Done. Hurt. Fuck. Next?

adeptos

Sentado na cadeira em frente à mesa da sala, onde pousei o portátil, ainda com uma dor romba nos glúteos depois dos eventos do passado Domingo, vou ouvindo a primeira metade do Dark Side of the Moon e penso no que estará para vir. E à medida que vou passeando os dedos pelas teclas, procurando um subtil escape à tristeza que se abate sobre mim quando penso nos momentos finais da partida, há algo que cresce dentro de mim como uma fuga para a frente, uma tentativa de apagar aquela fugaz sensação de impotência que senti ao ver a minha equipa a não conseguir produzir o suficiente para bater o rival de sempre. Ah, maldição que caiu em cima dos ombros, infortúnio de cem facas que apontam ao lombo e massacram a pele e os tecidos, que perfuram e rasgam e magoam e deixam marcas.

Uma derrota destas deixa-nos sempre com uma memória. E no meio de todas as outras memórias de Portos-Benficas que tenho, esta não vai ser fácil de apagar. Mas vai desaparecer, bem como uma enormidade de outras recordações de miseráveis joguiúnculos que tive o prazer de ver ao vivo. E só não desaparece tão cedo porque a malta que vai aparecendo nestes momentos vão prosseguindo a profetização da queda de uma forma tão rápida e tão intensa como um orgasmo adolescente. No dia seguinte ao jogo, em que os comentários aqui no blog subiram qualquer coisa como 1000% em relação aos últimos posts (algo a que já estou habituado e saúdo com um misto de alegria e consternação pelo status quo continuar a ser bem menos pacífico que costumava ser) e as balas são disparadas num conjunto de direcções tão grande como as que nos podem levar de pólo a pólo. Citados os relatórios e contas das SADs (que refiro ao Tribunal do Dragão ou ao Reflexão Portista pelas análises estruturais e ao Mística Azul e Branca pelo esmiuçanço contabilístico, porque eu não tenho tempo, pachorra nem habilidade para tais deambulações economicistas), as contratações, os empréstimos, os poços e topos e as rectas que os/nos levam para lá, a ridícula brincadeira com o nome do treinador (o meu próprio apelido, complexo e nada familiar, não sofreu durante os meus trinta e tais anos tanta estupidez como Julen Lopetegui em meia-dúzia de meses, numa arte que tem tanto de inútil como de rebuscada), as críticas acintosas ao que os jogadores fazem ou não fazem, porque fazem o que não deviam fazer ou não fazem o que é lógico que urgia fazer ou porque apenas não sabem ou não querem ou não amam ou não sentem ou não vivem. De táctica falou-se pouco, fala-se pouco e fala-se cada vez menos nalguns círculos, porque o que interessa continua a ser o “I told you so”, de lanças apontadas como uma falange grega e mais afiadas que os cinco minutos de uso de uma faca que se vende nos anúncios nocturnos.

Numa altura em que se quer união, há desunião. Quando o nosso exército não foi dilacerado em campo e lambe as feridas que recebeu de uma forma tão cirúrgica que ainda não percebeu como é que não conseguiu sair de lá com alguma coisa para mostrar aos netos, tocam os sinos a rebate e volta a idiotice. Cansais-me, portistas, como me cansais. Quero é ver apoio ao Brahimi mesmo quando falha as fintas, quero ver Quaresma a cruzar com o apoio do povo, quero ouvir o som do estádio a torcer quando Danilo rompe pelo flanco, quero ver Herrera a passar certinho, Indi a tirar a bola ao outro, Óliver a rodar sobre o seu próprio eixo e Tello a acelerar para a baliza. Quero ver todas essas coisas porque o Porto não morreu porque perdeu um jogo. Podem vir duzentos Mendes e setenta milhões de Limas.

O próximo jogo é já na sexta-feira. Vais estar lá, portista?

20 comentários

    1. O CM é radiografia da mentalidade da maioria dos Tugas…como uns socos!
      A capa de hoje mistura dois inimigos públicos do jornal…Sócrates e Pinto da Costa!

      1. enquanto a malta não se mentalizar que esse tipo de capas/notícias são dignas de quem as quer ler…vão continuar a ficar indignados. já me deixei disso.

  1. Aplausos!! E para esses fatalistas do “I told you so”, eu como Portista que sofre a kms de distancia da minha cidade natal (Porto), só vos digo…quem me dera que o jogo contra o Setubal fosse no Domingo, porque era batidinho que ia lá estar…A APOIAR!
    Nestes momentos é preciso puxar pela equipa, leva-la em ombros se fosse preciso! É com estes artistas que vamos lutar, até ao fim…é neste momento que se ve a fibra de cada um!
    Parabéns pelo post! Perfeito demais!

  2. estou sempre! pra ver o meu Porto, não vou ao estádio por causa do adversário.

    em relação ao público, era difícil com tantos sucessos nas últimas décadas que este não se tornasse “de ópera”. se acho que a equipa merecia um apoio mais caloroso em determinados momentos? sim! se acho que o problema da mística existe tanto em campo como na bancada? sim! agora, se acho que isto se vai alterar a curto/médio prazo? sinceramente não. num país como este, onde é raro as pessoas pensarem pela própria cabeça (e um blog como o seu é um verdadeiro oasis a esse respeito!) e a norma que repetem o que algum iluminado disse na tv é difícil dissociar o sucesso do apoio. até porque a definição de “sucesso” é por norma redutora (e ainda por cima não igual para todos…)

    1. infelizmente concordo contigo. aqueles jogos dos 90s, os primeiros que me lembro de começar a ir ver, sozinho ou acompanhado, em noites frias em que estavam quatro ou cinco mil nas Antas…é a isso que temo que regressaremos daqui a meia-dúzia de anos. vão os foliões, ficam os tolinhos. e talvez não seja assim tão mau.

  3. Mais uma excelente posta Jorge.

    Francamente não entendo este aumento vertiginoso de comentários as derrotas, não só aqui como em quase todos os blogues azuis e brancos que leio…
    Como já qui escrevi, depois das derrotas (sobretudo uma derrota conta o SLB) só me apetece enfiar num buraco. Não vejo jornais, não leio blogues, só me apetece esquecer. A última coisa que me podia passar pelo espírito era vir imediatamente zurzir naqueles que vestem o manto sagrado. É aqui que venho e é aqui que recordo e me alegro nas vitórias e é nessas alturas que esporadicamente comento… Diferentes maneiras de viver o Porto, suponho.

    Com enorme pena minha, os 300km que me separam da minha cidade não me deixarão ver ao vivo o meu clube na sexta-feira, mas estarei seguramente no sofá, em casa a sofrer apaixonadamente pelo meu Porto.

    Continuação de um excelente e meritório trabalho Jorge!

    1. A questão é que eu, aqui ou noutro blog ou conforme o tempo e as forças, tento sempre chegar à caixa de comentários, porque já sei que vão zurzir em todos. Convém ter alguém com a cabeça mais no lugar, que não se deixa levar por todas as emoções… Gosto de ganhar, como todos, e nunca perder contra estas bestas infladas, mas neste momento até lhe digo: se fizermos boa figura na Champions (o que quer dizer também, retorno de investimento), e como o 2º lugar nos dá acesso direto, não vejo nada de mal de ficar em 2º ! Preferível dar os passos todos certos, e montar uma equipe onde as potenciais ausências por venda possam ser colmatadas, do que ganhar um ano e rebentar no seguinte!… – Até gostava de saber, se hoje alguém se lembra do Fernando ?

  4. Os mais de 300 km’s de distância e o desemprego que bateu a esta porta não me deixam ver jogos ao vivo, qualquer dia mudo-me mas é para o norte…..;)

  5. …”Quero é ver apoio ao Brahimi mesmo quando falha as fintas, quero ver Quaresma a cruzar com o apoio do povo, quero ouvir o som do estádio a torcer quando Danilo rompe pelo flanco, quero ver Herrera a passar certinho, Indi a tirar a bola ao outro, Óliver a rodar sobre o seu próprio eixo e Tello a acelerar para a baliza. Quero ver todas essas coisas porque o Porto não morreu porque perdeu um jogo.”…

    E eu também !

  6. Jorge, posso dizer que, na sequência deste post, sinto um orgulho enorme em ter adeptos como tu a (ver-da-dei-ra-men-te) apoiar o mesmo clube que eu apoio.
    Bravo!

  7. tirando filhos, pais, mulher, uma noite verdadeiramente especial que se passou com uma namorada ou bons amigos, que mais é que pode rivalizar com os sentimentos que se têm em relação ao nosso clube? se tolero as “desilusões” que estas pessoas às vezes me dão, como é normal, então não vou tolerar uma desilusão do meu clube, que já me deu tantas e tantas alegrias e partir do princípio que a seguir à maré baixa há sempre maré alta e que os marinheiros podem ser outros mas o capitão ainda é o mesmo.
    portista é ser, não é ir sendo conforme as marés.
    sempre FCP.

  8. Jorge, felizmente, acho que os “foliões” são poucos…infelizmente, são barulhentos. É o “Dark Side of the…success”. Perder com o 5lb aconteceu, pronto. Os lampiões nem sabem como ganharam, mas aconteceu. Ainda falta muito campeonato e a equipa ainda tem muito para melhorar, por isso, vamos ter calma a ajuizar e fibra a apoiar. Sexta, lá estaremos.
    Abraço.
    Ruca

  9. Esses adeptos folioes precisam de ver jogos do Dortmund! Péssimo campeonato, estádio cheio (80mil), com apoio incondicional, sem assobiadeiros…arrepio-me ao ve-los de rastos e mesmo assim sempre a apoiarem! Aqui, os ratos fogem, mas lembrem-se que só os mais fortes sobrevivem!
    6a sofro a partir de Bristol (UK), com a esperanca de termos uma resposta forte!

    1. Disse o utilizador anónimo, que deve ter tido um dia feliz depois de escrever esta prosa…

      A coisa fantástica que a internet tem é que até os imbecis têm direito de antena…

  10. Aqui no meio do covil dos vermelhos e dos verdes, está um adepto a puxar para cima, quando o nosso grande FCP ganha, quando empata, e quando perde! Dói ver o que se passou neste fim-de-semana aqui no meio destas almas penadas, mas ainda falta muito, e eu acredito!

    Citando outro blog aqui da nossa praça, lembram-se do Mourinho quando perdemos a primeira mão da meia final da Taça Uefa contra o Panathinaikos? “Calma…” Portanto, se eles acreditam que conseguem, eu também acredito neles. E mesmo que não acreditasse, nunca iria deixar de torcer e puxar por eles!

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