Ouve lá ó Mister – União da Madeira

Señor Lopetegui,

Não estás cá há muito tempo e muito provavelmente nunca antes do sorteio da Taça da Liga tinhas ouvido falar do União da Madeira, um clube pequeno naquela ilha de boa gente, excelente comida, maravilhosa bebida e tri-vencedores de Bolas de Ouro. Mas aqui há uns anos, quando andavam a esgadanhar-se todos para ficar na Primeira Divisão, havia um fulano que por lá jogava que fazia as delícias dos meus horrores. Era um canastrão jugoslavo (para os mais jovens, era um país que ficava onde hoje ficam a Croácia, Sérvia, Eslovénia e mais quarenta mini-países, sem desprimor para a terra do Alexandre) que jogava com a força de doze Vidigais (o Luís, não o Lito) e que tinha um pontapé com a força de sete Isaías (o barbichas, não o profeta). Chamava-se Predrag Jokanovic e antes de ir para o Marítimo e depois para o Nacional jogar e em seguida treinar, ganhou a vida a lixar o FC Porto.

Era feroz, o cabrão, usava os braços como poucos e punha aquele corpanzil à frente dos defesas e dos médios que tentavam contornar o rotundo tronco de carne e ódio e fel e fealdade, enervando toda a gente que o confrontava e mais uns milhares nas bancadas em redor. E é uma das únicas imagens que retenho de ver o União a jogar, a somar ao Marco Aurélio que acabou por se juntar ao Sporting e que era um dos melhores centrais que por cá passou nos anos 90.

Não havendo grande forma de motivares os rapazes para o jogo de hoje, ao menos ganha para que eu, na minha humilde e feliz consciência histórica, me possa virar para um hipotético Jokanovic que vive nas minhas memórias e tenha a lata de dizer: “Fode-te, gordo.”. Se não for por mais nada, ao menos ganha por isso.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Belenenses

Señor Lopetegui,

Aqui há uns anos valentes, num frio final de tarde na Cidade Invicta, convidei um amigo para se juntar a mim e partilhar do maravilhoso espectáculo que é um jogo do FC Porto em casa. Enquanto nos deslocávamos para o estádio que ficava um pouco mais a norte quando comparado com a tremenda realização arquitectónica onde hoje vou estar, já depois do tradicional café pré-match que degustei com prazer no habitual avant-tasco, o homem, na altura mais jovem e menos ciente da facilidade com que as superstições se entranham na nossa alma e nos furam o bem-estar e a moral, mencionou que tinha acabado de chegar de Lisboa e que trazia, em homenagem ao jogo de hoje, um pacotinho de pequenos pedaços de céu que são confeccionados numa pastelaria lá perto do estádio do rival do dia. Uma caixa de pastéis de Belém, se ainda não percebeste, e olha que só perdes se não experimentares pelo menos um. Quentinho. Com canela em cima. Uff.

No arranque da partida, já depois de vermos a tradicional entrada dos rapazes de Belém com a bandeira do FC Porto nas mãos a cumprir a tradição histórica que tanto me apraz (bem como a nossa própria versão, com a coroa de flores sempre depositada no memorial a Pepe, lá em baixo à beira-Tejo), toca de abrir o pacote, sacar de lá duas unidades dessa ambrósia de massa folhada, e com um brinde que surpreendeu os colegas da bancada central das Antas, celebramos o facto de estarmos vivos e de podermos assistir a mais uma partida do nosso clube em tão boa companhia.

O jogo, esse jogo, em Janeiro de 2001, terminou com um empate a zero. Continuamos amigos e já partilhamos a bancada várias vezes, em acesos comentários ao jogo e discussões intensas que a amizade, como o tempo, não faz esmorecer. Mas nunca mais quero ouvir falar de pastéis de Belém. Pelo menos em dia de jogo. Faz com que hoje não seja um dia que me faça esquecer essa tão agridoce memória. Hoje, é para ganhar, mais uma vez. Com ou sem pastéis.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Gil Vicente

Señor Lopetegui,

Começar bem o ano é sempre algo que a nossa cultura preza a níveis estratosféricos. A malta faz de tudo para puxar aqueles imaginários cordelinhos com o fulano lá de cima ou, dependendo da fé de cada um, com as forças que regem o nosso dia-a-dia. Há os que comem passas, os que inventam tradições, os que se põem de pé em cima de uma cadeira, os que brindam demais, os que não querem brindar sem ser com copos que possam partir, os que fazem promessas que têm toda a força e empenho para cumprirem (“mas só uma vez também não faz mal, continuo a dieta amanhã”, desse tipo) e os que vão à missa no dia 1, mesmo ressacados.

Eu tenho outro tipo de esperança no arranque de cada ano novinho em folha, a estrear: que seja melhor que o ano passado. E tu, que só cá estiveste desde Julho, não sabes o que a primeira metade de 2014 nos trouxe e que não queremos voltar a ter. E o arranque do ano transacto em termos de jogos para o campeonato foi uma miserável derrota na Luz, com uma exibição que mostrou tudo o que correu de mal durante toda a época. Não queiras, por favor, que o entusiasmo daqueles maravilhosos vinte e três mil que anteontem encheram as bancadas do Dragão se deixe perder no marasmo de uma apresentação frouxa e banal em Barcelos. Faz com que esses e outros vinte e três mil (e mais uns pozinhos) fiquem em pulgas pelo próximo jogo do FC Porto e mal possam esperar para ver a equipa a jogar de novo.

Entusiasma-nos, Julen. Faz com que 2015 seja de novo um ano de Dragão orgulhoso e vitorioso. Tens o meu apoio. Tens o apoio de todos, desde que trabalhem para isso. Acreditamos em vocês!

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Rio Ave

Señor Lopetegui,

Ah, sabe bem estar de volta, não sabe, caríssimo? Espero que a Navidade tenha sido proveitosa e que te tenha possibilitado um descanso ao nível que mereces, com toda a preocupação botada às urtigas e o enfoque virado com definitiva e empenhada acuidade perante a garrafinha de vinho e qualquer repasto que a tua famelga tenha como tradição cozinhar para o dia de Natal. Sim, porque tu agora tens de te deixar dessas coisas de festejar o Natal no dia de Reis, essa parvoíce que tem tanto de espanhol como de parvo. Reis. Vai-te lá esquecendo disso porque gostava que ficasses cá uns bons aninhos, se subires um pedacinho do nível de futebol que temos indo a apresentar.

Como ainda és novato no clube (meia-dúzia de meses teus não compensam quase trinta anos meus), vou-te explicar um detalhe que afecta o jogo de hoje como um prego num pneu de bicicleta. As coisas, por aqui, funcionam assim: se perdes o jogo de hoje, és uma besta que nunca devia ter pensado em vestir um fato de treino durante o dia para seguir carreira depois de acabares de jogar; se vences, ninguém quer saber disto para absolutamente nada e a vergonha é mesmo não teres apostado em mais rapazes novos para AGORA SIM fazeres uma rotação em condições. No win situation if there ever was one.

A minha postura perante a Taça da Liga é sempre a mesma desde o início: se der para ganhar, força. Mas não vale a pena perder o sono à custa disto. Usa a oportunidade para dar minutos aos rapazes novos, experimenta o que quiseres e brinca com as tácticas à Football Manager da forma que te apetecer. Se der para ganhar, porreiro.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Setúbal

Señor Lopetegui,

Ainda estou de ressaca depois de Domingo ter comido um prato com duas almôndegas estragadas e uma enormidade de massa que as rodeava e que parecia querer estragar ainda mais o repasto. Não te vou mentir, foi doloroso e tenho a certeza que partilhas do que eu e tantos portistas por esse mundo fora sentimos, essa repulsa pela derrota a fazer mossa bem cá dentro e a deixar-nos mais em baixo que a voz do Tom Waits em manhãs frias de Inverno. Mas não desanimei e não vou desanimar e quero que tu também não desanimes, nem que os teus rapazes desanimem! Quero que qualquer variante do verbo “desanimar” seja retirada da vossa cabeça!

Hoje é a oportunidade perfeita que tens para mostrar aos adeptos que o futebol que jogaram no Domingo passado dava para ganhar aqueles e a outros de uma forma calma e sem problemas de maior, só bastava ter um bocado mais de sorte. Aproveita que o Setúbal é uma equipa de trazer por casa e que o Mingos está mais à rasca que um esquilo cego e manco a atravessar a VCI. Já vi que convocaste o Campaña e talvez seja uma boa oportunidade para o rapaz mostrar o que vale, porque com o Casemiro castigado e o Ruben encostado (e o Mikel, ainda é vivo?) vais precisar de cobertura extra nesse sector e pelo que tenho visto do rapaz na B, até pode dar conta do recado.

No fundo, o que todos queremos é ganhar o jogo para irmos descansadinhos para a ceia de Natal. Banquete farto de barriga cheia é sempre engraçado.

Sou quem sabes,
Jorge

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