Baías e Baronis – FC Porto 1 vs 1 Copenhaga

14354995_646943108813146_23898572449552116_n

Se há uma coisa que podemos tirar da surpreendentemente amena noite de hoje no Dragão é que ainda não estamos lá. Talvez ainda consigamos chegar lá, mas ainda não estamos. Lá. E onde é “lá”? Lá é um patamar de futebol consistente onde a bola se mexe mais que os jogadores e onde as posições são ocupadas em conveniência perante as dificuldades da partida, onde as rupturas acontecem sem pensar e as movimentações são fluidas e naturais. Como vimos, ainda não estamos lá. Estamos a caminho, mas com muitas curvas e poucas rectas. Vamos a notas:

(+) Danilo. Dos poucos que jogou a um nível superior esta noite, foi um dos principais responsáveis pelo combate no meio-campo e nunca se alheou dessa responsabilidade. Apesar do golo ter surgido depois de se deslocar da sua posição para lutar pelo ar contra um dinamarquês, pareceu-me que a culpa não lhe pode ser imputada porque não houve (mais uma vez) cobertura adequada para a sua ausência e Danilo tem recebido críticas que na minha opinião são injustas exactamente por isso: falta de cobertura dos colegas. Foi rijo, foi físico e foi o único a fazê-lo. Um dos únicos que consegue, é certo, mas fez o que pôde.

(+) O lance do golo. Recuperação de bola adiantada? Check. Bola para o avançado? Check. Tabelinha de costas para o médio que aparece em zona de remate? Check. Pum cá vai disto mete a mão ó guarda-redes se conseguires? Check. Would that it were so simple…

 

(-) A estratégia de acordo com a capacidade física. Não tenho dúvidas que Nuno sabe o que tem e o que não tem. Sabe que tem um meio-campo com enorme talento e potencial para trocar a bola como uma equipa grande. Sabe que os laterais podem ajudar a fornecer largura quando o jogo se tornar demasiado concentrado no miolo. Sabe que tem um avançado ágil e inteligente que se mexe bem entre as linhas e que busca a desmarcação com instintos Inzaghianos. Sabe também que o médio de cobertura é o único elemento com capacidade para lutar contra adversários fisicamente mais fortes e que sabem usar essa força. Isto para dizer que percebo a estratégia de abdicar da pressão alta e de permitir que o adversário troque a bola até os últimos 30/35 metros em frente à nossa baliza. Nuno assume que se tiver de lutar com hobbits contra orcs, os grandalhões vão levar tudo e não pagam a conta, por isso há essa atitude mais passiva de não tentar com todas as forças recuperar a bola porque os rapazes são pequenos e não tão combativos quanto isso. O jogo do FC Porto só funciona, em condições normais, quando a equipa tem a bola na sua posse. Aí sim, podemos rodá-la entre os homens do meio-campo com o apoio do(s) avançado(s), sejam dois na frente ou o tridente de hoje, acompanhados dos laterais. É o que consigo entender da forma passiva como o FC Porto 2016/2017 olha para o jogo: se não consegues bater-lhes no jogo deles, espera que falhem e aproveita. É conservador e até um pouco humilhante para um clube habituado a outros voos, mas é a forma como Nuno conseguiu contornar o problema de não ter elementos rijos no meio-campo. Mas a equipa não pode ser tão passiva. Não pode depender do adversário para pautar o seu jogo, tem de ser mais solidária na pressão, tem de ocupar mais espaços e fazê-lo de uma forma mais consistente e planeada. Não pode recuar depois de marcar um golo e jogar continuamente na espera das jogadas de ruptura para aparecer em 1×1 contra o guarda-redes contrário. Vendo o FC Porto assumir esta postura não me dá garantias de qualidade. Só me dá a imagem de um treinador que faz o que pode com o que tem. E o que tem, pelo menos por agora, é curto.

(-) Os laterais. Um jogo para esquecer de Layún e Telles, que não só tiveram de defender a dobrar pela pouca ajuda que Otávio e Corona lhes prestaram, mas especialmente porque a abertura de jogo pelos flancos fez com que estivessem em evidênvia pela incapacidade de construir jogo em condições e de cruzar a bola acertadamente para a área durante todo o jogo. Pareceu-me que tinham instruções para não bombear a bola à louco e assim cair na armadilha dos bisontes escandinavos mas a forma indecisa como Layún chegava perto da área e tentava o 1v1 quase sempre com maus resultados ou como Telles cruzava larguíssimo para o segundo poste ou directamente para as pernas dos defesas a cobrir o primeiro foram enervantes.

(-) A (natural) falta de rotinas. Há uma jogada na primeira parte que mostra bem do que falo. A bola está do lado direito, em Herrera (mais um belo jogo para emoldurar e enviar abaixo da sanita) ou Layún e aparece Corona e André Silva a fazerem diagonais…ao mesmo tempo, para o mesmo lado. Se André não tem culpa por ter o mexicano a fazer o mesmo nas suas costas, também Corona não pode ser culpado porque estava a deslocar-se para o “seu” sítio. Mas ainda falta muita comunicação entre sectores e ainda se nota mais quando essa comunicação não parece existir no mesmo sector. Tempo, precisa-se de tempo para os homens se entrosarem e é coisa que não há para gastar à toa.


Uma parte de mim acha que o empate se deveu ao facto de não ter tido tempo de tomar café no Bom Dia porque o trânsito estava impossível e cheguei mesmo em cima da hora ao estádio. Não é uma grande parte mas existe. Sim, sou tolinho, é o que temos.

Link:

Ouve lá ó Mister – Copenhaga

Companheiro Nuno,

Descobri uma coisa recentemente e quando digo recentemente é coisa de vinte segundos: sou disléxico a escrever o nome da cidade de onde vêm estes moços que hoje jogam contra nós. Tenho de pensar bem e olhar para o que estou a escrever para não sair, e não estou a brincar: Compenhaga. O dedo desloca-se ali para o “m” como se fosse uma gaja boa no cinema e estivesses a tentar açambarcar o encosto do braço ao mesmo tempo que ela. Mais dedo menos braço, a verdade é que não consigo escrever o nome em condições. Vou atribuir a este comportamento o facto de não ser um hábito escrever o nome da cidade (nem do clube) porque, convenhamos, nem um nem outro estarão habitualmente nas bocas do mundo.

Mas essa é uma atitude arrogante que temos de saber contrariar, por muito que possa parecer natural tendo em conta a diferença de histórico. Porque já houve vários Artmedias no nosso passado e foram suficientes para percebermos que nada é ganho à partida e que tens de fazer pela vida para conseguires desfazer estes e os outros que por aí virão. Sejam dinamarqueses, bretões, gauleses, hunos ou powatan. Entrar em campo com mentalidade de vitória, cabeça focada no desafio e noção que pelo menos no arranque são todos iguais. Ódespois os resultados terão de ditar as diferenças.

Sou quem sabes,
Jorge

Link:

Sorteios e a bafienta fortuna

unnamed

Os sorteios da Champions são sempre um monte de nervos com muito brilho, um ou outro decote e sete ex-jogadores de fato a tentarem dizer alguma coisa de jeito, raramente conseguindo passar das banalidades que lhes são exigidas pelos mediáticos da praça. Um ou outro video a passar nas televisões, muitas imagens antigas e golos bonitos e tal. Ninguém fala dos jogos tramados na Rùssia no inverno ou nas deslocações à Grécia ou a Chipre ou até dos joelhos esfolados da UEFA perante os clubes que mais dinheiro lhes dão a ganhar. Uma feira de vaidades onde meia-dúzia de imbecis fingem gostar do desporto e o resto dos quinhentos que estão na sala preocupam-se com o amarelo sorriso que darão para a câmara quando reparam que calharam em sorte contra o Barcelona ou o Bayern. Todos os anos é a mesma coisa e o cinismo, que paira baixinho por cima deste post, é crescente.

Mas…há sempre um mas…eu gosto daquela merda, pá. Gosto, que diabos. Fico nervoso, excitadíssimo por ouvir o hino e exaltado quando o adversário que sai da bolinha não é o pretendido. Este ano não foi bem o caso mas há sempre um certo desrespeito pela solenidade da ocasião quando olhamos para um nome escrito em letras gordas num mini-papelinho e vemos que era exactamente aquele que não queríamos que calhasse. Como foi com a Roma no play-off, onde muita malta na sala comum lá no trabalho ficou a saber do nosso oponente simplesmente ao ouvir a minha reacção. Coisas da vida de um doente, é o que é.

O sorteio foi simpático mas não vamos cair na ilusão de dizer que é fácil. Fáceis são os APOELs e os Artmedias que nos tramam quando baixamos a guarda e nos empalam com uma vara cheia de rebites ao primeiro sinal de fraqueza. Dos grandes não tenho medo. Respeito, mas nunca medo. Dos pequenos a história é diferente, jogam motivados, especialmente os que nos apanham em sorte porque depois das palavras de circunstância mais trivial que uma entrevista na passadeira vermelha dos Óscares, logo procedem a elevar os níveis de garra e nos defrontam como iguais, raramente o sendo. Os grandes não, puxam o lustro à arrogância e só não se tramam mais vezes porque, enfim, costumam ser melhores. Quando não o são, costumamos ser nós a ser os infra-homens que os elevam como dizia Torga há muitos anos, numa frase que continua a ser tão actual como era à época.

Não vou ousar fazer uma análise séria do grupo. O Leicester ainda se vai reforçar até fechar o mercado e tem a equipa que todos passamos a conhecer desde a metade da época passada, com mais ou menos Kantés, Vardys ou Mahrezes; não conheço quase nada do Copenhaga, vá lá que sei que o treinador tem o mesmo apelido que um grupo holandês que em conjunto com uma das minhas bandas preferidas de sempre fez um dos meus álbuns de estimação daqueles que se leva para ilhas desertas; pelo mesmo caminho vai o Brugge que também sei que é treinado pelo Preud’Homme, um estupendo guarda-redes que me enervava quase tanto como o Schmeichel porque…porra, porque era muito bom. Apenas sei que o Bruno Prata se vai esforçar imenso por dizer Brúgue para mostrar que percebe muito de flamengo ou neerlandês ou lá qual é a raiz da palavra.

Venham eles. Lá estarei.

Link:

Baías e Baronis – AS Roma 0 vs 3 FC Porto

353284_galeria_roma_x_fc_porto_liga_dos_campeoes_qual_2016_17_play_off_2_mao.jpg

Fui Huno durante duas horas e festejei a vitória como se fosse uma conquista. Precisava desta sensação de triunfo, algo que não sentia com o meu clube há tempo demais e que me deixou a gritar para o céu como se tivesse acabado de vencer um troféu qualquer. A noite romana transformou-se num festival de Baco com menos vinho mas com níveis de celebração a condizer e apesar de não ter sido um jogo genial (ficaram a nu muitas das dificuldades que vamos sentir durante o ano contra adversários mais rijos e mais dinâmicos em campo), já se conseguiu ver muito bom trabalho táctico no meio-campo, vontade de vencer e esforço compensado com uma vitória que fica para a história. Vamos a notas:

(+) Felipe. É ESTE o Felipe que quero ver sempre e era este rapaz que me dá vontade de gostar dele e de esperar que cá deixe a sua marca. Mas das boas, ao contrário de outro central brasileiro que andou por aí a socar portas. Adiante. Excelente no jogo aéreo e muito prático nas bolas rasteiras, esteve impecável na primeira parte porque para lá da brilhante cabeçada que deu o golo foi um defesa quase intransponível. Com Marcano também bastante seguro ao seu lado, Felipe jogou simples, sem inventar e apenas uma ou duas entradas pelas costas (não duras, apenas desnecessárias) são motivos para preocupação e melhor discernimento. Para lá disso foi um imperador em Roma (habituem-se, vai haver várias destas ao longo do texto).

(+) Pressão no meio-campo. Olha que bela estrutura que se arranjou aqui, hã? Os nomes podem mudar mas a disposição das peças é muito útil para jogos grandes como este e o 4-2-3-1 mostrou que pode funcionar se houver entre-ajuda e capacidade de cobertura da zona central quando é necessária. Os três homens que jogaram mais subidos, somados a André Silva (hoje um pouco em baixo mas também pouco apoiado pelos alas), foram pivotais na forma como controlaram o centro do terreno e enervaram a Roma e os seus centuriões (eu avisei) não conseguiam soltar-se a não ser usando o físico, que fizeram mais vezes do que deviam e com intensidade absurda (ver abaixo). Tivéssemos nós mais um ou dois Danilos e faríamos lembrar um meio-campo de equipa francesa, com a mesma força mas com mais qualidade. Assim, fico-me pela qualidade…se for para manter.

(+) Os dois golos mexicanos. O primeiro foi uma pequena obra de arte de gestão de movimentação brusca, persistência e visão de baliza, com o timing perfeito para aproveitar a imbecilidade do Szczesny (onde ias tu, meu menino?) e ultrapassá-lo para depois rematar. Textbook perfection. Já o Jesus…só me fez lembrar Hulk no Calderón contra o Atlético em 2009 (lembro-me pela camisola, acreditem ou não) num jogo que acabou…acertaram, 0-3. Finta para um lado, finta para outro e balázio de pé esquerdo. É este o Corona que podemos ver até ao final da época? Oh, Júpiter queira.

(-) Aqueles minutos entre a segunda expulsão e o segundo golo. Ora foi a única coisa que me enervou hoje e que fez com que a minha filha aprendesse mais algumas palavras que jurarei a pés juntos que só pode ter aprendido no colégio. Um golo de vantagem e dois gajos a mais em campo…e a equipa tremeu. Tremeu porque ficou surpreendida e não se conseguiu adaptar rapidamente a essa nova e estranha realidade? Tremeu porque achou que estava tudo ganho e podia deixar o resto da legião romana atacar à vontade? Tremeu porque as pernas não responderam e optaram por descansar um pouquinho até aguentar o final da partida? Não sei, mas aborreci-me com a atitude até que tudo estabilizou com o golo de Layún e a equipa começou (finalmente!) a trocar a bola e a forçar o adversário a correr atrás dela. Algo que teria sido obrigatório fazer logo depois de Emerson ter ido para o balneário e algo que o próprio Nuno provavelmente tentou forçá-los a fazer, sem resultados práticos. Não caiu mal ao mundo…mas…e se a Roma tivesse empatado? Ia ser bonito, ia…

(-) Il sont fous, ces romains! Não consigo perceber a forma como De Rossi e Emerson entraram daquela forma durante um jogo tão importante. Se Emerson ainda é um rapaz jovem, já o italiano abusa deste tipo de jogo viril e raramente é punido, por isso apesar da surpresa que é ver dois adversários expulsos em casa no mesmo jogo (venham agora dizer que somos sempre os coitadinhos da Europa, que estão todos contra nós e yadda-yadda-outras-coisas-provincianas-que-eu-também-já-disse-no-passado-yadda-yadda…), nada há a dizer quanto à justiça das decisões. E o que me deixa parvo é a forma como fomos nós que os levamos a isso, pela forma como conseguimos enervar aquela malta tão arrogante e sabedora. Pois façam o favor de ir mostrar o vosso futebol de Adónises brutos às quintas-feiras que a correr bem não voltamos lá este ano.


Um dos grandes obstáculos da época foi ultrapassado se não com brilhantismo exibicional, ao menos com uma elevadíssima dose de pragmatismo e sentido de responsabilidade. Lucrámos com a estupidez da excessiva agressividade e aproveitámos muito bem para entrarmos na Champions. Não sei do que se queixam os turistas. Foi bem bom ir a Roma em Agosto!

Link:

Ouve lá ó Mister – Roma

Companheiro Nuno,

Depois da partida da passada quarta-feira lamentei as indecisões e as mudanças tácticas que surgiram aparentemente apenas da tua cabeça mas como faço neste tipo de coisas, dou-te o benefício da dúvida apesar de não concordar contigo. É certo que os gajos são bons, que têm uma estrutura e umas rotinas que os teus (ainda) não têm, que há ali talento e alternativas bem simpáticas que nos acabam por tolher as esperanças e te fazem olhar para o banco sem saber muito bem o que fazer. Percebo tudo isso. Mas não me roubam a esperança e nem os factos do jogo passado me tiram a vontade de ganhar.

O jogo vai ser complicado, ah vai. Ninguém está à espera que chegues ao Olímpico e enfies sete batatas nos gajos, mas estamos à espera que tentes. Estamos todos, os que aí vão estar nas bancadas e os que por aqui vão ficar a ver o jogo pela televisão (acho que dá na RTP, com os comentadores bem oleados no escárnio e na crítica rápida a ti e aos teus…já sabes do que a casa gasta, a nossa e a deles…), com vontade de acreditar em ti. De olhar para uma equipa que não é mais que uma amálgama insegura de jogadores, alguns com traquejo e outros que ainda tremem das perninhas nestes palcos, vestir a camisola e saltar para cima dos italianos como se fossem a Monica Bellucci de vestido curto.

Dizem que em Roma se deve ser romano. Nada disso. Em Roma, sê dragão. Fogo nas ventas e mandar aquela merda abaixo à Nero. Um remake, como está na moda. Força!

Sou quem sabes,
Jorge

Link: