privilégios possíveis por parte do árbitro. Ainda assim é mais um jogo em que entramos demasiado lentos, passivos, permissivos e acima de tudo distraídos. Não consigo perceber como é que Nuno permite que tal se repita, com homens no meio-campo a deixarem passar tudo por eles, os defesas demasiado recuados e lentos a agir e a intervir no jogo. Não percebo, a sério que não.

(-) Produção ofensiva. Pá, malta, temos todos de olhar para isto de uma forma consistente e coerente: não jogamos o suficiente para sermos campeões de uma forma assertiva. Até podemos chegar lá mas será sempre com mais acidentes do que seria expectável e nunca com a força das nossas exibições e a genialidade do nosso futebol. Nem sempre os campeões são feitos da massa que faz deles dignos de serem material para ser usado pelos Miguéis Ângelos deste mundo (o de Florença, não o de Cascais) para criarem as obras indeléveis da nossa história. A verdade é que o nosso jogo na relva, o que de facto produz golos e lances de perigo consistente, a maneira como tratamos a bola como equipa e como nos aproximamos da baliza adversária, não está a ser forte. Espremendo todo o caudal ofensivo, os apoios entre jogadores, a troca de bola e das posições entre colegas de equipa para propiciar hipóteses de marcar golos, dá muito pouco sumo e não estou a ver como podemos encarar qualquer jogo com tranquilidade quando os jogadores estão a jogar ao nível de um gajo com pouco treino mental a sentar-se em cima de uma cama de pregos e a tentar aguentar mais de cinco segundos sem furar as nádegas. Ainda podemos ser campeões mas vai ser sempre à custa de muito suor gasto pelos jogadores e muito pouca cabeça para lá chegar. Custa admitir mas é o que tenho visto.

(-) Arbitragem caseirinha. É incrível como é que Pedro Santos chega ao fim do jogo sem ver um único amarelo por faltas iguais às que deram vários (VÁRIOS, CARALHO, NÃO FOI SÓ UM CASO, FORAM VÁRIOS!!!!) amarelos aos jogadores do FC Porto. É incrível como é que o Brahimi é expulso por whateverthefuck e vai ficar suspenso nas próximas jornadas. É incrível como é que o penalty pela mão do Óliver (justo) é apontado imediatamente mas o Felipe é engravatado na área e não se marca falta. É incrível como o Fede Cartabia pode andar à patada ao Telles e a impedir o Iker de lançar a bola para a frente e continua em campo depois dessa e várias outras. E é claro que houve lances com jogadores do FC Porto a abusarem da sorte (Maxi, mesmo Brahimi em campo, até Danilo numa cotovelada que me pareceu acidental mas acertou no adversário na mesma) mas esse desespero foi causado em grande parte pela arbitragem bem inclinadinha que, mais uma vez, nos prejudicou. Deu-me um certo orgulho ver Luís Gonçalves aos berros com os árbitros e admito que gosto de o ver semi-possuído no banco. Faz falta um gajo desses, palavra.


*suspiro* mais um empate, o terceiro nos últimos quatro jogos. Não é possível pedir grande tranquilidade aos adeptos quando vêem a sua equipa a desperdiçar tantos pontos em tão pouco tempo quando estamos na recta final da Liga. E esta dependência do próximo sábado…nem quero pensar.

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Ouve lá ó Mister – Braga

Companheiro Nuno,

A matemática começa a apertar e os números são cada vez mais fáceis de contabilizar. Os alinhamentos das últimas jornadas fazem com que seja acessível perceber que uma derrota em qualquer ponto daqui até ao final do campeonato pode ser uma sentença de morte para as aspirações que todos temos e por isso se usa aqueles termos absurdos de “x finais até ao fim”. É duro, é letal, mas é o que temos.

Este jogo em Braga é sempre complicado. Os estupores lutam como dementes para sacar todos os pontos em disputa e se não nos acauletarmos em condições, vamos ficar pelo caminho antes do que pretendemos. Hoje temos de fazer uma exibição suficiente para ganhar. Não quero saber se é bonito, se é elegante do ponto de vista técnico ou táctico, mas temos de vencer o jogo. Não há tempo sequer para pensar noutro resultado e se queremos estar nos Aliados em Maio temos de vencer todos os jogos, em casa ou fora. E o Braga é só mais um desses jogos. É tramado mas é só mais um.

Entra em campo com vontade de vencer. Tenta marcar cedo e explorar o contra-ataque quando puderes. Não abuses do jogo mastigado no meio-campo, sê rápido e prático, apoia os flancos e roda a bola com certeza. Joga em condições. Joga com os olhos na outra baliza. Ganha o jogo. E depois preocupamo-nos com as outras finais.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 0 Belenenses

Ninguém se engane: continuamos na luta. Mas seguimos em frente com uma exibição fraquita, recheada de nervosismo e ansiedade que se compreende e se aceita mas que custa a engolir perante o que já foram tantas e tantas equipas do FC Porto no passado que aguentaram facilmente esta pressão de ter de vencer todos os jogos. Mas é o que temos neste momento e se mesmo em jogos onde não estamos inspirados conseguirmos tirar de lá os três pontos…no fundo é o que interessa neste momento. Dispensavam-se os nervos mas acabo por ficar contente com mais uma vitória que nos deixa de novo em primeiro lugar à condição. Vamos a notas:

(+) Brahimi. Yacinodependência. Brahimizição. Argelinificação. Esta não que faz lembrar o outro idiota. Mas há uma espécie de desleixo competitivo por parte de vários jogadores do FC Porto que se esquecem que Yacine Brahimi é um jogador estupendo mas que não pode pegar na bola a cinquenta metros da baliza e criar perigo constante. Vai perder mais bolas, vai desperdiçar mais lances de ataque e vai enervar a equipa ainda mais. Mas. Mas. Mas o cabrão normalmente consegue mesmo criar mais perigo do que a maioria dos colegas, com a notável capacidade de drible e de rotação a desequilibrarem os defesas mais rijos e rápidos. Brahimi é actualmente o jogador do FC Porto em melhor forma e a sua recuperação física e acima de tudo mental faz com que a equipa seja melhor. Mereceu totalmente o golo que marcou e foi o MVP com muitos quilómetros de distância, tantos quanto correu.

(+) A entrada de Corona. Que diferença fez a entrada de um homem fresco e capaz (quando quer) para a equipa, estruturando-a de uma forma bem mais elegante e firme num 4-3-3 mais clássico, com dois homens nas alas e um no meio. Sem adaptações, sem gente descaída a desempenhar papéis que não lhes pertencem e com homens certos nos lugares certos. Corona não fez um grande jogo mas assistiu Soares na perfeição e foi responsável por uns bons 10/15 minutos, bem mais oleados do que até então se tinha visto.

(+) Maxi. Apesar de ter um corredor enorme à sua frente, raramente teve apoio em condições por parte de André Silva, que parece tão adaptado a jogar descaído na direita (algo que fez muitas vezes na B, curiosamente) como eu a trabalhar com um tear mecânico. No entanto, o uruguaio foi dos jogadores mais lutadores e apareceu várias vezes em posição de assistir os colegas para golo e se as bolas não entraram não foi por culpa dele.

(-) Novamente a ansiedade. Os jogadores do FC Porto por vezes assemelham-se a criancinhas. Pequeninos em estatura, nervosos e distraídos, pareceu-me que entraram em campo sem grande capacidade de movimentação e desfocados do objectivo de vencer a partida. A hibridização táctica que Nuno enfia na equipa tem destas coisas e foi um fartote ver os braços esticados durante o jogo a pedir que jogador X fosse para o lugar Y para receber a bola do colega Z. O meu pai, que estava a ver o jogo num café à beira-mar, enviou-me uma mensagem logo após o segundo golo levantou o nevoeiro que até então tinha inundado a zona que o acolhia. E no estádio, apesar do nevoeiro estar longe, pareceu também sair de cima dos jogadores uma tremenda dose de desconfiança e começaram a ficar mais soltos e menos nervosos. Mas esta também é uma forma de ver as coisas estranha tendo em conta o passado não-tão-recente do clube: se a malta entra tão nervosa e descomprime de tal maneira depois de alguns golos que começa a fazer parvoíces atrás de parvoíces, os sinais de maturidade não são visíveis. Muito pelo contrário, só me diz que esta equipa ainda precisa de caminhar muitas estradas sinuosas até começar a ter o calo que precisa e que os adeptos exigem. Tempo? Isso é que não há…

(-) Óliver. É raro achar que Óliver está mal em campo porque mesmo que não esteja muito interventivo, mal a bola lhe chega aos pés há um salpicar de magia naquele relvado e fico com os olhinhos cheios de corações como uma tween a ver os One Direction. Mas hoje nada correu bem. Escondido do jogo durante muito tempo, sempre que se soltava era como se uma parede aparecesse em campo, tamanha foi a quantidade de vezes que serviu como ponto de ressalto imediato para um colega. Falhou passes em demasia e nunca pareceu confortável com a bola. Um jogo muito fraco, ao contrário do que costuma acontecer.

(-) André Silva. Upa, que trapalhão estiveste hoje, rapaz! Se é verdade que não gosto nada de o ver descaído para uma ala, não ajudou o facto de não conseguir arrancar em drible de uma forma consistente e de não conseguir criar linhas de passe decentes para os colegas lhe atirarem a bola. Pareceu cansado e temos mesmo de começar a recuperar o Corona para Braga, porque não vejo esta táctica a funcionar sem um homem expedito a jogar naquele flanco. De facto, neste momento, entre André Silva e Corona no lado direito…prefiro o Jota.


Tanta conversa tive eu com a bandeira e acabei por não a ver. Ia rasgar o Belenenses de cima a baixo mas como estava parcialmente distraído na entrada das equipas em campo (nem cantei o hino desta vez, ultrage!), não reparei se entraram com ela ou não. Alguém me esclarece?

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Ouve lá ó Mister – Belenenses

Companheiro Nuno,

Acompanha-me num exercício, se fizeres o obséquio. Vamos tentar fugir um bocadinho da normalidade semanal da bola portuguesa. Procuremos o alheamento dos insultos, das tiradas sarcásticas, da forma truculenta com que os intervenientes se tratam uns aos outros e onde o que parece normalmente é. Fujamos pois para um mundo mais calmo, pacífico, com nuvens brancas passeiam descansadas na frente de um céu azul e sorriem para os comuns mortais cá em baixo. Estamos em paz, olhamos para o futuro e para o horizonte com um sorriso nos lábios, um copo de boa cerveja e amena cavaqueira, enquanto ouvimos o Dark Side of the Moon e sonhamos em chegar lá ao fundo com mais um poucochinho de tranquilidade nas nossas almas.

E será assim no Dragão hoje à tarde, quando o Belenenses entrar no estádio com a nossa bandeira a ser transportada por alguns dos seus jogadores, preservando a tradição que começou há tantos anos e que já cumprimos na primeira volta do campeonato, no Restelo, com a coroa de flores depositada com solenidade aos pés do mini-mausoléu erguido a Pepe. Será mais um dos raros momentos de sintonia extra-futebol, da união das massas por um bem maior e que nos puxa, mesmo que apenas por alguns minutos, para fora deste lamaçal competitivo que nos inunda o dia-a-dia.

Depois…venham eles. Caiam eles. Fiquemos nós de pé, prontos para mais uma boa tarde de sábado e que a vitória nos sorria. Esqueçamos o jogo da semana passada. O que conta é sempre o próximo, Nuno!

Sou quem sabes,
Jorge

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