Ouve lá ó Mister – Estoril


Amigo Vítor,

O jogo com o Sporting já lá vai. Longe, como um combóio à distância visto de uma qualquer estação deste país, especialmente em dias de não-greve, que parecem ser cada vez menos frequentes. Mas a metáfora do combóio não se aplica a nenhum minuto dos noventa e pico que foram disputados em Alvalade. Parecia mais uma daquelas maquinetas que se viam nos filmes de cobóis, da altura da construção dos caminhos de ferro nos “steites”, tás a ver o que estou a falar? Oh pá, não faço ideia como é que essas coisas se chamam, pera lá…(googling…googling…found!)…dresinas! É isso mesmo! E imagina que de um lado estava o Otamendi e do outro estavam dez desgraçados que acabaram de se formar em Direito Bibliotecário ou qualquer merda do género. Sem aspirações, sem vida, sem alma nenhuma, com a teoria lá dentro mas a prática…esquece. Pois foi assim que vimos a equipa na semana passada e há duas semanas, neste mesmo estádio onde hoje eu e tu vamos estar (em zonas diferentes, claro), contra o Rio Ave. Têm sido dias complicados, não haja dúvida, e algo me diz que este jogo contra o Estoril não vai ser muito diferente. Chama-me pessimista, mas é o que sinto.

Por isso peço-te que tentes mudar o meu estado de espírito e faças alguma coisa para motivar as tropas. Já sei que o jogo da próxima quarta-feira vai estar na cornadeira de tudo que estiver de azul-e-branco no relvado e fora dele, mas temos de encarar isto um jogo de cada vez. E primeiro vem aí o Estoril, que nos vai dar água p’las barbichas sem olhar duas vezes para cuspir para o chão depois de levar um ou quinze murros nos dentes. São rijos, os estupores, atacam rápido e defendem com firmeza. Mas não podemos perder mais pontos, Vitor, muito menos no Dragão e contra uma equipa que ainda no ano passado jogava contra o Arouca. Temos de ganhar o jogo com inteligência, mesmo sabendo que te vai faltar o oito no meio-campo e o vinte-e-dois na defesa, mas temos de ganhar este jogo de uma forma tal que a malta não se convença que os bons tempos já lá vão e que a próxima quarta-feira, que até nos podia deixar todos contentes, vai fazer muito estômago torcer e esófago contrair.

Diz que vai chover. Faz com que sejam golos, senhor, que sejam golos!

Sou quem sabes,
Jorge

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Não desisto, carago, não desisto!

Queixei-me no ano passado por ter havido tantos jogos em que entregávamos o jogo ao adversário e o deixávamos a tentar porfiar numa qualquer jogada de ataque. Parece que havia uma determinada altura do jogo em que recuávamos para uma posição mais atrasada e nos deixávamos ficar por ali, à espera que o tempo se esgotasse e que desse destino feliz à magra vantagem que na altura tínhamos no marcador. Um golo, talvez dois, e o recuo. Na altura disse: “Parece que estamos a perder a arrogância positiva que devíamos impôr em cada confronto em que estamos envolvidos, aquela exclamação que todos os portistas têm em todos os jogos: “É para ganhar, carago!”.” Foi assim em jogos demais, e a malta chateava-se.

Este ano, o problema é outro. Temos posse de bola em rácios absurdos, mantemos o jogo que o treinador já admitiu ser a sua preferência, conquistamos a bola no meio-campo do adversário e temos a melhor defesa do campeonato. Mas as exibições são inconstantes, cheias de erros, com uma consistência nas falhas técnicas que me preocupam e preocupam todos os adeptos. Já foi assim em jogos demais e a malta, como no ano passado, chateia-se.

Mas peço que se lembrem que estes mesmos rapazes são capazes de bem melhor do que vimos em Alvalade e é nestas alturas que temos de unir esforços para voltarmos a fazer esse tipo de exibições. Lembrem-se do jogo em Guimarães e na Luz ou dos jogos no Dragão contra Málaga e PSG, lembrem-se da pressão alta, das jogadas combinadas, da tal arrogância positiva no controlo do jogo, do domínio da bola em zonas recuadas e avançadas, da incredulidade dos adversários em perceber como nos tirar a bola, a atitude, a força e a vontade. Lembrem-se de tudo isso antes de começarem a espingardar em todas as direcções, a estupidificar na caixa de comentários (de onde só neste fim-de-semana já tive de censurar bem mais que uma dúzia, e só um vinha de verde-e-branco vestido mas com exagero na linguagem) ou a pedir que todos sejam despedidos a torto e a direito.

E lembrem isso tudo aos jogadores, já agora na sexta-feira contra o Estoril. Mas lembrem-lhes com gritos de incentivo, não com assobios.

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Ouve lá ó Mister – Sporting


Amigo Vítor,

Mas que puta de bomba nos estourou a meio metro dos dentes ontem à tarde, rapaz! Quando soube da notícia do Moutinho fui invadido por uma sensação de insegurança como se estivesse pendurado de uma ponte daquelas de cordas como no Indiana Jones, à espera que aparecesse algum cavaleiro do apocalipse que me dissesse ao ouvido: “tás fodidinho, rapaz, todo fodidinho…”. Mas não desanimo, nem tu podes desanimar, nem nenhum dos teus rapazes pode desanimar.

Só te peço para não entrares no jogo com a cagança de quem vai dezenas de pontos à frente do adversário. Entra com confiança, sem medo, mas com a suspeita que do outro lado pode haver gente que lhe está a apetecer correr mais do que costuma fazer noutros jogos. Até porque, e vamos lá ser sinceros, não há mais nenhum jogo em que estes rapazes possam brilhar a sério até ao final da época, com a possível do derby na Luz, onde muito provavelmente vão ter de untar os rabinhos com a pomada do costume, que este ano já por tantas vezes foi utilizada e reutilizada. E é isso que me assusta um bom pedaço, Vitor, é aquele orgulho que lhes pode dar contra nós e que não lhes deu nem na pontinha das unhas dos pés contra o Videoton, ou contra montes de outras equipas que lhes roubaram golos, pontos e dignidade.

Eles vão entrar com força, mas nervosos. Com vontade, mas a tremer. E não vai ser por culpa exclusiva da falta de cimento nas pernas que quase todos têm, mas vai ter de lhes ser injectado directamente nos olhos por nós. Nós é que vamos trocar a bola no meio-campo deles, pressionar logo à saída da defesa, castigar as alas, carregar nos médios, secar os avançados. Nós é que vamos ganhar esta merda e nem quero saber de que côr é o gajo que marque os golos, de que país veio ou que carro conduz. Nem quero saber o nome dele, hoje. Hoje só quero ver o FC Porto a ganhar ao Sporting e a empurrar os fulanos mais um bocadinho…mais um bocadinho…só mais um bocadinho para aquele poço de onde já não vão sair até ao fim do ano.

Vamos, Vitor, faz-me a vontade.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Rio Ave


Amigo Vítor,

Só passou uma semana desde o jogo contra o Málaga (menos, se fores a pensar nisso com cabecinha) e já estou de novo com aquela fome de te ver a enervar no banco e fora dele enquanto gritas ordens para a malta. E este conversa de andar feito parvinho a oscilar na forma dos rapazes é só mais uma forma de te engrandecer, porque nem todos são iguais e até no “mas uns são mais iguais que outros” tu consegues ver discrepâncias se procurares bem.

E ainda por cima já sei que te vai custar imenso mas tens de esperar até Domingo à tarde para ler a minha opinião. Arranjaram-me um berbicacho que não consigo adiar (nem quero) e há sempre prioridades, não é verdade, pá? Amizade antes de portismo, am I right? Indeed.

Por isso o jogo hoje pode ser lixado, mas tem de ser ganho. O Rio Ave não vem ao Dragão para brincar e vai estar a carregar na nossa focinheira como se não houvesse amanhã. Porque, se perderes pontos, pode ser que não haja mesmo.

Sou quem sabes,
Jorge

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Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 0 Málaga

foto retirada de MaisFutebol

É uma vitória. É uma boa vitória. É uma magra vitória. É uma vitória. Foi um jogo tenso, como tantos outros que já vi em confrontos europeus, com o FC Porto sempre a controlar o jogo, ofensiva e defensivamente, frente a um Málaga que optou por um jogo mais recuado para que pudesse aguentar um resultado positivo e na segunda mão mudar um pouco a atitude. E quase que o conseguia, não fosse Moutinho, mais uma vez o melhor em campo, a matar (mais) um trabalho estupendo de Alex Sandro, com raça, querer, luta, empenho. Foi a imagem mais digna de uma equipa que lutou por um resultado melhor mas que se pode queixar de um Málaga muito seguro na defesa e de muita ineficácia na frente da baliza. Jogos de Champions são outra coisa, não haja dúvida. Vamos a notas:

(+) Moutinho. Já começa a ser complicado falar de ti sem que me comece a babar e a agradecer a Deus e ao Sporting por te ter “despachado” para o nosso seio. É um prazer ver-te a jogar, João, palavra que é, porque és tudo que eu sempre gostei de ver num jogador moderno de futebol. Porque sabes exactamente quando rodar e quando prender a bola. Porque esperas mesmo até ao segundo certo para veres o colega a passar por ti e sabes que é a ele que vais entregar o jogo. Porque comandas, de trás para a frente, sem arrogâncias nem tiques de vedeta. Porque tentas sempre jogar pelo melhor caminho, pelas estradas mais limpas e mais seguras. Porque dás estrutura ao meio-campo e organizas o jogo como poucos vi a fazer. Por isso tudo, obrigado, rapaz. Quando via o Jardel, pensei que nunca mais ia aparecer outro no meu clube até que chegou o Radamel. E o mesmo acontece contigo, depois do Deco.

(+) Alex Sandro. A meio da segunda parte dizia-me o Rui, um dos meus colegas de bancada desde 2004: “Este moço custou metade do Danilo e é o dobro do jogador!”. Não vai receber qualquer contestação da minha parte. É um rapaz curioso, este Alex. Parece magrinho mas usa muito bem o corpo e aguenta o choque como um Jorge Costa. Tem excelente noção de arranque, bom salto, brilhante técnica individual e não cruza mal. Mas é quando sobe pelo flanco em apoio, recebendo a bola no espaço vinda de Moutinho ou de Marat, quando aparece nas costas dos defesas, dos médios, dos alas adversários, é aí que Alex brilha ainda mais. Já conquistou os adeptos e cada vez estou mais certo que será o futuro titular do Brasil. E a continuar assim, vamos precisar de outro defesa-esquerdo para o ano que vem…

(+) Fernando e o resto dos pressionadores. A pressão que temos de exercer é alta e só pode ser alta, para roubar espaço ao adversário e impedir que saiam com a bola controlada. Mas a equipa do FC Porto hoje foi excelente na recuperação da bola no meio-campo contrário, com Moutinho, Fernando, Lucho, até Jackson e Marat, todos eles a esticarem a perna, a forçarem o erro adversário, a sacar um turnover quando o oponente menos esperava. Fomos rápidos, felinos, inteligentes, lutadores, como devíamos sempre ser mas nem sempre precisamos de fazer. Fernando destacou-se acima dos outros pela forma como conseguiu livrar-se muitas vezes de uma pressão alta forte do adversário, rompendo pelo centro quando era preciso e enviando a bola para o colega mais bem colocado. Muito bem, atrás e à frente.

(+) O público. Quarenta e tal mil vozes no Dragão, incluindo aí umas três mil andaluzas. E quão diferente é um espectáculo quando o adversário provoca, puxa, incita à rivalidade saudável como os Malaguenhos (com M grande) fizeram hoje no Dragão, e levaram resposta à altura (com alguma estupidez brejeira e ridiculamente nacionalista que perdoo porque, francamente, a maioria não sabe outra conversa que não aquela) do resto da malta, que sentiu sempre que a equipa tinha a ganhar com a nossa voz, com o nosso cantar, com a goela a guinchar como loucos (ou turcos, ou gregos se quiserem) no apoio das nossas cores. O futebol devia ser sempre assim.

(-) Ineficácia perto e dentro da área Mas nem tudo são rosas sem espinhos. Continuamos a falhar em demasia à entrada da área, porque os passes saem curtos quando devem ser longos e versa-vice. Há muito nervosismo naquela zona, demasiada ansiedade pelo remate que raramente sai direito, poucas opções de velocidade em espaços curtos e ainda menos capacidade de colocar a bola na perfeição para Jackson ou qualquer outro ponta-de-lança poder empurrar para a baliza. E estes problemas agravam-se quando se encontra uma defesa como a do Málaga, com um Demichelis quase perfeito, um Antunes certinho e prático e um Sergio Sanchez que é melhor do que parece (não é rápido mas tem um timing de corte impecável). Creio que é o principal ponto a melhorar na nossa equipa, e nota-se imenso a diferença para outros grandes clubes em jogos deste nível. Não se pode criar tanto jogo para depois falhar tantos passes sem sequer conseguir tentar produzir um remate ou um lance claro de golo. Em Málaga, se continuarmos assim, vamos sofrer e bem.


Há uma diferença muito grande entre jogar contra uma equipa defensiva portuguesa e outra “europeia”. As nossas, as dezenas de -enses que por cá gravitam e sobrevivem época após época na Liga, jogam em casulo, uma espécie de igloo recuado e emparedado em trinta metros de espaço. Lá fora, como vimos hoje, há equipas que também são defensivas, que usam o ataque de forma esporádica, rápida, sem gosto pela bola mas com objectividade maior que um arqueiro com a seta apontada ao alvo. Só que o fazem de uma maneira ampla, dinâmica, ao campo todo, rijos mas bem posicionados, técnicamente hábeis mas com sentido prático elevado. E defendem até onde podem, mas bem, esperando que o adversário não consiga furar a barreira. E hoje, quase o conseguiram. Venha a segunda mão. Estou ansioso.

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