Julen contra o mundo – parte II: opinadores

factoropinion

Este é o segundo de três artigos sobre o discurso do treinador do FC Porto e a forma como encara as conferências de imprensa. 

Lembro-me do Herman contar uma piada e nunca me pareceu tão certa. Dizia o agora decadente humorista aqui há uns anos, numa frase que decerto virá da longa compilação de sabedoria popular onde com certeza terá ido pescar muitos e muitos destes aforimos, que “as opiniões são como as vaginas: cada qual tem a sua e quem as quiser dar, dá”. Nesta era de insuportável busca pelo soundbyte e pelo comentário, inano ou não, de alguém com a mais remota ligação ao contexto a ser discutido no momento, descobre-se uma frase bombástica e digna (alguns dirão) de figurar na capa de um qualquer jornal ou no cabeçalho de um site com um grau de facilidade parecido com aquele que faz Messi tornear defesas como se fosse imóveis pinos num jogo de bowling humano.

Deixei de ver programas de opinião desportiva aqui há uns anos. Ainda vejo ocasionalmente um ou outro com análises tácticas, e divirto-me com o lirismo do Freitas Lobo ou o pragmatismo feroz do Pedro Henriques, mas acima de tudo foco-me em ver e ouvir futebol. Desinteressei-me pelo que diz A ou B, convidados para programas onde a discussão se torna menos credível que ouvir seis bêbados a falar ao mesmo tempo depois de outras tantas garrafas de tinto rasca à mesa de uma qualquer taberna numa aldeola distante. Aliás, tragam-me os bebedolas, devem ter mais piada e bem mais honestidade. E um dos motivos de ter deixado de ver esses eventos televisivos de escárnio e maledicência prende-se exactamente com isso: a falta de honestidade intelectual. E questiono-me porque é que tanta gente que considero minimamente credíveis se importa com o que diz o representante do clube X ou Y, para imediatamente os criticar e acintosamente rebater com dezenas de exemplos do contrário, para na próxima semana voltar ao mesmo ciclo da reposição da verdade em nome próprio sem que se sintam mais sujos por causa disso. Perdi centenas de horas da minha vida a fazê-lo até ao momento em que disse: “espera lá, ó Jorge, mas tu estás parvo ou bebeste lixívia?! get a fucking life, you moron!” e parei. É como um vício, eu compreendo, a necessidade de nos sobrepormos a figuras públicas que fazem figurinhas em público. Mas deixei-me disso.

No entanto, muita gente não deixou e é exactamente esse tipo de malta que tens de evitar comentar ou aceitar sequer considerar como declarações válidas ou sóbrias, Julen. Porque a vida pública dessa malta é focada na discórdia, criando uma utopia de glória eterna e infalibilidade das próprias cores em tempos de vitória, contrastando com a parede de desconfiança e “I-told-you-so-ness” e hetero-crítica quando as coisas não correm bem. São sanguessugas, alimentando-se das fraquezas intelectuais alheias para gerar a entropia necessária que os mantém a sobreviver como que ligados a uma máquina de sustento eterno, sorvendo as almas dos pobres que ainda os ouvem. Por isso quando os ouvires a falar ou quando te perguntarem sobre isso, sobre o que o treinador do clube Y que é antigo portista ou o vice-presidente do clube Z que já foi Sub-chefe dos Bombeiros de São Presunto do Chifre Manso, responde que não queres responder. Em português, castelhano, swahili, o que quiseres. Não te deixes provocar. Sobe o nível, não te deixes arrastar para a lama.

9 comentários

  1. Às vezes penso se não tenho mesmo uma tasca e se tu não andas por lá a virar copos de tinto não tão rasca… So fucking right. Mas…já agora, oh Julen, não deixes de dizer o que te Bai na ialma. Depois não respondas às respostas. Alivia-te e irrita ainda mais os outros :) abc.

  2. A partir de Outubro, data em que criei o blogue, achei que tinha de estar mais bem informado do que estava até então, vi/ouvi – tu sabes que enquanto se arranja hardware ou se instala o Windows/MacOS/Linux/whatever pela enésima vez ou se espera pelos defrags e diagnoses desta vida há tempo para ouvir estas coisas como se de rádio se tratasse – mas o facto é que depressa me apercebi disso mesmo – é conversa irrelevante que não serve para nada e não muda coisa nenhuma. Não vejo, hoje em dia, rigorosamente nenhum. Mas acho que aqueles que jogaram no FC Porto – casa que fez muitos deles – deviam ter um pouco mais de gratidão e recato.

    Uma coisa tenho de dizer, Jorge. Permite-me discordar. No meu entender, não acho que agora Lopetegui vá andar todas as semanas a responder ou a mandar recados. Durante 3:25 ele disse, no meu entender, com classe e sem brejeirice, tudo aquilo que tinha de dizer sobre a atitude do rival, a época da arbitragem e a questão do Fabiano. Eu não acho que devesse se o treinador a responder. Mas o facto é que a SAD está amorfa. No entanto sou capaz de apostar que ele não o vai fazer mais. Por isso ele não vai andar a arrastar-se na lama. Não creio.

    Abraço Azul e Branco,

    Jorge Vassalo | Porto Universal

  3. Já por diversas vezes me pareceu que o Julen tentou seguir esse caminho em várias conferências de imprensa mas às tantas torna-se quase impossível ele não se deixar “arrastar para a lama” (como tão bem disseste), quando todas as perguntas que lhe fazem – sublinho, todas – são sobre as declarações de A, B ou C.
    Ele vai tentando fugir a essas questões mais… polémicas, digamos, mas acaba por ter de defender a sua honra (e a do clube) porque ele (FELIZMENTE), na minha opinião, é um Homem honrado e corajoso, e apesar de tentar evitar as batalhas, não foge delas quando a isso o obrigam…

  4. 100% de acordo, claro.

    pormenor: onde diz “programas de opinião desportiva” podia dizer “televisão portuguesa” duma forma geral (mas desviava do assunto desta série de posts, claro). facts? we don’t give a shit. opiniões é o que interessa, muitas vezes quanto mais idiotas e remotas da realidade, melhor. (diz tanto sobre a sociedade, infelizmente)

    antes, tragam-me o tinto rasca também sff.

  5. Naturalmente que as pessoas podem escolher não ver esses programas de opinião os quais são preenchidos com pessoas pouco recomendáveis. Eu também não os vejo todos. Mas há alguns que têm pessoas honestas por mais impossível que isso pareça. É do debate que nasce a luz, uma das bases da democracia, mesmo que muitos dos debatedores sejam uma cambada de asnos.
    Não é escondendo a cabeça na areia, vivendo num estado de negação permanente, negando as evidências que nos são apresentadas todos os dias, negando as opinões de muita gente, que iremos saber o que se passa e obter uma imagem da realidade que nos envolve.
    Um estado de negação só pode existir durante um período de tempo limitado, haverá sempre uma altura em que a realidade nos entra pelos olhos dentro e então não há Sahara que nos valha.
    Há muita coisa válida nesses programas desde que saibamos distinguir o trigo do joio.
    A realidade terá sempre de ser enfrentada de frente, cara a cara, com uma atitude corajosa.

    1. Concordo com algumas coisas que escreveu.
      Mas as “evidências que nos são apresentadas todos os dias”, são na sua quase maioria, desvirtuadas da realidade, propositadamente e com o objetivo de nos desestabilizar.
      Se em quase todos esses programas e jornais o fio condutor é engrandecer os feitos alcançados pelo clube de carnide e menosprezar totalmente aquilo que o nosso grande clube atingiu, isso é de uma enorme falta de respeito, é de uma falta de integridade a todos os níveis.
      Dizerem que o Luisão vai alcançar o tetracameonato quando os títulos não são seguidos é so para bajular esse clube. Porque nunca tiveram essa postura com os inúmeros títulos alcançados pelos nossos atletas. Fazerem capas a dizer “Carrega benfica”. Alguma vez seriam capazes de fazer isso com o nosso clube?

      O que é que podemos dizer quando uma modalidade é menosprezada nos anos em que a ganhamos e, por outro lado, merece capas de jornais e grandes destaques quando são as equipas da capital a ganhar?
      Quando um grupo organizado de Lisboa, e identificado claramente pela polícia, vem ao Porto, unicamente para gerar confusão e agredir adultos, crianças, idosos, só porque são do FCP, e as capas dos jornais são os adeptos do nosso clube que sairam em defesa das pessoas agredidas, que podemos dizer nós dessas evidências?

      Temos de saber distinguir o que é a realidade dos factos daquilo que é propaganda clubística.

      Peço desculpa, não costumo comentar muito. Identifico-me totalmente com as opiniões aqui do Jorge, do Sr. Vila Pouca, do Miguel, do Jorge Vassalo, agora até do Silva e da sua agradável Tasca, e normalmente nada tenho a acrescentar, mas hoje senti necessidade de dar a minha opinião também.

      Cumprimentos a todos os portistas, unidos por favor, pela mesma causa, a NOSSA.

  6. Jor Jorge
    Eu cá,vou espera pelo terceira crônica,para ortografar algo,porque até agora do que Cê expressou ainda não pesquei um carvalhinho ….
    Fu fui e fui me

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