Baías e Baronis – União Leiria 2 vs 5 FC Porto

foto retirada de MaisFutebol

O jogo teve um bocado de tudo: bons golos, excelentes jogadas, escuridão imprevista, pontapé para a frente, corridas loucas, remates no ar, falhas defensivas, distrações aéreas, concentração guardarredística e alguma emoção. Serviu acima de tudo para provar que a equipa está em construção mas que já temos hipótese de alterar algumas peças do onze-base e não sofrer (muito) com isso. É evidente que houve falhas defensivas e continuamos a cometer os mesmos erros que me lembro de ver desde 2004, porque esse foi o último ano que me lembro que a primeira coisa que uma equipa faz quando está a trocar a bola na zona defensiva é garantir que a pressão do adversário não vai incomodar porque a velocidade de execução é mais alta que a do adversário. E esse foi dos poucos pontos menos bons do jogo. Ora neste caso interessa-me mais falar da boa resposta dada pelos jogadores, acima de tudo do meio-campo para a frente. Ah, e o Kleber marcou, finalmente, e logo dois golos à ponta-de-lança. Vamos a notas:

 

(+) James Quem reler os B&Bs do início da temporada passada pode perceber melhor a evolução do puto desde essa altura. James, acabado de chegar do campeonato argentino, era um jovem com medo da relva, da bola e ainda mais dos adversários, que se encolhia ao contacto e que passava curto e sem grande chama. A meio da época começou a crescer, a habituar-se a um futebol mais rápido, com mais pressão e maior intensidade e foi evoluindo até chegar ao Mundial de Sub-20 e brilhar pela sua selecção. Hoje mostrou que está melhor, mais rápido, mais inteligente e muito mais jogador. Para além dos dois golos que marcou, quais deles o melhor, a imagem do passe longo de Álvaro que o levou a sprintar até à linha para ainda conseguir cruzar para Kleber e ganhar um canto foi a que me ficou na retina. É este o James que vamos ter em 2011/2012? Quem dera que sim.

(+) Kleber Dois golos e mais uma ou duas excelentes oportunidades falhadas por pouco. Não muda desde que começou a jogar de azul-e-branco e mostra esforço durante todo o jogo, que hoje foi finalmente recompensado. É isto que precisa de fazer, ser moderadamente eficaz em todos os jogos, porque um ponta-de-lança nunca marca em todas as oportunidades que tem, mas precisa de tentar sempre e com a moral em alta os golos acabam por ser naturais. É jeitoso e apesar de ainda não ter mostrado aquele instinto que Falcao tem e que nos enfeitiçou, espero que seja o início de uma longa lista de números com uma bola de futebol em clipart no topo da tabela.

(+) Helton Mais uma vez sem defesas muito vistosas mas sempre eficientes. Quando os jogadores do FC Porto pareciam querer relaxar e esperar já pelo jogo de sexta-feira contra o Setúbal, foi Helton que agarrou quase todos os cruzamentos que foram constantemente bombeados por Shaffer ou Ivo Pinto (jeitoso a atacar, o puto, só é pena não saber defender em condições) e limpou montes de jogadas de perigo para a nossa baliza.

(+) Defour Chegaram meia-dúzia de toques na bola para perceber o estilo. Joga simples, prático, sem inventar passes à Belluschi que tanto podem correr muito bem ou muito mal, mas sempre com a noção do espaço que ocupa e do timing certo para subir no terreno em apoio ao ataque. Gostei de ver aquela que vai ser a alternativa a João Moutinho durante a temporada.

(+) Fernando Rápido e grosso: não sabe fazer mais que aquilo que fez hoje, como já mostrou há muito tempo. Mas se o fizer com a eficácia que mostrou hoje na Marinha Grande, quando Moutinho e Belluschi consistentemente falhavam no apoio físico ao Sr.Reges, já vai chegando.

 

(-) Fucile Não gostei da regressão ao Fucile que está distraído e constantemente a olhar para a frente sem perceber se tem um adversário nas costas. Tem a atenuante de não ter tido quase nenhum apoio de Hulk durante todo o jogo, mas tem de entender que não pode falhar um passe parvo no meio-campo quando tem a rectaguarda desprotegida. Sapunaru é menos explosivo mas é mais certo, e custa-me muito dizer isso.

(-) Maicon Continua a queimar oportunidades para ser titular absoluto. Com Otamendi fora, podia ter brilhado e acabou por fazer mais um jogo fraco, com falhas absurdas na defesa (aquele segundo golo do Leiria é ridículo, porque numa equipa como a nossa que defende cantos à zona, Maicon não pode estar passivo, expectante, parado enquanto o jogador adversário ataca a bola com todas as facilidades possíveis. Otamendi é titularíssimo na equipa.

(-) Falta de agressividade no meio-campo Fernando foi o único rapaz que conseguiu impôr o físico no centro do terreno e somou a isso algumas excelentes intercepções que cortaram lances perigosos do Leiria. Moutinho está em baixo de forma e demora muito tempo a executar, enquanto que Belluschi continua a alternar entre o óptimo e o sofrível. É preciso mais consistência, maior velocidade de execução e melhor coordenação motora para enfrentar equipas de outro nível como vai já acontecer na próxima terça-feira. Pode ser que ainda faltem pernas, mas essa desculpa tem um prazo de validade cada vez mais curto.

 

Cinco batatas lá dentro e a noção que a equipa está a começar a mostrar algum futebol mesmo com todas as condicionantes que apresentou hoje na Marinha Grande. Com Sapunaru, Otamendi e Guarín de volta, as opções alargam-se e se o jogo de hoje é alguma prova da eficácia ou não das deambulações no mercado, os sinais são positivos. Nem sempre é preciso ter um homem de área que faça coisas do outro mundo: é preciso gente à volta dele, ou imediatamente atrás e ao lado, que lhe coloquem a bola direitinha para que um rapaz esforçado como Kleber consiga marcar. Hoje, Belluschi e Álvaro mostraram que os melhores pontas-de-lança são aqueles que empurram a bola para a baliza depois de uma jogada de equipa. Kleber e os adeptos agradecem.

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Ouve lá ó Mister – Leiria

Amigo Vítor,

Estamos de volta! Já fechou o mercado, as pechinchas já foram e vieram, despachámos alguns rapazes simpáticos e ficamos com outros para as encomendas, mas o que interessa é que acabou a folia e estamos prontos para continuar com as festividades a sério. E hoje é um dia grande.

É grande por três motivos, que passo a enumerar:

  • Tens a oportunidade de nos pôr outra vez na liderança;
  • Vais poder mostrar que o nosso plantel tem mais opções que no ano passado e que não precisamos de depender de algumas peças-chave para formar uma equipa que dê garantias;
  • É o primeiro jogo depois do mercado e das notícias todas que dizem que o day after está a ser caótico, e acredita que a resposta dentro de campo é bem mais importante que as frases bombásticas nas conferências de imprensa;
Para além disso vais apanhar uma equipa que arrasta tantos adeptos como o S.Pedro da Cova em dia de chuva. Juro que não percebo como é que estes tipos continuam ano após ano na primeira divisão, porque costuma dar para contar o número de pessoas naquelas bancadas do estádio onde costumam jogar. Hoje, ainda por cima, nem em casa jogam. É um jogo fora para ambas as equipas, a fazer lembrar aqueles jogos ridículos de algumas equipas que iam fazer o jogo em estádios maiores só para terem melhores bilheteiras…mas neste caso é ao contrário, que já nem surpreende.
No final do dia, o que interessa é ganhar. E continuar com cem por cento de vitórias, porque estes primeiros jogos do campeonato têm de ser despachados com paciência e nem me importo se não jogamos muito bem, o que interessa é ganhar. Já sabes que depois deste temos mais um jogo na sexta-feira e outro na terça, por isso vais precisar de gerir as pernas dos moços para não começares já a ter chatices com lesões. Por isso faz o que sabes, obriga-os a fazer o mesmo e a vitória sairá naturalmente. Porque para cada Hulk tem de haver um James, para cada Otamendi um Maicon, para cada Guarín um Belluschi. E tenho confiança que vais escolher os melhores.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ah, la jeunesse!

Publico um post a dizer que não há jogadores duros no plantel do FC Porto.

No mesmo dia, Mangala assenta uma bordoada de levantar estádio ao David Simão no amigável contra Portugal.

Mangala faz parte do plantel do FC Porto.

Ergo, Mangala não só lê o Porta19 como também concorda comigo.

 

Bienvenue, Eliaquim! Prepara-te para seres queimado em praça pública antes de poderes dizer: “Oh lá lá” ou qualquer cliché parvo do género.

 

PS: se alguém tiver um video do abalroamento, faça favor de me informar da sua localização. A gerência agradece.

PS2: o video está aqui. Obrigado, Miguel e João!

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Ui, partiu-lhe as pernas!

Onde estão os gajos duros da bola? No actual plantel do FC Porto não consigo vislumbrar um único jogador que me meta medo se fosse jogar contra ele. Sempre tivemos uma tradição de alinhar pelo menos com um ou dois gajos que assustam só de olhar para eles, como um Fernando Couto, um Jorge Costa ou um Paulinho Santos nos anos 90 e o Costinha ou o Bruno Alves (menos que os outros, já que este era mais bruto porque saltava muito mais que os outros. Não era nenhum menino mas não se comparava aos primeiros da lista, por muito que a imprensa e os adeptos adversários adorem dizer que sim e abanem todos com a cabecinha). O FC Porto que joga no futebol moderno, está cheio de gajos como o Materazzi, o Essien ou o Witsel (sim, porque o rapaz para além de saber jogar, sabe acertar e bem), parece ter abdicado deste tipo de jogadores em função de homens mais colectivos, mais pontualmente agressivos em vez de passarem o jogo todo a pensar na melhor forma de romper os gémeos do qualquer infeliz que se atravesse à sua frente. É verdade que qualquer equipa deve ter pelo menos um elemento que faz tremer o mais virtuoso dos avançados quando pensa no que será um simples treino confrontado com o que só pode ser visto como pura e inconfundível maldade. Hoje em dia, não o temos. E não vale a pena falar de algumas entradas rijas do Fernando ou do jogo de braços do Guarín, porque nenhum deles é um Roy Keane ou um Vinnie Jones. Nem perto.

É verdade que se torna um risco enorme ter um jogador deste calibre no onze, pela fácil constatação que esse mesmo onze se pode transformar num dez numa questão de segundos. Mas gajos como Souness, Gentile, Stiles, Montero ou Goikoetchea (“O carniceiro de Bilbau” não é uma alcunha derivada, estranhamente, do talento para desmanchar carnes verdes) foram vitais na ascensão das suas equipas ao zénite do futebol europeu noutros tempos. Hoje em dia é quase impensável assumir que há a necessidade de manter uma besta deste nível numa equipa de profissionais, mas admito com as bochechas ruborizadas que sinto algumas saudades de ver o medo nos olhos do jogador adversário que se vê envolvido numa entrada dividida contra o Paulinho Santos e que o faz pensar numa fracção de segundo em telefonar à seguradora e mandar uma carta aos pais a dizer que se calhar já não volta.

Gostava de rever algum tipo de jogador à imagem do que Bill Shankly, esse eminente poço de citações futebolísticas, disse uma vez de Tommy Smith, defesa do Liverpool nos anos 60/70: “Tommy Smith wasn’t born; he was quarried.”, que se traduz toscamente para qualquer coisa como: “Tommy Smith não nasceu: foi extraído de uma pedreira.”. E acho que não estava a falar do estádio do Braga.

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Na estante da Porta19 – Nº4

É até agora o melhor livro sobre futebol que já li e que me motivou ainda mais a procurar outros livros que estejam escritos com a mesma narrativa atraente, interessante e cheia de pequenos nuggets de criatividade e pequenas histórias do jogo dentro do jogo. “Inverting the Pyramid: A History of Football Tactics” é da autoria de Jonathan Wilson, um dos mais reputados jornalistas e cronistas desportivos da actualidade, uma espécie de Luís Freitas Lobo britânico com mais nome no mercado e bastante mais lirismo na prosa. Sim, eu disse “mais”, não me enganei. Ao longo de quase 400 agradáveis páginas o leitor é arrastado para o maravilhoso mundo das tácticas de futebol e da sua evolução ao longo dos tempos, desde o famoso W-M passando pela introdução do quarto defesa por Chapman, olhando para os quadros tácticos e pessoais de Herrera, Michels, Lobanovsky, Sacchi e de todos os grandes treinadores que através da sua visão estratégica ajudaram a moldar o que é actualmente o futebol moderno. Para amantes da modalidade, principalmente, mas acaba por ser material adequado a qualquer pessoa pela qualidade da escrita e pela facilidade com que se absorvem as histórias das personagens que todos conhecemos ou devíamos conhecer.

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