Ecoponto vermelho

Enganam-se os que lêem isto a pensar que vou bater no Benfica. Longe disso, apesar do jogo menos bom de ontem, há que dar os parabéns pela excelente sequência de 18 jogos, mais ou menos sofridos, mais ou menos espectaculares, foi a grande nível que se exibiram nos últimos jogos e a equipa teria eventualmente de quebrar. Aconteceu ontem e se podem culpar Xistra pela inversão da falta que Javi sofreu e cuja retaliação exagerada levou à sua correcta expulsão, já não o podem fazer contra a falha de Roberto ou a implosão física do meio-campo que estava tão pressionado pelo número de jogos e que não aguentou como o fez (e bem) no Dragão e em Alvalade.

Mas a contestação, natural e esperada por parte de dirigentes, treinadores e adeptos, parece transpôr as barreiras naturais entre imprensa e a realidade factual. A capa d’A Bola de hoje é mais um exemplo da promiscuidade badalhoca que se vive os centros de poder, que vendem a sua ética e o sentido profissional como vendilhões de um templo por eles próprios criado. A capa do excremento jornalístico que se auto-cognomeia com um epíteto religioso apresenta toda a parcialidade de uma mãe a defender o seu menino de mais uma tareia no recreio da escolinha, partindo (de novo) para a protecção de um clube que dela não precisa, com frases em grossa ironia que fariam Goebbels parecer um jovem da Juventude Centrista.

A frase que surge na superior esquerda da capa, um sub-título vil e pernicioso, está ao contrário, como de costume. Ao passo que é mais uma vez o FC Porto (aquele que iria “pagar em todas as frentes”, e que foi “apanhado por todas as câmaras”, como parangonas do passado fariam crer) que é visado, uma pessoa coerente diria antes que “O Benfica não precisava de um jornal a defendê-lo de uma forma tão frontal e dedicada, meses depois de enterrar o seu guarda-redes e treinador num lamaçal de insinuações e insultos”.

É este o tipo de jornalismo que temos de suportar. É com esta gente, contra esta gente que temos também de lutar para conseguirmos vencer. Não basta vencer em campo, porque o nome do nosso clube está na capa mesmo sem ter jogado, como se de um Big Brother futebolístico se tratasse, com toda a distopia que foi gerada em torno de uma, de mais uma, de apenas mais uma situação em que nos tentam empurrar para o meio de uma guerra que não é nossa. Fica o e-mail para reclamações  – [email protected] – se forem um cliente, claro. Cairá em saco roto, ao contrário dos bolsos dos editores e redactores do jornal que os emprega e que sujam o nome de um jornal que já foi uma referência de qualidade. Hoje em dia, se tanto, é uma referência da parcialidade e da recta descendente que o jornalismo iniciou e de onde não há grandes hipóteses de redenção.

Sei que não há ecopontos vermelhos. Mas devia. E a Bola devia forrar os fundos de todos.

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Fresquinho

Aqui ao lado está a previsão metereológica para quinta-feira, em Moscovo.

Aqui em baixo está a proposta do conteúdo dos sacos dos jogadores para a viagem:

  • Luvas
  • Cachecol
  • Zibelina
  • Três camisolas de lã
  • Samarra
  • Meias
  • Pijama de flanela
  • Cobertor
  • Edredão
  • Manta
  • Um flask de Vinho do Porto

Acho que chega. Não se esqueçam de tirar o edredão antes de entrar em campo. Pode incomodar enquanto festejam os golos.

 

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E com Otamendi vão 9

Só hoje li sobre o interesse do Real Madrid em Otamendi. O suposto interesse, note-se.

Com este já vamos em 9 jogadores que já foram vendidos através da imprensa portuguesa depois do fecho do mercado de inverno: Hulk, Rolando, Fucile, Mariano, Cristián Rodríguez, Falcao, Álvaro Pereira e Ruben Micael.

Os jornais desportivos portugueses funcionam como um mau romancista: quando não conseguem inventar mais nenhum enredo plausível, retomam a velha história e siga a rusga. Com ou sem factos concretos.

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Baías e Baronis – FC Porto vs Vitória Guimarães

 

Enervei-me hoje ao fim da tarde no Dragão. Uma das primeiras partes mais ineptas dos últimos meses, com uma gritante incapacidade de ruptura do meio-campo e do ataque através de uma estrutura branca que parecia uma estação de recolha dos STCP. O Guimarães veio ao Dragão simplesmente para não perder e tentou conseguir o objectivo à custa de fita, traulitada e tranca no meio-campo. Não o conseguiu e nem me lembro de ter feito sequer um remate à baliza de Helton, mas lixou-nos a organização ofensiva de tal forma que ao final da primeira parte pensei que não íamos conseguir ganhar o jogo. Depois…apareceu James e Falcao, Guarín e Varela, Álvaro e Rodríguez, Fucile e Ruben. A história foi diferente, fomos muito mais agressivos sobre a bola e empurramos o adversário para trás, com os laterais finalmente a fazerem o flanco todo e os dois avançados das pontas a recuarem para o centro do terreno e a criarem os espaços que precisávamos. Ufa. Vamos a notas:

 

(+) James Excelente jogo do puto, principalmente na segunda parte. Mostrou, como já tinha feito em Olhão, que rende muito mais quando joga atrás do avançado do que encostado à linha. Mais solto, mais inteligente e mais prático, está a crescer em forma e confiança. Nota-se bem a evolução táctica e no passe para o primeiro golo é evidente que o rapaz sabe o que está a fazer e fá-lo muito bem. Mexeu com a equipa e Villas-Boas usou a substituição na altura perfeita para criar empatia com os adeptos que começam a ficar convencidos que temos ali um jogador que já tem presente mas que terá um futuro muito interessante.

(+) Guarín Preparem-se, porque esta frase muito raramente podem ler em qualquer local. Prontos? Cá vai: Guarín foi o responsável pela estabilização do jogo ofensivo e sem ele o meio-campo do FC Porto nunca poderia ter ganho a consistência que mostrou nos últimos 30 minutos do jogo. O que é mais interessante nesta frase é que é tudo verdade, mesmo não parecendo. Guarín entrou decidido, com confiança, a rematar cheio de garra e de força e conseguiu em 10 minutos o que os outros colegas não fizeram no resto do tempo. Foi o desiquilibrador de serviço. Não se riam, é verdade! Grande jogo.

(+) Fernando É fácil descrever o jogo do “polvo” hoje à tarde no Dragão. Simples, directo, prático e eficaz. Não inventou, não se meteu em buracos de onde não podia sair, limitou-se a rodar a bola e a interceptar muitas jogadas de perigo dos adversários com carrinhos perfeitos e antecipações dignas de um Desailly. Excelente.

(+) Villas-Boas Ainda que possamos questionar a opção por Maicon em vez de Otamendi na equipa inicial, é inegável que hoje Villas-Boas esteve quase perfeito. As substituições foram perfeitas e ao agrado dos sócios o que é quase impossível de acontecer porque o pessoal não se impressiona facilmente. Tirou Belluschi que estava a ter a produtividade de um cacto ao sol e colocou em campo Guarín que fez um jogão; retirou Varela, exausto, e enfiou em campo um Rodríguez que parecia o mesmo que chegou ao Dragão em 2008; tirou James para trinta e seis mil aplausos e colocou em campo Ruben que fez a assistência para o segundo golo. Melhor só mesmo se tivesse entrado em campo para dar dois estalos no Jorge Ribeiro e calcando-lhe a traqueia dizer-lhe: “Oh minha besta, porque é que não fazes um favor a todos e vais jogar para o Chipre? Qualquer coisa para não ter de cheirar o teu hálito a lixo, verme nojento!”. Se calhar era pedir demais.

(+) Todo o flanco esquerdo É um luxo ter Álvaro Pereira na equipa. Se soubesse apontar os cruzamentos para os avançados em vez de os enviar em balão, tínhamos um jogador quase perfeito, mas enfim…agora se somarmos um Varela muito esforçado e produtivo ao contrário dos últimos jogos e um Rodríguez que entrou com um fogo no traseiro como já não o via há muito tempo, temos uma capacidade de criação de lances ofensivos que rivaliza com Evra/Giggs. Pronto, pronto, talvez não tão bom, mas pelo menos ao nível de Cissokho/Michel Bastos. Sim, bem melhor.

 

(-) Belluschi Um rotundo e completo zero. Menos que zero, um cinco negativo. Falhou no passe, no controlo de bola, na pressão, na ruptura em movimento, no remate e na postura. Desaminou muito rapidamente e fez lembrar o Belluschi de ano passado que fugia das bolas e que não conseguia acertar um passe se a vida da sua filha recém-nascida (parabéns, puto!) dependesse disso. Há jogos assim e esta exibição não mancha a boa época que tem vindo a fazer, mas hoje foi mau demais para ficar em campo para lá do que lhe foi permitido.

(-) Qualidade de passe. Outra vez. Mais uma vez. É um tópico recorrente aqui nos Baronis e não o vou largar até ver melhorias. É uma vergonha perceber que a equipa principal do FC Porto tem em média a capacidade técnica de um iaque paralítico. O que nos vale, felizmente, é que compensam a inépcia com o esforço e com alguma qualidade táctica e de desenvoltura, porque se dependêssemos apenas de cruzamentos ou de passes curtos a vida tornar-se-ia muito complicada. Vi Fucile, Varela e Belluschi, três jogadores de topo em Portugal, a trocar a bola pelo ar sem a conseguir baixar para o relvado e, em consequência, a deixarem-na sair do campo; vi Maicon repetidamente a pontapear a bola para a bancada…quando tentava passes longos; vi cruzamentos de Álvaro a embaterem no primeiro gajo de branco que aparecia à frente porque nenhum deles teve como objectivo a cabeça de Falcao ou de outro colega; vi um contra-ataque que chegou a ser 5×1 a transformar-se num 3×2 e a terminar num remate para a bancada porque Ruben não conseguiu dominar a bola em condições. Vi o que vejo vezes sem conta: um grupo de rapazes inteligentes, tacticamente disciplinados e esforçados mas que se tivessem de acertar num poste de electricidade a 30 metros para evitar que o Dragão explodisse, tínhamos de alugar o Bessa para os jogos em casa.

(-) Apanha-bolas do Dragão Ainda me têm de explicar o porquê de termos apanha-bolas que não conseguem segurar uma bola em condições. Hoje vi um rapaz, que não podia ter mais de 8 ou 9 anos, descansado da vida e sentado provavelmente a pensar na data em que orgulhosas pilosidades começarão a florescer da sua renovada púbis, enquanto Álvaro Pereira desesperadamente procurava uma bola para efectuar um lançamento lateral. Só quando o estádio o alertou com o som de quarenta camionistas em marcha lenta é que o puto se mexeu, para espanto da audiência. É ridículo que um clube profissional do nosso estatuto “empregue” estes miúdos que não ligam pevide ao que se está a passar em campo e é confrangedor ver jogos lá fora em que os dinâmicos rapazes entregam a bola de imediato aos seus jogadores (e até aos da outra equipa, vejam lá) e olhar para os nossos, indolentes, adormecidos, parvos. Por favor mudem os rapazes ou ponham placards de publicidade mais altos para ver se as bolas não saem tantas vezes do recinto de jogo.

(-) Critérios de arbitragem Jorge Sousa hoje ainda conseguiu manter o seu critério até Jorge Ribeiro, ele que é uma pobre desculpa para um jogador de futebol em forma de monte de estrume humano, começar a arruaça. A partir daí foi um festival de erros, más decisões tanto dele como dos fiscais-de-linha, especialmente o rapazola que jogou do lado da minha bancada que trocava pontapés de baliza por cantos, lançamentos ao contrário e uma incapacidade geral de ser normalzinho. Jorge Sousa conseguia ver como normais os lances em que Edgar ou qualquer outro anormal vitoriano espetava os cotovelos no peito de Maicon, mas uma pressão um pouco mais forte pelas costas que levava a um arremesso directo para a piscina de um senhor de branco…prriiiiu. Anedóticas são também as declarações de Manuel Machado depois do jogo, a contestar os amarelos que recebeu. Nelo, desculpa lá, rapaz, mas foram bem dados. E ainda faltaram alguns.

 

No final do jogo, em conversa com o autor do Revolta Azul e Branca que tive o prazer de conhecer antes da partida, discutíamos o sofrimento que ambos sentimos. Foi um jogo de nervos e se o golo de Falcao não tivesse entrado naquela altura acredito que ainda tinha sofrido mais. A subida de rendimento na segunda parte foi fundamental mas como já aconteceu no passado voltamos a entrar lentos, previsíveis e incapazes de imprimir a velocidade que o jogo exigia. A defesa está sólida (mesmo com Maicon) e não vem mal ao mundo esperar pelas segundas-partes para resolver, mas o exemplo do jogo contra o Sevilha mostra que nem sempre as coisas correm bem. Ainda faltam mais 8 jogos para acabar a Liga e não podemos falhar. Não duvido que essa pressão está a afectar os rapazes, mas estou a gostar do empenho, mesmo que não seja bem orientado durante alguns períodos do jogo. Temos de ser mais constantes e coerentes com o talento e a posição que ocupamos para evitar chatices até ao final…

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