El Ex-Comandante

A notícia bateu-me como se tivesse levado um estalo no focinho. Lucho teria comunicado à Direcção que tinha uma oferta do tamanho da Torre dos Clérigos para ir jogar ano e meio para o Qatar e encher os bolsos de uma maneira que o ia obrigar a comprar calças novas todas as semanas. O FC Porto teria aceite a saída e o capitão já não ia jogar contra o Marítimo. Pumba, embrulha.

Não fiquei triste. Estranhei o sentimento mas não o deixei envolver-me num torpor de infelicidade como já aconteceu no passado com tantos outros nomes (Kostadinov, Timofte, Drulovic, Deco, Lisandro, Moutinho, Falcao e…Lucho). É verdade que os clubes fazem os nomes dos jogadores tanto como eles o fazem por si mesmos, mas Lucho e FC Porto ficaram associados à minha cabeça em duas temporadas distintas que me marcaram por motivos diferentes: 2005/2006 e 2012/2013. Na primeira porque foi a época de estreia de um jogador que já seguia há alguns anos e cuja notícia que dava como certo que vinha jogar no meu clube me encheu de alegria, especialmente porque era exactamente o jogador que precisávamos depois da muy horrível época que então terminava. Com Adriaanse brilhou, continuou a evoluir com Jesualdo e saiu numa altura em que o clube precisava de dinheiro e ele, sem deixar de ser um líder com postura admirável, também aproveitou para ganhar o dele. Quase se perdia em Marselha e voltou para o clube que lhe deu maior exposição mundial para ajudar a estabilizar o grupo em 2011/2012 e para liderar uma equipa órfã de figuras grandes na temporada 2012/2013. Tetra-campeão na primeira vinda, bi-campeão na segunda (talvez tri, quem sabe), foi sempre um exemplo para os jogadores e para os adeptos, dos poucos que sempre recolheu elogios de todos os clubes em Portugal. Para quem estiver distraído do panorama futebolístico nacional, é quase utópica a figura de Lucho cá pelo burgo.

Não sei como correu a conversa entre ele e a Direcção, Paulo Fonseca incluído. Mas acredito que terá sido qualquer coisa como isto:

Malta, acabei de falar ao telefone com os directores do penúltimo classificado da Liga do Qatar e os gajos oferecem-me contentores de petropesos para ir para lá jogar ano e meio. Esperem, por favor, deixem-me falar até ao fim e depois dizem o que vos apetecer. Como estava a dizer, é uma pipa de massa e para vos ser sincero, especialmente ali com o barbas, já não tenho pedal para esta coisa. Tu sabes, Paulo, que já me lixaste as pernas quando me puseste meia época a correr atrás do Jackson e agora andavas a experimentar gajos diferentes em posições diferentes só para não me tirares de campo que era o que eu já andava a merecer há alguns jogos. E se posso continuar a ser honesto contigo (apontando para o resto da malta na sala) e convosco, como fui durante tanto tempo, acho que já estou a mais aqui no plantel. Nunca fui um gajo rápido e os tipos que tenho apanhado pela frente parece que andam a beber latas de Red Bull de penalty – perdão, nem devia falar dessas coisas porque já falhei mais do que devia – antes de entrar em campo e eu não consigo acompanhar. Gostava muito e tento chegar à bola mais depressa que eles, mas não consigo. E eu sei, Paulo, que tu andas à rasca no banco quando vês que o capitão da tua equipa já não faz o mesmo que pensas que consegue, e por isso te digo que não consigo. Não dá mais, pá, não dá. E por isso, se não se importam de poupar umas centenas de milhares em salários, eu vou sair aqui por esta porta pequena enquanto os adeptos não degradam mais a minha imagem e não me começam a assobiar como fazem aos putos que nem sempre merecem. Eu conheço essa malta e sei que são exigentes e já sinto que começam a não conseguir perdoar-me por não estar ao nível que eles pensam que eu devia estar. (pausa para limpar as lágrimas). Para além disso tudo, acho que já não consigo pegar nos gajos e levá-los comigo com o que lhes digo. Os tempos são diferentes e na altura tinha o Raúl e o Licha que eram gajos que me entendiam e que eu conhecia como irmãos. Agora parece que tudo o que digo cai por terra num instante, ninguém me liga nenhuma e esta braçadeira que uso no braço acaba por ser mais por estatuto do que pela liderança que gostava de poder ter mas que não tenho conseguido pôr em prática. Talvez haja outros que o façam melhor que eu e vocês talvez já tenham outro gajo em mente…e por isso é que mesmo que gostasse imenso de acabar a minha carreira aqui no clube, já sei que não tarda muito e começava a ir para o banco e acho que ainda posso jogar mais algum tempo sem ter de me sentar jogo atrás de jogo naquelas cadeiras todas finas mas que não me alimentam o vício. Por tudo isto e pelo que já fiz pelo clube, acho que mereço que não me fodam a cabecinha e me tentem convencer a ficar. E pronto, era só isso. Agora força, digam lá o que vos vai pela alma.

Obrigado, Lucho. Vai à tua vida, ganha o guito que mereceste e não te preocupes que nós por cá ficamos bem. Não tão bem como se cá estivesses, mas a malta safa-se. Sê feliz, tão feliz como já me fizeste.

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We may need to buy

Estou sentado no sofá na minha sala a ouvir Billie Holiday e a beberricar um copo de vinho. Do Douro, forte, com corpo suficiente para empurrar o Hulk e deixá-lo prostrado no chão. E enquanto sorvo mais um gole do néctar no copo com pé que pouso delicadamente na borda do encosto para o braço que não uso, vou pensando em futebol. Prosaico, não acham? Talvez, mas não dá nada de jeito na caixa e poucas coisas melhoram estes momentos de descanso e puro lazer idílico (para mim, que sou um maldito epicurista wanna-be) que dissertar um pedacinho sobre a bola e acima de tudo sobre a bola dos meus. Não sobre as minhas bolas, descansem, não terão prosa de índole testicular por estes lados nos próximos tempos a não ser que me surja um instinto incontrolável de pontapear alguns e descrever sensações alheias.

Olho para o plantel e concordo com o mister. Parece-me curto. Infelizmente curto. E se tirarmos os que estão de fora da equação porque nunca foram opção (Rafa e Rolando), somarmos os que não serão opção válida pela pressão que têm já em cima deles para apresentarem níveis de performance mínimos para impedirem vaias quando entrarem em campo (Kleber e Iturbe) e adicionarmos os que são segundas-escolhas por demérito próprio (Kelvin ou Castro), ficamos com…pouca gente. Se a baliza Helton não oferece contestação e mesmo com a alternativa Fabiano não estaríamos a arrancar cabelos, na defesa as coisas começam a tremer. Danilo e Alex Sandro estão seguros nas laterais e no centro Otamendi e Maicon estarão na mesma situação, com Mangala sempre pronto a entrar para o lugar de qualquer um dos…quatro. Alternativas? Algumas. Credíveis? Poucas. Miguel Lopes pode render Danilo, tudo bem, com mais coração e muito menos cabeça, mas safa o lugar. Abdoulaye teve alguns bons momentos mas espera mais uma vaga e de Quiñones ainda não vi nada. E nos bês há alguma qualidade mas dificilmente entrarão como opção para os ás. Diogo e Victor Luís são miúdos a defender, David é mais fraco do que parece e no centro talvez Tiago Ferreira seja opção daqui a uns anos. Falta alguém? Depende de quem sair, se alguém sair.

No meio-campo é que a casa treme toda. Fernando vai batalhando com Defour, Lucho com Kelvin e Moutinho com Defour. Mas Defour já jogou mais vezes na posição de Fernando e Castro, a outra alternativa, também fez o mesmo. Lucho está sozinho e tem-lhe sido exigida uma carga de trabalho bem maior do que esperava que aguentasse. Lembro-me das quebras do argentino a meio da temporada e temo que o mesmo aconteça este ano, o que me deixa receoso que tenhamos de lá colocar um outro milieu-de-terrain com um nível parecido. Quem? Não há mais nenhum no plantel, A ou B, que se equipare. Podem pensar que qualquer um faz o papel dele mas quem vai lá ver os jogos sabe que não é verdade e isso é evidente quando Lucho sai de campo. Kelvin desposiciona-se com demasiada facilidade, James joga à frente demais, Defour atrás demais. Sérgio Oliveira, talvez? Não lhe reconheço consistência nem maturidade competitiva para tal. Pedro Moreira? Parece-me de futebol curto, pouco imaginativo e acima de tudo pouco líder. É preciso uma alternativa a Lucho. E se Moutinho sai? Mete-se lá o Tozé? Coitado do moço, até tem jeito mas precisa de continuar a jogar, a aprender, a crescer. Por isso vamos com calma, um passo de cada vez.

Chegamos ao ataque. Jackson tem raízes no lugar, James é indispensável. E do outro lado? Atsu começou bem a época, Varela é mais consistente, tacticamente mais astuto e mais experiente, mas a boa forma do início da época está a roçar o medíocre nos tempos que correm, e fazem-no mais que Varela. Kelvin, que pode fazer o lugar, não parece ter o sentido prático para decidir jogos. Se no meio Kleber perdeu confiança dos adeptos apesar do treinador o manter por perto, não vejo em Dellatorre uma solução eficiente e acima de tudo suficiente, muito menos o faço em relação a Vion. É preciso uma alternativa a Jackson. E na ala, quando vejo Sebá a jogar penso em tantos extremos que passaram por clubes menores em Portugal ou na estranja e que nem deram má conta de si nesses clubes…mas olho para os que cá chegaram e penso na pressão que recebem. E desconfio que o rapaz ainda não tenha o que é preciso. Estarei a ser pessimista? Não creio, olhem para os exemplos de Marco Ferreira, Alan, Djalma ou Mariano, para não falar nos putos que subiram como Candeias, Vieirinha, Bruno Gama ou Helder Barbosa, entre outros. Temo que Sebá tenha de progredir mais para não ser contestado. É preciso uma alternativa a Varela.

Assim sendo, vejo três posições que podem precisar de remendo. Médio organizador, extremo e ponta-de-lança. Ideas, anyone?

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Lucho

Porque não imagino nem quero imaginar o que deve ser perder um pai.

Porque se tal acontecesse, não imagino ter de disputar uma partida de futebol internacional com uma braçadeira de capitão no braço.

Porque se alguma vez um filho meu me perdesse, não lhe desejava a mesma situação que Lucho teve pela frente.

Porque o profissionalismo não devia ser superior ao sentimento, mas aconteceu e foi usado em prol de um ideal que me é comum.

Porque é um homem que sempre mereceu elogios de todos os quadrantes e todas as cores, nunca criando ódios nem apelando à violência.

 

Por isto tudo, Lucho, os meus parabéns. Nenhum portista esquecerá o teu gesto.

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O pós-Hulk – parte III

Nomes, nomes, nomes. Saindo Hulk sai também o mais reconhecível dos nossos jogadores dentro e fora de portas, aquele que enfeita capas de jornais e revistas, cabeçalhos de blogues e brindes promocionais do clube. Por favor, o homem tem talento para ser um desiquilibrador em qualquer ataque, é internacional brasileiro, tem um cabedal que nunca mais acaba e usa uma alcunha de super-herói da Marvel. É um sonho húmido de um marketeer desportivo. E a saída de uma imagem de marca tão vincada para um clube, mais que um Deco ou um Jardel, faz com que o próprio clube necessite de elevar o nível de outro ou outros dos jogadores que se mantém vinculados ao plantel para poder, como sempre fez, continuar a fazer com que o seu nome continue a soar no mundo do futebol como até agora tem vindo a acontecer. E se o visual ajuda, mais até do que seria normal numa sociedade civilizada em que (não) vivemos, onde jornais desportivos colocam artigos atrás de artigos sobre “a jovem brasa do hóquei em campo vietnamita” ou qualquer parvoíce do género, é acima de tudo com o talento e com o bom futebol que estas novas vedetas se vão criando e espalhando a fama e o nome pelo planeta.

Se olharmos para o nosso plantel, há dois nomes que saltam imediatamente à vista em termos de exposição mediática e notoriedade pública: Moutinho e James. Mais alguns já são nomes bem conhecidos de adeptos de futebol, como Lucho, Danilo, Alex Sandro, Otamendi, Defour, Fernando ou até o “caloiro” Jackson, e ainda há mais alguns que estão na linha bem produtiva do jogador com selo de qualidade FC Porto, como Maicon, Mangala, Atsu ou, até ver, Iturbe. Os dois do primeiro grupo têm palettes de talento e um nome já bem vincado no panorama internacional. São jogadores de que dependemos (ou no caso de James, que desesperadamente queremos depender) para vingar já esta temporada e continuar no caminho das vitórias. No segundo grupo há jogadores já com reconhecimento internacional, que representam o país no escalão máximo de notoriedade e criteriosa selecção. É desse grupo que terão de sair a grande maioria das mais-valias que vamos buscar no resto da época para suportar o jogo ofensivo e defensivo da equipa, os nossos dependables. E os jovens do último grupo, os que podem e devem continuar a jogar e a mostrar ao mundo o que valem, qualquer um deles tem talento e margem de progressão ainda suficiente para fazerem uma bela carreira no FC Porto e aparecer em colecções de cromos por todo o mundo.

É nestes rapazes que temos de apostar o nosso futuro. É através de uma política de contratações sã, equilibrada e afinada (como refere e muito bem o Vila Pouca no seu artigo da passada quinta-feira), que dependemos para nos mantermos no topo, sempre no topo. Porque é aí que temos de permanecer para continuar como somos, para nos podermos afirmar sempre com o título que tanto nos orgulha: campeões.

Rapazes: o futuro é vosso. Agarrem-no.

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