
Às vezes há noites assim, em que tudo parece correr bem, o adversário não consegue conter a nossa organização e vontade, os lances surgem com fluidez nascida da tranquilidade e os golos aparecem naturalmente, orgânicos, fáceis, a espaços com a grandiosidade das escolhas certas nos momentos certos. Foi assim ontem à noite e poderia ter sido bem mais complicado se o Leicester não tivesse optado por alinhar com uma segunda equipa, mas fizemos bem mais do que o suficiente para vencer. Noutros jogos não chegou. Ontem sobrou e ainda bem. Vamos a notas:

(+) Todos. Não consigo encontrar uma única nota negativa na exibição de ontem. A equipa jogou com harmonia, entrega e boas decisões. Abriu quando precisava de abrir, fechou quando era necessário conter, travou a batalha do meio-campo de uma forma inteligente, criando os espaços necessários para que os melhores conseguissem brilhar e mostrou-se calma nos momentos certos. A organização de Óliver foi perfeita, os lances individuais de Brahimi estiveram quase sempre no ponto, o trabalho de André Silva e Jota foi bem delineado e melhor executado, o controlo de bola de Corona foi Messiesco e a disponibilidade física de Maxi foi de topo. Quando tudo corre bem nem precisamos de destacar o individual porque ontem quem brilhou mais foi a equipa como um todo, numa mensagem de paz para fora do relvado e o regresso da empatia com os adeptos. Sim, foi só um jogo. Sim, o adversário não era tão forte como o que nos defrontou no jogo em Inglaterra, com menos rotinas e muito menos talento. Mas quem não consegue ganhar a um Tondela, um Setúbal, dois Belenenses ou um Chaves não tem suporte moral para assumir que vai conseguir vencer um Leicester B. E esta vitória é, tal como a do Braga, um resultado que ajuda a fazer uma equipa. Esperemos que dure.
(+) Os golos. Marcaram-se alguns golaços ontem à noite, desde o remate de primeira (com o pé esquerdo) de Corona ao calcanhar de Brahimi (um argelino tem de marcar assim na Champions, está no contrato moral), seguindo o tiro de Jota, a cabeça de André Silva e o penalty do mesmo. Várias opções, várias formas diferentes de enfiar a bola lá dentro. A prova de que quando tudo corre bem não há Marafonas que evitem os golos.
(+) O penalty do André. Tomemos como comparação o que fez este mesmo menino no passado fim-de-semana contra o Braga. O nervosismo na corrida, o ligeiro inclinar do corpo para o lado, suficiente para denotar para onde iria chutar, na tentativa de acertar na baliza esperando que o guarda-redes falhe a aposta. Os ombros encolhidos, tensos, trémulos. O lamento no falhanço, mais um falhanço, mais uma oportunidade adiada para celebrar. E depois olhemos para o jogo de ontem e o lance em tudo parecido e ao mesmo tempo tão diferente. A leveza no movimento. O enganar do guarda-redes, a colocação da bola, a facilidade aparente de uma oportunidade que é tudo menos fácil. Há uma enorme diferença entre marcar um penalty quando se está confiante ou quando se imita Atlas a suportar o peso do mundo nos braços erguidos acima da cabeça.

(-) Talvez seja preciso rever as regras da Champions. Este ano correu tudo bem mas podia ter sido bem diferente. Sei que é uma opção técnica de cada treinador e se Ranieri deixou metade da equipa em Inglaterra só podemos ficar satisfeitos e pensar que nos sorriu a sorte. Mas o FC Porto teve uma vantagem que outros não tiveram e se daqui a uns anos estivermos no lugar do Copenhaga a pensar “porra, aqueles gajos levaram os mancos para Portugal mas nós jogámos contra uma equipa em condições!”, talvez fiquemos a criticar a organização por permitir este tipo de alheamento competitivo que favorece terceiros sem querer. Não sei se é viável ou sequer desejável, mas gostava muito de não ter de escrever um post a lamentar este tipo de facilitismos dados ao adversário…
Objectivo conseguido, oitavos da Champions no horizonte e mais alguns milhões no bolso. Noites perfeitas destas não aparecem todos os dias, por isso festejemos…pelo menos até Domingo!
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