Acéfalos

Chegou-me aos ouvidos que mais uma vez ia havendo molho n’o Dia Seguinte e não questionei o porquê, nem a causa maior do evento. São estas as vozes escolhidas a dedo por um canal de televisão para defenderem as cores dos seus clubes em frente a um público televisivo de tal maneira vidrado no enaltecimento da carneirada nacional que ainda se dá ao trabalho de ouvir o chorrilho de idiotices que se lembram de proclamar naquele ou em qualquer outro dia. Dá audiências, pois claro, porque os acéfalos que ainda têm pachorra para os ver e ouvir partilham do partidarismo saloio e apoia o inapoiável e defende o indefensável. A táctica é sempre a mesma, uma premissa parlamentar que tanto deputado desta nação podre usa e abusa, de dar a facada para depois questionar se a naifa está afiada. “Você é, se me permite, um enormíssimo filho de doze putas, meu caro! Não se exalte, veja lá, olhe que perde a razão quando levanta a voz!”. E o outro replica na mesma moeda. Gomes da Silva, Dias Ferreira e Guilherme Aguiar (que se livrou de ser candidato à minha Câmara e arriscar que eu e tantos outros constituintes votassem em grande número na estátua do Teixeira Lopes antes de pôr o xis nele) são o espelho de um país futebolisticamente tripartido, com ódios gerados e regenerados todas as semanas, onde cada um vê a sua côr e mais nenhuma, sem um grama de equidade, inteligência e retórica coerente no discurso. E riem-se, os parvos, e riem-se, pim.

É por estas e por tantas outras que deixei de ver este tipo de programas e gostava imenso que fizessem o mesmo. Nem me dou ao trabalho de pôr o video aqui porque decidi não dar nem mais um segundo de tempo de antena a símios. E vocês, os que pensam pela vossa cabeça, espero que me perdoem o desabafo.

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Nove jogos

“Mesmo com James a jogar na linha, é frequente vermos o colombiano a vir atrás recolher a bola, criando jogadas ofensivas através da rotação para o flanco oposto, por combinações com Lucho e/ou Moutinho, integrando-se na manobra imaginativa da equipa e transfigurando em grande parte o jogo que é por si movimentado e dinamizado.

Tudo muito bem. Mas, e há sempre um “mas”, o que vai acontecer quando as coisas correrem mal? Assim mal, mesmo mal? Quando não sair um passe em condições porque ficam muito curtos ou longos demais, ou quando o relvado fôr difícil de combater ou o adversário rijo demais para contornar ou ultrapassar? Quando passar um jogo inteiro a procurar espaços na armadura contrária sem os descobrir? Quando o ponta-de-lança disser alhos quando o prato do dia eram bugalhos?

James vai sofrer, garanto. Vai carregar aos ombros o peso que Deco, Hagi, Laudrup, Sócrates, Rui Costa, Zidane e tantos outros tiveram de carregar. A desventura de uma noite em que nada parece fazer o “click” certo para a exibição ser positiva. Aqueles jogos em que por muito talento que o rapaz tenha nos pés e na cabeça (e tem, é certo), por muito esforço que coloque em campo, nenhum pontapé vai ser produtivo, nenhum lance vai ter bom resultado, nenhuma tentativa vai ser bem sucedida. E sei, porque a experiência já mo mostrou muitas vezes em muitos jogos, nem sempre o artista encontra compreensão por parte do público que exige dele o que já viu um dia a fazer, noutro tempo ou noutro local.”

Recupero o texto deste post de Outubro de 2012 (podem ler na íntegra aqui) porque é tão actual que me incomoda. Escrevi sobre James na altura, mas podia aplicar a Lucho, Varela ou Danilo, porque eles e tantos outros já sofreram na pele o que é um jogo em que nada parece resultar, as ideias desaparecem, a mente inclina-se para o desespero, a ansiedade agarra as nossas emoções com grilhões de ferro e a moral cai no relvado.

Há que recuperar a equipa, fisica e moralmente. Faltam nove jogos, carago, nove jogos que se equivalerem a nove vitórias, o que está perfeitamente ao alcance daqueles rapazes, nos podem dar o campeonato.

Nove jogos, meus amigos. Nove jogos. Porra, NOVE jogos. Pouco mais de oitocentos minutos de futebol que tem de ser eficiente, prático, bom. Gasto mais tempo que isso no trânsito durante uma semana de trabalho e custa-me muito mais.

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Não desisto, carago, não desisto!

Queixei-me no ano passado por ter havido tantos jogos em que entregávamos o jogo ao adversário e o deixávamos a tentar porfiar numa qualquer jogada de ataque. Parece que havia uma determinada altura do jogo em que recuávamos para uma posição mais atrasada e nos deixávamos ficar por ali, à espera que o tempo se esgotasse e que desse destino feliz à magra vantagem que na altura tínhamos no marcador. Um golo, talvez dois, e o recuo. Na altura disse: “Parece que estamos a perder a arrogância positiva que devíamos impôr em cada confronto em que estamos envolvidos, aquela exclamação que todos os portistas têm em todos os jogos: “É para ganhar, carago!”.” Foi assim em jogos demais, e a malta chateava-se.

Este ano, o problema é outro. Temos posse de bola em rácios absurdos, mantemos o jogo que o treinador já admitiu ser a sua preferência, conquistamos a bola no meio-campo do adversário e temos a melhor defesa do campeonato. Mas as exibições são inconstantes, cheias de erros, com uma consistência nas falhas técnicas que me preocupam e preocupam todos os adeptos. Já foi assim em jogos demais e a malta, como no ano passado, chateia-se.

Mas peço que se lembrem que estes mesmos rapazes são capazes de bem melhor do que vimos em Alvalade e é nestas alturas que temos de unir esforços para voltarmos a fazer esse tipo de exibições. Lembrem-se do jogo em Guimarães e na Luz ou dos jogos no Dragão contra Málaga e PSG, lembrem-se da pressão alta, das jogadas combinadas, da tal arrogância positiva no controlo do jogo, do domínio da bola em zonas recuadas e avançadas, da incredulidade dos adversários em perceber como nos tirar a bola, a atitude, a força e a vontade. Lembrem-se de tudo isso antes de começarem a espingardar em todas as direcções, a estupidificar na caixa de comentários (de onde só neste fim-de-semana já tive de censurar bem mais que uma dúzia, e só um vinha de verde-e-branco vestido mas com exagero na linguagem) ou a pedir que todos sejam despedidos a torto e a direito.

E lembrem isso tudo aos jogadores, já agora na sexta-feira contra o Estoril. Mas lembrem-lhes com gritos de incentivo, não com assobios.

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Baías e Baronis – Sporting 0 vs 0 FC Porto

Hoje de manhã, em futebolada com amigos, levei uma bolada no focinho que me pôs a ver estrelas durante uns segundos e me deixou o lábio superior inchado como se tivesse andado à pancada. Ainda por cima, a bola sobrou para outro adversário e entrou na minha baliza. Levantei-me e continuei a jogar. Passados dez ou vinte minutos, dei um pontapé no poste, sem querer. Uma unha partiu e a pancada fez com que enchesse a ponta da meia de sangue. Levantei-me e continuei a jogar. Antes que digam: “este gajo é mesmo tosco!”, esperem pelo corolário. Hoje à noite, em Alvalade, não houve nenhum lance que se assemelhasse a estes dois eventos matinais. Mas quase nenhum dos nossos jogadores mostrou este tipo de vontade que até eu mostrei numa amigável futebolada com amigos para, depois de aturdido com um ou outro lance que não tivesse corrido bem, se conseguir levantar e perseguir com garra o que estava ali ao seu alcance. Só houve nervosismo, incapacidade de lidar com contrariedades tácticas, incapacidade de ultrapassar um adversário fraquinho mas que correu mais que nós. Metaforicamente, levamos petardos nos dentes, demos chutos em postes. E não nos levantamos para continuar a jogar, mantivemos o jogo passivo, lento, sem rasgo, sem chama. E perdemos dois pontos, sem necessidade. Vamos a notas:

(+) Otamendi Que me lembre teve uma falha no jogo todo, que podia ter dado um golo ao adversário: o fora-de-jogo não existente a Wolfswinkel que o holandês aproveitou para rematar e Helton para defender, e onde o argentino subiu tarde, caindo na desmarcação do Ricky. Para lá disso, um jogo de intercepções consecutivas, cortes perfeitos, bola levada pelo pé até zonas que não lhe são familiares mas que Nico fez com que se transformassem em áreas onde parecia à vontade. Mantenho que é o melhor defesa que temos (“defesa”, como em “um dos gajos que ficam lá atrás, ao contrário dos defesas/médios-ala que povoam as nossas laterais), para lá do brilhantismo de Mangala e da força e técnica de Maicon, e insisto nesta tecla: como é que o Rojo é chamado para a selecção argentina e Otamendi not so much? Comigo era titular em todos os jogos.

(+) Fernando. Jogou muitas vezes em zonas avançadas, mais do que é normal. Com Defour excessivamente recuado, a tentar sem sucesso agir como Moutinho (há muitos que o consigam? duvido muito.), Fernando foi o que mais tentou e dos poucos da linha do meio-campo para a frente que mostrou que queria mesmo ganhar o jogo com a força do campeão que é e que não quer deixar de ser. Foi lutador, sempre lutador, contra os caceteiros que apanhou pela frente, nunca perdendo o tino a não ser com algumas decisões questionáveis de Paulo Baptista. Não chegou.

(+) Jackson, mesmo sem marcar. É um excelente ponta-de-lança e hoje foi o mais perigoso dos jogadores do FC Porto em Alvalade. Mas não consegue fazer tudo sozinho e está a começar a receber bolas em demasia a partir do meio-campo e até da defesa, que começam a ver nele uma espécie de messias em que todos depositam a confiança suficiente para livrar a equipa de situações mais delicadas. Nem sempre consegue e hoje tentou, sempre com inteligência e espírito de equipa. Resultado? Vários remates ao lado, com constante pressão dos defesas do Sporting, sem apoio dos colegas. Não era o dia dele, mas fez para que o fosse.

(-) Passaram onze dias desde o jogo contra o Málaga… e é assim que estamos. Uma equipa que tem tanto de genial como de permissiva, tecnicamente inapta e tacticamente incapaz de levar o jogo para cima do adversário durante um período de tempo que permita a criação de lances que levem de facto perigo à baliza contrária. Patrício teve mais trabalho pelo ar a tentar roubar a bola da cornadura de Jackson do que pela relva, e o facto de termos alguns jogadores em baixo de forma (Varela, Lucho, James, Danilo…) faz com que a boa forma de outros (Fernando, Alex Sandro, Jackson…) não chegue para compensar as falhas dos primeiros. Falta força, falta tanta força, falta choque, impacto, agressividade, falta jogar com um objectivo claro. Falta alma, falta paciência, falta pachorra para aturar a falta de paciência. Juntemos a este caldo a ausência de Moutinho e transforma-se o FC Porto numa equipa banal, incapaz de manter um ritmo de jogo consistente com o que já vimos este ano contra grandes equipas, particularmente na Europa ou na Luz. É um FC Porto de duas caras, Hyde para os amigos e Jekyll para os inimigos, ou ao contrário, porque nunca sei qual é o bom e o mau. Nem eu nem ninguém, porque no início de cada jogo nunca se sabe qual é o FC Porto que vai aparecer. Se alguma vez alguém tentou diagnosticar bipolaridade a uma equipa de futebol, não podia começar por um sítio melhor que pelo FC Porto de Vitor Pereira.

(-) Os piscineiros do Sporting. Uma curta nota porque não quero deixar passar em claro uma das coisas que mais me enervou hoje à noite, para lá da incredulidade de ter visto Rinaudo acabar sem amarelo e Miguel Lopes, que jogou de raiva e a bater em tudo que viu, a levar um amarelo apenas aos 89 minutos. O que mais me chateou no adversário foi a distinta lata da maioria dos jogadores do Sporting de tentarem sacar tudo que era falta após o mínimo dos contactos os fazer voar para o chão como putos com um fato de Super-Homem. Labyad, Capel, Carrillo mas principalmente Wolfswinkel, que já devia perceber que se chega a Inglaterra para fazer este tipo de merdas, vai ser corrido com um gesto do árbitro mais depressa do que conseguir dizer: “Ref, it’s a foul!”. Ah, só para perceberem o quão lixado devemos todos estar: perdemos dois pontos contra este bando de freiras desfloradas.


Nada está perdido e vamos lá deixar-nos de miserabilismos e toalhas ao chão e outros clichés do género. Mas preocupa-me que tenha sido um mau jogo que se seguiu a outro mau jogo, o que me deixa sem convicção para perceber se vamos ou não conseguir a recta final que precisamos. Se o Benfica vencer em Aveiro, continuamos a depender só de nós para sermos campeões. Mas custou perder dois pontos contra uma equipa que perdeu várias vezes os pontos todos contra equipas muito mas muito mais fracas. E não aconteceu por mérito deles, ou pelo menos não exclusivamente por isso. Muita da culpa do empate é nossa, e deixa-me triste. Mais uma noite triste.

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Ouve lá ó Mister – Sporting


Amigo Vítor,

Mas que puta de bomba nos estourou a meio metro dos dentes ontem à tarde, rapaz! Quando soube da notícia do Moutinho fui invadido por uma sensação de insegurança como se estivesse pendurado de uma ponte daquelas de cordas como no Indiana Jones, à espera que aparecesse algum cavaleiro do apocalipse que me dissesse ao ouvido: “tás fodidinho, rapaz, todo fodidinho…”. Mas não desanimo, nem tu podes desanimar, nem nenhum dos teus rapazes pode desanimar.

Só te peço para não entrares no jogo com a cagança de quem vai dezenas de pontos à frente do adversário. Entra com confiança, sem medo, mas com a suspeita que do outro lado pode haver gente que lhe está a apetecer correr mais do que costuma fazer noutros jogos. Até porque, e vamos lá ser sinceros, não há mais nenhum jogo em que estes rapazes possam brilhar a sério até ao final da época, com a possível do derby na Luz, onde muito provavelmente vão ter de untar os rabinhos com a pomada do costume, que este ano já por tantas vezes foi utilizada e reutilizada. E é isso que me assusta um bom pedaço, Vitor, é aquele orgulho que lhes pode dar contra nós e que não lhes deu nem na pontinha das unhas dos pés contra o Videoton, ou contra montes de outras equipas que lhes roubaram golos, pontos e dignidade.

Eles vão entrar com força, mas nervosos. Com vontade, mas a tremer. E não vai ser por culpa exclusiva da falta de cimento nas pernas que quase todos têm, mas vai ter de lhes ser injectado directamente nos olhos por nós. Nós é que vamos trocar a bola no meio-campo deles, pressionar logo à saída da defesa, castigar as alas, carregar nos médios, secar os avançados. Nós é que vamos ganhar esta merda e nem quero saber de que côr é o gajo que marque os golos, de que país veio ou que carro conduz. Nem quero saber o nome dele, hoje. Hoje só quero ver o FC Porto a ganhar ao Sporting e a empurrar os fulanos mais um bocadinho…mais um bocadinho…só mais um bocadinho para aquele poço de onde já não vão sair até ao fim do ano.

Vamos, Vitor, faz-me a vontade.

Sou quem sabes,
Jorge

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