Ouve lá ó Mister – Sporting

Señor Lopetegui,

Há muitos anos que vejo Portos-Sportingues. Desde o início comecei a manter uma lista de todos os jogos que tinha visto ao vivo e apesar de a ter deixado de actualizar porque sou um gajo que raramente leva um projecto até ao fim, o Sporting estava lá no topo, com os infiéis à cabeça. Sou do tempo do Valckx, do Marco Aurélio, do Sá Pinto, do Ouattara, do Iordanov, do Balakov, do César Prates, do Mpenza, do Acosta, do Oceano, do Vidigal, do Juskowiak, do Van Wolfswinkel, do Paulo Bento, do Liedson. Sou desses tempos todos, unidos por um fio condutor que nos arrasta pelo passar do grande cronómetro como os miseráveis putos que envelheceram à custa destes jogos. Taças, campeonatos, uns atrás dos outros, puxaram-nos para as Antas e agora para o Dragão à procura de noventa fugazes minutos que nos pudessem alegrar no final, depois do proverbial sofrimento que os vinte e tal rapazes nos fazem atravessar nestas partidas.

Hoje é mais uma dessas. Quando a bola começar a rolar, ninguém vai querer saber das conversas imbecis antes da partida, das claques, dos alheios ao jogo ou da polícia. Só vamos querer olhar lá para dentro, ver os rapazes de azul-e-branco e gritar os nomes deles, gritar o nome do clube, gritar vitória e gritar por todos que gritam por nós. É nestes jogos que o povo tem de estar unido e perceber que nem sempre dá para ganhar. É preciso apoio, é preciso alinhar todos os remos para o mesmo lado e forçar os cabrões como o Ben-Hur foi forçado naquele estúpida galé romana. Hoje não há assobiadelas, não há merdices de bocas para os defesas ou para o guarda-redes, não há críticas exageradas ao Herrera nem ao Quaresma.

Hoje há Porto. E vamos ganhar.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Braga

Señor Lopetegui,

Sabes que já não vejo um FC Porto vs Braga que me ponha entusiasmado desde um perfeito final de tarde em Dublin, onde a cerveja fluía como hidromel em terras medievais (daquelas “a sério”, nada de feiras a imitar o estilo com gajos de Pumas nos pés e latas de Super Bock nas mãos) e a harmonia imperava entre clube, equipa e sócios. E esse jogo, meu caríssimo basco, já foi há três anos e meio. Mais de mil e tal dias de diferença que fizeram com que houvesse um extremar de posições, um grau de exigência de tal maneira alterado que um empate fora na Champions contra aquele que é teoricamente o adversário mais forte do grupo faz com que a contestação aumente, ninguém sabendo muito bem porquê. É a rotatividade, são as falhas, é o meio-campo que não carbura, é o Tello que é guloso e o Jackson que ficou no banco ou o Quaresma que ficou na Invicta. Tudo reclama, ninguém acalma.

Ora hoje, que todos regressam ao Dragão e queremos um bom resultado. Lembra-te que há jogos de selecções nas próximas semanas, por isso esmifra ao máximo o que puderes dos jogadores. Não quero saber se vão passear em amigáveis contra San Marino ou se vão apanhar uma Alemanha na máxima força. Hoje, o que interessa, é o Braga. São aqueles gajos que nos fazem a vida negra de tempos a tempos e que hoje não vão perder a oportunidade de voltar a pôr o ferrolho na defesa e envenenar os contra-ataques. Cuidado com os tipos que vais escolher para o meio-campo mas acima de tudo está atento ao ataque. Ao nosso, não ao deles. Quer dizer, também ao deles, mas principalmente ao nosso. Bottom line, não tires o Tello nem o Brahimi. E não tires o Óliver, mas põe-no a 10. Atrás dele, Ruben e Evandro. E o Jackson na frente. Raios, homem, tens muitas opções mas este era o meu onze, porque atrás disso não vejo mudanças importantes. Danilo, Maicon, Indi e Alex. Fabiano à frente das redes. Soa bem. Acredito em ti e acredito que esta equipa vai carburar, talvez hoje tão bem como na segunda parte contra o Shakhtar. Bora lá.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Shakhtar Donetsk

Señor Lopetegui,

Não te vou censurar pelo empate em Alvalade. Também não te posso dizer que estou em èxtase com o que lá aconteceu, depois de ver aquela primeira parte de nível inferior ao que estou à espera, mesmo à sexta jornada. Como já te disse no início do ano, tenho um sentido de dar rédea larga aos treinadores que aparecem fresquinhos no meu clube para que possam fazer o que lhes apetece, dispondo as peças com a mesma consistência de uma parede de betão ou de uma casa de palha que um lobo de fábula pode mandar abaixo com um almoço de couves e um rabo bem apontado. Ainda por cima quando apareceste aqui com uma carruagem de jogadores de variável talento, quase todos acima do que tínhamos cá no ano passado, entenda-se, mas com graus ainda mais variáveis de adaptação e percepção do que é o nosso futebol. Ou do que tem de ser, porque há diferenças e bem grandes.

Hoje, em Lviv (Lvov? Lvev? Lvv, pronto), estamos à espera de um mau jogo. Um jogo feio, com alguma cagança da parte deles e excesso de humildade da nossa parte. Aquele espírito do “o próximo paga” quando o FC Porto perdia pontos ou jogos nos dias anteriores está mais desaparecido que os brincos da Maddie e não me parece que regresse em força. Há muita coisa que ficou nos anos 90 e apenas a curtos espaços fez um verdadeiro comeback, na altura do Villas-Boas. Quer dizer, nem por isso, já que o animal nem sequer perdeu um jogo que fosse toda a época. Mas sabes uma coisa, Julen? Eu ainda acredito em ti, pá. Acredito que o espírito se está a criar, devagarinho mas certinho, nas almas daqueles fulanos que vão atrás dos tweets do clube e das entrevistas para os jornais e das flash-interviews que vão sendo mais marcantes, mais intensas, mais habituais. E vão começando a perceber que o equipa é deles e é feita deles e que podem fazer coisas muito bonitas se se começarem a entender em campo. Aí entras tu, homem, porque descoordenações como as que vimos em Alvalade têm de ser estudadas, entendidas e erradicadas. Três Es, Julen, como temos de ser hoje: espertos, eficazes e elásticos. Sim, porque se não abrimos um bocado mais as zonas de pressão do meio-campo e se não aproveitarmos os corredores deles para contra-atacar, temos a tarefa mais tramada.

Assim sendo, vai-te a eles! E não penses em mais nada senão em ganhar a esses fulanos.

Sou quem sabes,
Jorge

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Ouve lá ó Mister – Sporting

Señor Lopetegui,

Um gajo passa uma semana de cão quando não ganha. Mais que a chuva, o trânsito, o trabalho, a diarreia depois daquele almoço cheio de gordura, tudo é cacahuetes comparado com a memória de um jogo em que nada corre bem. Fica cá dentro, sabes, com um estupor duma persistência que nos tolha a mona e o espírito e nos faz ver tudo com tons de cinzento mais escuros do que o mundo nos proporciona. Uma merda duma semana.

Mas alimenta-nos a perspectiva do próximo jogo. Dá sempre um alento especial pensar que estamos só a meia-dúzia de horas ou minutos ou seja lá quanto for o diferencial de tempo que passa entre a altura em que leres isto e o início da partida (sinceramente, sempre pensei que esta era a última coisa que lias enquanto o Jackson aperta as botas e o Danilo vai fazendo alongamentos, mas pode ser produto da minha mente que anda de tal maneira underclocked que já nem distingue um Doriva dum Casemiro) e que podemos estar prestes a voltar a sentir aquele rush de emoção e de extrema alegria que nos é presenteado com uma vitória do FC Porto. Sim, mesmo em Alvalade, rapaz, olha lá que essa treta de emprenhar pelo ouvido é lixado e se vais andar a ouvir a propaganda da calimeragem, estás mesmo tramado.

Esta semana foi uma festarola lá em baixo. Eram bocas para o NGP, notícias de jornais sobre ambos os clubes, um que perde mas que afinal ganhou, outro que é investigado enquanto o outro deixou de ser. Jogadores a espetarem carrões, outros com ombros novos, meias-surpresas nos meios-campos e médias de idade erróneas. Houve de tudo, até um antigo treinador comum a ser convocado para o qualifying para o Mundial 2018. Lindo, este país, lindo mesmo. Mas alheia-te disto tudo, Julen. Fala aí com os muchachos e prepara-os para o gamanço de uma vida, que para os mais antigos será só mais um, mas os novos (e tantos novos que há este ano) ainda não passaram pelo real enrabanço que habitualmente ocorre aos azuis-e-brancos nessa latrina onde hoje vão jogar. Que deitem tudo para trás das costas: o árbitro, o jogo com o Boavista, a rotatividade. Nada disso interessa. Interessam os onze gajos que lá vão estar e que têm de dar tudo para ganhar. É um clássico e como tal ainda há menos vencedores antecipados, mas fico contente se derem tudo para ganhar. Mesmo que não o consigam.

Sou quem sabes,
Jorge

PS: Ainda por cima, azar dos azares, não sei se vou conseguir ver o jogo em directo e posso garantir que os B&Bs não saem na mesma noite, porque devo regressar a casa tarde e muito provavelmente inebriado. Para poupar o povo a um chorrilho vernáculo portuense cheio de gralhas, adio-a para sábado. Com mais calma e dois ou três guronsans no bucho. A gerência agradece a compreensão.

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Ouve lá ó Mister – Boavista

Señor Lopetegui,

Este é o primeiro Ouve lá ó Mister que escrevo antes de um jogo contra o Boavista. E se já ouviu algum do folclore e dos mitos urbanos que rodeiam estes confrontos, posso garantir-lhe que ouviu bem. É mesmo um derby, que nos faltava há vários anos e que é daquelas coisas que só sentimos falta depois de deixarmos de ter. Adaptado a este caso, é como se uma afta que o incomodava durante largas semanas o deixasse subitamente de afligir. Neste caso, é um sentimento de ausência que me batia bem lá no fundo e que fazia com que qualquer outro jogo com adversários próximos da Invicta fosse considerado como um jogo contra malta cá da terra. Não era, nunca poderia ser. Estes, mais que quaisquer rivais, são alvos a abater.

E por isso me surpreendeu a ausência de sentimento na publicidade ao jogo por parte dos teus chefes. Palavra que ainda não acredito que não queiram puxar ao lenço de papel para nos lacrimejarmos todos quando nos lembramos de tantos e tantos jogos que disputámos contra estes infiéis, contra aquelas camisolas de xadrez que cravaram uma seta de fel no nosso lombo em montanhas de ocasiões e que perfurámos com um fueiro bem afiado noutras cordilheiras de vezes. É o Boavista, Julen, mas ao que parece o Boavista não diz muito a tanta gente que hoje vai estar no Dragão, porque apanharam os hereges na sua fase descendente…alguns nem sequer se lembram de os verem como campeões, nesse ano de todas as misérias e horrores que deveria ter trazido um novo horizonte com a entrada do milénio mas trouxe apenas um profundo vómito pelo sucesso da equipa vizinha! E é a esses que temos de contar as histórias, Julen. Não podes ser tu, carago, acabaste de chegar, mas as histórias de como o Emerson e o Kulkov, o Fernando Mendes ou o Jardel esmagaram os malfeitores no Bessa e como Deco, Zahovic ou Lisandro os desfizeram no nosso campo. E isto é só no “meu” tempo, imagina as histórias que os mais antigos podem contar!

É por tudo isto que este tem de ser um jogo para ganhar. Não peço golos em avalanche, não peço goleadas épicas. Peço que venças, que mostres aos rapazes que são bem-vindos de volta mas que a cidade nunca teve mais que um dono a não ser em míseras e inequivocamente pontuais situações. E tira o sorriso do focinho do Petit, por todos nós.

Sou quem sabes,
Jorge

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