Baías e Baronis – FC Porto 3 vs 1 SC Braga

Foi um daqueles jogos longos que parecem nunca mais acabar, nem sempre pelos melhores motivos. E foi também uma real demonstração de como o futebol pode levar as pessoas da depressão à euforia numa questão de minutos, graças aos simples esforços de um homem. Perdão, um puto, que entrou aos setenta e seis minutos e teve a arte, a audácia e a sorte de dar a vitória a uma equipa que parecia deprimida e deprimia os que a viam há mais de uma hora. O Braga defendeu muito e bem, queimou tempo como uma miserável equipa de segundo nível que não é, mas acabou por morder a poeira que mereceu depois de tão fraco futebol ter mostrado. Cansado, saí do estádio a pensar no que o meu pai me tinha dito ao intervalo: “Mas estes gajos precisam de ser picados para jogarem à bola?!”. Parece que sim. Vamos a notas:

(+) Kelvin. Se fosse a ele guardava a camisola, as botas, a bola, dois nacos de relva e a embalagem de gel que pôs no cabelo, porque um jogo destes não se vai repetir durante muitos anos. Um dia, dizia-me o Dragão Crónico no final do jogo, quando o rapaz acabar de ser eleito melhor jogador da Suazilândia pelo sétimo ano consecutivo, ainda se vai lembrar desta partida como a coroa de glória da sua carreira de futebolista. Não sei o que o futuro lhe reserva, mas gostei da atitude, da garra, acima de tudo da vontade de mostrar e de marcar, com ou sem sorte. E pensar que para ele a noite tinha começado com uma tentativa de finta que resultou num desiquilíbrio…para ele próprio, que acabou por se estatelar redondo no chão. Levantou-se e marcou dois golos. Acho que chega.

(+) Fernando. Foi o melhor jogador da equipa pelo papel muito interventivo que teve na recuperação de bolas no centro do terreno. É um lugar comum, eu sei, e se googlarem esta frase acompanhada pelo nome dele, muito provavelmente verão umas dezenas de resultados em diferentes jogos. Mas fez-se sentir a forma como agiu sempre com a força que outros não tinham (Lucho, Danilo, James…) e a usou para tirar a bola a qualquer adversário que lhe aparecia pela frente, pelo lado ou pelo ar. De todas as intercepções, há dois cortes extraordinários, com a ponta da bota, que inviabilizam contra-ataques potencialmente perigosos para o Braga, que foram, merecidamente, aplaudidos de pé. Excelente jogo.

(+) Helton. Cada vez é mais Beckenbauer o nosso violeiro, jogando continuamente mais avançado à medida que a equipa tenta porfiar no ataque, e é exactamente essa a grande mais-valia que traz à equipa. Defendeu quase tudo (o remate de Alan no golo é muito bom, diria indefensável), incluindo um lance de João Pedro isolado depois de (mais) um AVC de Otamendi e vários remates de longe de Baiano ou Alan. Foi o que precisávamos que fosse, seguro, firme e a dar confiança.

(-) A velocidade de construção e execução. Somos uma equipa lenta, não tenho dúvida. Mas ainda somos mais lentos do que pensar que a executar. Ou será ao contrário? Fica para pensarem, mas a verdade é que a equipa demora tempo demais a conseguir criar um lance de perigo, com rotação de bola em zonas pouco produtivas a ser feita com demasiada calma e excessiva complacência, para quando se consegue de facto obter um espaço para fazer alguma coisa de jeito como um cruzamento ou um remate…demora-se anos a colocar a bola na posição certa, com o vento adequado, o gomo correcto a fazer sombra e a humidade relativa nem 1% a mais do que devia. Perdem-se bolas atrás de enervantes bolas com este perfeccionismo (estou a evitar dizer “lentidão”) abusivo e se o remate de James deu golo foi porque finalmente se decidiu…pelo remate. Atsu, no estilo que só ele neste plantel pode ter, foi o único a ser prático. Entrou e a equipa mudou, começou a criar mais perigo. I fucking wonder why.

(-) Lucho. Está a pagar a factura da primeira volta que fez com bastantes juros. Lembram-se quando Lucho aqui há uns meses fazia noventa após noventa minutos a varrer o meio-campo e a pressionar o guarda-redes e todos ficávamos surpreendidos com a capacidade física do argentino? Alguns anormais com blogs de outras cores (verm*cof*elhos) chegaram até a levantar os braços aos céus como faz a carneirada nas igrejas evangélicas e a gritar doping como se fossem uma versão autista de Arquimedes no chuveiro. E agora…vejo Lucho a arrastar-se em campo, sem vigor, sem força, sem pernas para pouco mais que uma ou outra corridita. Vai ser um final de época tramado, especialmente com a falta de opções viáveis no plantel…

(-) A tremideira de Abdoulaye. Ai, home, que essas varas negras que chamas pernas tremiam-te tanto que nem imagino como estavam os teus intestinos. Primeira intervenção, uma rosca para o ar, canto. Segunda, um passe absurdo para Defour. Terceira, um domínio de bola trapalhão a ceder lançamento ao adversário…e por aí fora. Abdoulaye só atinou nos descontos e felizmente não houve chatices de maior para resolver. Andas a passar muito tempo com o Castro, rapaz.

(-) A passividade de Danilo no golo. Alan recebe a bola na linha, perto da área. Passa a bola para o colega na marca de penalty, que a devolve ao “Predator” para um remate estupendo levar a bola para dentro da baliza. E Danilo, o marcador de Alan, pelo menos dez anos mais novo que ele? Ficou-se. Ficou a ver o homem que devia marcar a entrar alegremente na área, chocando contra Moutinho como um camião-cisterna contra um dente-de-leão, sem que tivesse ninguém para lhe fazer frente. São ingenuidades a mais do nosso defesa direito, palavra de honra.


O nosso trabalho está feito, pelo menos nesta semana. Sim, já devia ter sido feito há muito mais semanas mas é o que temos e agora não adianta partir para análises fora de horas porque haverá tempo para isso quando a obesa cantarolar. O que interessa agora é o próximo jogo e a vitória que é essencial nesse mesmo jogo. Para lá da Taça da Liga, que francamente não me chateia muito. Sei que o Braga não vai a Coimbra jogar da mesma forma que fez aqui, por isso o jogo será bem diferente, mas este, meus amigos, já foi. Ah, e parabéns, Quim. Continuas a fazer amigos a qualquer lado onde pões os pés. Queimar tempo aos 15 minutos? Porra, homem, foi demais.

13 comentários

  1. Boas,

    Antes de mais esperava que o Braga fosse fiel aos seu principios e viesse jogar o jogo “olhos nos olhos”, no entanto foi ao Dragão com um autocarro, defendendo e tentando jogar no contra-ataque, como jogam as equipas que lutam para não descer.
    Por isso o FCP teve muitas dificuldades em entrar com bola junto da area do adversário.
    Penso que o FCP fez uma boa primeira parte com boas trocas de bola e com objectividade, que resultou no golo do empate. No entanto na segunda parte, e graças ao anti-jogo do Braga o jogo deixou de ter espectáculo e tornou-se desagradável, até que Kelvin desbloqueou com um golo pleno de intencionalidade. A partir daí o FCP soltou-se e fez aquilo que bem sabe jogou a Barça concluindo com mais um golo do Joker Kelvin.
    O Porto foi premiado por acreditar e o Braga penalizado por jogar ultra defensivamente.

    Um abraço

    http://fcportonoticias-dodragao.blogspot.pt/

    1. Jorge, depois de um estudo à velocidade de construção e de execução.
      Desafio-o a um estudo à Velocidade de Sedimentação (VS) da equipa :p

      Helena Maia

  2. Qualquer dia deixo de ir ao estádio. Estou seriamente a pensar se renovo o lugar anual que tenho “praí” desde 2000. É que a massa associativa do nosso clube está cada vez mais estúpida. Já não há paciência para assobios à equipa aos 15/20 minutos de jogo. Qualquer dia prego um testo no primeiro filho da puta que assobiar a equipa. E é isto. Irrito-me mais com os energúmenos das bancadas do que com a sonolência que às vezes nos oferecem os jogadores. A continuar assim fico no sofá a ver a TV sem som para não ouvir os assobios. Ou então arreio nos assobiadores. O problema é que não tenho cabedal para isso. Estou num dilema fodido.

    1. Been there, felt that. Não vale a pena um gajo chatear-se com essas tretas, vão sempre haver fulanos desse nível e não adianta reclamar, os comportamentos símios repetem-se. Que isso não seja motivo suficiente para te afastar do Dragão, homem!

    2. Tem toda a razão G.Falante. Já dizia : Martin Luther King, Jr. ” Nothing in the world is more dangerous than sincere ignorance and conscientious stupidity.”

      Se fosse a si, tinha medo, MUITO MEDO….de conviver com tanta estupidez.

      Ou vê os jogos em casa ou ouve a TSF enquanto vê o jogo.

      Helena a.k.a raio de sol

  3. Grilo Falante, estou contigo. Espeta o primeiro bufardo nesses assobiadores de m#%da, eu estarei atráz de ti para espetar o segundo. Meto-lhes o assobio pelo nariz adentro. Quem vai para o estádio assobiar, vai pura e simplesmente pressionar o nosso clube e facilitar/motivar as equipas adversárias. Temos que ir ao estádio para apoiar a equipa, puxar pela equipa…pela nossa MUY NOBRE E SEMPRE LEAL equipa. Quando forem para o estádio sem essa intenção, então que fiquem em casa a ver a novela ou a lavar a louça.

  4. O jogo já se sabia que iria ser bastante sofrido, mas penso que ninguém esperava um Braga com esta forma de jogar.

    Infelizmente qualquer equipa que jogue contra o Porto nunca se abre e retrai o seu jogo em função do Bi-Campeão Nacional. Respeito? Medo?

    Não sei, mas que se retraem lá isso retraem…

    Grande Abraço.

    http://covil-do-dragao.blogspot.pt/

  5. Cabe mais aos blogs e foruns do Braga fazer esta denúncia, mas estive o jogo todo a pensar que ganhos teria uma boa equipa em jogar no Dragão como o Olhanense ou como o Gil Vicente… porra… tenham vergonha… foi mesmo braguinha – atirarem-se para o chão, defenderem com 11 e com um redes a queimar tempo desde o inicio do jogo… bem feito!!
    Ah, senhores da SAD, continuem a dar-lhes alvissaras todos os anos, comprar orlandos sás por 4M para depois os vermos colocarem arturs e limas nos fedorentos…. continuem com esses hara kiris…

  6. Estou quase sempre de acordo contigo mas hoje não estou com uma…gosto muito do Fernando mas para este tipo de jogo um dos principais responsáveis pela lentidão do nosso meio campo é o Fernando…é o melhor nos jogos a matar contra rivais que jogam olhos nos olhos mas para este tipo de jogo o tempo que leva com a bola nos pés é exasperante…

    Acho que este jogo é o resumo de uma época:

    1/ Tanta posse de bola, tanto dominio para jogar a 10 km/h serve para quê?
    2/ Pouca capaciade de inovação do VP, hoje descobriu que afinal pode inovar, não é Kelvin?
    3/ E pior podemos perder o campeonato mas fica claramente a sensação que somos melhor equipa…isto obviamente quando os jogadores querem (?) jogar…

    Uma pergunta a ver se alguém me pode ajudar… a contratacção do Reyes por 7,5 m€ o que quer dizer para o ano que vem…com o mais que esperado regresso do Rolando quem sai???
    Mangala? Otamendi?

    http://basculante433.wordpress.com/

  7. Vitória justa e certa frente a um adversário decepcionante que jogou tudo no erro alheio, que até aconteceu por várias vezes.

    O actual FC Porto carrega sobre os ombros a responsabilidade de não ter qualquer margem de erro, numa altura em que vem denotando desgaste físico, psicológico e anímico, com as peças nucleares em sub-rendimento e por isso com um futebol lento, previsível e fácil de anular.

    Valeu o carácter de alguns jogadores que tentaram remar contra a maré e a irreverência misturada com alguma sorte dos jovens Atsu e Kelvin, que entraram e mexeram com o jogo.

    Não me iludo. A jogar desta forma vai ser muito difícil revalidar o título.

    Um abraço

  8. Confesso que me enervei muito com a reação ao golo do Braga… que mariquice! Parecia-me que estavam todos a fazer um grande frete e a tentar provocar que o homem da cadeira de sonho caisse já ao chão… – já vi isto em tempos passados! – Era tanta a falta de garra e convicção que achei que era ali que dizíamos adeus ao campeonato… Depois, é um fato que tudo mudou após o golo do James; houve bolas na trave, um magnífico tiro do Baroni Lucho, bolas a milímetros… e parecia a história do tarde acordaste, agora sofre… Então, lá por milagre do santo a quem a mãe do minino do gel reza, surgiram os golos.
    É futebol.
    E é lindo.

    Bem de dizer que o golo do Alain e o golo do James merecem um Baía por si só.

    Agora nós, ou retomamos a toma do Prozac já na final da que não é mais taça da bejeca, ou vejo isto muito mal.

    (E, quero relembrar aos moços que no campeonato dos túneis, ganhamos ao fifica campeão, jogando com um a menos. Lamento dizê-lo – infelizmente acho que o Sporting não vai ganhar, nem empatar – e então mais que ganhar o campeonato, agora há que ganhar aos periquitos … é um imperativo contra a depressão coletiva.Nossa, óbvio.)

  9. caro Jorge, caríssimas(os),

    é tão mais fácil criticar e/ou assobiar, não é? :D

    já demonstrar que estamos de corpo e alma com a nossa equipa do coração, custa um pouco mais…

    felizmente que, entre nós, ainda há quem não se resigne e não faça como o Miguel Sousa Tavares, na NORTADA, estenda uma «passadeira vermelha» e deite a toalha ao chão…

    somos Porto!, car@go!
    «este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!

    saudações desportivas mas sempre pentacampeãs a todas(os) vós! ;)
    Miguel | Tomo II

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